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Capítulo 3 – Metodologia da investigação

3.1. Opções metodológicas e faseamento do estudo

Em virtude de se pretender proceder a uma descrição e interpretação dos fenómenos a observar e de se privilegiarem os processos, a investigação que serviu de base a esta tese revestiu-se de uma natureza predominantemente qualitativa (Bauer & Gaskell, 2002; Chizzotti, 2003; Creswell, 2003; Lessard-Hébert et al., 2005; Tuckman, 2005; Guerra, 2012; Wang, 2015), embora quantificada sempre que necessário. Como referem Pardal e Lopes (2011), a quantificação de dados é perfeitamente enquadrável nas metodologias qualitativas, no sentido de garantirem uma maior validade dos dados.

O cariz qualitativo da investigação traduziu-se em aspetos como (Bogdan & Biklen, 1994; Chizzotti, 2003; Tuckman, 2005; Yin, 2011):

a assunção do processo investigativo como um todo (intenção de descrever e analisar a globalidade do processo investigativo), tendo-se privilegiado todo o processo e todos os procedimentos e não apenas os resultados finais;

a valorização da descrição e das conceções e práticas pessoais;

o propósito de recolher dados através de técnicas e instrumentos diversificados (observação mediada pelas TIC, recolha de dados documentais e notas de campo do investigador);

o facto de não ter existido a preocupação de comparar a CoTiques com outras CoP online nem de generalizar os resultados;

o intuito de procurar explicações para todos os resultados obtidos.

Ainda assim, a investigação não esteve desprovida de aspetos de índole quantificativa, dado que estes marcaram a sua presença, por exemplo, aquando da codificação das unidades de análise e da realização dos cálculos associados. Contudo, tendo a investigação um cariz primordialmente qualitativo, quando se recorreu à quantificação de dados, estes foram sujeitos simplesmente a uma análise estatística descritiva, sustentatada apenas em frequências/percentagens. O recurso à quantificação de dados visou atenuar as limitações inerentes às metodologias qualitativas, reduzir o mais possível a subjetividade interpretativa e o risco de enviesamento dos dados obtidos, conferir um maior rigor à própria investigação, proporcionar uma leitura mais rápida dos dados recolhidos e analisados e, em última instância, contribuir para uma análise mais cuidada e fundamentada (Yin, 2011).

Por forma a conferir um maior rigor e objetividade à investigação, para além de se ter recorrido à quantificação sempre que tal se revelou vantajoso, efetuou-se a validação interna e externa das análises realizadas, processos que também se descreverão detalhadamente mais adiante neste capítulo (Creswell, 2003; Tuckman, 2005; Freixo, 2013).

Por outro lado, os procedimentos metodológicos adotados enquadram-se na tipologia de estudo de caso (Stake, 2009; Coutinho, 2011; Yin, 2011; Freixo, 2013). O caso em estudo foi a CoP online CoTiques, com todas as suas especificidades (relações profissionais e sociais que se desenvolveram, o modo como foi explorada a tecnologia, …).

O estudo de caso constitui, de acordo com Anderson (2002), uma metodologia adequada à investigação na esfera educativa/formativa, mormente quando se pretende abrir caminho para posteriores estudos; em face da escassez de trabalhos no domínio de investigação em causa, o estudo que serviu de base à presente tese cumpria plenamente esse requisito. A utilidade desta tipologia de investigação decorre também das suas potencialidades para descrever e analisar fenómenos circunscritos no espaço e no tempo (Coutinho & Chaves, 2002; Coutinho, 2011), preceito igualmente cumprido pela investigação que foi levada a cabo (estudo da interação ocorrida, durante aproximadamente cinco anos, no seio da CoTiques). Yin (2011) acrescenta que esta metodologia permite analisar um fenómeno social complexo no seu contexto real, recorrendo a um conjunto de instrumentos e procedimentos adequados, sem que o investigador manipule os acontecimentos, o que aconteceu no presente estudo, uma vez que, à data em que o mesmo se iniciou, a CoTiques já tinha chegado à sua fase de transformação.

As críticas mais comummente apontadas à investigação do tipo estudo de caso são a potencial falta de credibilidade das suas ilações (esta crítica é consubstanciada na possibilidade do estudo de caso envolver menor objetividade e rigor), a fragilidade do seu poder de generalização e o mero caráter prático-utilitário de muitos estudos de caso (Anderson, 2002; Stake, 2009; Coutinho, 2011; Yin, 2011). Ao tomar-se conhecimento destas críticas expressas na literatura procedeu-se à definição de um conjunto de estratégias tendentes a assegurar a qualidade da investigação, nomeadamente as que a seguir se enunciam (Stake, 2009; Coutinho, 2011; Yin, 2011):

delimitação clara do domínio de investigação;

rigor na seleção do caso de estudo e das unidades de análise;

valorização dos quadros teóricos, tendo-se procurado, através da realização da revisão bibliográfica e da elaboração do enquadramento teórico de referência, clarificar os conceitos e proposições teóricas considerados pertinentes;

utilização de múltiplas fontes de recolha de dados, no sentido de sustentar melhor os resultados obtidos;

assegurar a fiabilidade dos processos de recolha e de análise dos dados, através da realização de uma descrição pormenorizada de todos os procedimentos encetados ao longo do processo investigativo (evitando, dessa forma, que o estudo se revestisse apenas de um caráter prático-utilitário) e da disponibilização (nos anexos e apêndices) de uma compilação de todos os dados recolhidos, no sentido de possibilitar que outros investigadores interessados possam rever as evidências;

assumir claramente que, face ao objeto de estudo e às opções metodológicas tomadas, não se visava a generalização dos resultados que se viessem a obter.

Para além da adoção de uma abordagem predominantemente qualitativa e da tipologia de estudo de caso, o trabalho investigativo apresenta, ainda, um cariz exploratório, uma vez que incidiu sobre uma área pouco explorada. As investigações exploratórias alicerçam-se em dados ou observações e, a partir deles, torna-se possível elaborar um resumo descritivo dos fenómenos (Anderson, 2002). Tal não invalida, no entanto, que este tipo de investigação se possa também apoiar num referencial teórico (Yin, 2011).

Figura 3.1 – Esquema organizacional do estudo.

Conforme decorre da análise do esquema da Figura 3.1, a metodologia implementada consubstanciou-se em quatro fases (F), sendo que cada uma delas envolveu a realização de várias tarefas (T). A F.I – Delimitação do estudo e revisão da literatura – englobou a identificação e delimitação do domínio de investigação, a formulação das questões de investigação e dos objetivos do estudo (T1), uma primeira abordagem à revisão da literatura e a elaboração do enquadramento teórico (T2) e a seleção de modelos de análise de interações online (T3). A F.II – Análise da CoTiques – integrou a construção do modelo de análise / sistema de categorias (T4), a exploração do material / análise dos dados (T5) e o tratamento, inferência e interpretação da informação recolhida (T6). A F.III – Recomendações para a conceção de CoP online destinadas à SIES – envolveu a elaboração de recomendações a partir dos resultados obtidos e de conclusões emergentes da literatura da especialidade (T7). Finalmente, a F.IV – Redação e revisão final da tese – englobou a redação da tese (T8), sendo que parte desse trabalho de redação foi realizado ao longo do percurso, e a revisão final da tese (T9). A descrição pormenorizada das diferentes tarefas encontra-se no Apêndice 2.

F.I – Delimitação do estudo e revisão da literatura

F.II – Análise da CoTiques: construção do modelo de análise

F.II – Análise da CoTiques:

validação da aplicabilidade do modelo de análise F.II – Análise da CoTiques:

exploração do material / análise dos dados – WebQDA F.II – Análise da CoTiques:

tratamento, inferência e interpretação da informação recolhida F.III – Recomendações para a conceção de CoP online

destinadas à SIES

F.IV – Redação e revisão final da tese

Exploração de modelos de análise de conteúdo

Ensaio do modelo de análise