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4. METODOLOGIA

4.1. Os participantes da pesquisa

4.1.1. Os alunos

Iniciamos o ano com um total de 23 alunos nas duas turmas mas, ao final do ano, contávamos com 20 alunos, com idades variando entre 13 e 18 anos. Todos os alunos eram fluentes em Libras; alguns frequentaram o INES desde a educação infantil e outros foram chegando ao longo do Ensino Fundamental. No INES, a maioria dos alunos é oriunda de famílias ouvintes, de baixo poder aquisitivo e baixo nível de escolarização. Dos questionários enviados às famílias que retornaram – um total de onze – a quase totalidade aponta uma renda familiar entre um e cinco salários mínimos e escolaridade da mãe variando entre Ensino Fundamental e Médio.

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Em fevereiro essa turma contava com doze alunos, sete moças e cinco rapazes, de 14 a 18 anos. Uma das alunas, no entanto, após um grande número de faltas no primeiro bimestre, trancou matrícula ao final desse período, não sendo, portanto, citada na listagem da turma. Turma unida, a maioria já vinha estudando junto há alguns anos. Interessada, se engajava facilmente nas atividades. Apesar disso, os resultados obtidos nas avaliações formais, por alguns alunos, ficavam aquém das aprendizagens que observávamos durante as aulas. Por acreditarmos que os momentos de avaliação formal não indicam, de forma plena, a aprendizagem dos alunos, levamos em conta a participação nas aulas e a

aprendizagem demonstrada nas atividades de sala de aula na determinação da nota final de cada bimestre.

Andréa – 16 anos – Nasceu surda em decorrência de rubéola na sua gravidez. A família descobriu a surdez aos 6 meses e aos 8 anos iniciou seu contato com a Libras numa instituição fonoaudiológica. Começou a estudar no INES em 2006, no 1° ano. A família se comunica por meio da Libras por acreditar que facilita a comunicação. Recentemente realizou procedimento cirúrgico de implante coclear, necessitando faltar às aulas durante esse período para exames pré e pós-operatórios. Em virtude do implante, faz acompanhamento fonoaudiológico. Era participativa nas aulas e teve um bom desempenho.

Bento – 17 anos – Nasceu surdo. Frequentou a educação precoce do INES dos três aos quatro anos (1997/1998). A seguir, frequentou uma escola particular onde os surdos estão incluídos com os ouvintes, retornando ao INES em 2008 para a 2ª série (3° ano). Na primeira reunião de pais e responsáveis a mãe enfatizou suas dificuldades em matemática. Em entrevista, relata que a família não tem conhecimento da Libras, mas que a partir do seu retorno ao INES, ocasião em que adquiriu essa língua, tenta ensiná-la à família. Participativo, teve um desempenho além do que esperávamos.

Bernardo – 18 anos – A família descobriu a surdez quando tinha a idade de um ano. Aos dez anos conheceu a Libras na escola particular onde estudava, pois esta ofereceu um curso sobre essa língua, à noite, para os professores. Foi transferido para o INES no 4° ano. No questionário, a mãe informa que somente ela se comunica em Libras, mas reconhece que não tem uma boa fluência na língua. Segundo o aluno, a comunicação se dá mais pela oralidade. Participativo, teve um ótimo desempenho durante o ano.

Daniel –17 anos – Ingressou no INES aos seis anos em 2001, na Educação Infantil. Era bastante disperso e foi reprovado, em 2012, em Matemática e Ciências com 5,5 de média nas duas disciplinas69

Daniele – 16 anos – Nasceu surda. Ingressou no INES aos seis anos, na Educação Infantil, em 2002. Da família, a única que se comunica em Libras é uma prima. Os pais não têm fluência nessa língua. Tem uma tia surda que nunca frequentou uma escola e se comunica apenas por gestos caseiros. Estava refazendo o 7° ano, em 2012, pois havia sido reprovada no ano anterior. Bastante participativa, colocava suas dúvidas com naturalidade, indo várias vezes ao quadro para compartilhá-las com a turma, além de tentar sanar as dúvidas dos colegas. Teve um bom desempenho.

Denise – 18 anos – A família descobriu a surdez aos dois anos de idade e aos oito anos entrou em contato com a Libras na escola. Estudou num CIEP70, em turma de educação especial não seriada (educação especial – modalidade D.A.71). A aluna informa que nasceu surda, em decorrência de uma doença – não especificada – da mãe durante a gravidez, embora não seja surda profunda. No questionário, a mãe informa que a família se comunica em Libras, mas a aluna declara, em entrevista, que a comunicação se dá apenas através da oralização e que tem dificuldades de compreender e de se comunicar. Participativa e entrosada com a turma, teve uma queda de aproveitamento ao final do ano, mas conseguiu ser aprovada em Matemática. No entanto, foi reprovada em Ciências e Língua Portuguesa.

Fabiana – 14 anos – Nasceu surda, tendo sua surdez sido descoberta aos oito meses e, aos três anos, ao ingressar no INES, na Educação Precoce, iniciou seu contato com a Libras. A mãe se comunica em Libras, mas reconhece que não tem uma boa fluência na língua. O pai não se comunica nessa língua. Perspicaz e interessada, se engajava nas atividades com muita facilidade e várias vezes se prontificou a tirar as dúvidas dos colegas. Teve excelente desempenho.

Igor – 18 anos – Sua surdez foi descoberta com um ano, época em que ingressou no INES e iniciou seu contato com a Libras. No questionário, a mãe informa que a família se comunica por meio da Libras, porém, na entrevista, ele afirma que a família não tem uma boa fluência nesta língua. No entanto, declara que a família conversa com ele e que ama

70 Centro Integrado de Educação Pública 71 Deficiente auditivo

muito os pais. Tem bastante dificuldade de aprendizagem e sua participação nas aulas nunca era espontânea, precisando ser solicitado a todo instante. Teve dificuldades de compreender várias perguntas da entrevista, solicitando a sua repetição. Não se entrosava facilmente, já tendo sido vítima de bullying. Repetiu o 3° e o 6° anos.

Laís – 18 anos – A família descobriu a surdez aos 15 meses e aos dois anos, ao ingressar no INES, iniciou seu contato com a Libras. Foi transferida para uma escola municipal, retornando ao INES em 2009, no 4° ano. A família se comunica em Libras e por meio de leitura labial. Teve grande participação nas atividades embora seu desempenho nas avaliações formais estivesse, muitas vezes, aquém do desenvolvimento que observávamos em sala de aula. Colocava suas dúvidas com tranquilidade e, por várias vezes, toda a turma se mobilizou, colaborativamente, para explicar conceitos que ela não entendia.

Lia – 16 anos – A família descobriu a surdez por volta dos dezoito meses de idade. Aos oito anos ingressou numa escola estadual em turma não seriada de educação especial (classe especial – D.A.) e começou a ter contato com a Libras. Apesar disso, em entrevista, ela informa que ao iniciar seus estudos no INES em 2006, aos 10 anos, não tinha fluência em Libras, conhecia muito pouco. Conta que ficou admirada com a comunicação que observava na escola entre os surdos e ficou observando até conseguir se comunicar nessa língua. Na família, somente a mãe se comunica em Libras. Aluna tímida, não participava com muita facilidade das discussões que envolviam a turma toda, tendo que ser solicitada, mas demonstrava interesse nas atividades propostas. Entrosada com a turma e com desempenho médio.

Rodolfo – 18 anos – Iniciou sua escolarização numa escola municipal e ingressou no INES em 2011, no 7° ano, tendo sido reprovado. Era faltoso, mas demonstrava interesse nas atividades quando estava presente. Apesar de estar refazendo a série, foi novamente reprovado, em 2012, em História, Ciências e Matemática.

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compensação, um aluno ingressou em agosto por meio de transferência. Assim, ao final do ano a turma contava com nove alunos, de 13 a 18 anos, quatro moças e cinco rapazes que foram listados como componentes da turma. Seu engajamento nas atividades não era fácil e alguns alunos apresentavam visões estereotipadas do que seria uma aula de matemática, o que os levava a questionar qualquer proposta de atividade que se afastasse do tradicional quadro + caderno + caneta. Isso gerava um clima difícil de contornar. Apesar disso, eram mais bem sucedidos nas avaliações.

Gabriel – 17 anos – Estudou numa escola particular inclusiva72 do 1° ao 6° ano. Em 2011 foi transferido para o INES no 7° ano, tendo sido reprovado. Tinha excelente aproveitamento apesar de questionar as atividades propostas.

Leona – 13 anos – Estudou até o 6° ano numa escola particular de ouvintes, tendo ingressado no INES em 2012 no 7° ano. Aparentava constantemente impaciência e mau humor, mas tinha excelente aproveitamento nas avaliações formais. Tem boa fluência em Língua Portuguesa.

Marcia – 14 anos – Ingressou no INES aos sete anos no 1° ano. Tem um irmão surdo, mais velho, também aluno do INES. Bastante perspicaz, aparenta maturidade além da sua idade. Teve um bom desempenho

Marcos – 16 anos – Ingressou no INES em 2006, no 1° ano e permaneceu até 2007. Em 2008 frequentou uma escola particular comum e em 2009 e 2010, uma escola particular inclusiva. Em 2011 foi transferido para uma escola estadual retornando ao INES em agosto de 2012. Recentemente realizou procedimento cirúrgico de implante coclear. Teve bom aproveitamento apesar de ter sido transferido no meio do ano. Muito participativo e com bom desempenho.

Mario – 16 anos – A família descobriu a surdez entre as idades de dois e três anos. Aos seis anos começou a estudar no INES e iniciou seu contato com a Libras. Foi reprovado no 5° ano por suas dificuldades em Língua Portuguesa. A mãe declara que se comunica

72 A escola particular inclusiva onde estudaram Gabriel, Marcos e Monica é uma escola especial com turmas

mistas de surdos e ouvintes e utiliza a metodologia da Comunicação Total, ou seja, o uso simultâneo da Libras e Língua Portuguesa oral.

em Libras pelo fato de ser a única alternativa de comunicação disponibilizada pela escola. É excelente aluno em Matemática.

Marlon – 16 anos – Sua surdez foi descoberta aos dez meses e aos seis anos, na escola, iniciou seu contato com a Libras. A família não se comunica em Libras. Foi reprovado em Matemática e Ciências, em 2012.

Mônica – 15 anos – Estudou, do 1° ao 6° ano, numa escola particular inclusiva. Em 2011, foi transferida para uma escola estadual e, em 2012, para o INES. Excelente aluna, com boa participação nas atividades propostas, embora não se engajasse muito nas discussões que aconteciam durante as aulas. Parecia tímida.

Tania – 18 anos – Sua surdez foi descoberta aos dois anos e sete meses. Aos nove anos iniciou seu contato com a Libras num posto de saúde com uma fonoaudióloga. A família não se comunica em Libras por falta de conhecimento. Estudou em escola municipal e, em 2011 foi transferida para o INES no 7° ano tendo sido reprovada. Muito quieta, não se envolvia espontaneamente nas discussões, embora se engajasse nas atividades. Apresentava dificuldades, mas era bastante esforçada e conseguiu superá-las.

Roberto – 15 anos – A surdez foi descoberta em torno dos doze meses e, aos dois anos, ao ingressar no INES, iniciou seu contato com a Libras. A família se comunica em Libras, mas também oraliza ao mesmo tempo pois considera que essa prática estimula a fala. Muito questionador, colocava-nos em xeque o tempo todo. Tinha ótimo aproveitamento e facilidade para o cálculo mental.