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A pesquisa foi voltada para a definição de um modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos baseado na dinâmica de sistemas e na teoria de economia circular para planejamento e tomada de decisão, a fim de possibilitar implantações alternativas de políticas públicas.

A partir do levantamento de dados primários e secundários realizados através das pesquisas: bibliométrica, documental e entrevistas foi construído o modelo de dinâmica de sistemas. A metodologia da Dinâmica de Sistemas aplicada na pesquisa seguiu o que Matos (2012, p. 98) definiu como:

“... uma técnica de modelagem e simulação especificamente projetada para problemas dinâmicos de gerenciamento a longo prazo. Esta propõe entender como os processos físicos, os fluxos de informação e a gestão de políticas interagem para então criar a dinâmica das variáveis de interesse”.

Desta forma, a pesquisa seguiu os cinco passos propostos por Sterman (2000) para o processo de modelagem: Articulação de Problemas (Seleção de Limites); Formulação de Hipóteses Dinâmicas; Formulação de um modelo de simulação; Teste; e Planejamento e Avaliação de Políticas.

Primeiro passo: o problema está relacionado a atual gestão praticada no Brasil e as

deficiências encontradas em Curitiba nas pesquisas passadas. Desta forma, o trabalho propôs um modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos aplicado ao município, possuindo como base a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a teoria de Economia Circular.

A atual investigação é o desdobramento de pesquisas passadas como: Fugii (2014) e Silva, Fugii e Santoyo (2017), as quais forneceram as variáveis para o desenvolvimento do modelo apresentado.

Fugii (2014) utilizou a metodologia de prospecção estratégica e a técnica Delphi. A Prospectiva ocupa-se apenas com a questão: “O que pode acontecer?” e torna-se estratégica quando uma organização se interroga sobre “Que posso fazer?”, consequentemente partindo para as questões seguintes “Que vou fazer?” e “Como vou fazê-lo?”. Surge, então, a sobreposição entre a Prospectiva (previsão) e a Estratégia (GODET et al., 2000).

A técnica Delphi demonstrou a estruturação da pesquisa de levantamento junto aos especialistas. O Delphi é um dos métodos subjetivos de previsão mais confiável, retratando a

evolução de situações complexas, por meio da elaboração de estatística de opiniões de especialistas sobre o assunto (CRESPO, 2007). Entre suas principais características estão o anonimato dos participantes que compõem o grupo, garantindo aos participantes tranquilidade em defender seus argumentos (SANTOYO, 2012).

O método consiste na organização de um diálogo com especialistas por meio de questionários, a fim de obter um consenso geral ou, pelo menos, razões para a discrepância. O confronto de pontos de vista é feito por meio de uma série de perguntas sucessivas, entre cada uma das quais as informações obtidas passam por um tratamento estatístico – matemático (CRESPO, 2007).

Segundo Santiago e Dias (2012), o método Delphi demonstra ser uma importante ferramenta para a pesquisa de opinião e para a busca de consenso entre especialistas da área de resíduos sólidos, devido a experiência e do conhecimento acumulado ao longo dos anos sobre a GRSU.

Um dos resultados da pesquisa de mestrado foi um conjunto de 36 variáveis presentes na gestão de resíduos sólidos urbanos, o que gerou o artigo: “O que é relevante para planejar e gerir resíduos sólidos? Uma proposta de definição de variáveis para a formulação e avaliação de políticas públicas” (SILVA et al., 2015).

Segundo passo: está relacionado ao objetivo geral da pesquisa, que foi apresentar um

modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos, baseado em dinâmica de sistemas para antecipar o futuro, gerando cenários e auxiliar na tomada de decisão.

A base do modelo apresentado foi desenvolvida a partir da dissertação de Fugii (2014) e do artigo publicado por Silva, Fugii e Santoyo (2017). Tal trabalho teve como objetivo realizar um estudo cujo objetivo foi propor um modelo de avaliação das ações do poder público municipal de Curitiba diante das políticas de gestão de resíduos sólidos urbanos para o contexto brasileiro. Tal modelo envolveu 5 etapas metodológicas: compreensão das variáveis de análise previstas; pesquisa Delphi para validar as relações entre as variáveis; estruturação de um modelo para avaliação com a relação das variáveis e suas inter-relações; definição dos documentos e instrumentos para aplicação do modelo; aplicação do modelo para o caso de Curitiba.

Silva, Fugii e Santoyo (2017) expõem dos que o modelo de gestão de resíduos sólidos em Curitiba apresenta deficiências, ou seja, demonstram que há variáveis que não estão alinhadas com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, abrindo espaço para pesquisas e desdobramentos futuros.

O modelo também seguiu as considerações propostas pela banca, o que influenciou a investigação por alternativas para os resíduos úmidos. As buscas foram feitas com o objetivo de encontrar alternativas viáveis para o tratamento dos resíduos orgânicos além da complementação do subcapítulo “os elementos que constituem um modelo de gestão integrada de resíduos sólidos urbanos”.

Os trabalhos de: Epstein (2011), Hoornweg, Thomas e Otten (1999), Inacio e Miller (2009), Lohri et al. (2017), Lim, Lee e Wu (2016), Massukado (2008), Siqueira e Assad (2015), entre outros retratam a compostagem e contribuíram para uma descentralização do sistema de tratamento de resíduos sólidos atuais, o que possibilitou o desenvolvimento de um cenário com tratamento doméstico/comunitário para os resíduos úmidos.

Terceiro e quarto passo são respectivamente a formulação de um modelo de

simulação e o teste que utilizaram o programa de computador Vensim® Software. Programa que foi estudado no período do doutorado sanduiche realizado na Universidad de Alcalá, Madri, Espanha, no período de 01/08/2017 a 31/01/2018.

Para a simulação e teste do modelo foram realizadas entrevistas para a atualização do atual cenário de Curitiba, bem como fornecer os dados primários necessários para desenvolver o sistema. A obtenção dos dados primários contou com a participação de indivíduos ligados direta ou indiretamente à gestão de resíduos de Curitiba, ou seja, pessoas da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Instituto Lixo e Cidadania e Secretaria Municipal de Abastecimento. As obtenções dos dados foram feitas presencialmente através de um questionário semiestruturado ou através de questionamentos feitos a partir do correio eletrônico, no segundo semestre de 2018.

Entre as respostas primárias obtidas para execução dos cenários estão o custo atual de coleta, o custo de disposição final, quantidade per capita gerada de resíduos, composição gravimétrica do resíduo gerado, destino final, tratamentos existentes, ações futuras e o horizonte de análise, que é o tempo de duração do próximo serviço licitado.

Além dos dados primários a pesquisa contou com a complementação de dados secundários oficiais provenientes do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento – (SNIS), Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Curitiba de 2017, Plano de Gerenciamento do Tratamento e Destinação de Resíduos Sólidos Urbanos do Consórcio Intermunicipal para a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos, além do portal eletrônico da prefeitura de Curitiba.

Tais fontes forneceram o número de habitantes, a taxa de crescimento populacional, estratégias passadas, ações futuras e dados históricos da gestão desde 2010.

A partir dos dados e das variáveis foi construído um modelo baseado na metodologia de Dinâmica de Sistemas a qual dá o ineditismo para a pesquisa e seus cenários foram desenvolvidos com base na Economia Circular, na Política Nacional de Resíduos Sólidos e nas problemáticas encontradas nas pesquisas passadas.

Desta forma os cenários gerados possuem uma maior circularidade de materiais através da reciclagem de matéria seca e úmida, redução da quantidade de resíduos destinados ao aterro sanitário, responsabilidade compartilhada pelos resíduos, tecnologias alternativas de tratamento, um melhor acondicionamento e segregação, além de evitar a geração de resíduos.

Quinto passo: planejamento e avaliação de políticas, que foram discutidos a partir dos

resultados obtidos da aplicação do modelo simulando o município de Curitiba.

Tal simulação foi feita para um horizonte de 27 anos que corresponde a duração do próxima serviço licitado. O primeiro cenário apresentou um desdobramento da atual conjuntura do sistema de gestão de resíduos até o ano de 2045, ou seja, segue com os problemas e as limitações presentes e gera as consequências futuras.

A partir do primeiro modelo foi possível gerar outros cenários para a gestão do município com o acionamento de novas variáveis. Como por exemplo: a criação de uma estação de transbordo, aumento da reciclagem dos resíduos secos, compostagem, maior participação da sociedade e melhor segregação na fonte geradora.

Os desdobramentos futuros dão um panorama dos resultados obtidos a partir de ações passadas, assim o modelo demonstra possibilidades e alternativas para uma nova gestão de resíduos sólidos urbanos contribuindo para o planejamento estratégico, tomada de decisão e políticas públicas.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa conforme os objetivos específicos seguidos da discussão.