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Capítulo 3 – Metodologia da investigação

3.2. Participantes no estudo e contexto de investigação

3.2.1. Breve descrição da comunidade de prática online CoTiques

O “tradicional” modelo de SIES – um para um – não se coaduna, conforme já foi mencionado, com as mais recentes perspetivas epistemológicas nesse domínio, além de que não permite responder ao enorme aumento do número de alunos de pós-graduação (Wisker et al., 2007; De Beer & Mason, 2009; Nasiri & Mafakheri, 2015; Khosravi & Ahmad, 2016; Maor & Currie, 2017). Para fazer face a este problema, a literatura da especialidade aponta a adoção de modelos de SIES alicerçados em CoP online e no reforço das relações de colaboração entre os estudantes de pós-graduação e entre estes e os supervisores (Wood, 2007; Miranda-Pinto, 2009; Bullinger et al., 2010; Loureiro et al., 2010a; Pozzi & Persico, 2011; Osman, 2015; Arbaugh & Kwapisz, 2016; Maor & Currie, 2017; Pimmer et al., 2017).

Foi neste contexto que surgiu a CoTiques, que correspondeu a uma CoP online em que as TIC foram utilizadas para facilitar os processos de SIES (ao nível de mestrado) e que, simultaneamente, permitiu envolver estudantes de pós-graduação em processos de investigação colaborativa (Loureiro et al., 2010a).

A CoTiques integrou, para além da supervisora,vinte e seis estudantes/supervisionados de pós-graduação, matriculados, entre os anos letivos 2004/2005 e 2007/2008, em mestrados do Departamento de Educação da Universidade de Aveiro (Loureiro et al., 2010a). Este número foi confirmado no processo de análise das interações, ainda que, como se verá mais adiante, sete desses supervisionados tenham evidenciado uma participação muito escassa na interação.

A maioria dos estudantes/supervisionados estava integrada no Mestrado em Multimédia em Educação, existindo também alguns a frequentar mestrados no âmbito da Educação em Ciência no 1.º Ciclo ou em Didática e Desenvolvimento Curricular. Todos, com exceção de um, eram professores do Ensino Básico e Secundário e as suas idades variavam entre os 25 e os 50 anos (Loureiro et al., 2010a).

O domínio do conhecimento da CoTiques, isto é, o interesse comum dos membros que a constituíam (Wenger, 1998; Wenger et al., 2002), foi a integração das TIC em contextos educacionais (Loureiro et al., 2010a). A prática da comunidade, na aceção de Wenger (1998), residiu na realização de trabalhos de investigação nesse domínio, já que foi sobre

ele que incidiram os projetos de investigação dos estudantes/supervisionados (Loureiro et al., 2010a).

As tecnologias utilizadas incluíram o LMS (Learning Management System) utilizado na Universidade de Aveiro, nomeadamente a plataforma Blackboard Academic Suite, e outras ferramentas externas destinadas à comunicação síncrona e ao fomento da escrita colaborativa. Ainda que a interação no seio da CoTiques se tenha realizado predominantemente com recurso às TIC, ocorreram também, periodicamente, algumas sessões presenciais, quer de natureza grupal (sabatinas) quer de atendimento individualizado por parte da supervisora, que constituíram importantes oportunidades para proceder à apresentação dos trabalhos em curso e para sistematizar e discutir tópicos de investigação. As sabatinas, ao permitirem um aprofundamento e consolidação do sentido de comunidade, revelaram-se também essenciais para facilitar a interação online (Loureiro et al., 2010a).

O trabalho desenvolvido no seio da CoTiques envolveu, fundamentalmente, a partilha de materiais/recursos, o apoio mútuo, o debate de ideias e a reflexão conjunta, a partir de dificuldades emergentes do próprio trabalho que vinha sendo desenvolvido por cada um dos mestrandos. Foram abordadas temáticas diversificadas, desde aspetos mais formais relacionados com a apresentação de documentos (apresentação de referências bibliográficas, formatação de documentos, criação de índices,...) até aspetos de índole mais concetual (integração das TIC na educação, as CoP online,...), passando também pela análise de aspetos de natureza metodológica (Loureiro et al., 2010a).

No que concerne à organização/estruturação da CoTiques, há que referir que, tendo existido um domínio comum a todos os projetos de investigação, estes foram organizados/agrupados por temas (Figura 3.2). Através de um processo de negociação e de questões colocadas aos supervisionados, foram constituídas pequenas equipas de investigação com dois a cinco membros (Loureiro et al., 2010a). De acordo com Wisker e colaboradores (2007), os estudantes/supervisionados podem mais facilmente ser envolvidos em situações de entreajuda e de apoio e colaboração entre pares se estiverem integrados em equipas com um reduzido número de elementos, o que se verificou na CoTiques.

Figura 3.2 – Organização/estruturação da CoTiques (Loureiro et al., 2010a, p.158). (St = estudantes; Sv = supervisor; Exp = especialistas/peritos)

A Figura 3.2 demonstra que a CoTiques não foi uma comunidade fechada, tendo envolvido também a participação de elementos externos, particularmente nos processos de validação dos instrumentos de recolha de dados e na análise de dados (em especial, no caso dos estudos que envolveram a análise de interações). A título de exemplo, refere-se a participação dos peritos/especialistas M. McIsaac e C. Gunawardena, que intervieram na validação da análise de conteúdo efetuada por dois dos supervisionados da CoTiques. O envolvimento destes e de outros peritos externos revelou-se extremamente importante, não só nos processos de validação acima referidos, mas também pelo facto da sua participação gerar um potencial aumento de visibilidade e relevância dos trabalhos em desenvolvimento e, simultaneamente, incrementar os níveis de motivação dos membros da CoTiques (Loureiro et al., 2010a).

A CoP online CoTiques, enquanto projeto pioneiro e inovador no panorama nacional, requereu uma análise rigorosa do seu impacte e, simultaneamente, que se procurasse retirar dele o maior número de ilações possível. Foi com esse intuito que se decidiu que a CoTiques constituiria o caso do estudo em que se alicerça a presente tese.

3.2.2. A plataforma de apoio ao projeto

Como já se aludiu anteriormente, ainda que também tenham ocorrido diversas sessões presenciais, a interação no seio da comunidade CoTiques desenvolveu-se predominantemente em contexto online, recorrendo à plataforma Blackboard Academic Suite. Para evitar uma excessiva dispersão foram criadas apenas três áreas de conteúdo na homepage da CoTiques para partilhar referências bibliográficas: "Integração das TIC na educação", "Comunidades de aprendizagem e CoP" e "Métodos de investigação". Foi igualmente concebida uma quarta área para permitir aos supervisionados a partilha de trabalhos/artigos das conferências em que participaram. Finalmente, foram também criadas várias áreas de conteúdo pessoal, que constituíram um arquivo dos projetos de investigação, do trabalho que ia sendo desenvolvido pelos supervisionados, de artigos, de relatórios de progresso/finais, de apresentações e das dissertações finais. Todas as áreas de conteúdo podiam ser atualizadas tanto pelos supervisionados como pela supervisora, isto é, todos os membros tinham essa permissão (Loureiro et al., 2010a). A comunicação/interação entre os membros que integraram a CoTiques foi proporcionada pelas seguintes ferramentas de comunicação (Loureiro et al., 2010a):

correio eletrónico: proporcionou a comunicação assíncrona privada através do envio, receção e gestão de mensagens, concedendo-se aos utilizadores a possibilidade de selecionarem os recetores que desejavam. Esta ferramenta acabou por ser pouco utilizada e, quando o foi, visou essencialmente fomentar o incremento da interação; fórum de discussão: constituiu um meio público de comunicação assíncrona que

permitiu a publicação e a leitura de mensagens. As interações estabelecidas através desta ferramenta foram automaticamente armazenadas na plataforma;

avisos ou anúncios: possibilitou a visualização de avisos/anúncios colocados na plataforma, tendo o utilizador a faculdade de, de acordo com as opções que selecionar, os poder ou não armazenar;

grupos: correspondeu à formação de equipas de trabalho mais restritas no seio da CoP online. Neste âmbito, pelo seu desempenho, destacou-se um grupo que desenvolveu trabalhos relacionados com a exploração das TIC no 1.º Ciclo do Ensino Básico e com o desenvolvimento de competências transversais.

A interação no seio de cada um dos grupos de trabalho que entretanto se constituíram no interior da CoTiques alicerçou-se também na utilização de várias ferramentas (Loureiro et al., 2010a), algumas delas já acima descritas:

fórum de discussão de grupos: ferramenta de comunicação assíncrona pública; correio eletrónico: ferramenta de comunicação assíncrona privada;

colaboração: ferramentas de comunicação síncrona; troca de ficheiros: ferramenta de partilha de ficheiros.

Não obstante a utilização das diversas ferramentas acima mencionadas, os fóruns de discussão evidenciaram uma clara primazia. Foram criados diversos fóruns para apresentar, partilhar, analisar e discutir os trabalhos em curso e os documentos disponibilizados nas áreas de conteúdos da CoTiques. Esses fóruns de discussão abarcaram uma considerável diversidade de temáticas, nomeadamente as seguintes: desenvolvimento de um projeto de investigação, como efetuar uma revisão da literatura, debate de questões metodológicas, a análise de dados, a escrita das dissertações / escrita académica, a socialização (essencial para desenvolver o sentido de comunidade), entre outras (Loureiro et al., 2010a).

Por outro lado, há que referir que, para além das disponibilizadas pela plataforma Blackboard, foram também exploradas outras ferramentas de comunicação/interação. O MSN foi utilizado para o desenvolvimento dos diferentes projetos de investigação, o que envolveu a partilha, a negociação, o debate de ideias, a supervisão por pares e a socialização. Recorreu-se ao Skype e a ferramentas de partilha de documentos sobretudo na fase de revisão das dissertações, uma vez que vários dos projetos de investigação estavam relacionados e, como tal, a utilização dessas ferramentas permitiu a revisão de mais do que uma dissertação em simultâneo; essas ferramentas possibilitaram, para além da negociação e debate de ideias, preparar apresentações de trabalhos e a sua exibição nos encontros presenciais, bem como a avaliação de relatórios escritos por parte da supervisora e pelos pares. Para permitir a escrita colaborativa, fundamentalmente tendo em vista a elaboração de artigos científicos, recorreu-se a ferramentas de escrita colaborativa, como as Wikis ou o Google Docs (Loureiro et al., 2010a).

Neste estudo recorreu-se primordialmente aos dados recolhidos a partir da plataforma Blackboard Academic Suite, mormente através da análise dos registos das interações online (fóruns de discussão) e dos documentos partilhados.