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Políticas Públicas e Violência de Gênero

No documento FALE AGORA OU CALE-SE PARA SEMPRE: (páginas 36-51)

2. O TERRITÓRIO: CONHECENDO A CIDADE

2.2 Políticas Públicas e Violência de Gênero

formam a expressão popular no município quando se é tratado o crescimento habitacional e populacional de Olindina. A inexistência de registros oficiais inviabiliza ir a fundo na dinâmica urbana municipal, uma vez que parte dos documentos produzidos nas décadas de 1950 a 1980 são escassos por parte do Poder Público Municipal. A população local conta que em meados da década de 1980, prefeitos começaram a distribuir lotes para a construção de moradias na região citada. Ainda hoje, o município esbarra em uma necessidade de reorganizar o espaço urbano pois justamente esses locais que aqui chamamos de bairros, como reprodução do que o povo local considera, oficialmente são loteamentos rurais devido à falta de documentação legal.

Como uma política de assistência social para populações carentes, os lotes foram doados, as construções habitacionais responsabilizadas pelos elegíveis das terras e o Poder Público atuou na abertura de alguns serviços públicos posteriormente, já na década de 199017. Nesse sentido, uma importante caracterização desses bairros é a escassez de serviços públicos, a construção de habitações em condições mais simples, a vulnerabilidade socioeconômica em que vive boa parte dos moradores e a estigmatização social que se fortaleceu nos últimos anos a partir da responsabilização dos crimes e violência urbana aos moradores desses locais18.

2.2 Políticas Públicas e Violência de Gênero

Muito mais do que tentar esgotar as possibilidades em se debater os conceitos em torno das duas temáticas aqui propostas, isto é, política pública e violência de gênero, buscamos minimante historicizar até que ponto ambos conceitos manifestos na sociedade brasileira foram incorporados na esfera regional de Olindina.

Seja já na introdução deste trabalho, dito que a violência de gênero é a expressão de uma relação assimétrica de poder em que se manifesta a repulsa pelo sujeito decorrente do gênero, adotamos o entendimento de política pública como o “fazer” do Estado que passa primeiro pelo estágio da identificação do problema, na sequência pela articulação junto à sociedade e pôr fim à efetivação de um modelo de ação, baseado na sugestão de Souza (2006, p. 26) ao indicar que

“constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e

17 Ginásio Esportivo, uma Creche e um Posto de Saúde da Família tiveram suas obras iniciadas através das Leis Municipais nº 392/1999 nº 394/1999, nº 395/1999 respectivamente. A abertura e alargamento de algumas vias nos bairros de Nova Olindina e Cidade Nova aconteceram a partir da Lei Municipal nº 378/1997. Ainda hoje, um dos grandes impasses relatados pela população local é a carência de esgotamento sanitário.

18 Devido à topografia desses bairros apresentar uma elevação, quem reside no centro do município costumeiramente se retrata a essas localidades como: “o pessoal lá de cima”, como uma espécie de estratificação social.

plataformas eleitorais em programas e ações que produziram [produzirão] resultados e mudanças no mundo real”.

Conforme aponta Martins, Cerqueira e Matos (2015, p. 35; grifo nosso), a LMP indicou um caminho de avanços no apoio e enfrentamento da violência de gênero no Brasil, entretanto a situação atual expressa a “necessidade de fortalecer a implementação dos serviços nas cidades do interior do País, ampliando a capilaridade para regiões e cidades estratégicas e nodais, a fim de que parcelas mais amplas e diversificadas da sociedade sejam atendidas”. O entendimento do que vem a ser capilaridade implica em reconhecer a inexistência de mecanismos de apoio e enfrentamento a violência de gênero, os quais também podem gerar subnotificações e, principalmente, o não acesso aos serviços públicos por estratos da sociedade.

No entanto, o tratamento dado ao tema das políticas públicas no Brasil, sobretudo considerando o século XX, necessariamente está ligado a dinâmicas sociais, propriamente oriundo em grandes medidas dos embates encampados pelos movimentos sociais. No movimento feminista, sua historização costuma ser enfocada pela perspectiva de ondas, isto é, uma relação imbricada com protestos sociais encabeçados pelos próprios movimentos sociais (DRAIBE, 1991; FARAH, 2004a; FARAH, 2004b; PASSOS & SOUZA, 2019; PEREZ &

RICOLDI, 2019; SORJ, 2004). Conforme define Perez & Ricoldi (2019, p. 3-4), “é possível pensar nas ‘ondas’ como ciclos de protestos, associadas ao contexto político, social e histórico mais amplo”, e neste caminho Draibe (1991) sugere que no Brasil da década de 1980, considerando o fim da Ditadura Militar instalada entre as décadas de 1960 a 1980, o debate popular sobre a necessidade de resoluções dos problemas sociais que também garantissem a participação popular foi sustentado pelo processo de redemocratização culminando com a Constituição Federal de 1988.

Políticas públicas não devem ser entendidas como um conceito isento justamente dos atores e atrizes sociais que circundam suas construções; para Farah (2004), ela se traduz como um conflito de interesse em que objetivos são manifestos à mercê de sua formatação. Segundo a autora, ao analisar as políticas que tinham como foco questões relacionadas ao gênero no Brasil, somente a partir de 1980 que o país começa a registrar ações neste sentido. Neste período, indica ainda a autora, o país vivia o fortalecimento de seus movimentos sociais e especialmente alguns movimentos sendo liderados por mulheres nas grandes cidades do país.

Alguns fatos são citados como importantes marcos para esse momento histórico do processo:

i) estabelecimento do primeiro Conselho Estadual da Condição Feminina, em 1983 em São Paulo, ii) a criação da primeira delegacia especializada no atendimento à mulher, na cidade de Santos/SP em 1985; no âmbito federal iii) a instituição do Programa de Assistência Integral à

Saúde da Mulher (PAIS) em 1983, iv) o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres ligado ao Ministério da Justiça, em 1985, e v) como anteriormente citado, a redemocratização via Constituição Federal de 1988.

De outro modo, o cenário internacional também contribuiu para movimentar e alimentar as discussões que aqui chegavam. Ainda segundo Farah (2004), a década de 1990 foi marcada pelas discussões de gênero através dos seguintes eventos:

• Eco-92, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e sediada no Rio de Janeiro/Brasil em 1992, com foco no debate sobre o clima;

• Conferência Mundial sobre os Direitos Humanos, organizada pela ONU e sediada em Viena/Áustria em 1993;

• Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, organizada pela ONU e sediada no Cairo/Egito em 1994;

• Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, organizada pela ONU e sediada em Copenhague/Dinamarca em 1995;

• A Conferência Mundial sobre a Mulher, organizado pela ONU e sediada em Pequim/China em 1995; e,

• Fórum Social Mundial, entre os anos de 2001 e 2003, organizado por diversos movimentos sociais e espalhados por diversas cidades do mundo.

O grande resultado de toda esta movimentação de caráter internacional, não fez pressão no âmbito nacional apenas, mas começou, de fato, a se ter na pauta política o tema relacionado às mulheres considerando as assimetrias do gênero. Neste momento histórico do processo de redemocratização, os movimentos feministas discutiam justamente sua pluralidade quanto a representação das diversas categorias de mulheres. Temas como focalização de ações e aprofundamento da pobreza, sobretudo para mulheres, começaram a serem também pautados justamente considerando suas diferentes realidades vividas por suas condições de raça, cor, etnia, regionalização e idade19.

Se por um lado avanços na área da saúde, assistência social e garantias de direitos começavam a se delinear neste Brasil do final do século XX, não se pode esquecer que o país já no início da década de 1990 começava a se alinhar muito mais com os interesses e métricas de políticas econômicas afinadas com o neoliberalismo. As preposições do Consenso de Washington, manifestadas na América Latina e especialmente no Brasil, em seguir a cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, visavam um país alinhado às

19 Para uma discussão mais aprofundada sobre mulheres e indicadores de pobreza no Brasil, ver Lima (2021).

ideias de eficiência e maximização do resultado em uma perspectiva de livre concorrência internacional20. Em meados de 2004, o país ganhou novos rearranjos nas formulações de políticas sociais, sobretudo. O Programa Bolsa Família (PBF), por exemplo, fora formulado na ocasião como uma política pública de governo com um intuito maior de dirimir os índices de pobreza da população visando a melhoria de indicadores sociais, econômicos, de saúde e educacionais. Mesmo não sendo uma política com enfoque de gênero, o programa preferencialmente indicava a mulher como referência no recebimento dos recursos e em certa medida, as orientações do Banco Mundial sobre políticas de combate à pobreza, segundo Carloto (2004), tinham como foco a manutenção da família asseverando, no ato da transferência de renda, a responsabilização pela superação da condição. Neste aspecto, é preponderante salientar que o PBF está envolto em um debate que ao mesmo tempo advoga sua importância na superação dos índices de pobreza, e indiretamente alimenta as expectativas estereotipadas dos papéis culturalmente estabelecidas à mulher na gestão da família, implicando assim o aprofundamento das experiências entre trabalho produtivo e trabalho reprodutivo (CARLOTO, 2004; CARLOTO & MARIANO, 2012; SUÀREZ & LIBARDONI, 2007)21.

O limiar desta questão está para o que Farah (2004) considerou como a ampliação da participação dos entes estaduais e municipais, junto com a união, no processo de implantação de políticas, sejam ela de caráter mais geral nos temas ou também focalizadas na temática de gênero (mesmo sendo está última ainda tímida no Brasil em relação a implantação). Para Pasinato e Santos (2008), o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), criado em 1985, no governo de José Sarney22, não possuía artifícios para articulações de políticas públicas, contudo foi primordial no processo de se atender às demandas feministas de então. Somente em

20 Em 1996 Gustavo H. B. Franco, então economista chefe do Banco Mundial, publicou em artigo intitulado “A inserção externa e o desenvolvimento”, um debruçar sobre novas orientações do que na época era “vendida” como os novos rumos do Brasil. O economista brasileiro indicou que nesse novo modelo de desenvolvimento do país, a questão central seria a produtividade da produção nacional, isto é, com vistas à concorrência internacional; assim, o modelo de crescimento do Brasil deveria prescindir ações do Estado. Ao considerar a ação governamental como coadjuvante, o autor concluiu que “progresso e o crescimento se obtêm crescentemente na área privada” (p. 40).

Para mais informações, acesse: <

http://www.gustavofranco.com.br/uploads/files/insercao%20externa%20e%20desenvolv.pdf>. Acesso em: 27 nov 2021.

21 A dualidade aqui indicada entre trabalho produtivo e reprodutivo indica que as mulheres continuam sendo relegadas ao trabalho doméstico, responsável pelos cuidados dos filhos/filhas e até familiares, e diante da expectativa do sucesso da gestão financeira oriunda da transferência de renda, seu tempo diário estará totalmente voltado a esses afazeres, impedindo-a de aventar atuação profissional no âmbito público, isto é, na esfera produtiva.

22 Pertencente na época ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), hoje MDB.

2003, com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva23 que foi criado a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) com status de Ministério24.

Na Bahia, uma pasta exclusiva no âmbito estadual para o atendimento de políticas para a mulher, a SPM/BA, passou a vigorar em 2011 sancionada pelo então governador Jaques Wagner25, por meio da Lei estadual nº 12.212. Tinha o objetivo de “planejar, coordenar e articular a execução de políticas públicas para as mulheres” sendo que as temáticas relacionadas eram oriundas da secretaria até então responsável destinada à Promoção da Igualdade26.

Outras temáticas cruciais além do combate à violência fazem parte da pasta SPM/BA, como orçamentos destinados a programas que visam autonomia das mulheres. Mas, em contraposição ao verificado no município estudado, nos últimos anos o estado manteve um orçamento destinado a ações no tocante à necessidade de atenção a questões de gênero, sobretudo, à garantia de direitos para as mulheres.

Parafraseando o jurista argentino Raúl Eugênio Zaffaroni, citado por Waiselfisz (2015, p. 76), “Cada país tem o número de feminicídios que decide politicamente ter, assim como o número de condenações por essa agressão”. Essa afirmação nos leva a apontar como a capilaridade das políticas públicas também corresponde a posições ideológicas escolhidas pelos diversos governos que em muito mantêm a invisibilidade da problemática desta violência, contribuindo para a alimentação da visão que subordina o gênero feminino, colocando-o em segundo plano.

As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM) confere por uma política apontada pela LMP como mecanismo de enfrentamento a violência de gênero.

Institucionalizadas pela referida Lei, essas delegacias buscam garantir a integridade e humanização no atendimento de mulheres que vivem a dura realidade criminal confluindo para, através do acesso aos serviços públicos, a garantia cidadã de vivenciar a plenitude dos direitos.

23 Pertencente, na época, ao Partido dos Trabalhadores (PT).

24 Desde 2018, com a eleição do presidente Jair Messias Bolsonaro (atualmente sem partido), a SPM passou a integrar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MDH). Diante de um conturbado início de atuação, a então ministra Damares Alves iniciou uma gestão indicando uma “nova era”, o que para muitos movimentos sociais ficou subentendido como uma forma política de se posicionar contra o debate feminista e dos movimentos LGBTQIAP+ sobre o gênero e sexualidades. Para mais informações, acesse:

https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/03/em-video-damares-alves-diz-que-nova-era-comecou-no-brasil-meninos-vestem-azul-e-meninas-vestem-rosa.ghtml>. Acesso em: 27 nov 2021.

25 Pertencente ao Partido os Trabalhadores (PT).

26 Entre os anos de 2003 a 2007 a Bahia foi governada por Paulo Souto que pertencia ao então Partido da Frente Liberal (PFL), hoje Democratas (DEM). Em 2007 assumiu o governador eleito Jaques Wagner (PT), porém, devendo cumprir o orçamento planejado pela gestão anterior (seguindo a previsão do PPA). Somente a partir de 2008 que o governador geriu o estado de acordo com o planejamento orçamentário elaborado em sua gestão.

Devem funcionar como um espaço em que a mulher se sinta segura para denunciar sua condição de vítima e seu agressor. Essas delegacias surgiram, como apontou Pasinato e Santos (2008), em reposta às demandas feministas; a primeira DEAM foi criada por força de decreto estadual.

Na cidade de Santos no litoral paulista, em 1985, pelo então governador Franco Montoro foi sancionado o Decreto nº 23.769 de 6 de agosto de 1985. Em seu art. 2º, foi previsto “a investigação e apuração dos delitos contra pessoa do sexo feminino, [...] de autoria conhecida, incerta ou não sabida, ocorridos no Município da Capital, concorrentemente com os Distritos Policiais”.

Ainda de acordo com as autoras, a Bahia em 2007 possuía 12 DEAMs, em um total na época de 397 no Brasil – ou seja 3,02% do total nacional. Atualmente, com 14 DEAMs espalhadas pelo estado da Bahia sendo duas na capital, somente 3,36% dos municípios do estado são contemplados pela política pública. Boa parte dos municípios baianos estão

“descobertos” da atuação especializada estando somente disponível as delegacias locais como recurso de escuta para registros institucionalizados por parte do Estado. Foi o que as autoras indicaram “como a principal política pública no enfrentamento à violência contra mulheres e atualmente são reconhecidas como a única política de extensão nacional cuja existência se deu de forma ininterrupta desde os anos 1980.” (p. 12). Para Porto (2000), a criação das DEAMs sinalizou e elevou o debate para um outro estágio de maneira a deixar muito mais evidente a problemática que envolve o gênero possibilitando um ambiente propício à igualdade.

O mapa 2 mostra a posição geográfica das DEAMs no estado da Bahia. O município de Olindina destacado em vermelho, desperta a atenção pela distância geográfica das DEAM’s mais próximas (Alagoinhas – cerca de 100 km, e Paulo Afonso – pouco mais de 250 km).

Grande parte das DEAM’s no estado estão dispostas na região litorânea e em suas proximidades; em certa medida o interior do estado está desprovido deste mecanismo27. Mesmo existindo a DT local, o fato de o atendimento especializado ser orientação para mulheres que vivenciam esta dura realidade, a inexistência neste município pode inflamar vulnerabilidades no tocante ao acesso a direitos, considerando que a locomoção até um serviço de denúncia especializado, por exemplo, poderá não estar disponível de forma simétrica a todas as vítimas.

27 Dos 13 municípios que detêm DEAM, somente um possuía uma população inferior a 100 mil habitantes:

Candeias com 83.158 habitantes no Censo IBGE 2010.

Mapa 2 – Disposição Geográfica de Olindina e DEAM’s na Bahia

Fonte: Elaboração própria através dos dados Secretaria de Políticas para Mulheres – Bahia e IBGE.

Como aponta a Lei do Feminicídio, este crime é gestado também no âmbito de conflitos onde se manifesta a violência doméstica contra a mulher. Entretanto, a rede de apoio e enfrentamento necessita passar por considerações diferentes ao refletir a implantação de políticas neste sentido diante das realidades regionais. Muitas mulheres podem sentir-se inibidas devido estigmas sociais mantidos quanto à exposição de suas vidas e de relações que lhes provoquem marcas de sofrimento. A experiência traumática relacionada com este tipo de crime gera uma espécie de negação ou repressão consonante a naturalização dos papéis socialmente embutidos à mulher e ao homem (MENEGHEL & PORTELLA, 2017). Neste sentido, os dados estatísticos oriundos do DATASUS/Tabnet também apresentam limitações para a violência doméstica: até que ponto a gravidade da situação fez com que as vítimas procurassem os serviços de saúde (atendimento médico)? Outra situação são as violências não físicas que poderiam desmotivar as vítimas a procurar os serviços de saúde, muitas vezes pela carência de um atendimento psicológico público especializado.

Esses fatores dialogam também, por exemplo, com a posição geográfica em que muitas mulheres violentadas se encontram: as regiões rurais em boa medida estão desprovidas de

acesso adequado aos serviços públicos, muitas vezes concentrados na zona urbana (como é o caso de delegacias territoriais), assim como as queixas feitas via telefone28 esbarram, possivelmente, tanto nas questões de acesso aos aparelhos quanto nos riscos que essa atitude impõe caso o algoz perceba a agência da mulher29. O art. 7º da Lei Orgânica de Olindina, de 3 de abril de 1990, prevê que o poder público municipal zele pela saúde, promova a educação, cultive a memória cultural e incessantemente invista em ações de combate à vulnerabilidade socioeconômica.

A participação do Estado, desta forma, é uma das importantes peças para se promover ações que gerem respostas aos dilemas das cidades, através das formulações de Planos e Orçamentos. Para a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) (2013), esses instrumentos atuam de forma integrada entre os poderes executivos e legislativos de maneira que, enquanto o primeiro projeta e orça, o segundo acompanha e fiscaliza. De uma maneira geral, esses instrumentos de planejamento de Estado se manifestam em Planos Estratégicos, Planos Diretores, Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA), Quadro Demonstrativo de Despesas (QDD), entre outros. Destacando o caráter de cumprimento público dos atributos da lei concernente ao interesse da sociedade (expressos por exemplo na lei complementar popularmente conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal, nº 101/2000), o PPA ganha destaque pois em quatro anos de vigência o plano deverá definir o que será realizado “para que sejam alcançados os objetivos estratégicos estabelecidos pela administração, traduzindo-os em ações concretas.” (CNM, 2013, p. 15). Dessa forma, muito do que vemos nas diferentes esferas políticas (União, Estados e Municípios) em parte conversam e refletem decisões de caráter administrativo e de interesse político do que fazer e não fazer. Dito de outra maneira, o que será prioridade de ações mediante a identificação de questões urbanas a serem resolvidas. Em Olindina, o art. 5º do PPA 2018-2021 (lei nº 289 de 04 de dezembro de 201730) aponta o objetivo do planejamento municipal como aquele que reflete “escolhas de política pública” para alcançar resultados a partir da intervenção do governo municipal.

28 Em uma conversa de entendimento local da atuação da Polícia Militar, o efetivo informa que atualmente oferta um telefone para queixas emergenciais, no entanto, não existe um servidor/servidora especifico para o atendimento da linha telefônica no município, o que muitas vezes impossibilita o real tratamento de toda a demanda.

29 As agências das vítimas realçam sua posição não inerte a imposição das violências, como foi o caso noticiado pela Polícia Militar de Andradina, interior de São Paulo, em maio de 2021 em que vítima liga para a central de denúncias pedindo pizza como uma espécie de código de queixa da violência sofrida pelo seu companheiro.

Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-jose-do-rio-preto-aracatuba/noticia/2021/05/28/audio-mostra-pedido-de-socorro-de-mulher-que-ligou-para-a-pm-pedindo-pizza-ouca.ghtml. Acesso em: 16 jul 2021.

30 Disponível em: https://sai.io.org.br/Handler.ashx?f=download_inativos&query=2264&c=567. Acesso em: 3 jul 2021.

A LMP por exemplo, orienta União, Estados e Municípios (art. 35º) que promovam políticas públicas voltadas à questão da violência contra mulheres, o que intimamente liga-se a Olindina e a diversos outros municípios brasileiros carentes31 da existência de mecanismos em

A LMP por exemplo, orienta União, Estados e Municípios (art. 35º) que promovam políticas públicas voltadas à questão da violência contra mulheres, o que intimamente liga-se a Olindina e a diversos outros municípios brasileiros carentes31 da existência de mecanismos em

No documento FALE AGORA OU CALE-SE PARA SEMPRE: (páginas 36-51)