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O predomínio desses padrões androcêntricos fomentaram valores baseados em interações sociais invariavelmente desvantajosas para as mulheres, que vêm sendo contestadas e desconstruídas de modo progressivo – em meio a períodos de avanços e outros de retrocesso. Várias iniciativas têm favorecido para um maior reconhecimento e uma maior representatividades das mulheres, a exemplo da agroecologia e da EcoSol: a agroecologia por sugerir a reconfiguração de interações humanas tradicionalmente exploratórias, na medida em que “oferece bases para a modificação dos sistemas de produção que causam degradação social e ecológica, por meio do desenho ou redesenho de sistema, dentro do conceito de sustentabilidade (EMBRAPA, 2006, p. 26)”; a EcoSol, por provocar uma reconfiguração das relações humanas, reconhecendo todas as potencialidades produtivas das mulheres, bem como por se fundar em propostas de caráter pedagógico que abarcam desde a reavaliação da postura das mulheres no âmbito familiar à inserção das mulheres nos debates e espaços políticos.

A compatibilidade das experiências da Rede com as propostas do Feminismo, da EcoSol e da Agroeocologia, pode ser analisada a partir dos critérios definidos, respectivamente, por Mance (1999), Lisboa (2000) a Altieri (2000). Adicionalmente, para o reconhecimento de experiências compatíveis (ou não) com a indagação central desta tese, serão retomadas as ideias de desenvolvimento de Sen (2009), entendidas como diretrizes fundamentais para orientar experiências alternativas de desenvolvimento.

Quanto ao cumprimento dos pressupostos que orientam os princípios da EcoSol, Mance (1999) identifica os seguintes: que não haja exploração do trabalho; que exista o compromisso com o equilíbrio dos ecossistemas; que seja realizada a comercialização dos excedentes produzidos para a expansão da própria rede; que haja espírito de cooperação e colaboração para a autogestão dos meios e a autodeterminação dos fins.

Em contextos de vulnerabilidade, tal como no semiárido, as práticas capitalistas – excludentes e exploratórias por serem baseadas num eixo estruturador concorrencial de relações sociais, embora hegemônica - não vem consistindo na única alternativa econômica de produção. Isto porque foram identificadas experiências produtivas baseadas no trabalho coletivo, a exemplo do trabalho das mulheres da associação de marisqueiras de Grossos (RN), onde a coleta, o processamento e o beneficiamento é feito por um grupo de seis mulheres (em média), as quais compartilham os ganhos obtidos. Esta constatação evidencia que os grupos produtivos da região semiárida, especificamente os que compõem a Rede Xique Xique, praticam um trabalho que não recorre a formas exploratórias de relações, sobretudo porque não existe a figura do patrão/empregador, já que as relações que têm sido formadas são de coordenação, não hierárquicas. Cumpre destacar, ainda, que também não foram identificadas relações exploratórias da comercialização dos produtos vendidos na rede, já que os preços praticados são compatíveis com os de mercado e as/os produtores da Rede evitam recorrer à figura do atravessador.

Vários relatos obtidos na pesquisa de campo evidenciam a disposição das mulheres para o trabalho coletivo a partir da lógica da EcoSol:

Entrevistada Relatos das entrevistadas demonstram a

assimilação de princípios da EcoSol

Entrevistada 2 “A gente não queria só um espaço para comercializar o excedente. A gente queria algo que tivesse um elo; que se preocupasse desde à produção, à formação e à comercialização”.

Entrevistada 20 “Se Deus quiser a Rede vai crescer muito ainda. Não cresceu mais porque ainda tem gente que na hora da necessidade negocia com atravessador, mesmo sabendo que vão ser explorado”.

Entrevistada 19 “Em tempo de verão, quando as casas estão cheias, muitas mulheres se afastam do beneficiamento do pescado, e isso enfraquece

a cooperativa. Às vezes, trabalham o mês todo pra ganhar 200 reais”.

Quadro 15 Relato das entrevistadas demonstram a assimilação de princípios da EcoSol Fonte: Elaborado pela autora

Observa-se, ainda sobre a adesão à lógica da EcoSol, que as agricultoras familiares, os grupos informais e as cooperativas da região também demonstram sensibilidade para a preservação dos ecossistemas e dos recursos ambientais. É recorrente no discurso das entrevistadas o orgulho de não utilizarem “veneno”, tanto porque consomem os produtos que cultivam, como em razão da qualidade dos produtos comercializados e da preservação da terra para o futuro uso pelos herdeiros, o que reflete um processo de conscientização, decorrente de políticas educativas realizadas em formações promovidas por entidades públicas e privadas.

A adesão à proposta da Rede por parte das produtoras/es rurais evidencia a intenção de vender excedentes por meio desta entidade. É comum, porém, muitas produtoras mandarem produtos a mais do que a rede mobiliza, a fim de que, caso o produto seja vendido, aquele valor seja revertido para a Rede. Quando da realização de diálogos informais com as cooperadas da cooperxique, todas manifestaram a concordância da Rede acrescer 15% ao preço recebido pelo produtor para se autossustentar. Essas posturas revelam a preocupação e a contribuição dos membros da Rede com a sua própria expansão.

Quanto à autodeterminação dos fins da Rede, bem como à gestão cooperada dos meios, embora existam cooperadas/os diretamente envolvidas/os no trabalho, identifica- se a necessidade de maior participação e envolvimento dos seus participantes em espaços de articulação e deliberação coletiva. A entrevistada 18, por exemplo, é cooperada da COOPERXIQUE e residente em um assentamento localizado no município de Upanema (RN), além de produzir leite, queijo e hortaliças na sua comunidade, às sextas-feiras pega um transporte alternativo para deixar os bens produzidos na região, e fica até o final da feira da Rede, a fim de ajudar no atendimento dos consumidores e no recebimento de produtos levados pelos produtores/as. Há produtores, entretanto, que se limitam apenas a mandar o que produzem, mas não têm contato cotidiano com a Rede. Aquela postura demonstra o espírito de cooperação e colaboração que a Rede precisa para funcionar plenamente, mas ainda é perceptível a necessidade de um maior investimento na formação dos produtores em relação à necessidade de maior participação da gestão da Rede. Isto viabilizaria, inclusive, que as

coordenadoras da Rede produzissem com maior constância, não as distanciando das atividades do campo, da condição de agricultoras.

Diante deste contexto, observa-se que as/os produtoras/es do semiárido potiguar vinculados à Rede Xique Xique têm recorrido a práticas fomentadas pela EcoSol, que vem se traduzindo numa lógica alternativa à hegemônica potencialmente executável e que tem contribuído para uma proposta de desenvolvimento alternativo do semiárido. Em determinadas situações, porém, ainda se identificam posturas de dependência entre produtores e Estado que as lideranças da Rede não têm contribuído para minimizar, o que desvirtua as práticas e os rumos que se buscou tradicionalmente alcançar.

Todavia, mesmo com a ausência de centralidade das políticas de EcoSol e das dificuldades de sua consolidação em face das burocracias e da dimensão continental do país, diante das potencialidades de geração de bem-estar em contextos de vulnerabilidade, é imprescindível que Estados e municípios da Federação internalizem políticas de estímulo à EcoSol. O Brasil ainda não usufrui plenamente do potencial revolucionário de empoderamento que a EcoSol nutre, da capacidade emancipatória das iniciativas autogestionadas, cooperadas, associadas, essenciais para a promoção de uma cidadania mais ativa. Tal contexto termina por atrasar o processo de fortalecimento e de consolidação das instituições e organizações do país que se destinam a esta alternativa de produção, primeiras ameaçadas em momentos de crise. É, portanto, essencial reconhecer a EcoSol como estratégia de fortalecimento comunitário, de dinamização das economias locais, de crescimento socioeconômico em que o social predomine. Trata-se, assim, de uma proposta de desenvolvimento endógeno, solidário, sustentável e justo, capaz de viabilizar a capacidade de cada indivíduo exercer livremente todas as prerrogativas que lhes são inerentes.

No que se refere ao empoderamento das mulheres, segundo Lisboa (2000), para ele se realizar é preciso a expansão da capacidade de escolha das decisões que permeiam a vida de cada mulher; o autogerenciamento; a atuação em contexto onde a capacidade de atuação das mulheres era negada; a plena cidadania. A ONU Mulheres, ratificando esta perspectiva, estabeleceu como princípios de empoderamento, dentre outros, o tratamento de todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho; a promoção de educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres; o apoio ao empreendedorismo das mulheres.

As mulheres do semiárido potiguar, após contato com sindicatos rurais, ao decidirem se auto-organizarem para produzir e comercializar os bens cultivados,

demonstram uma disposição para autogerenciarem as suas vidas, a princípio por meio do grupo “Decididas a Vencer”, depois com a criação da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária. Essas iniciativas demonstram um protagonismo das mulheres na região, o qual foi potencializado em face dos relevantes movimentos sociais, especialmente o feminista, que se estabeleceram no oeste potiguar, que contribuíram para a expansão da capacidade de decisão das mulheres. Embora muitos problemas sociais ainda subsistam, tais como a má-gestão da água, a precariedade de serviços públicos de assistência social (sobretudo no meio rural), a falta de políticas específicas para as mulheres e a descontinuidade de políticas de geração de renda no semiárido, aliados ao machismo cultural mais incidente no campo, identifica-se o progressivo incremento das capacidades de realização das mulheres com a criação da Rede Xique Xique, mormente em face das redes sociais (feministas, produtivas, ambientais) das quais elas fazem parte. Por um lado, tal contexto indica a ampliação da consciência das mulheres acerca das suas potencialidades, por outro dificulta a formação de consensos, sobretudo diante de mulheres de gerações diferentes. Isto pode ter sido um dos fatores que contribuiu para a fragilização do grupo Decididas a Vencer.

Neste contexto, o Centro Feminista 8 de Março passou a acompanhar todo o processo de auto-organização feminina no oeste potiguar, o que culminou com a formação da Rede Xique Xique. Por esta razão, além de outras, o CF8 figura como um essencial articulador para sustentar a luta cotidiana que as mulheres travam para que a sua capacidade produtiva, política e social seja reconhecida. A atuação consciente em contextos sociais onde as mulheres não participavam tem como pressuposto uma formação política sólida, o que possibilita o reconhecimento das mulheres enquanto cidadãs. A Rede Xique Xique, aliada às redes sociais que compõem, tem sido um instrumento importante de fomento à expansão das fronteiras de circulação de pessoas, produtos e serviços. A ampliação dos espaços de atuação da Rede significa, por sua vez, a expansão dos espaços de participação das mulheres. Isto demonstra que a Rede tem contribuído para transformar demandas femininas em propostas políticas feministas.

Observou-se, assim, um amplo protagonismo político das mulheres no semiárido potiguar, também em razão das atividades promovidas pela Rede Xique Xique. As articulações e formações políticas da Rede, aliadas às parcerias com diversos movimentos sociais, vêm contribuindo para a formação de lideranças femininas na região. Participantes da Rede são presidentes de associações de moradores em assentamentos e demais comunidades rurais do entorno, há uma mulher eleita

conselheira tutelar, e outra que concorre ao cargo de vereadora no município de Grossos (RN) nas eleições de 2016. Do relato das participantes há consenso em relação à melhoria da qualidade de vida das envolvidas após a criação, estruturação e atuação da Rede. Observa-se, também, o envolvimento de alguns filhos/as das participantes com movimentos juvenis relacionados à EcoSol, entretanto ainda não se vislumbra um apoio institucional específico para os jovens da zona rural, que, por conseguinte, não alimentam o anseio de dar continuidade às práticas produtivas dos seus ascendentes.

No desenvolvimento da pesquisa de campo, alguns relatos evidenciam um maior empoderamento feminino:

Entrevistada Relatos das entrevistadas demonstram

empoderamento das mulheres

Entrevistada 21 “As meninas que sabiam ler não quiseram ir para o encontro do Sindicato, porque tinham vergonha. Aí eu fui, mesmo sem saber ler.”. Entrevistada 2 “O Centro Feminista é muito importante pra

nós, porque quando as mulheres estão se afastando ele faz uma reunião, uma marcha, e a gente se junta de novo.”.

Entrevistada 24 “Eu já nasci feminista, eu só não sabia que era! Não gosto de depender de ninguém. Vou plantar, colher, cuido das galinhas, faço meu artesanato.”.

Quadro 16 Relatos das entrevistadas demonstram empoderamento das mulheres Fonte: Elaborado pela autora

Em relação ao empoderamento feminino, portanto, observa-se que a Rede tem contribuído para que as mulheres do semiárido potiguar tenham maior autonomia e gerencie de modo mais independente as decisões em suas vidas. Tal constatação não permite, porém, o reconhecimento de uma cidadania plena por parte das mulheres, dado que ainda existem mulheres que convivem em contextos violentos, ainda se observa a ausência de atuação do poder público em diversos contextos, o que evidencia que ainda existem substanciais ambientes de desigualdade no campo, sobretudo em desfavor das mulheres.

Acerca da agroecologia, como a teoria, a prática agrícola e o movimento social (WEZEL, et all, 2009) que, a partir da ressignificação dos saberes tradicionais, otimiza os agroecossistemas do ponto de vista sociocultural, econômico, técnico e ecológico,

Altieri (2000) observou uma significativa adesão e promoção dos seus princípios nas práticas produtivas da região.

No semiárido potiguar, em face da ocupação exploratória para produção em larga escala que tradicionalmente marca a região, a concentração de terras propicia a manutenção e regalias das oligarquias agrárias, a partir da exploração da mão de obra daqueles que compunham os agricultores rurais, mas que eram desprovidos de terras férteis ou perderam suas terras por causa dos endividamentos contraídos no período da modernização agrícola. A partir deste cenário é possível compreender a premente necessidade de redimensionamento ou redistribuição das terras agricultáveis do país.

Os assentamentos do oeste do Rio Grande do Norte têm contado com o apoio de organizações não governamentais e com políticas públicas para iniciar um processo de mudança de perspectiva produtiva, para ampliação dos sistemas agroecológicos de produção. Centrado na qualidade da produção, e na preservação dos recursos naturais, a agroecologia tem sido progressivamente entendida pelos produtores/as da região como um aliado no incremento da qualidade de vida, sobretudo diante da possibilidade de concorrência em condições de igualdade com as agroindústrias que, em verdade, têm como foco a produção em larga escala voltada para o mercado externo.

No transcurso da pesquisa de campo, as/os produtoras/produtores demonstram reconhecer a importância de não se recorrer a instrumentos produtivos nocivos ao meio ambiente:

Entrevistada Relatos das entrevistadas demonstram

assimilação de princípios da agroecologia

Entrevistada 2 “aos poucos a gente foi aprendendo que não adianta ter medo e querer tirar todos os sapos da roça, pois eles comem os grilos. Se a gente tirasse os sapos de lá, os grilos comeriam tudo que plantamos.”.

Entrevistada 20 “antes eu plantava hortaliça com veneno, eu vivia com problema na respeiração. Hoje, graças a Deus, eu sou outra pessoa.”.

Entrevistada 25 “Hoje a caatinga é para nós uma região boa.”. Quadro 17 Relatos das entrevistadas demonstram assimilação de princípios da agroecologia.

Fonte: Elaborado pela autora

Todavia, mesmo diante da disposição dos produtores e produtoras da região, observa-se a necessidade de maior apoio institucional das/os produtoras/es que

compõem a Rede, especialmente em relação à certificação dos produtos comercializados como orgânicos, sobretudo a fim de que os agricultores e a própria Rede possa participar de políticas públicas de aquisição de alimentos orgânicos. Atualmente a Rede não possui certificados exigidos pela legislação que atestam o caráter orgânico dos seus produtos, somente podendo fazer a venda direta dos produtos que comercializa para consumidores, em face das relações de confiança estabelecidas.

O grande progresso, nessa seara, foi a assimilação e difusão da importância dos sistemas agroecológicos de produção, discurso recorrente entre os produtores/as que comercializam via Rede Xique Xique, sobretudo diante de atividades de extensão promovidas pela UFERSA e organizações da região, como a ASA e a AACC. Essas instituições realizaram formações e desenvolveram, em conjunto com as comunidades, experiências que visam potencializar a reutilização dos recursos naturais, que têm demonstrado ser proveitosa, a exemplo do prêmio recebido pelo Centro Feminista 8 de Março em face do desenvolvimento de uma tecnologia social de reaproveitamento da água doméstica na produção.

Assim, a Rede Xique Xique e suas redes sociais têm contribuído para ampliar as posturas socioculturais e práticas econômicas das/os produtoras/es, sobretudo por meio da difusão de técnicas ecológicas novas e do resgate de práticas das comunidades tradicionais.

Conforme Sen (2009), o desenvolvimento está intrinsecamente ligado à expansão das liberdades reais imanentes à condição humana. Nesse sentido, ele gera o aumento da capacidade de realização dos indivíduos, pois o seu principal produto é o bem-estar dos indivíduos. Igualmente, Boaventura Santos (2002) entende que uma proposta de desenvolvimento alternativo se embasa no fomento às formas não capitalistas de produção e consumo, e contesta a concentração de recursos e de poder. Afasta-se, pois, de arranjos sociais empobrecidos pela alienação, pelo individualismo e por práticas exploratórias.

A experiência política da Rede Xique Xique de buscar compatibilizar os princípios feministas, a EcoSol e a agroecologia traduz-se numa proposta de desenvolvimento alternativo, pois tem como principal objetivo promover o reconhecimento social, político e econômico das mulheres enquanto sujeitos essenciais para a construção de uma sociedade mais igual e justa, inclusive sob uma perspectiva ambiental. A Rede Xique Xique, portanto, ao agregar iniciativas que prestigiem a agroecologia, o feminismo e a EcoSol, tem contribuído para fomentar a expansão dos

espaços de participação das mulheres, consistindo numa experiência alternativa de desenvolvimento no semiárido potiguar, na medida em que vem contribuindo para a expansão das liberdades reais das mulheres.

Nesse sentido, observou-se que a busca feminina por maior autonomia política, econômica, social, familiar, pode se aliar à promoção de outros valores, como o uso racional dos recursos naturais e a construção de relações produtivas não exploratórias. A EcoSol, ao propor a geração de renda por meio da autogestão e da preservação dos ecossistemas, pode figurar, ao lado do feminismo e da agroecologia, como uma alternativa de desenvolvimento economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente sustentável. A partir da experiência da Rede Xique Xique, pois, a agroecologia, a EcoSol e o feminismo tem se demonstrado como importantes recursos para o empoderamento feminino no semiárido potiguar.

Considerações Finais

O fomento desenfreado à lógica do produtivismo, em nome de uma perspectiva linear e evolucionista de desenvolvimento tem como produto o reincidente desrespeito aos direitos sociais básicos dos trabalhadores/as, além da produção de um progresso científico e tecnológico incapaz de absorver as externalidades a que da causa.

Observou-se que a formação de redes sociais no semiárido potiguar a partir da auto-organização de grupos produtivos tem figurado um importante mecanismo de fomento a princípios e práticas que propõem um desenvolvimento alternativo. Isto porque recorrem a práticas mais justas do ponto de vista ambiental, social e econômico, tais com a agroecologia, o feminismo e a EcoSol. A agroecologia tem se destacado por conscientizar os/as produtores sobre a relevância da qualidade dos alimentos e da importância do uso de práticas produtivas sustentáveis; o feminismo destaca-se por desnaturalizar as relações de gênero por meio de críticas aos papeis ocupados pelas mulheres historicamente, sobretudo no meio rural, o que tem contribuído para o empoderamento feminino na região; a EcoSol, por propor uma economia que provoca inclusão social via geração de renda e fortalecimento comunitário, à luz dos princípios da cooperação e da autogestão, fomenta relações intersubjetivas mais iguais.

A experiência política da Rede Xique Xique, ao agregar os princípios feministas, da EcoSol e da agroecologia, tem atendido ao objetivo de gerar o empoderamento das mulheres do semiárido, ao tempo em que tem colaborado para ampliar relações produtivas mais sustentáveis. Por isso, a Rede se configura como um importante apoio na ampliação da cidadania, por meio da politização dos seus integrantes e pelo resgate de valores e relações que contestam as propostas de disposição humana e social do capitalismo.

Há, entretanto, fragilidades das políticas públicas que fomentam iniciativas contra-hegemônicas no Brasil, tanto por limitações orçamentárias, como pelas crises