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Os Crimes de Gênero em Olindina

No documento FALE AGORA OU CALE-SE PARA SEMPRE: (páginas 59-76)

2. O TERRITÓRIO: CONHECENDO A CIDADE

2.4 Os Crimes de Gênero em Olindina

Ao centrar-se em Olindina, a leitura dos inquéritos policiais permitiu problematizar os dados quantitativos com base nos relatos oficialmente registrados pelas autoridades policiais.

Ao pontuarmos os desafios que se estabelecem não somente na obtenção de dados, mas no que eles dizem direta e indiretamente, Okabe e Fonseca (2009) revelam limitações que estão além daquelas páginas, que escondem o real cenário do problema. Para as autoras:

Estes sistemas demonstram em parte os casos mais graves da violência, subestimando o verdadeiro efeito da mesma, pois nem todas as agressões provocam ferimentos que necessitam de atenção médica, e mesmo as mulheres que apresentam graves lesões atendidas nos serviços particulares e convênios não são incorporadas ao sistema de monitoramento hospitalar. (p. 454)

Esta observação revela uma dupla questão. A primeira é o não registro da ocorrência, que contribui para a subnotificação como já mencionado e, a segunda é, que muitas mulheres mesmo sendo vítimas de violência não procuram o sistema de saúde por razões como as condições socioeconômicas de acesso ao sistema de saúde. Ambas as situações impactam na forma de alimentação da base de dados.

Outra questão relevante é o fato de os inquéritos instigarem a busca ou, no limite, a tentativa de compreensão do cenário dos acontecimentos criminais. De acordo com Meneghel

& Portella (2017), o espaço (cenário) do crime ajuda a entender seus determinantes. Para as

autoras, a vulnerabilidade em que se encontram as mulheres condicionam fatores explicativos e permitem categorizar o crime no seu contexto social. Saffioti (2011) porém aponta para o cuidado na tendência de recorte de pesquisas entre populações pobres e que recorrentemente traduzem uma gramática de responsabilização da desordem social pelo estigma econômico55.

55 A autora problematizou a ideia de estigmatização apontando que para famílias burguesas, detentoras do capital, existem códigos de cumplicidades rigidamente sigilosos corroborados na manutenção do imaculado nome familiar.

Pela via prática da ação investigativa, se uma mulher denuncia crimes de gênero, a rede de investigação é majoritariamente permeada pelos laços de amizades entre famílias ricas e autoridades públicas de segurança;

assim, poderia gerar a subtração de alternativas restando somente o silêncio. Importante marcar aqui que a leitura dos inquéritos tem inquietado este pesquisador justamente nesta questão de características socioeconômicas que permeiam as vítimas, réus e testemunhas: porque não encontramos inquéritos policiais abertos para vítimas e réus que se enquadram em um recorte de classe abastado financeiramente, usando uma expressão de Saffiotti. Outras revisões importantes neste âmbito foram feitas, por exemplo, por Kowarick (2009) e Rago (2014) resgatando a posição dos conhecidos higienistas que atuaram no Brasil no século XX investindo fortemente na ideologização da limpeza urbana pela via da estratificação social que como resultado também corroborou para a estigmatização de populações pobres urbanas.

Tabela 8 – Relação das Características das Vítimas de Violência de Gênero em Olindina Denúncias na SSP/BA (2012-2018)

Fonte: Elaboração própria através dos dados da Secretaria de Segurança Pública/BA, DATASUS/Tabnet e Ligue 180. Para a proporção de ocorrências por município, a população usada foi a do Censo 2010/IBGE.

Obs.: O formato apresentado da faixa etária corresponde a como foi divulgado pela SSP/BA.

A tabela 8 traz informações de caráter qualitativo das vítimas de violência de gênero em Olindina via denúncia realizada na DT. A maior parte dos casos registrados estão entre mulheres de 35 a 64 anos, no entanto, é uma faixa muito abrangente o que impossibilita sugerir, por exemplo, que mulheres violentadas em sua maioria estão em idade ativa para o mercado de trabalho (mas a relação não pode ser descartada).

A PCSVDF Mulher56 (2017a) indica a violência de gênero como gerador de potencial impacto na estrutura produtiva nacional ao relacionar altas taxas do crime e aventar quedas na produtividade do trabalho, seja por conta da capacidade laboral, seja em função da estabilidade psicológica. Para o IBGE57, a média da população ocupada formalmente na Bahia foi de 43,3%

em 2019, contra pouco mais de 4% em Olindina. Destarte, é possível alvitrar que a distância de uma estrutura de empregabilidade formal poderia contribuir nos termos de autonomia e de igualdade de gênero58.

Sob a categoria “preto”, como cor da pele classificada pelo IBGE, não houve nenhuma ocorrência registrada. No entanto a categoria “negro” que engloba a soma entre pretos e pardos foi considerada nas notificações, adicionando também a categoria “pardo” com a maior fatia percentual entre os casos. Outra questão relacionada à cor da pele é a falta de informações nos registros que representou mais de 12% dos casos (somadas as categorias “N/I” e “Ignorada”).

Quanto aos locais em que os crimes aconteceram, a predominância estava nas vias públicas e residências. Esses cenários aventam ser qualitativamente conflitantes justamente por representarem dois extremos: a vida pública e a vida privada. Como foi o caso de feminicídio noticiado regionalmente pelo Jornal Itapicuru Notícias59, que em 20 de novembro de 2018 reportou o assassinato de uma mulher na sua residência, no município baiano de Itapicuru, vizinho a Olindina, pelo seu ex-namorado que viera da cidade de São Paulo imbuído de ciúmes pelo novo relacionamento da vítima. Conforme apontou a matéria, o crime foi executado com

56 Os relatórios oriundos da Primeira Onda da Pesquisa (PCSVDF Mulher, 2016; PCSVDF Mulher, 2017a;

PCSVDF Mulher, 2017b) investigaram a violência doméstica e familiar contra a mulher nas 9 capitais dos estados da Região Nordeste do Brasil entre os anos de 2016 e 2017.

57 Para mais informações, acesse: <https://cidades.ibge.gov.br/>.

58 Na literatura o acesso ao mercado de trabalho e recursos financeiros podem ser ambíguos quanto a violência contra a mulher, devido ao parceiro sentir que seu poder de barganha está se esvaindo (CARLOTO & MARIANO, 2012; VYAS, MBWAMBO & HEISE, 2015). No entanto, entre as 17 metas para o desenvolvimento sustentável proposto pela PNUD/ONU, a igualdade e autonomia de gênero (meta 5) incentiva estados nacionais a focarem ações práticas no sentido de dirimir o caráter histórico da subordinação da mulher pelo homem pela via financeira, na promoção da participação da mulher no mercado de trabalho, no acesso à educação, política e no livre direito à vida pública e privada. Disponível em: https://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/sustainable-development-goals.html. Acesso em: 29 jun 2021.

59 Jornal regional que circula notícias através das mídias sociais e sítio eletrônico. Para mais informações, ver:

<https://itapicurunoticias.blogspot.com/>. Acesso em: 04 out 2021.

o auxílio de um cortador de unhas, faca e asfixia, acontecendo na residência da vítima (local da vida privada) no povoado rural de Caraíba. Um trecho da matéria diz que:

[...] após fazer sexo com a ex-namorada, em razão dos ciúmes que ainda nutria por ela em função dela ter arranjado outro namorado, o réu desferiu golpes com cortador de unhas, usou facas e deu socos no rosto da vítima na intenção de matá-la, logo após fazerem sexo. (COSTA, 2018)

Concernentes às informações sobre os meios empregados nos atos de violência, praticamente toda a base de dados não dispõe deste registro; a categoria mais representativa percentualmente, “Outros”, não esclarece o que de fato foi usado para violentar estas mulheres.

As motivações seguem essa mesma tendência, no entanto, a categoria “Briga Intra-familiar” direciona para a característica marcante desta modalidade criminal: crimes que acontecem com maior evidência, mas não somente, no contexto de relacionamentos afetivos (laços amorosos e/ou familiares). Entretanto, dentre as possibilidades apresentadas como possíveis motivações, uma não pode passar despercebida da base de dados: “Passional”.

Farias (2013) nos ajuda entender juridicamente o termo a partir das análises sobre narrativas oficiais em processos jurídicos de crimes passionais na cidade de Inhambupe, município vizinho a Olindina, entre 1996 e 2006. De acordo com a autora, a utilização do termo condicionava uma justificativa para crimes de gênero já fortalecida entre as décadas de 1950 e 1960 no Brasil: a defesa de criminosos que assassinavam suas companheiras a título de “defesa de sua honra”. Isto é, o Código Penal reconhecia somente a legítima defesa em casos de risco contra a vida; no entanto, este novo entendimento funcionalizou justificar o assassinato de mulheres como “cometidos em função de um relacionamento sexual ou amoroso” (p. 40).

O podcast Praia dos Ossos produzido pela Rádio Novelo60, por exemplo, reconta a história do assassinato de Ângela Diniz pelo seu então companheiro Doca Street em dezembro de 1976, como um crime estrategicamente defendido pelo aparato jurídico de defesa, como passional. De acordo com esta produção jornalística, o processo de julgamento se deu na cidade fluminense de Cabo Frio (local do crime), com uma articulação discursiva da defesa que privilegiava a condição masculina de “defesa da honra” condicionando a vítima do crime como que responsável pela atitude drástica de “correção” realizada pelo então acusado, que a assassinou. Se por um lado Farias (2013) indica avanços jurídicos a partir da implementação da LMP no que convencionou tratar a “legitima defesa da honra” ou crimes passionais, por outro ainda chama a atenção como ainda essa motivação se mostrou presente nesta base de dados.

Se por um lado a tendência de crescimento de instauração de inquéritos policiais foi

60 Disponível em: https://www.radionovelo.com.br/praiadosossos/. Acesso em: 29 jun 2021.

ascendente no período, não só para as violências de gênero como também para todos os demais crimes registrados na DT, por outro a temática criminal objeto desta pesquisa representou no total do período quase 1/3 da atenção investigativa do efetivo policial, o que representa o quanto a violência de gênero que as mulheres são submetidas faz parte do cotidiano dos agentes de segurança pública. A tabela 9 condensa informações descritivas dos inquéritos policiais abertos no município entre os anos de 2006 e 2018.

Importante destacar que quantitativamente o número de inquéritos policiais é inferior ao número de denúncias justamente por considerar que nem todos os casos registrados se reverteram em investigações policiais. Muitas vezes a vítima denuncia seu agressor, mas resolve não prosseguir a investigação por motivações que os documentos oficiais não conseguem esclarecer. Logo, no início desta subseção trouxemos os dados das denúncias (boletins de ocorrências) e a partir de agora, relacionaremos o quantitativo dos inquéritos policiais (ditos aqui como documentos oficiais).

Tabela 9 – Panorama Geral dos Inquéritos Policiais em Olindina – 2006 a 2018

Fonte: Elaboração própria através dos dados da DT – Olindina/BA.

*N/I = Não informado.

O feminicídio totalizou 3 casos no período analisado; as agressões físicas são as maiores recorrências de instauração dos procedimentos investigativos seguidos de ameaças de morte; a categoria “violência diversa” congrega situações ligadas a violência patrimonial e moral, sobretudo. O homicídio que se encontra na lista refere-se a uma mulher assassinada somente pelo fato de estar no ambiente de uma briga e ser atingida fatalmente por arma de fogo, mas sem a intenção de matá-la. O maior percentual de denúncias foi oriundo de casos e moradores da zona rural.

As ações policiais nesses casos estão, além da investigação, na prisão em flagrante implicada pela consideração do Código de Processo Penal (CPP)61 que entre seus artigos 301 a 310 diz que todo o indivíduo poderá ser preso caso seja abordado por autoridade policial em flagrante delito no prazo de até 24 horas do ato delituoso. Neste período, a autoridade judicial deverá emitir uma sentença à prisão em flagrante e como pode ser percebido na tabela 9, essas situações foram comuns entre os casos estudados.

Semelhante a prisão em flagrante, as medidas protetivas foram requeridas em praticamente metade dos inquéritos abertos de violência. As medidas protetivas são ações de proteção à mulher em condição de vitimização por violência, previstas na LMP para os casos de violência no âmbito doméstico e familiar, de acordo com seu art. 12º inciso III; o procedimento de requerimento feito nas delegacias deverá ser remetido ao juiz que concederá a resposta da solicitação.

Uma importante inclusão à LMP feita em 2019 foi a oneração do agressor62 pelos custos dispendidos pelo Estado relacionados às medidas protetivas, art. 9º § 5º, assim como também o ressarcimento ao SUS dos valores destinados ao total tratamento de vítimas pelas diversas modalidades de violência que podem ter sofrido63.

Outro apontamento que a tabela 9 traz é a ligação entre vítima e acusado: mais de 2/3 dos crimes envolveram a relação amorosa entre casais juntos ou separados, seguido de violência entre relacionamentos familiares e por fim, pessoas sem relacionamentos afetivos. Isso demostra que os crimes de gênero não estão tão somente focados na esfera afetiva, mas indica que em Olindina, seguindo uma tendência nacional, a maior parte deles foram acometidos com algum grau de proximidade e convivência entre agressores e vítimas.

61 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689.htm. Acesso em: 09 jun 2021.

62 Diferente de acusado, que é a categoria encontrada nos inquéritos policiais, o agressor é quando o indivíduo já foi julgado e imputado a ele o crime em questão.

63 As inclusões aqui citadas foram adicionadas a LMP pela Lei nº 13.871/2019.

Os documentos narram histórias de homens (a totalidade do gênero dos acusados) e mulheres com características ora semelhantes ora dispares. Como mostra a tabela 10, a maior parte dos casos aconteceram em mulheres entre os 21 a 40 anos (somadas as duas faixas etárias, o percentual é de mais da metade dos crimes, 63%); o que indica mulheres em idade ativa para o mercado de trabalho sendo potenciais vítimas no município. No lado dos acusados, mais precisamente 1/3 dos casos, foram indiciados homens entre 31 e 40 anos. Buscando prezar pelas informações dos documentos, na escolaridade resolveu-se manter a condição informada pelos agentes policiais; assim, em alguns casos falava-se de “Ensino Fundamental Completo”, por exemplo e outros somente “Ensino Fundamental” (sem a distinção entre completo ou incompleto). Desta forma, desconsiderando o “N/I” que confere os não informados, por um lado as vítimas são em sua maioria mulheres com menor formação no total, mesmo figurando uma expressiva representação ao considerar os que continuaram pós Ensino Médio, comparando aos homens; os acusados representam o maior percentual até o “Ensino Fundamental Incompleto”. Importante notar que eles também são maioria entre os alfabetizados, o que pode aventar não só o acesso à educação formal enquanto criança, como também na alfabetização de jovens e adultos (com a EJA), como também entre os analfabetos.

Na categoria cor da pele também optamos por manter as nomenclaturas utilizadas nos documentos: a categoria “negro”, muitas vezes aparece sobreposta a também registros de pretos ou pardos (o que inviabiliza quantificar esta divisão). No entanto, uma tendência da população municipal que é maioria autodeclarada parda, os crimes tanto são cometidos por homens pardos, como são potencialmente sofridos por mulheres da mesma cor.

A tabela 10 também traz uma informação instigante relacionada à naturalidade dos envolvidos. O município é atravessado em sua história pela recepção de pessoas vindas de diversos estados do Brasil, sobretudo outros estados da Região Nordeste, e essa característica se mantêm tanto entre os acusados como entre as vítimas: praticamente 1/3 dos envolvidos e envolvidas nasceram em outra cidade ou UF que não Olindina e Bahia. A religião também é um item presente como questão a ser respondida pelos agentes policiais, mas foi o campo que teve o maior percentual de falta de informação. O motivo pela ausência de preenchimento não foi possível ser auferido64; assim, somente 4% das vítimas foram declaradas entre católicas e evangélicas, e para os acusados 2% de católicos.

64 Alguns estudos indicam a religião um instrumento entre muitos que ajudam explicar tramas criminais que envolve o gênero. Para uma discussão sobre gênero, violência e religião ver Vilhena (2009).

Tabela 10 – Perfil dos Envolvidos nos Inquéritos Policiais em Olindina – 2006 a 2018

Fonte: Elaboração própria através dos dados da DT – Olindina/BA.

*N/I = Não informado.

A semelhança da base de dados fornecida pela SSP/BA que apontou para maior reaparecimento de boletins de ocorrência sucedidos na zona rural do município, assim como os documentos oficiais da DT também salientam essa tendência, com 2/3 dos casos no meio rural, como pode ser visto na tabela 11. Cidade Nova congregou o maior percentual de inquéritos,

seguido do Centro e Nova Olindina. Como apontado na subseção anterior, Cidade Nova e Nova Olindina (junto com Mutirão) integram atualmente o crescimento urbano do município mesmo que de maneira não formalizada, justamente por ainda serem considerados legalmente zona rural. A alta concentração urbana e escassez de serviços público aprofundam ainda mais a condição de vulnerabilidade destas localidades (para além dos registros criminais).

Tabela 11 - Localização das Ocorrências Criminais em Olindina

Fonte: Elaboração própria através do mapa do IBGE com dados criminais da DT – Olindina/Ba.

O mapa 4 a seguir, demostra espacialmente no município as concentrações das ocorrências separadas por áreas. A divisão em cinco áreas de abrangência refere-se: a concentração de casos na zona urbana e em seu entorno rural - área 1; a área 2 concentra os acontecimentos aglomerados nos povoados a noroeste do município; a área 3, a nordeste de Olindina; a área 4 ao sul do município; e a área 5, no sudeste municipal.

Essa divisão não é institucionalizada, mas também não é aleatória: implica seguir o caminho das duas principais rodovias que cruzam o município fazendo dele um encontro rodoviário (BR-110 e BR-349), os quais podem ser visualizados pela linha vermelha contínua que representa as rodovias pavimentadas, e as linhas vermelhas tracejadas que se referem as rodovias planejadas (caminhos de tráfego ainda não constituídos de asfaltamento).

Seguindo o fluxo das rodovias que passam nas áreas 2, 3 e 4 e cruzam na área 1, a maior concentração de registros aconteceu na zona urbana e em seu entorno rural. Até certa medida, aventa-se a localização da DT como uma das possibilidades que facilita o registro da denúncia, uma vez que os documentos estudados exprimem uma etapa investigativa de crimes que demanda dos envolvidos a presença na DT. Contudo, são os bairros de Cidade Nova, Nova Olindina e Mutirão (parte da zona rural que ajuda compor a área 1) que concentram o maior percentual de casos; 27,8%, 7,5% e 2,0% respectivamente. Na área 4, segundo maior percentual de ocorrências por áreas, os povoados de Dona Maria e Km 82 juntos, apresentam praticamente a metade dos casos nesta subdivisão65. Se em parte a localização da DT pode ajudar a aventar explicações para maiores quantidades de registros (e não exatamente de ocorrência de crimes, uma vez que na pesquisa tratamos somente os crimes registrados na DT e consideramos a existência de casos não denunciados que a literatura chamará de subnotificados), por outro lado a facilidade de acesso ao órgão de segurança pública da cidade, expresso pela locomoção no uso das rodovias, também podem fornecer indícios para esses percentuais. Neste ensejo, a questão que pode se colocar é: se pertencer a um povoado distante, sem acesso a rodovias pavimentadas poderia corroborar para menor quantidade de registros devido à dificuldade de acesso? Entretanto, esta pergunta instigante se mostra frágil na resposta justamente pela inexistência de uma base de dados municipal georreferenciada, isto é, com latitude e longitude de maneira a avaliar espacialmente a relação direta entre localização da DT com todos os pontos de povoamento do território municipal, usando por exemplo, as técnicas de estatística espacial.

Mesmo sendo esse um apontamento feito a partir das estatísticas descritivas, a averiguação aqui proposta se esbarra em desdobramentos que, além de apontar necessidades de melhor conhecimento da região a partir da criação e sistematização de bases de dados em níveis municipais, também cumpre um importante papel de mostrar o quanto que o tema não será esgotado neste texto.

65 Importante notar no mapa 4 que ambos povoados margeiam a BR-110, importante via e fluxo rodoviário.

Mapa 4 – Localização das Ocorrências Criminais em Olindina

Fonte: Elaboração própria através do mapa do IBGE com dados criminais da DT – Olindina/Ba.

Obs.: 6% para completar o percentual de 100% refere-se aos locais não identificados nos arquivos.

Por fim, em relação a descrição das informações dos envolvidos e envolvidas nos inquéritos policiais com as profissões apresentadas; a tabela 12 indica que para ambos (vítima e acusado), a condição de lavradores representa praticamente 1/3 dos casos, isto é, ações ligadas as atividades no campo. Sendo um município que tem grande parte da atividade econômica voltada agricultura familiar, o maior percentual de profissões acaba por corroborar a produção;

no entanto, existe também uma espécie de estratégia por parte da população local em se autodeclarar e manter sua profissão como lavradores: a possibilidade de no futuro ser contemplado com a aposentadoria por fundo rural concedida pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS)66. Para os acusados, a segunda categoria com maior percentual são os

no entanto, existe também uma espécie de estratégia por parte da população local em se autodeclarar e manter sua profissão como lavradores: a possibilidade de no futuro ser contemplado com a aposentadoria por fundo rural concedida pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS)66. Para os acusados, a segunda categoria com maior percentual são os

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