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2.4 Inteligência Competitiva

2.4.1 Origens da Inteligência Competitiva

Segundo Cardoso Jr. (2003), a inteligência competitiva não surgiu das pranchetas de administradores, economistas e cientistas da informação. A inteligência competitiva tem suas raízes em práticas de dominação hegemônica que vêm sendo desenvolvidas pelos grupos sociais desde a antiguidade, motivadas permanentemente por guerras de interesses humanos, políticos e econômicos.

Prescott e Miller (2002) citam que na maioria dos países há uma linha histórica que liga as iniciativas em Inteligência competitiva às inteligência militar e de Estado. Inclusive em algumas nações observa-se claramente a sua estreita ligação com empresas nacionais, o que tem ocasionado o repasse sistemático de inteligências produzidas sobre inovações tecnológicas e segredos de negócios em andamento.

Durante a história, os líderes das nações e dos exércitos têm procurado proteger seus interesses contra perigos ou ameaças por parte de países estrangeiros, preparando-se com informações estratégicas buscando reduzir as incertezas e maximizar as oportunidades na tomada de decisões internas e externas. Cardoso (2003) destaca que o estrategista militar chinês Sun Tzu, que viveu no século IV a.C., abordou a questão da competitividade no campo de batalhas de forma muito clara e objetiva em sua obra “Tratado sobre a Arte da Guerra”.

Na opinião de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), Sun Tzu, embora tenha deixado escritos superficiais para a conjuntura atual, ainda hoje tem sido particularmente influente na Ásia Oriental. Contudo, os autores enfatizam que é interessante observar como Sun Tzu chegou perto do atual espírito de inteligência competitiva. Assim, como as organizações mais modernas dão ênfase ao estudo da indústria na qual operam, Sun Tzu assegura, há mais de dois mil anos, a importância de se estar informado a respeito do inimigo e do local de batalha. As estratégias e táticas publicadas por Sun Tzu podem, da mesma forma, mostram o caminho da vitória em todas as espécies de conflitos comerciais comuns, batalhas em salas de diretoria e na luta diária pela sobrevivência. São todas as formas de guerra, todas combatem sob as mesmas regras – suas regras.

Platt (1967) destaca que a avidez humana por informações sobre os inimigos ou concorrentes remonta à Antiguidade. Contudo, a produção de informações estratégicas numa escala abrangente e em bases sistemáticas, na paz e na guerra, só veio a acontecer durante a II Guerra Mundial. Cardoso Jr. (2003) complementa que o período subseqüente, o da “Guerra Fria”, também conhecimento como Confronto Leste-Oeste, iniciado em 1945 e encerrado meses após a “queda” do Muro de Berlim, que ocorreu em 1989, deu razão a uma preocupação constante das potências ocidentais e das organizações com o inimigo externo, o que veio a consagrar estruturas voltadas para as intelligence activies, que utilizam métodos e

técnicas destinadas a analisar peculiaridades, tendências e aspectos das personalidades dos concorrentes, objetivando o levantamento de suas reais intenções e vontade.

Posteriormente, ocorrendo a apropriação do termo intelligence, que passou a ser utilizado na maioria dos países como “inteligência”, preservando o sentido original que é a busca e o processamento de informações com a finalidade de assegurar a tomada de decisões estratégicas.

Um verdadeiro marco de toda atividade de informações estratégicas ocorreu em fins da década de 40 do século XX, com o lançamento da obra de Sherman Kent (1985): “Informações Estratégicas”. Segundo Kent (1985), o vocábulo “informações” pode ser entendido como atividade, como organização, ou ainda, como conhecimento e que, informações encontram-se divididas, como faces de uma moeda, em informação e contra-informação.

Logo após a II Guerra Mundial, a relação entre organizações e seus ambientes tornou-se tema freqüente de pesquisa. De fato, a mudança em direção à maneira de ver uma organização sob a perspectiva de sistemas abertos tem concentrado as atenções sobre o papel do ambiente como a fonte definitiva de matérias-primas, energia e informação, que são vitais na continuidade do sistema. Portanto, o ambiente externo pode ser visto como uma fonte de informação, como um conjunto de recursos, ou como um meio ecológico (CHOO, 1998).

Em 1953 falece o líder da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Josef Stalin. Como seu substituto, assume Nikita Kruschev que durante a realização do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1956, denuncia uma série de crimes e perseguições levadas a cabo pela política da KGB. Esse fato veio a marcar o período que ficou conhecido como “Guerra Fria”, só finalizado no início da década de 90. Essas denúncias propiciaram o aparecimento de uma fase conhecida como “Coexistência Pacífica”, tendo como resultado o abrandamento das tensões entre Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Em contrapartida, como conseqüência desse conjunto de acontecimentos, milhares de analistas e operadores de informações da CIA (central intelligence agency) perderam seus empregos.

Esses profissionais iniciam uma procura por novas colocações no mercado e, para assegurar o êxito nessas tentativas, resolvem inovar: oferecem às empresas uma adaptação da atividade de informações militares, aplicadas agora ao ambiente

de negócios. No início, essas adaptações foram muito simples: substituíram alguns termos: espionagem por controle, acompanhamento ou monitoramento; forças militares por empresas; inimigos por concorrentes; tropas ou soldados por recursos humanos; meios (armamento, munição, viaturas, combustíveis e mantimentos) por insumos ou recursos materiais e, finalmente, táticas e estratégias operacionais por táticas e estratégias de vendas.

Por outro lado, os profissionais de informações que conseguiram manter suas atividades na CIA, começam a perceber que os arquivos (futuros bancos de dados) se tornam intensivamente mais difíceis de serem consultados. O simples conhecimento torna-se inócuo caso não seja acessado e, também, não se sabe exatamente o que esse conhecimento significa e quais as influências desses conhecimentos nos fatos e situações que estão sendo analisados. Estava nascendo, por transformação, a atividade de inteligência, refletindo a leitura através da análise de todas as implicações estratégicas das informações conseguidas.

No início dos anos sessenta, o mundo é desperto pelo crescimento acelerado do Japão. Descobre-se que o norte-americano Edward W. Deming, após frustradas tentativas de oferecer a implantação de suas idéias aos empresários do seu país, consegue aceitação dos seus conceitos de “Qualidade Total” na Terra do Sol Nascente. A aplicação desses conceitos era indiscutivelmente a mola propulsora desse acelerado progresso.

Os analistas e operadores de informações, que haviam conseguido colações junto às instituições privadas, mesclam os conceitos de Qualidade Total aos de Inteligência e introduzem os preceitos de Ética com a finalidade de limitar ações de acompanhamento e controle de concorrentes. A espionagem (agora monitoramento, controle ou acompanhamento) dentro da empresa concorrente passa ser considerado um comportamento antiético e condenável. Admite-se a obtenção de dados por meio de pesquisas, surgindo assim os primeiros departamentos de inteligência competitiva nas grandes corporações.