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Uma das grandes “invenções” da humanidade até a atualidade foi a escrita, pois só a palavra falada já não era suficiente A escrita surgiu a partir da necessidade humana de criar e guardar os registros e dados concernentes aos momentos históricos da sociedade, possibilitando assim o acúmulo do conhecimento humano.

Diante da necessidade do homem primitivo de um meio de registros permanentes, ele recorreu a vários objetos simbólicos, como nós, entalhes e desenhos. Além de guardar a pala-vra, a escrita encerra e ressuscita o pensamento humano.

De acordo com Higounet, (2004):

A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas eras: antes e a partir da es-crita. Vivemos os séculos da civilização eses-crita. Todas as nossas sociedades basei-am-se sobre o escrito. A lei escrita substituiu a lei oral, o contrato escrito substituiu a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E, sobretudo não existe história que não se funde sobre os textos. Desse modo, a escrita é não apenas um procedimento destinado a fixar a palavra, um meio de expressão permanente, mas também dá acesso direto ao mundo das idéias, reproduz bem a linguagem articu-lada, permite ainda apreender o pensamento e fazê-lo atravessar o espaço e o tempo.

É o fato social que está na própria base de nossa civilização. Por isso a história da escrita se identifica com a história dos avanços do espírito humano. (HIGONEUT, 2004, p.10)

É necessário chegar a essas definições para dar a escrita o lugar de destaque no conjunto das ciências históricas e fazer entender o quanto ela está intrínseca ao desenvolvimento huma-no e a sua importância.

Segundo J. Février apud Higounet ( 2004), para que haja escrita:

[...] é preciso inicialmente um conjunto de sinais que possua um sentido estabelecido de antemão por uma comunidade social e que seja por ela utilizado e em seguida é preciso que esses sinais permitam gravar e reproduzir uma frase falada. ( J. FÉ-VRIER apud HIGOUNET3, 2004, p. 11)

Ainda conforme Higounet (2004, p. 11) pode-se distinguir entre as tentativas primitivas e o sistema alfabético, três etapas essenciais: escritas sintéticas, analíticas e fonéticas. A escri-ta sintética e ideográfica (escriescri-ta de idéias) é o tipo de escriescri-ta em que um signo gráfico ou um grupo de signos sugere toda uma frase. Exemplo: o tambor utilizado na África Ocidental ou na Melanésia, para transmitir notícias em código sonoro; as pinturas rupestres; a linguagem dos gestos das mãos entre os índios da América do Norte e os chineses, todos estes fornece-ram modelos para os sinais ideográficos da escrita. Como cada signo corresponde apenas a uma idéia, a evolução desse meio ficou sujeita a modificações e adaptações constantes, pois o número de pensamentos ou idéias que se deseja comunicar é praticamente infinito e tende a aumentar passo a passo com o desenvolvimento de uma cultura.

Escrita analítica ou também designada por escrita de palavras, onde cada símbolo pas-sou a representar uma palavra. As escritas suméria e chinesa são as mais antigas escritas analí-ticas, ou escrita de palavras.

3HIGOUNET, Charles em seu livro História Concisa da Escrita não informa o ano em que J. FÉVRIER fez a citação.

Escrita fonética silábica ou alfabética é todo aquele sistema de escrita que se baseia na representação dos sons da fala. Acredita-se que a escrita fonética surgiu a partir da escrita cu-neiforme dos sumérios. Desde o segundo milênio antes dessa era o silabismo existia entre os povos sírios e mediterrâneos. A partir daí constituiu-se o alfabeto consonantal fenício, em que as consoantes tinham som e sinal distintos das vogais.

Muitas substâncias serviram de suporte para a escrita, as quais tiveram uma importante influência na variação das formas gráficas. Matérias duras como a pedra, madeira, casca de árvores, folha de palmeira, tela, seda, peles de animais, tabuletas de cera, papiro, pergaminho e o papel. Dentre estas matérias destacam-se o papiro, pergaminho e o papel como elementos que desempenharam um papel na evolução da escrita. As penas metálicas foram substituídas pela imprensa e a máquina de escrever, causou impacto no campo da técnica da escrita, no processo de fixação das formas. Portanto, os caracteres da escrita dependem desses materiais e instrumentos, para sua evolução e de acordo com a história da humanidade.

No século III, aconteceu com a escrita latina o que Jean Mallon apud Higounet, (2004) denominou de:

[...] “a inclinação do papel”: mudança da posição, respectivamente, da “folha” e do instrumento do escriba, mudança de hábito – inexplicável, aliás -, determinan-tes para a transformação essencial da escrita romana. [...] a propósito da escrita la-tina do ponto de vista gráfico é possível analisar, para conhecer, além do registro material subjetivo e das características o texto: as formas, o ângulo de escrita, o ducto, o módulo, o peso. ( JEAN MALLON apud HIGOUNET4, 2004, p.21)

Ao tratar sobre a forma, o ângulo, o ducto, módulo e peso da escrita, Jean Mallon (apud HIGOUNET, 2004) esclarece que a forma é o aspecto exterior das letras. De acordo com o autor (op.cit.), uma mesma escrita ou mesma letra pode ter diferentes formas. O ângulo da es-crita depende da posição em que estava posto o instrumento usado pelo escriba em relação a direção da linha. Este ângulo pode ser agudo ou quase reto, e a densidade dos traços varia até quase inversão. A ordem e o sentido em que os traços foram executados são chamados de duc-to. O módulo indica as dimensões das formas, largura e altura e ordem de grandeza; e o peso depende do instrumento usado pelo escriba, que pode ser: leve ou duro. O leve faz o contraste entre o traço forte e o fraco resultando numa escrita pesada; e um instrumento duro não marca quase diferença entre os cheios e os soltos resultando numa escrita suave.

4 HIGOUNET, Charles em seu livro História Concisa da Escrita, também não informa o ano em que MALLON, Jean fez a citação.

De acordo com Mallon (apud HIGOUNET, 2004, p.21) são os elementos acima citados, que permitem que as fases do desenvolvimento da escrita sejam descritas pelos paleógrafos e lingüistas.

Segundo Higounet (2004):

[...] os conceitos de escritas sintéticas, analíticas, silábicas, consonantais estão em re-lação com fenômenos lingüísticos, todavia, uma vez “inventada”, a escrita se torna um desenho que pode ter vida própria, fora da língua da qual é veículo. É quando sua história pode ser apenas um estudo das que evoluem em um contexto político, social e econômico, sendo assim a concepção da paleografia, não mais no sentido de ciência que decifra as escritas antigas, mas ampliada para a prática hoje desenvolvi-da pelos manuais e trabalhos mais recentes. Os dois pontos de vista se completam.

(HIGOUNET 2004, p. 23) Aqui é espaçamento simples.

Além da paleografia e da lungüística (ou lingüística?) participa também do estudo do desenvolvimento da escrita a epigrafia que é a ciência que se ocupa do que está escrito sobre os materiais duráveis. Já paleografia é a ciência das escritas antigas, todavia também se inte-ressa pelos estudos históricos, filológicos e literários; pelas questões debatidas das escritas gregas e latinas e com relação a este assunto mantém relação estreita com as seguintes disci-plinas: papirologia5, diplomática6 e codicologia7 (HIGOUNET, 2004, p.26 - 27).

Segundo ainda as pesquisas de Higounet (2004) muitos são os campos que participam do estudo da história da escrita, além de todos os que foram citados neste trabalho, ela tam-bém solicita a colaboração da filologia, da etnologia, da psicologia e da história e vice-versa.

A escrita, fundamento da civilização, está no fundamento das ciências humanas.

A escrita latina deriva-se do alfabeto grego. Os pesquisadores tiveram contato com os mais antigos monumentos desta escrita no fim do século VII, ou no início do século VI a.C., não deixando dúvidas de que esta escrita deriva-se de um alfabeto grego ocidental, ou seja, das escritas gregas da Itália. Todavia existe outra tese, a que recebe mais crédito, que diz que Roma recebeu indiretamente a sua escrita dos etruscos. Já no século I a.C. o alfabeto latino surge com suas vinte e três letras.

5 Papirologia é o estudo dos antigos papiros, principalmente de origens egípcia, grega e romana, que eram fabricados a partir da extração da polpa da planta do papiro onde os escritos eram feitos com tinta de cálamo, feito de junco. (Enciclopédia Meridiano.Fisher, vol.3 pág.56 a 58).

6Diplomática ciência que ocupa-se do documento público e privado. SPINA, (1977, p. 19)

7 Codicologia abrange a ciência dos documentos manuscritos ou impressos, tanto de pergaminho como de papel, encaderna-dos em livro (códice (tronco de árvore). É atinente exclusivamente ao conhecimento do material empregado na produção do manuscrito (Scriptoria) e das condições materiais em que este trabalho se verificou. SPINA, (1977, p. 21)

SPINA, Segismundo. Introdução à Edótica:Crítica textual.São Paulo: Cultrix, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1977.

Sendo assim, conclui Higounet (2004):

O alfabeto latino é, definitivamente, um alfabeto grego ocidental transformado, por uma forte influência etrusca, em um dos alfabetos itálicos. [...] termina assim, a pri-meira fase da história de nossa escrita: sua gênese e sua constituição. Doravante a escrita evoluirá graficamente até as suas formas atuais. (HIGOUNET 2004, p. 105)

Hoje, além de registrar os principais acontecimentos do processo de evolução histórica da humanidade, a escrita tem importância relevante no desenvolvimento e formação do sujei-to. É relevante porque a língua escrita se apresenta em uma multiplicidade de usos sociais e constitui num dos objetivos da instrução básica, sendo sua aprendizagem condição de sucesso ou fracasso escolar.

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