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Organizar competências, responder a desafios – o século

Inês Amorim*

1. As obras de misericórdia: os encargos, sua natureza

1.3 Organizar competências, responder a desafios – o século

O ponto de partida será, sem dúvida, o Compromisso de Lisboa, de 161857, e a atenção sobre as

alterações na administração e nos domínios de acção, correspondentes a tantos outros encargos.

Fica claro que, durante este período, os hospitais e a sua reforma, são, por um lado, um elemento de enriquecimento patrimonial, mas por outro um aumentar de responsabilidades e exigências de financiamento. A atenção seria redobrada em Lisboa, mas igualmente no Porto. Os enjeitados funcionam como um peso de encargos, de que as misericórdias se tentavam furtar, empurrando a responsabilidade para as câmaras. Já as órfãs beneficiavam de legados específicos, não sendo disputadas verbas passíveis de outra aplicação.

Seja como for, a multiplicidade de obrigações conduziu a um governo das instituições que impunha o envolvimento dos irmãos e não só. Mas, paralelamente, o recrutamento de irmãos para as santas casas foi ‑se tornando cada vez mais selectivo. Se, em 1618, o Compromisso de Lisboa reflecte a mobilidade dos irmãos, tantas vezes ausentes (nesta altura eram já 600), admitia ‑se até o número de 30, como reserva, em caso de ausência ou algum impedimento momentâneo, sublinhando a necessidade de sempre estarem completos o número de 600, capazes de servirem a Casa. Definiam ‑se, contudo, os critérios selectivos, em número de sete, expressamente enunciados. À exigência de literacia, de generosidade em não ganhar salários, ser abastado de fazenda, isento de trabalho de mãos (“que tenha tenda se for official, sendo de officio, em que a custume aver, ou que seja mestre de obras e ja isento de

54 Ver PMM, vol. 4, p. 89 ‑90.

55 Ver ABREU, Laurinda – Misericórdias: patrimonialização e controle régio (séculos XVI e XVII). Ler História. 44 (2003) 5 ‑24, ABREU, Laurinda – O Séculos das misericórdias. Cadernos do Noroeste. Série História. 20:1 ‑2 (2003) 467 ‑484.

56 Ver SÁ, Isabel dos Guimarães – As misericórdias da fundação à União Dinástica. In PMM, vol. 1, p. 25. 57 Ver PMM, vol. 5, doc. 182.

trabalhar por suas mãos, sendo de officio que a não custuma ter”58), junta ‑se um outro traço que passa

a dominar. Não bastava a dedicação exclusiva, ser casado, ou de 25 anos de idade, se solteiro, porque a condição de limpeza de sangue impunha ‑se. Os estatutos excluem os de “raça de mouro, ou judeu, não somente em sua pessoa, mas tambem em sua molher se for casado59. Ou seja, em 20 anos alteraram‑

‑se as condições, porquanto sobre estas matérias o Compromisso de 1577 era omisso. Assume, ainda, o princípio de vigilância mútua e de prevenção de conflitos entre irmãos ou dos que o pretendiam ser, ao exigir o acatamento das decisões de exclusão, caso fossem encontradas manchas de sangue na rede familiar, sem poderem protestar porque quando se propunham a irmãos assinavam, antecipadamente, essa condição.

Figura 5 – Orgânica funcional geral segundo o Compromisso de Lisboa de 161860

Provedor (homem fidalgo) 1 irmão rebedor das esmolas (nobre) 2 mordomos dos presos, 1 nobre e 1 oficial 6 visitadores (mais de 40 anos) 3 nobres e 3 oficicais 1 escrivão tesoureiro 1 mordomo da capela (oficiai) 1 escrivão (nobre)

Sendo esta a constituição da Mesa, resultado de um processo eleitoral complexo, mas que já não envolve tantos capítulos como o Compromisso de 1577, apercebemo ‑nos de um crescente número de irmãos envolvidos na governação.

Fica claro que o provedor é a figura que assume maior responsabilidade, exigindo uma presença quase constante na Casa, mas também os restantes irmãos terão que participar em múltiplas responsabilidades de governo e de representação (funerais e procissões). O Compromisso assinala uma certa hierarquia de comando ao definir o processo de substituição por ausência do provedor. Neste caso, a chefia seria assumida pelo escrivão, na ausência deste pelo recebedor das esmolas e na deste último pelo mordomo nobre dos presos (cap.8).

Por outro lado, era a Mesa que, por sua vez, nomearia muitos outros irmãos com funções específicas, como se observa na figura 6. Constata ‑se a distribuição de funções entre irmãos nobres e oficiais, em número paritário, de substituição mensal, rotativa (ora nobre, ora oficial), revelando a complexidade dos encargos e a necessidade de dividir tarefas. O Hospital, Recolhimento, as órfãs, tornam ‑se encargos específicos a ter em conta. Para os dois primeiros seriam nomeados, exclusivamente, irmãos nobres. Mas a complexidade do património em construção justifica a nomeação de tesoureiros e de mordomos, que ora recolhem verbas e as registam, ora tratam dos procedimentos de vigilância de acumulações e de pagamentos. Daí a nomeação de mordomos de demandas, da atenção com os testamentos, dos mordomos das letras (de juros), quer as que corriam no continente, quer as especificamente provenientes da Índia.

58 PMM, vol. 5, p. 276. 59 Ver PMM, vol. 5, p. 276.

Figura 6 – Irmãos da Misericórdia de Lisboa, nomeados pela Mesa, segundo o Compromisso de Lisboa de 1618

Mesa

1 irmão nobre tesoureiro e 1 irmão nobre para escrivão do Hospital Todos os Santos 2 tesoureiros das letras, 1 nobre e 1 oficial

2 tesoureiros dos depósitos, 1 nobre e 1 oficial 2 mordomos dos testamentos, 1 nobre e 1 oficial 2 mordomos das demandas, 1 nobre e 1 oficial 2 tesoureiros das órfãs e dos cativos, 1 nobre e 1 oficial 2 mordomos das cartas (da Índia), 1 nobre e 1 oficial

2 irmãos nobres para Recolhimento das Donzelas, 1 tesoureiro e 1 escrivão 1 mordomo da bolsa, mensal (1 mês nobre, 1 mês oficial)

1 mordomo da capela mensal (1 mês nobre e 1 mês oficial) 1 mordomo da boLca mensal (1 mês nobre, 1 mês oficial) 2 mordomos Hospital N.ª S.ª Amparo, mensais (1 nobre e 1 oficial)

1 mordomo da bolsa do Recolhimento das donzelas, mensal (1 mês nobre, 1 mês oficial)

A este corpo associam ‑se os “definidores”, igualmente eleitos, no dia de S. Lourenço (10 de Agosto, à tarde). Seriam ao todo 20 homens, 10 nobres e 10 oficiais, os mais votados. O capítulo 14 do Compromisso estabelece as condições de eleição, recomendando “experiencia dos negócios da casa”61.

Esta qualidade explica por que razão a Mesa não poderia deliberar sozinha num conjunto de assuntos, mas só com a participação da Junta. Verifique ‑se a tabela seguinte, na qual se procurou colocar, frente a frente, matérias que evidenciassem a complementaridade da Mesa e da Junta. Poder ‑se ‑ão apontar duas linhas de concordância ou eventual conflitualidade: a de recrutamento social (entrada de novos membros e os enterramentos) e a de administração do património (bens móveis e imóveis, bens havidos e a haver). À Mesa e à Junta presidia o provedor.

Tabela 3 – Assuntos e decisões obrigatoriamente tomadas em conjunto pela Mesa e pela Junta da Misericórdia de Lisboa, segundo o Compromisso de Lisboa de 1618

Cap. 13 “Das cousas que a Mesa não poderá fazer sem junta” (Mesa, 13 irmãos eleitos)

Cap. 14 “Dos definidores” (Junta, 20 definidores eleitos) não poderia decidir “em sinco cousas, porque não convem que possa aver dispensação nellas”

receberem irmãos de novo e ainda que os poderà riscar A primeira he acrescentar o numero dos irmãos que fica apon‑ tado

A segunda he dar promessas que não hão ‑de ter effeito em seu tempo, salvo nos dotes das orfãs e petições de cativos que se regularão pello que se dispõem nos capitolos que dellas e delles tratão

A segunda he remover o que no capitolo doze se dispõem na materia das informações ou dispensar nas calidades e idades que hão ‑de ter conforme a este Compromisso

A terceira despender dinheiro ou fazenda à conta do que ouver

de cobrar de futuro, ainda que seja em seu anno A terceira he emprestar dinheiro da Casa ou gastar ‑se dos de‑positos, ainda que seja por emprestimo A quarta emprestar os ornamentos e prata da Casa

A quinta dar sepultura perpetua ou deixar por letreiros nellas na

Igreja da Misericordia A quinta he enterrar a Irmandade alg˜ua pessoa que não for irmão, salvo se for Principe ou Infante. [a quinta]E no que toca a dar creditos para a India e outras partes ultramarinas, poderà a Mesa com a junta fazer o que lhe parecer mais serviço de Deos e bem das partes, conforme aos tempos e conjunções, procurando quanto for possivel que lhes venhão suas heranças e legados com segurança e brevidade […] porquanto milhor està aos herdeiros e legatorios [sic] dos defunctos terem suas heranças e legados seguros que virem‑ ‑lhe a risco das náos e das muitas mãos porque passão atè lhe serem entregues, salvo se as mesmas pessoas o requererem. A seista aceitar capellas e instituições ou obrigações desta ca‑

lidade A quarta pedir a Sua Santidade que commute algum legado em outra cousa, ainda que pareça em beneficio do defunto que a deixou, salvo se o tal legado se não poder por nenhum caso cumprir na forma em que o defunto ordenou que se fizesse, para se atalharem escrupulos que pòde aver em elle ficar por cumprir

A setima vender ou trocar rendas pertencentes à administração da Casa por qualquer titolo e via que seja

A oitava he fazer concertos ou transaução sobre heranças de propriedade que se deixarem a Casa, ou dividas que lhe per‑ tencerem, ainda que seja por cousa certa e de milhor condição, não se tira, comtudo, à Mesa poder dar alg˜ua cousa em justa satisfação de seu trabalho aquellas pessoas que lhe arrecada‑ rem as taes dividas, ainda que ha ‑de ter cuidado da fidelidade que se deve guardar aos pobres, para que não fiquem defrau‑ dados do que lhes pòde acrecer dando ‑se menos

A nona he mudar ou alterar o que for determinado por assento de alg˜ua Mesa, se ficar lançado no livro dos acordos ou segre‑ dos, pella desauthoridade que recebe a Casa e outros inconve‑ nientes que a experiencia tem mostrado de desfazer h˜ua Mesa o que assentou a outra

A decima he dispensar em sinquo casos no governo da Casa das donzellas. O primeiro no tempo em que as orfãs do Reco‑ lhimento podem estar nelle. O segundo em se receber alg˜ua sem dar fiança e a porção ordenada. O terceiro em se dar nova visita da Misericordia daqui em diante a quem estiver no dito Recolhimento. O quarto em se recolher nelle alg˜uua molher sendo casada, sem licença de seu marido. O quinto em que se depositem no dito Recolhimento alg˜uas pessoas por authori‑ dade de justiça, ou composição das partes, nem estarem nelle com as orfãs ou porcionistas parentas suas de idade de dez annos pera cima, sem pagarem a mesma porção que as porcio‑ nistas pagão, nem poderâ a Mesa despachar nenhum negocio sem assistirem nella sete votos pello menos.

Nem poderà a Mesa reservar para sy fazenda alg˜ua ou juro in

perpetuum das suas heranças livres sem o parecer da junta

E outro si podera a Mesa com o parecer da junta pedir dispen‑ sação para commutar em juro a fazenda de raiz livre que se deixar à Misericordia applicada in perpetuum por se evitarem, como fica dito, inconvenientes que resultão da Misericordia administrar ou arrendar semelhantes bens.

Pela análise desta tabela constata ‑se que as preocupações em relação ao património e à sua aplicação se tornam o fundamento desta complementaridade e vigilância mútua: na administração dos dotes das órfãs e das recolhidas, na manutenção das fazendas, na alienação do património e, sublinhe ‑se, na não anulação de decisões tomadas em outras mesas, já devidamente inscritas em livros próprios.

O Compromisso acrescenta ainda “outras pessoas que servem a Casa por sellario”62 (cap. 27).

Estabelecia que estas não poderiam nunca ser irmãos da Misericórdia enquanto remunerados, porque o acto de acção gratuita era a condição inerente à aceitação pela Irmandade.

Figura 7 – Outros colaboradores, não irmãos, que recebem salário, segundo o Compromisso de Lisboa de 1618

• cuide do cartório e guarde segredo (salário)

• (certidões, procurações, etc.) documentos firmados pelo escrivão da Mesa • missas (dom de palavra e de órgão), enterramentos e confissões (concurso, o

combinado nos testamentos)

• moços de capela (sirvam à missa, salário) • ocupações ordinárias

• 1 em cada freguesia, pão para os presos pobres • heranças de propriedades, dívidas (pagamento irregular) escrivão

escrevente capelães moços de capela servidores de azul pessoa que tire esmola de pão pessoas que arrecadarem dívidas

Se se comparar com o Compromisso de 1577 não constam já, entre os colaboradores remunerados, os médicos, cirurgiões, etc., porque, efectivamente, passaram a pertencer ao Hospital de Todos os Santos.

Os laços estabelecidos com o Hospital passam pela função dos mordomos para tal designados e do próprio provedor que teria que viver no Hospital, embora pareça recusar ‑se, se acreditarmos nas recomendações do capítulo quarenta (“sobre a ordem que avera na vivenda dos provedores nas casas do Hospital”63).

Fica claro que os encargos aumentaram, certamente, apesar de já estarem bem identificados nos estatutos anteriores, de 1577. Se a pobreza era o factor generalizado de assistência, porque pressupunha a não existência de outras formas de recurso, a doença, a prisão e o cativeiro continuavam a assumir outras tantas preocupações, como a recolha de órfãs, mulheres em risco e enjeitados. Os hospitais eram já vários: Hospital de Santa Ana (enfermas), Hospital de Nossa Senhora do Amparo (enfermos) e o Hospital de Todos os Santos. A institucionalização de mulheres pobres passava pelo reconhecimento de órfãs, algumas em recolhimentos (Recolhimento das donzelas), visitadas em suas casas e merceeiras, nestes dois últimos casos porque de idade avançada, viúvas, de dignidade e condição, senhoras que seguiam uma vida de recato e oração.

O Compromisso do Porto segue de perto o de Lisboa. Aliás, invoca ‑o, logo de início, na necessidade de actualizar o anterior. À partida, não apresenta tanta especificidade de funções, mas elas estão lá, como se pode comprovar numa simples comparação dos títulos dos capítulos (ver anexo 1). O que parece claro é a atenção dada à administração dos legados, testamentos, cartas de risco e crédito, verbas relativas às órfãs e dotadas, pobres e presos. Os enjeitados oscilaram, sempre, entre uma administração camarária e a Misericórdia, esta, para o efeito, financiada pela primeira.

O ano económico iniciava ‑se a 1 ou 2 de Julho, logo após a eleição da Mesa, no dia de Visitação de S. Isabel (1 de Julho). Ficava claramente especificada a cessação de funções e a transmissão para a seguinte, em particular no que dizia respeito às contas relativas a rendas e juros.

Neste aspecto sublinhe ‑se o que se previa relativamente aos testamentos. Em ambos os compromissos, Lisboa e Porto (1618 e 1643), dedicam ‑se dois capítulos, um ao modo como se deviam receber os testamentos, outro relativamente à responsabilidade do mordomo dos testamentos, cargo inexistente em 1577. Nos dois casos revia ‑se uma avaliação dos custos da recepção, da averiguação acautelada da sua liquidez, mas leia ‑se o que diz o de Lisboa “se a fazenda que o testador deixar não for certa e liquida, de maneira que por ella se possa logo cumprir o testamento, a Mesa não podera acceitar o ser testamenteira, porque do contrario se seguem demandas e queixas dos legatarios e accredores que causam notavel perturbação e muitas vezes descredito da Irmandade que importa muito mais que a fazenda e interesse que della se pode esperar”64.

Acrescentem ‑se os capítulos que dizem respeito à acumulação de capitais. Entrariam por duas vias, uma pelas mãos dos tesoureiros das letras e respectivos mordomos (ver a figura 6) de modo a aceitarem as cartas que especificamente vinham da Índia “logo que chegarem as naos e de arrecadarem o dinheiro dellas como o tempo for comprido, para que as partes a quem pertence o dito dinheiro, conheção o beneficio que devem à Casa e a inteireza com que nella se serve a Nosso Senhor, as quais letras se carregarão logo que chegarem sobre os ditos thesoureiros e não pagarão nenh˜ua letra ainda que seja acceitada sem a contia della estar recebida”65. A estes juntam ‑se os mordomos dos depósitos, que recebiam e assentavam verbas

doadas, juros e foros. Destes sairiam verbas, sob a forma de despesas, a aplicar em dotes, verbas saídas dos juros expressamente aplicados a estas obrigações, assim como parte dos juros seriam entregues ao recebedor das esmolas para as obrigações e despesas da Casa66.

63 PMM, vol. 5, p. 319. 64 PMM, vol. 5, p. 306. 65 PMM, vol. 5, p. 295. 66 Ver PMM, vol. 5, p. 295 ‑296.

Qualquer misericórdia teria, assim, teoricamente, segundo os seus compromissos e regulamentos, livros da receita, livros de despesa, livros de administração dos hospitais, dos recolhimentos, dos legados, de dinheiro a juros, da Índia e outras partes67, sendo imensa a documentação produzida pela Misericórdia

de Lisboa68. A prática de encadernar os papéis produzidos no decurso da actividade institucional,

nomeadamente na Santa Casa do Porto, permitiu a construção de longas séries, bem conservadas e extensas. O Compromisso do Porto refere ‑se, explicitamente, ao mordomo do celeiro, cargo inexistente na Misericórdia de Lisboa, e que se responsabilizava por todas as receitas e despesas do pão, recebidas de foros e pensões (cap. 24). Tais competências materializaram ‑se numa série de livros, desde 1600 a 186569.

Mas os encargos não se cingiam a estas obrigações. Passavam ainda pelo cumprimento dos estatuídos pelos doadores e respectivas intenções. Por exemplo, dar de comer ou vestir pobres, mesmo os presos, em dias específicos, dias de festa, para lá do quotidiano. Os presos sob a caridade da Misericórdia (rol de presos) tinham uma ração prevista: por semana três broas de meio alqueire cada, a que se juntava carne de vaca, cada semana três arráteis de carne, e o bacalhau nos dias da Quaresma70. Já o “banquete do

Domingo de Lázaro”, no Domingo anterior à Páscoa, incluía pão branco, vinho, bacalhau cozido, bacalhau frito e coberto com ovos, arroz, açafrão, cravo, pimenta, gengibre, ovos, fruta, cebola, feijão, vinagre, azeite (para as 2 caldeiras e bacalhau cozido)71. Por sua vez, os pobres da Misericórdia, semanalmente

contemplados com esmolas, tinham 5 deles, no dia de aniversário de D. Lopo, direito a serem vestidos e a um jantar do qual constava, queijo, presunto velho, açafrão, gengibre, canela, cravo, pimenta, arroz, vaca, carneiro, galinha, açúcar, vinho branco e tinto, pão, pastéis/empadas (de carneiro), leitão, lombo de vaca, um prato de ovos “reais(?)”, água de flor, ovos para as almôndegas, manteiga, arroz doce, etc..72

Mas os hospitais tornavam ‑se extremamente exigentes, pela delicadeza e precariedade das situações. Ainda na Misericórdia do Porto, para o Hospital de D. Lopo, fundado nos finais de XVI, estipulou ‑se, em 13 Agosto 1669, que cada doente recebesse ao jantar 1 pão de 8 réis e meio arrátel de carneiro; outro arrátel à ceia, meio quartilho de vinho a cada refeição73. Para os doentes curados em sua

casa, pelo menos para os finais do século XVI, avaliaram ‑se consumos diferenciais. Assim, se homem, 3 arráteis de carneiro e 3 padas de pão por semana; se mulher 2 arráteis de carneiro e 2 padas de pão pelo mesmo tempo74.