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focalizadas no estudo incidem sobre a realização dessas aulas no que respeita ao funcionamento da escola em sua

2.5 OS ALUNOS PARTICIPANTES DE PESQUISA: EM BUSCA DE UM PERFIL INICIAL

O Questionário socioeconômico a que fizemos menção na seção anterior facultou-nos o traçado de um perfil inicial da turma no que respeita a origem geográfica, escolarização dos pais, empregabilidade e itens afins, os quais serão aqui mencionados em uma abordagem quantitativa. Os itens a serem topicalizados nesta seção são: com quem e onde os alunos moram, quem faz companhia aos alunos e em que período do dia, escolaridade e profissão dos pais, profissão dos alunos e dos irmãos, cursos extra-escolares, ajuda nas tarefas escolares, descrição da moradia, disciplinas preferidas e hábitos de leitura.

A diversidade entre os alunos já aparece na origem geográfica: além de morarem em bairros diversificados, muitos alunos vieram de outras cidades do estado de Santa Catarina, como Lages e Xanxerê, e até de outros estados – Cruz Alta e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; Ponta Grossa e Marechal Cândido Rondon, no Paraná –, em clara

21 Houve versões intermediárias que não serão objeto de discussão em razão da necessidade de

evidência do afluxo migratório pelo qual passa a região metropolitana do estado nos últimos anos.

Para depreender dados gerais da configuração familiar, perguntamos com quem moravam, e novamente as respostas foram as mais variadas, a maioria delas fugindo da formação clássica familiar “pai, mãe e irmãos” e explicitando a prevalência de núcleos familiares construídos em torno da figura materna, conforme mostra o gráfico 1:

Gráfico 1 - Com quem os alunos moram. Fonte: Construção da autora.

Dos 26 alunos que responderam o questionário, 59% moravam apenas com a mãe e outro membro que não seja o pai (irmãos, padrasto); 21% moravam só com a mãe; 8% com mãe e pai; 4% só com o pai; 4% com o pai e outro membro que não seja a mãe (irmãos) e 4% com outros membros (irmãos, marido). A quantidade de irmãos também variou muito, de um a dez irmãos.

Além de identificar os familiares com os quais os alunos moravam, perguntamos também quem permanecia na companhia do aluno e com que frequência, objetivando depreender a disponibilidade de um membro da família para orientação em turno distinto da escola – em última instância, a busca por informações acerca de eventual capital cultural de escolarização disponível ou não para socialização em casa (LAHIRE, 2008 [1995]). Mais respostas diversificadas: percebemos uma divisão dos pais para ficar com os filhos – por exemplo, quando a mãe fica de dia, o pai fica à noite. Dificilmente ambos ficam juntos em

21% 4% 8% 59% 4% 4% Mãe Pai Mãe e Pai Mãe e Outros Pai e Outros Outros

casa em se tratando desse grupo de alunos; de todo modo, eles parecem ter um familiar, em tese, responsável por sua educação no contraturno escolar.

Quanto à escolaridade dos pais – item relevante nessa busca de mapear eventual socialização de capital cultural escolarizado –, os resultados mostraram que a maioria deles interrompeu o processo de escolarização no ensino básico (principalmente as mães) e nenhum deles alcançou ensino superior, tal qual mostra o gráfico a seguir:

Gráfico 2: Escolaridade do pai e da mãe.

Fonte: Construção da autora.

Desdobramento desse quadro parece ser o fato de que as profissões dos pais que foram informadas nos documentos são as que geralmente não exigem um nível de escolaridade muito alto, não demandando atividades diversificadas e recorrentes com leitura e escrita, conforme mostram as tabelas seguintes:

4% 4% 15% 19% 4% 12% 23% 12% 0% 4% 12% 12% 8% 12% 15% 15% 0% 4% 0% 5% 10% 15% 20% 25%

Não foi a escola 1° Ciclo Ens. Fund. incompleto 1° Ciclo Ens. Fund. completo 2° Ciclo Ens. Fund. incompleto 2° Ciclo Ens. Fund. completo Ensino Médio incompleto Ensino Médio completo Ensino Superior Incompleto Curso Técnico profissionalizante

Profissão da mãe Alunos Porcentagem

Cozinheira 3 12%

Dona de casa 6 23%

Estagiária (Serv. Social) 1 4%

Faxineira 9 35%

Padeira 1 4%

Professora 1 4%

Secretária 1 4%

Supervisora/Empresa 1 4%

Não tem mãe/não sabe 3 12%

Total 26

Tabela 1: Profissão da mãe Fonte: Construção da autora.

Profissão do pai Alunos Porcentagem

Aposentado 5 19% Autônomo 1 4% Caminhoneiro 2 8% Cozinheiro 1 4% Mecânico 1 4% Pedreiro 1 4% Pintor automotivo 1 4% Professor de Música 1 4% Segurança 2 8%

Não tem pai/não sabe 11 42%

Total 26

Tabela 2: Profissão do pai. Fonte: Construção da autora.

Percebemos, a partir da Tabela 1 acima, que a maioria das mães exerce atividades relacionadas a funções domésticas. Já em relação aos pais, como mostra a Tabela 2, prevalecem profissões em que, tal qual ocorre com as mães, não há demanda por níveis de escolarização mais

expressivos. Em contrapartida, em relação às profissões dos irmãos e dos próprios alunos, quando trabalham – 63% dos alunos afirmaram que apenas estudam –, apareceram algumas ocupações com exigências maiores de escolarização – do básico até nível superior –, como mostram as Tabelas 3 e 4 a seguir:

Profissão dos irmãos Alunos Porcentagem

Administrador 1 10% Autônomo 2 20% Bancário 1 10% Celesc 1 10% Cozinheiro 1 10% Gráfica 1 10% McDonald 1 10% Professor de Inglês 1 10% Vendedor 1 10% Total 10

Tabela 3: Profissão do(s) irmão(s). Fonte: Construção da autora.

Profissão do aluno Alunos Porcentagem Arquivo 1 6% Banco 1 6% Chaveiro 1 6% McDonalds 1 6% Secretária 1 6% Vendedor 1 6% Não trabalha 10 63% Total 16

Tabela 4: Profissão do aluno. Fonte: Construção da autora.

Entendemos que o registro desses percentuais relacionados à escolarização e à empregabilidade de familiares pode se revelar de fundamental importância porque acreditamos que a realidade traduzida por esses percentuais pode estar imbricada na resposta que buscamos para a questão central de pesquisa, já enunciada em seção anterior, cujo conteúdo tem profundas relações com a pergunta que registramos anteriormente com base em Geraldi (1997 [1991]) – e que está implicada em nossa questão geral de pesquisa – e que vale retomar aqui: Que razões tinham aqueles alunos para ler e para escrever o que, naquele momento histórico de suas vidas e naquele espaço social em que viviam, estava-lhes sendo proposto? Voltaremos a essa discussão no quinto capítulo desta dissertação.

Em se tratando da presença de um mediador mais experiente em casa – a tentativa, reiteramos, de depreender eventual capital cultural escolarizado passível de socialização (LAHIRE, 2008 [1995]) –, os resultados foram os seguintes:

Gráfico 3: Quem ajuda os alunos nas tarefas escolares. Fonte: Construção da autora.

Vemos aqui que metade dos alunos apontou não receber auxílio nas atividades escolares por parte dos familiares – 50%. O restante das respostas apresenta conteúdo bem variado: 8% afirmam receber ajuda do pai; 12%, da mãe; 19%, dos irmãos; 8%, dos amigos e 4%, do cônjuge. Sobre cursos fora da escola, como inglês e informática – cuja representação em gráfico prescindimos aqui –, 73% nunca fizeram nenhum tipo de curso, enquanto os 27% restantes cursaram apenas

informática em programas de natureza e duração diversas.

Ao tentarmos esboçar minimamente um perfil econômico da família desses alunos, solicitando que descrevessem o lugar onde moram (itens presentes em casa, número de cômodos, quantidade de tecnologia), os números levantados deixaram dúvidas sobre a veracidade das informações. Considerando que grande parte dos alunos advém de comunidades economicamente carentes, é discutível considerar, por exemplo, que a maioria possua dicionário de português, internet, livros de literatura e de poesia, livros para o estudo, local específico de estudo, mesa de estudo, quarto próprio, itens pontuados no questionário. As quantidades de aparelhos eletrônicos e cômodos informados também surpreenderam, pelos altos números indicados. Não podemos deixar, entretanto, de registrar tais resultados, mas não os descreveremos aqui porque os entendemos sob suspeição, dadas as incongruências que trazem consigo.

Importa, ainda nesse sentido, registrar que a professora da escola acredita na veracidade de tais números – ela também se diz surpresa

8% 12% 19% 8% 4% 49% Pai Mãe Irmão(s) Amigos Cônjuge Ninguém

quando vê os alunos chegando com mochilas, roupas e sapatos de marcas caras, mas confessa testemunhar essa realidade no dia a dia da escola. A questão aqui, livre de julgamentos, é a contradição de tais resultados com as respostas dos alunos nas entrevistas individuais, nas quais a maioria afirmou não possuir muitos livros ou revistas em casa; além dos comportamentos apontados pela professora, de não assistirem à televisão e nem utilizarem muito o computador – se os alunos realmente dispusessem de tais aparatos eletrônicos em casa, provavelmente não os utilizavam tal qual se espera que o fizessem. De todo modo, mantemos o registro desses dados, mas sem a pretensão de nos valermos efetivamente deles no processo analítico, em razões de a confiabilidade deles, em nosso entendimento, estar em xeque sob vários aspectos. Reconhecemos as complexas implicações analíticas que derivam daqui, mas abrimos mão de empreender a elas pela limitação do foco em estudo.

Outra contradição que apareceu entre os resultados do questionário socioeconômico e as respostas das entrevistas com os alunos foi em relação aos hábitos de leitura, cujas respostas podem ser vislumbradas nos gráficos 4 e 5:

Gráfico 4: Gosta de ler? Fonte: Construção da autora.

61% 35% 4% SIM NÃO Não respondeu

Gráfico 5: Quantidade de livros lidos por ano. Fonte: Construção da autora.

Enquanto todos os catorze alunos entrevistados afirmaram não gostarem de ler, no questionário 61% responderam que gostam. A quantidade de livros lidos por ano também surpreendeu: 34% afirmaram ler até cinco livros; 19% responderam ler de seis a dez livros; 12%, de 11 a 15; 8%, de 16 a 20; e 4%, de 21 a 25. Em contrapartida, quando pedimos no questionário que apontassem um livro preferido, 61% dos alunos responderam “nenhum”, “não lembra”, ou simplesmente deixaram a questão em branco, conforme mostra a tabela a seguir:

23% 34% 19% 12% 8% 4% Nenhum até 5 6 a 10 11 a 15 16 a 20 21 a 25

Livro preferido Alunos

A magia da árvore luminosa 1

Bíblia 2 Citações 1 Gibi 1 Harry Potter 1 Ossos Dançantes 1 Poesia 2 Senhora 1 Todos 8 Nenhum 16

Tabela 5: Livro preferido. Fonte: Construção da autora.

Em nosso entendimento, esses resultados podem ser um indício de que, se realmente a maioria dos alunos lê com alguma periodicidade, os gêneros textuais de preferência não têm o livro como suporte. Essa hipótese é corroborada na questão que pede que identifiquem os gêneros cujos textos são mais lidos (o aluno poderia selecionar quantos quisesse) – os mais selecionados foram gêneros que não possuem o livro como suporte:

Gêneros Textuais Alunos Piada 14 Horóscopo 12 Letra de música 12 Gibi 11 Orkut/blog 11 Poema 10 Romance 10 Notícia 9 Reportagem 8 Carta 7 Conto 7 E-mail 5 Crônica 4 Propaganda 4 Não respondeu 3

Tabela 6: Gêneros textuais mais lidos. Fonte: Construção da autora.

Outra questão que solicitava ao aluno para apontar os suportes mais utilizados para a leitura confirma essa mesma compreensão:

Suporte leitura Internet 18 Jornal 12 Gibi 9 Revista de novelas 9 Livro de literatura 8 Revista de celebridades 6 Revista de notícia 5 Livro didático 2 Não respondeu 2 Revista de carro 1

Tabela 7: Suportes de leitura mais utilizados. Fonte: Construção da autora.

Por fim, vale ressaltar o baixo interesse pela disciplina de Língua Portuguesa apontado pelos alunos na questão que topicalizava qual(quais) era(m) a(s) disciplina(s) preferida(s):

Disciplinas preferidas Educação Física 8 Matemática 6 História 4 Química 4 Física 3 Inglês 3 Nenhuma 3 Biologia 2 Geografia 2 Português 2 Artes 1 Filosofia 1 Sociologia 1

Tabela 8: Listagem de disciplinas apontadas como preferidas pelos alunos, em ordem decrescente.

Fonte: Construção da autora.

Vale retomar um dos pontos mais importantes que parece emergir desse questionário socioeconômico: a heterogeneidade da turma, com alunos advindos dos mais diversos bairros – quando não de outras cidades –, classes sociais, e até de outras escolas, o que dificulta a formação de uma identidade de grupo; discussão que será aprofundada no capítulo 5. Os resultados do questionário, a despeito das inconsistências mencionadas, nos trouxeram informações que entendemos valiosas para conhecermos os sujeitos envolvidos na pesquisa-ação, as quais serviram de base para o delineamento das atividades propostas no período de intervenção, que será descrito a seguir.

2.6 O AGIR COM NA REALIDADE PESQUISADA: O PERÍODO