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Um Olhar sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais e suas Indicações quanto aos Objetivos da Educação e do Trabalho

1.1 A EDUCAÇÃO ESCOLAR DE NÍVEL MÉDIO NO BRASIL EM DEBATE

1.1.2 Um Olhar sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais e suas Indicações quanto aos Objetivos da Educação e do Trabalho

Neste item procuramos entender como a palavra ​trabalho ​é referenciada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio6 ​(BRASIL, 2013), no intuito de

6 ​Usaremos a sigla DCNs ao longo do texto.

26 reforçar a finalidade colocada pela LDBEN (BRASIL, 1996) no tocante à preparação do aluno para o trabalho.

No que se refere ao Ensino Médio, lemos na DCNs um discurso que, de forma insistente e constante, defende a necessidade de formação para a

qualificação do cidadão que será trabalhador. A formação escolar contribui para a orientação dos sujeitos sociais envolvidos nos diversos contextos de vida

dinamizados pela economia capitalista. Nessa circunstância:

[...] a preparação básica para o trabalho e a cidadania, e a prontidão para o exercício da autonomia intelectual são uma conquista paulatina e requerem a atenção de todas as etapas do processo de formação do indivíduo. Nesse sentido, o Ensino Médio, como etapa responsável pela terminalidade do processo formativo da Educação Básica, deve se organizar para proporcionar ao estudante uma formação com base unitária, no sentido de um método de pensar e compreender as determinações da vida social e produtiva; que articule trabalho, ciência, tecnologia e cultura na perspectiva da emancipação humana (BRASIL, 2013, p. 39).

As determinações da vida social e produtiva são influenciadas pelo sistema econômico capitalista. As DCNs (BRASIL, 2013) relacionam a emancipação humana ao desenvolvimento econômico capitalista, à ampliação da produção e do consumo, o que implica potencializar a racionalidade do trabalho de modo restrito caso

contrapormos a complexidade do mundo vivido. Frente ao contexto de economia global neoliberal, as políticas públicas para o Ensino Médio:

[...] tem ocupado, nos últimos anos, um papel de destaque nas discussões sobre educação brasileira, pois sua estrutura, seus conteúdos, bem como suas condições atuais, estão longe de atender às necessidades dos estudantes, tanto nos aspectos da formação para a cidadania como para o mundo do trabalho (BRASIL, 2013, p. 145).

O potencial econômico brasileiro é prejudicado, pois tem pouco investimento na formação profissional, sendo que os setores da indústria e do comércio são os mais prejudicados. Por isso, a orientação é de que:

[...] para alcançar o pleno desenvolvimento, o Brasil precisa investir fortemente na ampliação de sua capacidade tecnológica e na formação de profissionais de nível médio e superior. Hoje, vários setores industriais e de serviços não se expandem na intensidade e ritmos adequados ao novo papel que o Brasil desempenha no cenário mundial, por se ressentirem da falta desses profissionais (BRASIL, 2013, p. 145).

27 As referências ao termo ​mundo do trabalho ​são usadas como um jargão incansável para reafirmar o quanto a educação escolar básica e, especificamente, a etapa do ensino médio é decisiva para a formação do trabalhador. As DCNs

(BRASIL, 2013) afirmam, constantemente, a relação entre educação e trabalho e justifica que as ações pedagógicas da Escola precisam se afinar, tendo em vista a formação do trabalhador.

O currículo do Ensino Médio deve organizar-se de modo a assegurar a integração entre os seus sujeitos, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o trabalho como princípio educativo, processualmente conduzido desde a Educação Infantil (BRASIL, 2013, p. 40).

A Constituição Federal afirma que a educação é um direito fundamental de todo cidadão brasileiro, assim como o trabalho. Para ampliar as chances de

empregabilidade há uma necessidade de que se disponha de ações que qualifiquem os potenciais trabalhadores. Essa afirmação ressalta a importância do processo educacional escolar que possa desenvolver estudos e práticas que orientem os alunos para o trabalho.

Desse modo, o sistema escolar reforça a ideia de que o pleno desenvolvimento do cidadão depende em primeiro lugar da sua qualificação

profissional para o mercado de trabalho. A educação escolar é o carro chefe, onde se sustentam variados discursos políticos. É ressaltada a importância dos

investimentos no Ensino Médio para alicerçar a formação científica e tecnológica em outras etapas formativas, permitindo autonomia intelectual, para que o “País dê o grande salto para o futuro” (BRASIL, 2013, p. 145) no desenvolvimento econômico.

Os avanços científicos e tecnológicos, em nível mundial, resultam em um mundo do trabalho que sofre constantes alterações. Implicam repensar a escola que reinventa seus processos com base em contextos diversos. As diretrizes para o ensino médio enfatizam as definições da LDBEN (BRASIL, 1996), ressaltando a preparação básica para o trabalho.

Por um lado, o direito obrigatório de o aluno frequentar a Escola, entre os 4 anos e os 17 anos, apresenta-se como possibilidade, porém, não garantia de promover qualidade de vida social e econômica. A qualidade de vida relaciona-se

com ampliação da geração de renda, por isso, existe a preocupação em qualificar para o trabalho. Reforça-se a ideia de que uma sociedade de trabalhadores pode

28 alavancar melhor qualidade de vida, alterando a natureza e produzindo formas de suprir as necessidades. Os animais podem reproduzir, mas o fazem somente para si mesmos; o homem reproduz toda a natureza, porém, de modo transformador, o que tanto lhe atesta quando lhe confere liberdade e universalidade. Desta forma, produz conhecimentos que, sistematizados sob o crivo social e por um processo histórico, constitui a ciência (BRASIL, 2013, p. 161).

As DCNs (BRASIL, 2013) afirmam que devido à perspectiva ontológica do trabalho, que considera o homem como transformador da natureza e produtor de sua própria existência, o trabalho é o ponto de partida para a produção de

conhecimentos e culturas, bem como a finalidade das ações educativas que promovam a consciência humana de suas necessidades produtivas.

Decretos, pareceres e resoluções que se seguiram após a aprovação da Lei 9.394/96 destacaram a centralidade do trabalho produtivo capitalista como

orientação para a formação escolar de nível médio. Depois de anos de debate, desde a década de 1980, a inspiração marxista para a educação continua sendo o alicerce para pensar uma educação profissional politécnica de nível médio que expressa um movimento crítico às orientações de uma educação mercadológica, como a que está inserida nessa Lei (BRASIL, 1996).

O período da Ditadura Militar brasileira, em um momento que mundialmente se vivia a tensão político-econômico militarista da Guerra Fria, favoreceu que se explicitasse a crítica marxista contra a Teoria do Capital Humano. Desse modo se explicitaram as ideias e os postulados de uma educação de influência marxiana e marxista, que defende a educação de qualidade para a classe trabalhadora. O

trabalho como princípio educativo procura, neste sentido, garantir a emancipação do trabalhador em relação ao trabalho alienado (de perspectiva capitalista). Porém, a educação de cunho socialista, no entremeio de uma sociedade capitalista, conserva o monopólio da crítica (muitas vezes) somente com o “final invertido” em relação à formação do trabalhador. Mas mesmo assim a sua perspectiva não pode ser confundida com a do capitalismo, pois a sua finalidade é defender o caráter revolucionário que pretende alterar o perfil formativo do trabalhador, para torná-lo consciente de sua capacidade sócio-política como classe, dando-lhe condições de alavancar uma revolução socialista.

29 As alterações na economia mundial após 1945 (quando terminou a Segunda Guerra Mundial) forçaram uma reorganização também da economia brasileira. Nesse sentido foi necessário um novo olhar para a educação escolar, que se orientou à formação de capital humano. A Escola passou a ser a instituição encarregada de resolver os problemas da baixa formação dos trabalhadores

(principalmente das profissões urbanas). No mínimo, desde 1970, cada vez mais se enfatizou a educação escolar técnica.

Na primeira década do século XXI houve a criação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica que expressa uma nova aposta na formação técnica, que apresentaremos no próximo item, explicitando suas

orientações em relação ao trabalho.