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C ORTE E A INTERVENÇÃO DO M INISTÉRIO P ÚBLICO NOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS

Fluxo Processual do REsp e AREsp no STJ

C ORTE E A INTERVENÇÃO DO M INISTÉRIO P ÚBLICO NOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS

O relator do recurso especial submetido ao rito do especial repetitivo poderá autorizar a manifestação de “pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia”.159

Essa faculdade, e não obrigatoriedade do relator, está prevista no §5º do art. 543-C do Código de Processo Civil e no inciso I, do art. 3º, da Resolução n.º 8, de 7 de agosto de 2008, que estabelece os procedimentos relativos ao processamento e julgamento de recursos especiais repetitivos.

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QO no REsp n.º 1.087.108/MS, Banco Finasa S/A vs. Bethania Rocha Araújo Nascimento, 2ª Seção, rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 4.3.2009.

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Sobre o amicus curiae conferir, dentre outros: BUENO, Cassio Scarpinella. Amicus curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008; BUENO, Cassio Scarpinella. Partes e terceiros no processo civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003; CARNEIRO, Athos Gusmão. Intervenção de terceiros. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

§ 4o O relator, conforme dispuser o regimento interno

do Superior Tribunal de Justiça e considerando a relevância da matéria, poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia.

Essa faculdade deverá ser balizada conforme a “relevância da matéria”, a ser considerada pelo relator do processo. A admissão da manifestação de pessoas, órgãos ou entidades é avaliada pelo interesse na controvérsia. Muito se assemelha à chamada pertinência temática prevista nas ações diretas de inconstitucionalidade e ações declaratórias de constitucionalidade. Contudo, peca o legislador ao permitir ao relator decidir da manifestação ou não. De toda sorte, a faculdade do relator pode se tornar rotina, de modo a permitir obrigatoriamente a manifestação, contribuindo para a legitimação da tese objeto do recurso especial repetitivo. A abertura do debate e a manifestação de pessoas, órgãos ou entidades contribuirão para a maturação das discussões que permeiam os precedentes a serem consolidados nos recursos especiais repetitivos.

Em questão de ordem no recurso especial 1.023.053/RS, a 2ª Seção do STJ, seguindo a relatora, Ministra Isabel Gallotti, indeferiu todas as intervenções de amicus curiae – “sem prejuízo de que fiquem nos autos as manifestações apresentadas, inclusive memoriais” – pois, segundo Isabel Gallotti, a participação do amicus curiae é prevista no ordenamento jurídico para os processos e julgamentos de “ações de natureza objetiva, admitindo-se essa espécie de intervenção, excepcionalmente, no processo subjetivo quando a multiplicidade de demandas similares demonstra a generalização da decisão a ser proferida”. No caso, como o recurso especial não estava submetido ao rito dos recursos repetitivos, não havia, segundo ela, previsão legal para a inclusão da associação na condição de amicus curiae. Balizou a 2ª Seção pelo indeferimento por não se tratar de recurso repetitivo.160

Além da manifestação de terceiros interessados, a critério do relator do recurso especial repetitivo, o §5º do art. 543-C do Código de Processo Civil

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dispõe que, recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o disposto no §4º do mesmo artigo, o Ministério Público terá vista do processo pelo prazo de 15 dias, para manifestação. Trata-se de uma determinação legal. Pelo dispositivo, é explícita a obrigatoriedade de manifestação do Ministério Público, ao contrário dos terceiros interessados, que está a critério do relator.

A Resolução n.º 8, de 7 de agosto de 2008, que estabelece os procedimentos relativos ao processamento e julgamento de recursos especiais repetitivos, é enfática em seu art. 3º em afirmar que, antes do julgamento do recurso, o Relator dará vista dos autos ao Ministério Público por quinze dias. Portanto, nesse caso, verifica-se uma obrigatoriedade, uma imposição ao Relator do recurso especial repetitivo. Entende-se, pois, pela obrigatoriedade e extrema necessidade da intervenção do Ministério Público não apenas como fiscal da lei, como no caso, mas até mesmo como colaborador da Corte.161

Na prática, o relator decide pela manifestação de interessados e determina a expedição de ofícios aos órgãos e entidades que entendeu pela manifestação. Não há divulgação para inscrição de terceiros interessados, mas, a critério do relator, a notificação de determinadas entidades para, querendo, manifestarem por escrito a opinião sobre a tese debatida no recurso especial repetitivo. Consigna Jorge Amaury Maia Nunes que o amigo da Corte é alguém que acredita que a decisão do Tribunal pode afetar interesse seu ou de terceiros. Não se trata de tutelar os interesses das partes ou de terceiros, “eventualmente não

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"[...] O art. 543-C, §§4º e 5º, do CPC, ao permitir a intimação do Ministério Público Federal, de todas as pessoas, órgãos, entidades e partes interessados, o fez no intuito de proteger essa eficácia objetiva mínima do acórdão em recurso especial representativo da controvérsia, pois oportunizou aos conhecedores da jurisprudência da Casa levantar todas as questões relevantes para reafirmar ou modificar a jurisprudência em torno de determinado tema, notadamente as hipóteses de exceção, se conhecidas. [...] Sendo assim, a técnica de julgamento do recurso representativo da controvérsia não trata apenas do exame da admissibilidade do recurso, da amplitude de seu efeito devolutivo e da solução ao caso concreto, mas também de firmar objetivamente a tese vencedora de modo que sua aplicação seja possível aos demais processos sobrestados." (EDREsp 1.213.082/PR, rel. Ministro Mauro Campbell Marques, 1ª Seção, julgado em 9.11.2011, DJe 18.11.2011).

representados no processo, mas sim de assegurar o prestígio da Corte, objetivando impedir que proferisse decisões equivocadas”.162

Essa manifestação, contudo, segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, somente poderá ocorrer antes do julgamento pelo órgão competente do Tribunal: “é inadmissível qualquer manifestação ou recurso apresentado por pessoas que não são partes no processo, seja na qualidade de terceiro seja de amicus curiae após o julgamento do recurso Especial pela Seção competente”.163

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Para Jorge Amaury, “essa peculiar figura provavelmente surgiu no direito inglês medieval e era caracterizada pelo fato de mostrar-se como um sujeito neutro que, a pedido da Corte, atuava no processo, visando a fornecer-lhe informações, subsídios, que permitissem uma análise mais acurada dos fatos controvertidos. (...) Nos Estados Unidos, cujo direito é ligado ao direito inglês em decorrência de óbvias razões históricas, o amicus curiae sofreu forte transformação dado que, lá, a sua atuação faz-se ou na defesa do interesse de terceiros não representados no processo ou, mesmo, na defesa de interesses de uma das partes (embora não deva, a rigor, ter relação com as partes em litígio) quando esse interesse coincida, v.g. com a distribuição de competência entre as unidades da federação, fundamentada na Constituição. Em princípio, a atuação do amicus curiae, nos Estados Unidos, fazia-se apenas na defesa do interesse público. Modernamente, entretanto, esse caráter restritivo não mais se faz presente, basta que haja um interesse, ainda que indireto, na solução da demanda, para que o terceiro emita sua opinião jurídica e seja ouvido pela Corte”. NUNES, Jorge Amaury Maia Nunes. Mandado de injunção e amicus curiae. In: Mandado de injunção: estudos sobre sua regulamentação. MENDES, Gilmar Ferreira;

VALE, André Rufino do; QUINTAS, Fábio Lima (orgs.). – São Paulo: Saraiva, 2013,

pág. 504 e segs.

Outro importante estudo do autor sobre o amicus curiae, com destaque para a Arguição

de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF e exaustivo trabalho de pesquisa

de jurisprudência relativo à participação do ‘Amigo da Corte’ nos processos do STF: NUNES, Jorge Amaury Nunes. A participação do amicus curiae no procedimento de

arguição de descumprimento de preceito fundamental – ADPF. Revista Direito Público,

vol. 1, n. 20, mar-abr/2008, pp. 47-64.

163

"[...] O § 4o. do art. 543-C do CPC, bem como o art. 3o. da Res. 08/STJ disciplinam que a admissão de interessados para manifestação em Recurso Especial admitido como representativo de controvérsia somente poderá ocorrer antes do seu julgamento pela Seção competente a critério do Relator. 2. É inadmissível qualquer manifestação ou recurso apresentado por pessoas que não são partes no processo, seja na qualidade de terceiro seja de amicus curiae após o julgamento do Recurso Especial pela Seção competente." EDREsp 1.120.295/SP, rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, 1ª Seção, julgado em 10.4.2013, DJe 24.4.2013).

A atuação do amicus curiae no entendimento do STJ se restringe à manifestação por escrito.164 E, caso acolhida a intervenção, o STJ entende que o

amicus curiae não possui legitimidade para recorrer, exceto para impugnar a

decisão que não admite a sua intervenção no processo.165

Algumas decisões do STJ apontam que o amicus curiae não tem direito à sustentação oral, balizadas no arts. 543-C, §4º, do CPC e 3º, I, da Resolução n.º 8/2008 do STJ, que autoriza ao Relator a autorização da “manifestação escrita de pessoas, órgãos ou entidades com interesse no debate”.166

164

Cf. REsp 1.291.736/PR, Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás vs. Celso Pereira, rel. Ministro

Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 20.11.2013, DJe 19.12.2013, no qual se decidiu que “em execução provisória, descabe o arbitramento de honorários advocatícios em benefício do exequente. Posteriormente, convertendo-se a execução provisória em definitiva, após franquear ao devedor, como precedência, a possibilidade de cumprir, voluntária e tempestivamente, a condenação imposta, deverá o magistrado proceder ao arbitramento dos honorários advocatícios”. Nesse precedente, a Corte Especial do STJ, a partir da propositura no voto do Ministro Relator, deliberou pelo deferimento da intervenção do Conselho Federal da OAB na condição de amicus curiae e pelo indeferimento do ingresso bem como o desentranhamento da manifestação (petição) de um Advogado. Pelas razões apresentadas pelo Relator, o julgamento dos recursos especiais repetitivos possui “nítido escopo de imprimir relevância para além do caso concreto à tutela jurisdicional que será entregue por esta Corte, na esteira do que ocorreu no Supremo Tribunal Federal após o advento da repercussão geral. Isso não significa, porém, que toda e qualquer pessoa potencialmente interessada no desate da controvérsia possa ingressar no feito para subsidiar o Tribunal (e não as partes, daí porque a alcunha de ‘amigo da Corte’) no julgamento do recurso representativo da controvérsia”.

165

"[...] Esta Corte tem reiteradamente admitido o ingresso do amicus curiae nos feitos em que haja relevância da matéria e, em especial, nos submetidos ao rito do art. 543-C do Código de Processo Civil [...], tendo em vista a previsão expressa do § 4º desse dispositivo [...]". [...] a autorização de intervenção de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia do Recurso Especial submetido ao rito do art. 543-C do Código de Processo Civil é uma faculdade atribuída ao órgão jurisdicional, por intermédio do Relator, e a atuação do amicus curiae no processo se restringe à manifestação, por escrito, antes do julgamento do Recurso Especial. [...] aqueles que participam do processo na qualidade de amicus curiae não possuem legitimidade para recorrer, exceto para impugnar a decisão que não admite a sua intervenção nos autos." (REsp 1.273.643/PR, rel. Sidnei Beneti, 2ª Seção, julgado em 27.2.2013, DJe 4.4.2013)

166

"[...] o instituto do amicus curiae [...] exige a representatividade de uma das partes interessadas ou a relação direta entre a finalidade institucional e o objeto jurídico controvertido. 5. [...] o amicus curiae não tem direito à sustentação oral. 6. De acordo com os arts. 543-C, § 4º, do CPC e 3º, I, da Resolução STJ 8/2008, antes do julgamento do Recurso Especial admitido como representativo da controvérsia, o Relator poderá autorizar a manifestação escrita de pessoas, órgãos ou entidades com interesse no debate." (REsp 1.309.529/PR, rel. Ministro Herman Benjamin, 1ª Seção, julgado em 28.11.2012, DJe 4.6.2013).

S

EÇÃO

5:

A

DESISTÊNCIA DOS RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS E

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