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Organização da sala: disciplina, nº de alunos e infra-estrutura Situação Sentimentos relatados Reação dos adolescentes

A NÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

3. Organização da sala: disciplina, nº de alunos e infra-estrutura Situação Sentimentos relatados Reação dos adolescentes

ƒ Professor que muda o

aluno de lugar por qualquer motivo;

ƒ Professor que não tem controle da sala;

ƒ Professor que não permite movimentação e conversa;

ƒ Bagunça na sala de aula;

ƒ Salas com grande quantidade de alunos.

ƒ Dor de cabeça, dificuldade em se concentrar e prestar atenção, mal-estar por

não conseguir entender a matéria; ƒ Dificuldade para se concentrar. ƒ Não conseguem prestar atenção; ƒ Ficam conversando para passar o tempo; ƒ Não conseguem

ƒ Professor que tem controle da sala;

ƒ Professor que tem autoridade, mas é calmo;

ƒ Professor que sabe a hora certa de deixar brincar;

ƒ Salas com menos alunos; ƒ Professor que se preocupa com a ordem e limpeza da sala; ƒ Aspecto físico da escola. ƒ Bem-estar ƒ Falta de concentração, mal-estar. ƒ Demonstraram sensações de bem- estar. ƒ Demonstraram gostar quando a professora pede para limpar a sala antes do início da aula.

ƒ Bem-estar

ƒ Colaboram melhor com o professor;

ƒ Conseguem ter mais atenção do professor; ƒ Querem permanecer

na escola.

Com relação à disciplina, foi possível perceber que os alunos são afetados por sentimentos de mal estar em classes excessivamente indisciplinadas. Eles mencionam situações vividas no ano anterior, relacionando a desordem na sala de aula com a aprendizagem.

É que no ano passado a nossa sala era a pior da escola, terrível. A professora via que a sala não queria nada com nada, então só passava lição e deixava na lousa, quem aprendeu, aprendeu, mas a Marta explica melhor (menina).

Foi possível perceber, nessas seqüências, que alguns professores têm dificuldade em lidar com as necessidades dos adolescentes que são considerados indisciplinados. Ao se sentirem incapazes de lidar com a situação, é possível inferir que, nesse caso, “desistem” de tentar controlar a sala, deixando os alunos livres. O mesmo aconteceu no estudo de Chaves (2005), em que os docentes expressam sentimentos de impotência, frustração e inutilidade por causa da

indisciplina. As reações deles frente a isso são semelhantes às descritas nesta pesquisa: ficar parado esperando a sala se acalmar, elevar o tom de voz, registrar no livro de ocorrência, conversar com a família, dar suspensão, encaminhar à direção, mandar o aluno para fora, ignorar, conversar, usar de recompensa e punição, ameaçar.

A análise de Chaves foi realizada só com educadores; já essa, só com adolescentes. Foi interessante notar que, com relação a algumas das reações dos professores acima descritas, os alunos sentem mais vontade de fazer bagunça e dizem que se o professor conversasse com eles seria mais fácil para se entenderem e assimilarem melhor a matéria:

Quando o professor chega, a sala está uma maior bagunça. (menino)

Aí o professor fica parado na porta esperando a sala se organizar. (menina)

Enquanto não estiver todo mundo sentado... (menina)

Se o professor chega e eu estou no bolinho, eu continuo no bolinho. O professor fica só olhando. (menino)

Aí a gente fica fazendo bagunça! (menina)

Eles afirmam que, quando o docente fica bravo, sentem mais vontade de “fazer bagunça” e têm mais dificuldades para prestar atenção:

Quando ele fica estressado, ele chama o diretor. (menino) Quer que todo mundo fique em silêncio. (menina)

A gente fica quieto e depois começa a dar risada. (menino)

Os outros tentam controlar a sala mas não conseguem, aí não dá nem vontade de estudar. (menino)

Os alunos, por sua vez, nessa relação que podemos chamar de problemática, reagem com mais indisciplina, chegando a atitudes de vandalismo:

A professora dizia que dava até vergonha de passar em frente à sala, porque quando ela via, era só papelzinho voando, gente cuspindo no chão. (menina)

Giz. (menina)

Jogava papel no professor. (menino)

A gente pixava a escola, a parede do banheiro era colorida (Mas afirmaram que a preferem limpa.)

Foi muito marcante e revelador quando, ao serem questionados se não sentiam dó do professor, responderam que não, pois os professores também não tinham pena deles:

Vocês não têm dó do professor? Não, eles não têm dó da gente! (menina) Dá pra ver no rosto dele. (menino)

Ele mesmo diz que não tem dó de ninguém. (menino)

A indisciplina aparece, portanto, não só como maneira de se opor ao professor, mas também, como já afirmou Chaves (2005), como maneira de comunicar necessidades não satisfeitas. Os alunos afirmam que nessas matérias não aprendem quase nada:

No ano passado, nós não aprendemos nada! (menino – a turma concordou.)

Eu não fazia nada na sala, só fazia de vez em quando. (menino) Eu não lembro de nada, mas tinha uma professora que era legal, ela corrigia a gente quando a gente falava errado. (menina)

Os professores de 8ª série, entrevistados por Munhoz (2007), relacionam a falta de interesse pela matéria e o pouco hábito de estudo com a indisciplina em sala de aula. Interessante notar que, enquanto em Munhoz, os professores responsabilizam os alunos pela indisciplina, nesta pesquisa acontece justamente o

contrário: os alunos responsabilizam os professores por não controlarem a sala e afirmam que, quando há bagunça, não conseguem prestar atenção, o que, provavelmente, prejudica a aprendizagem:

(...) tem professor que não tem controle da sala. Porque a sala fica aquela bagunça, a cabeça fica cheia, não dá pra prestar atenção. (menina)

[...]

Até hoje eu não sei nada da matéria dele. Mentira, eu sei sim! (menino)

Wallon (1975) discute sobre dois tipos de disciplina. Na primeira, chamada por ele de formal e coletiva, há um esforço em manter o aluno quieto para se obter tranqüilidade, silêncio e passividade, de modo que nada venha a distraí-lo dos exercícios e nem fazer sombra as palavras do professor. O autor afirma que essa disciplina proíbe a participação do aluno, reprime a curiosidade, as iniciativas intelectuais e o interesse. Na segunda, existe a preocupação do professor ensinar e educar, adaptando-se às atividades espontâneas do aluno, que são por ele estimuladas. Conforme podemos inferir dos depoimentos, os adolescentes demonstram que esse tipo de disciplina em sala de aula é desejada. Eles demonstraram incômodo com as classes excessivamente indisciplinadas e apreciam quando os professores conseguem ter o controle:

Mas quando o Tadeu e a Marta entram na sala todo mundo senta. (menino)

Por que isso acontece?

É, porque eles são legais! (menina) Eles controlam a sala. (menina)

Os outros tentam controlar a sala mas não conseguem, aí não dá nem vontade de estudar. (menino)

Ao mesmo tempo em que consegue controlar a sala, o professor legal também é aquele que deixa brincar na hora certa, é flexível e se relaciona de forma simpática com os alunos:

O Tadeu conversa, respeita, deixa brincar na hora certa. (menino) Ele é o professor mais calmo da escola. (menino)

Tem mais autoridade. (menina)

Ele é aquele professor que deixa a gente brincar, sabe? Ele chega e enquanto está fazendo a chamada ele deixa a gente brincar. Ele só pede para falar baixo porque quer ver quem está na sala. (menino)

Também quando a gente está fazendo lição, ele deixa conversar. (menino)

Ele gosta de brincar também, gosta de dar risada com a sala. Ele conta umas piadinhas. (menino)

Quando a gente fala que não pode falar, aí ele dá risada junto. (menino)

A gente fala que ele está tendo um caso com a inspetora, aí ele dá risada. (menino)

A Marta também é legal! (menino)

Os alunos afirmam que a maioria dos professores não quer desordem em sala de aula, não permitindo que se movimentem ou falem qualquer coisa que esteja fora do conteúdo da matéria. Mas é difícil para os adolescentes se manterem quietos. Eles sentem vontade de conversar, rir e se movimentar.

Às vezes a gente está quieta, dá uma louca assim, aí a gente começa a dar risada.

As meninas também gostam de dar risada. Eu faço uma palhaçadinha de nada e elas já dão risada. Eu acho engraçado! (menino)

A gente faz uma piadinha, as meninas dão risada, aí começa. (menino)

É possível perceber, portanto, que a movimentação em sala de aula, em alguns casos relatados, também parece não ser bem vista pelo professor.

Limongelli (2004) afirma que parte da literatura que trata da relação entre movimento corporal humano e processo de ensino-aprendizagem fundamenta-se em uma visão mecânica e estrutural; desconsidera os elementos internos da pessoa (emoções, sentimentos e pensamentos), compreendendo o aluno de forma fragmentada. Nessa concepção, o movimento é considerado um elemento gerador de desatenção, que interfere negativamente no processo escolar, e passa a ser proibido na sala de aula. (p. 49). As pesquisas de Thomé (2001) e Lima (2005) também revelam que os professores apresentam uma visão distorcida sobre tal questão. Os aspectos motores quase sempre são considerados como falta de atenção e concentração, portanto, prejudiciais à aprendizagem.

Segundo Wallon, os movimentos são a base, não somente para gerar tensão nos músculos e garantir deslocamentos corporais, mas também das atitudes, que são o suporte físico das intenções.

“As emoções consistem essencialmente em sistemas de atitudes que respondem a uma determinada espécie de situação” (Wallon, 1995 b, p. 140)

Limongelli nos lembra ainda que a movimentação corporal é uma atividade de relação da pessoa consigo mesma, com os outros e com o meio, em que são construídos e expressos conhecimentos e valores, portanto, parte constitutiva do processo de ensino-aprendizagem.

Foi possível perceber que, de fato, o movimento, em sala de aula, é necessário e interfere no cotidiano escolar. Os alunos expressam essa necessidade, vinculando esse aspecto à descrição do “professor legal” x

Aí o professor fica parado na porta esperando a sala se organizar. (menina)

Enquanto não estiver todo mundo sentado... (menina)

Tem umas professoras que não deixam nem virar pra trás que já começam a mudar a gente de lugar. (menina)

A fala dos adolescentes confirma que, quando os professores estabelecem um tipo de disciplina dinâmica, em que são considerados os movimentos e as atividades espontâneas para promover o conhecimento, de fato melhora o processo de ensino-aprendizagem.

Com os professores legais a gente aprende melhor (menina). O professor Tadeu e a Marta ensinam bem (menina).

A gente aprendeu mais esse ano com a Marta esse ano do que no ano passado inteiro com a outra professora (menina).

O número de alunos por sala também interfere nos sentimentos vividos. Normalmente, as classes são muito numerosas, o que atrapalha a concentração e impede que o professor dê uma atenção adequada aos adolescentes.

Quantos alunos têm na sala? 39. (menina)

Na minha têm 42. (menina)

39, mas não vai nem a metade. Vai no máximo uns 15. (menino) Na minha freqüentam 25. (menino)

Como é melhor?

Com menos é bem melhor! (todos juntos)

Com menos é bem melhor! É bem melhor pra aprender. (menina) Com mais gente fica mais bagunça... (menino)

Com menos gente ele explica rápido, e quem não entende ele passa na mesa e explica. (menina)

Com muita gente não para entender nada. (menino)

Com muita gente não dá pra passar na mesa de todo mundo, porque demora. (menino)

Os alunos demonstraram se sentirem mal, pois, com salas muito numerosas não conseguem compreender a matéria. Em algumas circunstâncias,

alguns deles procuram os professores fora do horário da aula. No entanto, alguns destes se negam a oferecer explicações, alegando que os alunos não prestaram atenção porque não quiseram ou porque preferiram fazer bagunça.

Dá pra falar com o professor depois, fora da aula?

Ihh, se for falar com o professor, ele diz que a gente não prestou atenção, ficou conversando. (menino)

E já começa a falar um monte. (menino)

Não prestou atenção porque não quis! (menina)

Há alguns educadores que explicam novamente quantas vezes for preciso, até fora do horário da aula. Esses são os considerados legais.

Mas tem alguns que até explicam de novo. (menino) É, o Tadeu... (menino)

O Tadeu explica quantas vezes quiser. Depois da aula, fora do horário... (menino)

É, o Tadeu explica quantas vezes quiser. Até se for fora da aula, ele fala para passar outra hora lá e explica. (menino)

Os adolescentes afirmam que essa atitude do professor é boa, porque sentem que estes se preocupam e querem seu bem. Além disso, conseguem aprender melhor o conteúdo da matéria.

Ah... é melhor, né?! (Todos)

A gente vê que eles querem o melhor. (menina) É bom, a gente aprende mais. (menino)

Silêncio

Quando o professor dá mais atenção para ver quem não aprendeu... dá para ter um convívio melhor... (menina)

Os alunos também demonstraram sentimentos de bem-estar com os professores que se importam em manter a limpeza da sala de aula:

A Marta também é legal! (menino) Ela fala demais! (menino)

Aquela lá a gente tem que respeitar, ela gosta de respeito. (menino)

Toda vez que ela chega na sala, ela coloca um versículo da Bíblia na lousa. (menina)

E pede para o representante limpar a sala. (menino)

Outro aspecto mencionado, com ênfase, foi com relação aos aspectos físicos da escola. Os alunos mostraram o desejo por ter uma escola bonita:

A escola é bonita?

É, está reformando. (menina)

Está reformando. Antes o campinho era cheio de pedra, de terra. (menino)

Agora dá até para jogar basquete! (menino)

Agora que a gente vai sair da escola, ela fica mó bonitona. (menina)

É verdade! (menino)

É... antes não era. (menino)

A gente vai terminar a escola esse ano, mas nós vamos poder entrar de final de semana, na escola da família. (menino)

Os educandos gostam de usufruir da infra-estrutura escolar, como se percebe na conversa abaixo - “para jogar bola” - mas, em outros diálogos que aparecem em outras categorias, também gostariam que a escola tivesse uma boas condições para que pudessem ter mais aulas de informática, vídeo e outros.

Para jogar bola, a gente fica na escola até depois do horário. (menino)

Nós jogamos ali no campinho todos os dias as 17hs. (menino) Quando a escola é bonita é bom, tem árvores, é bom. Bebe uma água geladinha... (menino)

Esse aspecto apareceu também no final do grupo focal, em que solicitei que resumissem em uma palavra como seria a escola dos sonhos:

Queria que tivesse piscina na escola. (menino) Quadra na escola. (menino)

Essa escola antigamente era linda, era da hora. Tinha flores, um gramado verde. (menino)

Tinha aula de natação, dança. O uniforme era diferente. Elas usavam uma sainha... (menina)

Com uma meia no meio do joelho. (menino) Que todos colaborem. (menino)

Tem computador. (menino)

Essas informações corroboram as pesquisas de Segundo (2007), Lima (2005) e Munhoz (2007), pois a boa infra-estrutura foi fator relevante também para o sentimento bem-estar dos alunos. Conforme esses autores, quando a escola se preocupa com a infra-estrutura, está demonstrando respeito e consideração pelos estudantes, o que faz com que eles se sintam melhor no ambiente escolar.