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Os condicionantes naturais do processo de ocupação do território

TERRITORIAL DA METRÓPOLE

2.3 Os condicionantes naturais do processo de ocupação do território

a Região Metropolitana de Natal está inserida na porção litorânea– oriental do Estado do Rio Grande do Norte. Geologicamente esta região engloba terrenos da Província Borborema, caracterizada pela ocorrência de rochas precambrianas (Complexo Serra Caiada, de idades superiores a 530 milhões de anos), e da Província das Bacias Costeiras, representadas pelas seqüências sedimentares meso- cenozóicas (bacias Potiguar e Pernambuco–Paraíba), cuja evolução remonta a 120 milhões de anos até os dias atuais. Nesta região ocorre a explotação de diversos recursos minerais: granitos, águas (superficiais e subterrâneas), diatomita, cascalhos, areias e argilas, principalmente.

as unidades geomorfológicas associadas (Mapa 5) compreendem, de oeste para leste, a Depressão Sertaneja (domínio dos terrenos precambrianos), os Tabuleiros Costeiros (domínios das rochas mesozóicas e da Formação Barreiras), a Planície Litorânea (ocupada pelas planícies fluvio-marinhas, praias e paleopraias) e a Plataforma Rasa; dunas e campos de dunas ocorrem associados à Planície Litorânea e aos Tabuleiros Costeiros.

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as superfícies Sertaneja e dos Tabuleiros constituem relevo plano com ondulações e a passagem entre elas é transicional, isto é, não evidencia rupturas de declive. as planícies fluviais correspondem às regiões dissecadas sobre as superfícies Sertaneja e dos Tabuleiros, cujas incisões correspondem a vales largos e profundos, com fundos chatos e vertentes com declividades moderadas. Sobre estas unidades caracteriza-se uma zona de tensão ecológica, correspondendo à transição entre a vegetação de clima semi-árido (caatinga) e de clima úmido (Mata atlântica e vegetação litorânea); o crescimento urbano e as atividades agropecuárias (canaviais, coco, bovinicultura, caprinocultura, etc.) impuseram expressiva redução da área de ocorrência desses biomas e, em especial, da mata ciliar.

a passagem dos Tabuleiros Costeiros para a Planície Litorânea pode ocorrer sem rupturas de declive (modelada por dunas e campos de dunas) ou de forma abrupta, constituído as falésias; outros elementos que caracterizam a Planície Litorânea são as planícies flúvio-marinhas (ocupadas por manguezais e planície de maré), as paleopraias (representadas por arenitos de praia – os beach rocks) e as praias arenosas atuais.

Mapa 5 (página seguinte) Meio Físico da Região Metropolitana de Natal

Fonte: Base de dados do IDEMA, processada pelo INPE

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Os aspectos paisagísticos naturais (praias, dunas e lagoas), aliados aos fatores climáticos (temperatura do ar, insolação, ventos) e oceanográficos (temperatura da água e diversidade de perfis praiais) conferem à Planície Litorânea uma beleza cênica diversificada e que encanta nativos e turistas, com destaque para os cenários de Genipabu (dunas – lagoas – praias), Ponta Negra e Barra de Tabatinga (falésias – dunas – praias); a aqüicultura (carcinicultura, psicultura) também é uma atividade econômica de destaque, que, inclusive, substituiu áreas de antigas salinas e devastou manguezais. É também sobre a planície costeira que está concentrada a maior pressão exercida pela expansão do mercado imobiliário.

a área da Plataforma Continental corresponde à margem relativamente rasa ao largo da área continental e cuja largura, no trecho da RMN situa-se em torno dos 30 km; caracteriza-se por gradientes muito baixos e que terminam abruptamente (início do talude continental). Representam áreas que foram modeladas pelas oscilações do nível do mar no Quaternário (períodos glaciais e interglaciais), cujos testemunhos correspondem aos arenitos de praia (beach rocks) que ocorrem como paleopraias (adjacentes às praias modernas), recifes de arenito (isolados pelo mar), recifes de corais (já com elevada pressão de uso) e riscas (permanentemente submersas). Esta unidade está intrinsecamente relacionada a questões ambientais (morfologia, clima, biota) e econômicas (navegação, pesca, turismo).

Os recursos hídricos desta região são diversificados. a drenagem caracteriza-se pela ocorrência das bacias hidrográficas dos rios Maxaranguape, Ceará Mirim, Doce, Potengi, Pirangi e Trairi, além de outras drenagens reunidas sob a denominação bacias de escoamento difuso do litoral oriental; correspondem aos trechos perenes do baixo curso das drenagens principais e aos tributários intermitentes a efêmeros que drenam uma área relativamente extensa de transição entre a área costeira úmida e o interior semi-árido; a rede de drenagem é geometrizada (padrões angulares e paralelos). Também ocorre uma série de lagoas que preenchem depressões pré-existentes e /ou como afloramentos do lençol freático nas áreas interdunares; na RMN destacam-se, por suas dimensões, os sistemas lacustres de Bonfim, Guamaré, Extremoz e Genipabú. a água subterrânea é acumulada em dunas que também realimentam as rochas da Formação Barreiras (aqüífero Dunas – Barreiras), sendo este aqüífero o de maior potencial de armazenamento e suprimento para toda a RMN; as rochas mesozóicas (aqüíferos cárstico – fissural e intersticial) e precambrianas (aqüífero fissural) têm importância restrita à sua própria área de ocorrência.

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Dentre os riscos geológicos e fatores de impacto identificados nesta região, destacam-se:

A contaminação / poluição de águas e solos é o maior fator de

impacto no meio físico da Região Metropolitana de Natal. a falta de investimentos em saneamento básico fez com que esta região se utilizasse largamente da construção de fossas “sépticas”; com a expansão da urbe, os resíduos foram se concentrando e, devido à alta permo-porosidade do substrato, estes fossem se infiltrando, ocasionando a contaminação irreversível da água armazenada nas areias de dunas (aqüífero livre) e o crescente comprometimento da água disponível em maiores profundidades (porção confinada do aqüífero Dunas – Barreiras), sendo que este processo foi acelerado pela perfuração de poços sem controle técnico adequado. Outras atividades que requerem uma ação preventiva a danos ambientais referem-se às atividades dos postos de combustíveis e serviços (vida útil dos tanques, resíduos), bem como a destinação de rejeitos sólidos, efluentes residenciais e industriais. O comprometimento da potabilidade e da balneabilidade das águas tem várias conseqüências graves para a sociedade; dentre os principais destacam-se questões de saúde pública, impactos no turismo e inviabilização do crescimento da própria metrópole.

Os alagamentos ocorrem nas áreas marginais aos principais canais fluviais (especialmente no rio Jundiaí na cidade de Macaíba), bem como também estão relacionados aos fatores de urbanização (principalmente na cidade do Natal), tais como aterramento de zonas de manguezais, de antigas lagoas e de drenagens secundárias, impermeabilização do solo e construção de rede de drenagem pluvial inadequada ao regime de chuvas concentradas (subdimensionada para o pico). O entupimento das bocas de lobo e da própria canalização são fatores agravantes deste quadro.

Os assoreamentos afetam canais fluviais e lagoas. Nos primeiros ocorre a deposição de material arenoso proveniente das suas cabeceiras (deposição “normal”) acrescida da deposição por erosão do material das vertentes, sendo esta relacionada à quase total destruição das matas ciliares e mudanças artificiais de cursos fluviais; o porto de Natal também passa por dragagens periódicas para a retirada dos sedimentos que entulham o canal de navegação. as lagoas e alguns canais fluviais também sofrem assoreamento pela descarga fluvial e pela migração das dunas, onde a areia é retrabalhada pelo vento e lançada contra os espelhos de água.

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a erosão costeira corresponde à resposta aos processos da sua dinâmica (ondas, marés, correntes, variação do nível do mar) conjugada à ocupação indevida da faixa de praia aquém dos seus limites naturais (níveis máximos de marés de sigízia e ressacas). Problemas de erosão estão caracterizados ao longo de toda a orla e sua magnitude é diretamente proporcional à intensidade de uso e ocupação.

Os principais problemas de encostas referem-se aos deslizamentos e desmoronamentos que frequentemente ocorrem associados ao alto gradiente das falésias e paleofalésias. À ação natural das ondas (na base das falésias) soma-se o escoamento concentrado e acumulação de lixo no topo da falésia, que favorecem a degradação mais rápida destes taludes. O deslizamento das encostas fluviais (vertentes) também pode ocorrer, associado a processos naturais (enchentes) ou induzidos (atividade agropecuária, desmatamentos).

a ocorrência de estruturas paleossísmicas em sedimentos quaternários (mais jovens que 2 milhões de anos) aflorantes nesta região (Macaíba, Ceará Mirim) e a proximidade de uma área sismicamente ativa (João Câmara) são os elementos que assinalam a necessidade de se ter em conta o risco sísmico como um fator que deve ser considerado na expansão da metrópole, notadamente com respeito à execução de grandes projetos de engenharia (obras de infra-estrutura ou edificações de maior porte).

Do exposto, percebe-se que o clima, o relevo pouco acidentado, a diversidade de paisagens naturais, a disponibilidade de água e de insumos para a construção civil foram condicionantes positivos ao processo histórico de ocupação do território e ainda se apresentam como fatores favoráveis à expansão da Metrópole. Entretanto devem ser observados que os impactos já causados ao meio ambiente, os riscos geológicos e a ocupação irregular de áreas legalmente protegidas (ecossistemas continentais, margens fluviais, manguezais, lagoas, dunas e praias) são fatores que, necessariamente, devem ser considerados quando se objetiva o crescimento sustentável desta região. a conjugação dos elementos geo-ambientais aos fatores da infra-estrutura disponível, portanto, devem nortear a proposição de medidas que possam minimizar os conflitos de uso da terra, da manutenção da qualidade ambiental – especialmente da potabilidade dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, da balneabilidade de praias e lagos costeiros – e da preservação de ecossistemas sensíveis e/ou protegidos.

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2.4 O processo de formação e crescimento da