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Uma viagem com duração de mais de seis meses, como as em- preendidas por meus interlocutores, exige uma considerável atenção no que diz respeito a questões orçamentárias. Embora, como se verá mais adiante, existam possibilidades de se “fazer dinheiro viajando”, como ressalta Marc, um grande montante destinado, sobretudo, a gastos considerados de primeira ordem como passagens, comida e hospedagem, faz-se necessário. O valor ainda tende a aumentar se os viajantes, como no caso de Benny e Ceci, buscam precaver-se de de- terminados riscos ligados à dimensão da saúde, comprando seguros

com uma ampla cobertura, abrangendo todo o período vivido fora de suas cidades natais. Mesmo considerando as experiências de viagem de Marc, que talvez possam ser apreciadas, a partir de suas narra- tivas, como as menos previsíveis, preocupações de tal ordem não podem ser descartadas.

Discorrendo sobre os momentos que antecederam alguns de seus deslocamentos mais alargados, o carioca afirma a importância de se poupar dinheiro ou, em seus próprios termos, “juntar grana”:

Quando podia, eu dobrava os meus turnos, queria trabalhar mais... Tentava dar mais aulas de inglês, pedia para pessoas conhe- cidas indicarem meu trabalho. Se estou trabalhando em um bar, em um restaurante ou na recepção de algum hotel, por exemplo, busco tirar as folgas dos meus colegas! Se for para viajar, posso passar noites viradas trabalhando; com mais dinheiro posso fazer uma viagem maior, menos preocupado...

Com o intuito de subsidiar seus deslocamentos, suas viagens que o levam a ultrapassar as dinâmicas rotineiras, Marc, primeira- mente, “afunda-se” na rotina: ele “impregna-se” de trabalho justa- mente para poder deixá-lo por um tempo mais dilatado em sua pró- xima jornada. Suas táticas lidam com os próprios contornos da dimensão laboral da qual ele procura se afastar: “tirar as folgas” dos companheiros ou passar “noites viradas”, como práticas rotineiras, provavelmente minariam ainda mais seu sentido de integração no que se refere à sua comunidade local; contudo, vistas como possibili- dades de aumento do ganho salarial mensal – que será destinado para a consecução de um objetivo localizado em futuro próximo – essas atividades aparentam ter, subjetivamente, sua gravidade amainada.

Procurando um segundo emprego, por exemplo, é como Ceci esforça-se para ampliar suas reservas econômicas que, assim como Marc, serão utilizadas para viagens que se aproximam. Ao lado das ações próprias de sua profissão, jornalista, Ceci, então, serve mesas de cafés ou trabalha em caixas de restaurantes ou mercados. Simultaneamente aos novos trabalhos, a australiana procura diminuir os gastos de seu dia a dia; os meses que antecedem uma longa jornada,

portanto, são aqueles, segundo Ceci, em que os passeios noturnos e a frequência em restaurantes ou lanchonetes, enquanto consumidora, reduzem-se significativamente. Sobre um cotidiano ainda mais regrado em termos orçamentários na etapa pré-viagem, ela disserta:

Eu adoro sair com meus amigos, conhecer restaurantes, ir para festas... Mas quando decido fazer uma viagem, tenho de reduzir estas atividades; penso que todo dinheiro que puder poupar fará com que minha viagem seja mais longa, segura e confortável. Não é tão difícil. Em vez de sair, chamo os amigos para minha casa ou para a dos meus pais, compramos coisas no mercado; é bem mais barato que sair pela noite... Também vou muito à praia, pratico esportes, busco atividades gratuitas na cidade.

Válido destacar que a parcela do cotidiano que é vivida na tem- poralidade que precede a viagem, no depoimento de Ceci, em alguns pontos muito se aproxima daquilo que procura ser vivido por muitos viajantes no decorrer de seus percursos. Por exemplo, evitar frequentar restaurantes e cozinhar em casa, cujo equivalente em trânsito é a co- zinha do albergue ou do camping em que se está hospedado, são ativi- dades comuns no sentido de minimizar gastos e, consequentemente, estender roteiros. A busca por programações culturais ou artísticas, nas cidades visitadas, em que não se cobra entrada é igualmente ele- mento comum entre o “antes” e o “presente” da viagem. Formas de aproximação com o período de trânsito, assim, são constituídas e ex- perimentadas, mesmo antes deste efetivamente se materializar.

No discurso de Benny acerca de sua atenção quanto à organi- zação do orçamento disponível para se viajar, duas colocações me chamaram a atenção. A primeira delas diz respeito a uma tática uti- lizada pelo inglês para conseguir baratear o custo das passagens aé- reas, o que – via de regra – compromete uma parte significativa das economias dos sujeitos que pretendem deslocar-se por extensas áreas: trata-se do cadastramento em “programas de milhagem”83

83 Os “programas de milhagem” configuram-se como estratégias de fidelização de clientes por parte de empresas aéreas. São duas, basicamente, suas formas de acesso: a primeira diz res-

oferecidos por empresas de cartão de crédito. Em um tom meio lé- pido, certa feita, Benny disse-me que, se pudesse, pagaria até seus “cafezinhos” diários fazendo uso de seus cartões, sempre no intuito de “pontuar” o máximo possível, resgatando seu investimento e tro- cando-o por passagens aéreas.

A segunda colocação que me deixou bastante pensativo refere- -se a uma espécie de “bazar” que Benny organiza entre seus amigos e conhecidos antes de fazer suas viagens. Os produtos vendidos em tal evento são aquilo que ele considera que não deverá mais utilizar, objetos de natureza variada: são roupas, equipamentos esportivos, ferramentas, material eletrônico e até livros, o que o economista in- glês procura vender para expandir suas economias.

Antes de viajar, eu faço uma arrumação geral em minha casa. Aquilo que não está tão velho e pode ser vendido, é separado. Depois, marco com alguns amigos aqui em casa para tomar uma cerveja ou jogar cartas, mostro o que eu tenho, explico que quero viajar e, se eles se interessarem, compram. Penso que tudo que tenho e que eu não uso talvez possa ser transformado em um dinheiro para fazer uso em minhas viagens.

Se o movimento de Marc para “juntar dinheiro” é astucioso (CERTEAU, 1994) quando lida com as regras do trabalho para, poste- riormente, dele se afastar e o de Ceci é tático quando parece inaugurar um modo de viver o cotidiano, economicamente, de forma aproxi- mada com aquilo que se viverá em trânsito, as astúcias no caso de Benny derivam de uma espécie de “reconversão do valor” que se abate

peito ao estabelecimento de uma relação direta com a própria companhia aérea, consistindo em uma espécie de sistema de pontuação (milhas) que é incrementado à medida que passa- gens aéreas são compradas. Tal pontuação, assim, permite a aquisição de bilhetes por parte de usuários constantes. A sua forma de acesso se refere aos acordos mantidos entre essas com- panhias e cartões de crédito, oportunizando que o gasto nesta modalidade de compra também seja pontuado e, posteriormente, convertido em milhas que, por seu turno, serão trocadas por bilhetes aéreos. Como dito, dependendo do lugar que se objetiva visitar, uma passagem pode comprometer boa parte do orçamento disponível para se efetuar uma viagem, sendo a ação de comprar com cartão de crédito e pontuar o máximo possível, como faz Benny, uma estra- tégia de grande valia no intuito da redução de despesas de viagem.

sobre seus pertences. A utilidade de uma ferramenta ou a comodidade de um aparelho eletrônico perdem suas forças quando colocados em xeque pelos sentimentos a serem mobilizados no curso de uma expe- riência de viagem. O “valor” das coisas do cotidiano é trocado – pela ação de venda junto aos amigos e colegas – de forma concreta, mas também simbólica, pelos “valores” contidos na “estrada”.

Atuando conjuntamente com as questões orçamentárias, em uma relação difícil de se diagnosticar o que é precedente, emergem esforços de atenção que dizem respeito ao tempo disponível para se estar em trânsito. Em um primeiro momento, poderíamos talvez afirmar que a medida dos esforços para aumentar as economias des- tinadas à execução da viagem refere-se diretamente ao tempo que se pretende dispor no processo de deslocamento. Contudo, o contrário também parece ser verdadeiro: o tempo dedicado a uma viagem pode ser reduzido, se um valor considerado ideal para sua prática não con- seguir ser alcançado. Desse modo, existe uma articulação íntima entre os lugares que se pretende visitar, mesmo que de forma ainda suave, não muito clara, as direções precisam aparecer nesses mo- mentos pré-viagem, o orçamento alcançado e o tempo disponível.

As falas dos três interlocutores guardam similitudes no que diz respeito a esta complexa relação. Para Marc, o sucesso “dobrando turnos” ou “tirando folgas” é a possibilidade de alargamento de seu percurso. Embora, analisando seus discursos prévios, possa ser vá- lido ressaltar que há de sua parte uma extensa disponibilidade para se estar em trânsito, reforçada constantemente por um desejo de “enfrentamento do cotidiano”, como colocado, ela por si não garante a efetivação de um deslocamento alargado. A viagem com uma maior duração, assim, depende do “sucesso” de suas táticas de ampliação orçamentária. É por isso que ele busca trabalhar mais, “afundar-se” na rotina, uma vez que qualquer aumento de ganho é oportunidade de extensão de sua jornada.

Algo próximo do explicitado, também, ocorre com Ceci: suas economias materializarão, ou não, seu tempo dilatado em trânsito. Quanto maior seu orçamento, sua reserva, maiores são as possibi- lidades de confirmar uma viagem que transcorrerá durante o pe- ríodo (meses ou até anos) disponibilizado pela viajante em seu

plano inicial. Contudo, é importante sublinhar que, para a austra- liana, ao lado da questão da extensão da viagem, o esforço para ter em mãos um orçamento não tão módico articula-se com outros dois temas de preocupação: a segurança e a comodidade. Assim, de acordo com suas palavras, poder dispor de recursos financeiros para “tomar um táxi” – em vez de um transporte público durante a madrugada em uma localidade desconhecida – ou, por vezes, hos- pedar-se em um quarto privado, com banheiro particular, em de- terminados albergues ou mesmo pequenos hotéis e pousadas, são preocupações incluídas em seu planejamento orçamentário.

Já para Benny a relação entre tempo disponível e orçamento deve ser pautada pela precedência do primeiro termo. É preciso pensar acerca do período pelo qual se pretende viajar e, assim, lançar mão dos esforços para o custeamento das viagens. Quando o inglês, mesmo diante dos ganhos advindos dos “eventos comerciais” pro- movidos em sua casa, percebe que tempo disponível e orçamento não se ajustam de maneira satisfatória,84 o tempo de viagem ou os

destinos são repensados, reduzindo-se ou mesmo mudando de foco diante das expectativas dos gastos diários em determinados des- tinos, considerados, por demais, dispendiosos. Por fim, outra das ações mobilizadas pelo economista inglês para tentar reduzir seus

84 A afirmação de que um orçamento é satisfatório para empreender uma viagem, como se pode imaginar, depende de múltiplos aspectos. Passagens, hospedagens e alimentação são apon- tados pela maioria dos sujeitos viajantes como os principais custos a serem planejados. Contudo, entre alguns sujeitos, existe um planejamento orçamentário que também comporta gastos relacionados a atividades culturais (como entradas de museus, concertos e cinemas) e compra de souvenirs. Refletindo sobre os diálogos que mantive com diversos viajantes, o cál- culo do orçamento se dá, basicamente, tendo o dia como unidade de referência; desse modo pensa-se acerca do gasto diário e multiplica-se pelos dias em trânsito. Conseguida uma média, ela servirá como uma espécie de “bússola orçamentária” que orientará as despesas dos su- jeitos. Se em um dia da viagem, por exemplo, houve uma despesa maior que a média obtida, em outro as atividades a serem procuradas devem ser da ordem da gratuidade, no sentido de recompor o equilíbrio financeiro, assim me explicou um viajante chileno. O gasto diário, por seu turno, é calculado conforme o “custo de vida” no local visitado, sendo necessário para a segurança da contabilidade, portanto, angariar o máximo de informações sobre os destinos de uma viagem. Apenas como anedota, certa vez conversei com uma viajante belga que se utili- zava de um programa de computador, muito próximo de uma planilha do excel, para organizar suas despesas. Os horários em que ela fazia suas refeições no albergue em que estávamos hospedados, assim, funcionavam também como momentos de preenchimento de sua pla- nilha, sendo tal controle, segundo ela mesma pontuou, extremamente valioso para pensar e decidir sobre as etapas vindouras de sua jornada.

gastos – o que novamente atesta a importância do planejamento, so- bretudo, no que se refere às longas viagens – é decidir-se o quanto antes pelo empreendimento, procurando comprar os bilhetes aéreos, responsáveis pelo deslocamento entre destinos mais distantes, de forma antecipada, aproveitando possíveis descontos promocionais.

Aproveitando o argumento de Benny acerca da importância de se comprar as passagens com antecedência, outra questão que se impõe como preocupação para os viajantes em seus processos de construção de roteiros é o clima. É sabido que no período conside- rado de “baixa estação” os deslocamentos tendem a ser barateados, no entanto tais períodos, via de regra, estão atrelados a condições climáticas constituídas por chuva, frio ou neve, por exemplo. Isso deve gerar uma atenção redobrada frente aos variados descontos oferecidos para viagens circunscritas a tais estações, como as “pro- moções de inverno”.85 Por outro lado, essas oportunidades de

compra podem ser aproveitadas se avaliadas, de antemão, as dinâ- micas do clima na região de destino à época da viagem, buscando elaborar roteiros que possam ser desenvolvidos ou mesmo incre- mentados pelas singularidades climáticas locais. Ilustração disso é o modo como Marc “encarava” uma viagem pela Europa, para a qual ele se organizava em uma de nossas conversas, que teria lugar na es- tação invernosa daquele continente:

Eu queria conhecer a Europa, mas os preços do Brasil quase nunca são os melhores. Então, tinha de viajar no inverno. Eu pego onda, gosto de mar, natureza, então a opção foi aproveitar o inverno procurando lugares para fazer snowboard, que havia experimentado nos Estados Unidos e gostei muito; a sensação é próxima à do surf. Ainda não sei muito bem para onde vou, mas o espírito da trip é este.

85 A consideração prévia das especificidades climáticas de uma região, à época de uma viagem, evita os descompassos entre a experiência projetada, ou seja, elaborada diante das imagens veiculadas sobre um destino e a experiência concreta no destino. Há aqui, portanto, a necessi- dade de se pensar nas relações propostas por Urry (1999) entre o destino e as expectativas criadas sobre este, sendo a correspondência da experiência vivida no lugar visitado com sua produção simbólica um importante fator de avaliação, por parte dos viajantes, do prazer ou da satisfação mobilizados em seus deslocamentos.

Relacionando-se, ainda, com questões orçamentárias, de dis- ponibilidade de tempo e de condições climáticas, preocupações quanto aos documentos necessários para se empreender uma viagem não podem deixar de ser destacadas. No capítulo anterior, a ideia de uma “mobilidade autorizada” que caracterizaria os desloca- mentos de sujeitos como Marc, Benny e Ceci foi trabalhada. Os pas- saportes, as identidades e os vistos, assim, são componentes de operação da citada autorização; são eles que conferem aos sujeitos viajantes possibilidades de transpor fronteiras dentro dos limites da legalidade, sendo por isso mesmo “itens” indispensáveis para se organizar nos momentos que antecedem uma jornada. Eles ganham especial atenção porque também incidem no orçamento destinado a uma viagem, uma vez que são expedidos mediante o pagamento de taxas. Ao mesmo tempo, figuram numa relação próxima com o tempo que os sujeitos dispõem para viajar: um percurso pode ser encurtado ou mesmo impossibilitado pela falta de um visto ou pela expiração de um passaporte.

Alguns países exigem, dentre os documentos exigidos para tornar suas fronteiras acessíveis, aquilo que no Brasil a Anvisa86

chama de “Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia” (CIVP): um documento que atesta a vacinação do visitante, sobre- tudo contra a febre amarela. Em países como a Austrália, visitado por Marc e outros tantos do sudeste asiático, como Laos e Tailândia, percorridos por Ceci, há uma forte demanda pelo CIVP, por exemplo. Para além das documentações mencionadas, muitos viajantes con- temporâneos acompanham as relações políticas internacionais, atendo-se, de forma detalhada, às informações veiculadas nas mí- dias sobre expressões violentas de conflitos em nível internacional ou local. Os receios advindos da atmosfera conflituosa que se abate

86 Sobre o CIVP e demais exigências previstas no Regulamento Sanitário Internacional (RSI), ver: h t t p : / / p o r t a l . a n v i s a . g o v. b r / w p s / c o n t e n t /A n v i s a + P o r t a l /A n v i s a / C i d a d a o / Assunto+de+Interesse/Certificado+Internacional+de+Vacinacao. Para maiores informações sobre o sistema de emissão do CIVP é necessário procurar os Centros de Orientação para Saúde dos Viajantes, cujos endereços estão disponíveis em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/ wcm/connect/eed303804a1aa7edaad8abaa19e2217c/LISTA+DE+COSV++23+junho+2014. pdf?MOD=AJPERES.

sobre determinados países ou regiões tendem a limá-los enquanto escolha de rota, embora, em alguns casos, a tensão política que en- volve certos destinos contribua para o desejo de visitação por parte de viajantes mais intrépidos.87

Sobre o receio acima mencionado e as alterações de rotas ou roteiros ao considerar os riscos de conflitos, Ceci possui uma nar- rativa interessante:

Eu estava planejando ir para Santiago de Compostela quando li sobre aquela tragédia do trem. Imediatamente, eu cancelei a minha viagem para lá. Tive medo daquilo ter sido algum atentado. Já tinha lido sobre movimentos separatistas na Espanha.

Ceci reporta-se, em sua fala, ao acidente provocado pelo des- carrilamento de um trem vindo de Madrid, no dia 24 de julho de 2013, nas proximidades da cidade de Santiago de Compostela, região da Galícia, na Espanha.88 A morte de 80 pessoas, de fato, provocou

uma grande comoção e, para a australiana, pelo menos por um mo- mento, tal evento pode ser vinculado à prática de um possível aten- tado, fazendo com que ela mudasse seus planos. A compreensão, mesmo que genérica, do cenário político espanhol, então, reforçou

87 O programa “Não conta lá em casa”, exibido no canal por assinatura Multishow, é um interessante exemplo para se pensar o estabelecimento de esforços de viagem que se dirigem para “regiões em conflito”. Composto por três jovens, o “Não conta lá em casa” consiste no registro das experiências destes viajantes em lugares como Faixa de Gaza, Coreia do Norte e Palestina, com o objetivo de revelar, segundo suas próprias palavras, “o outro lado de países em constante conflito”. Interessante perceber é que programas com essa proposta parecem repercutir nos processos de criação de roteiros por parte de determinados viajantes, sendo cada vez mais comum nas redes sociais o relato de experiências deste tipo. Algo próximo a este uso do risco como elemento auxi- liar de definição de uma rota de viagem pode ser visto em diversas partes desse trabalho. No en- tanto, para uma apreciação mais detalhada sobre o tema, associando-os com a emergência de empresas turísticas especializadas no oferecimento de roteiros tidos como “não-convencionais”, os chamados reality tours podem ser encontrados em Freire-Medeiros (2009).

88 Detalhando um pouco mais o acidente, é preciso dizer que ele ocorreu com um trem em alta velocidade a serviço da empresa ferroviária espanhola RENFE, durante o trajeto Madrid-Ferrol. As carruagens descarrilaram, especificamente, na localidade de Angrois, distante três quilôme- tros da estação Santiago de Compostela. Neste acidente, 222 pessoas estavam a bordo, das quais