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CAPÍTULO 1 O ADICIONAL DE INSALUBRIDADE E A DIGNIDADE HUMANA:

1.4 Os custos sociais dos efeitos da insalubridade

Antes de mais nada, importa tecer alguns comentários acerca do conceito de acidente do trabalho, pois está preconizado no art. 19 da Lei n. 8.213/9192 que é aquele ocorrido “pelo exercício do trabalho a serviço da empresa”, capaz de provocar “lesão corporal ou perturbação funcional”, ou mesmo a perda/redução da capacidade laborativa.

Assim, entendendo-se que o acidente laboral decorre diretamente da contingência pelo exercício do trabalho, faz-se algumas considerações:

É preciso que, para existência do acidente do trabalho, exista um nexo entre o trabalho e o efeito do acidente. Esse nexo de causa-efeito é tríplice, pois compreende o trabalho, o acidente, com a conseqüente lesão, e a incapacidade, resultante da lesão. Deve haver um nexo causal entre o acidente e o trabalho exercido. Inexistindo essa relação de causa-efeito entre o acidente e o trabalho, não se poderá falar em acidente do trabalho. Mesmo que haja lesão, mas que esta não venha a deixar o segurado incapacitado para o trabalho, não haverá direito a qualquer prestação acidentária. Não se confunde, porém, nexo causal com o nexo etiológico. Neste verifica-se o fato que origina ou desencadeia o acidente do trabalho. Já no primeiro pode haver a abrangência sobre o agravamento das lesões ou doenças decorrentes do trabalho. 93

92 Esta lei foi publicada no DOU de 25.7.91, sendo republicada em 11.4.96 e 14.8.98, a qual “Dispõe sobre os

Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências”. O teor do art. 19 é o seguinte: “Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.”

Importa dizer, ainda, que são considerados acidentes de trabalho algumas doenças do trabalho, nos moldes do Decreto n. 3048, em seu Anexo II94, de forma que somente serão consideradas doenças do trabalho aquelas relacionadas aos agentes patogênicos constantes da lista taxativa do referido Anexo, a exemplo do “benzeno” e do “chumbo ou seus compostos tóxicos”, pois:

Considera-se, ainda, acidente do trabalho:

1. A doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício de trabalho peculiar a determinada atividade e constante da relação do Anexo II do Decreto n. 3048. São doenças inerentes exclusivamente à profissão e não ao trabalho, embora possam ser desenvolvidas no trabalho. Há presunção da lei. Exemplo é a doença do pulmão adquirida pelo mineiro em razão do exercício de sua profissão.As doenças profissionais são as causadas por agentes físicos, químicos ou biológicos inerentes a certas funções ou atividades. Não se confundem com os acidentes-tipo, pois tem atuação lenta no organismo humano. São também denominadas de idiopatias, tecnopatias ou ergopatias.

2. Doença do trabalho, que é adquirida ou desencadeada em razão de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente, desde que constante da relação mencionada no Anexo II do Decreto n. 3.048. são chamadas de mesopatias. Exemplo é a afecção auditiva decorrente do trabalho na exploração de pedreiras. 95

Com relação às prestações pecuniárias pagas pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) com o objetivo de amparar o acidentado na esfera privada96, destacam-se o auxílio-doença, a aposentadoria por invalidez, bem como o auxílio acidente, além do serviço social e o direito a reabilitação profissional. Já para os dependentes deste, possuem a prerrogativa da pensão por morte, além do serviço social e o direito a reabilitação profissional.

Numa breve síntese, o chamado auxílio-doença acidentário será devido pelo órgão previdenciário àqueles afastados do serviço em virtude do acidente laboral por mais de 15

94 Este Decreto foi aprovado em 6 de maio de 1999 e “Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras

providências”. O anexo II trata dos “agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho, conforme previsto no art. 20 da Lei 8.213, de 1991”.

95 MARTINS, Sérgio Pinto.Direito da seguridade social. 29. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 408.

96 Na seara dos servidores públicos estatutários há regramento próprio e específico do sistema previdenciário,

sobre o qual não será explorado nesta pesquisa, seguindo a coerência do corte metodológico escolhido, o qual se restringe à esfera dos trabalhadores regidos pela CLT. Já aqueles servidores públicos que adotarem o regramento da CLT estão sujeitos ao custeio da seguridade social, nos moldes da lei n. 8.212/91. Os militares, da mesma forma, serão regidos pelo regime próprio da previdência social estatuído na Lei n. 6.880/80 (Estatuto dos Militares).

dias consecutivos, cuja renda mensal corresponda a 91% do salário de benefício, conforme art. 61 da Lei n. 8.213/91.97

A aposentadoria por invalidez acidentária será devida àquele trabalhador acidentado que esteja no gozo do auxílio-doença, e que, após a realização de várias perícias médicas pelos peritos do INSS, for constatado a incapacidade para o trabalho, com remuneração de 100% do salário de benefício, conforme o artigo 44 da Lei n. 8.213/91 98, e, caso necessite de assistência permanente de outra pessoa, terá um acréscimo de 25% em sua prestação, conforme o artigo 45 do mesmo codex legal 99.

Já o auxílio acidente possui previsão legal no art. 86 da lei n. 8.213/91100 e é concedido como forma de indenização (indenização previdenciária) àqueles vitimados no trabalho que apresentem seqüelas capazes de reduzir a capacidade laborativa do acidentado, tendo como remuneração “cinqüenta por cento do salário-de-benefício”, ao lume do parágrafo 1º do aludido artigo 101.

Por fim, a pensão por morte acidentária é aquela devida aos dependentes do segurado falecido, vítima de acidente laboral, conforme preceitua o art. 75 da Lei n. 8.213/91 102, com renda mensal de 100% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou que teria direito se estivesse aposentado na data de seu óbito.

Diante de todo o exposto, não se pode olvidar que as doenças ocupacionais equiparam-se aos acidentes de trabalho e, devido a esta gravidade, dá ensejo à garantia do

97 Este é o teor do art. 61: “Art. 61. O auxílio-doença, inclusive o decorrente de acidente do trabalho, consistirá

numa renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei.”

98 O art. 44 assim dispõe: “A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente do trabalho,

consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei.”

99 O art. 45 prevê: “O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente

de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).”

100 O art. 86 menciona: “O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado quando, após

consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.”

101 O parágrafo 1º do art. 86 assim dispõe: “O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinqüenta por cento do

salário-de-benefício e será devido, observado o disposto no § 5º, até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado.”

102 O art. 75 possui a seguinte redação: “O valor mensal da pensão por morte será de cem por cento do valor da

aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, observado o disposto no art. 33 desta lei.”

emprego, pelo menos provisoriamente 103, de forma que a tendência hodierna da jurisprudência pátria é no sentido de deliberar acerca da obrigatoriedade do empregador, zelar pela segurança do empregado, pois trata-se de questão afeta tanto à dignidade quanto aos princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, diante da exposição aos agentes insalubres 104.

Além disso, o trabalhador que exerce o seu mister em condições desfavoráveis de saúde possui o direito a uma aposentadoria especial, como forma de compensação do trabalho em condições adversas à saúde, conforme a redação do art. 57 da Lei n. 8.213/91 105, com remuneração de 100% do salário de contribuição 106.

A aposentadoria especial é medida excepcional concedida a quem labora em condições adversas por 15, 20 ou 25 anos de trabalho. Para se ter um ideia, quem se aposenta por tempo de contribuição (o que é mais comum) precisa aguardar 30 e 35 anos (mulheres e homens respectivamente) para ter direito ao benefício.

103 O art. 118 da Lei n. 8.213/91 assim dispõe acerca da estabilidade provisória do acidentado: “O segurado que

sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mínimo de doze meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio-acidente.” (grifamos)

104 A título exemplificativo, cita-se o seguinte julgado do TRT da 2ª. Região:

“EMENTA: ACIDENTE DE TRABALHO. MAQUINÁRIO. DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA. A OBRIGAÇÃO DO EMPREGADOR ZELAR PELA SEGURANÇA DO EMPREGADO É QUESTÃO AFETA A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E À VALORIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO, COMO PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO, NOS TERMOS DO ART. 1º, II E III DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.Os horrores do início da revolução industrial é passado. Mutilações não mais devem dinamizar a produção no capitalismo. Os ganhos do capital hoje sofrem as peias de uma legislação de proteção ao trabalho. O processo produtivo avançou. No patamar das atuais conquistas tecnológicas, não mais se concebem mutilações de trabalhadores, por falta de dispositivos de segurança, em máquinas e utensílios laborais. Nos termos do artigo 157, II da CLT, cabe ao empregador zelar adequadamente pela segurança do empregado, no manuseio e utilização dos equipamentos. A força de trabalho, ao contrário das máquinas e utensílios, não é mera mercadoria de reposição e descartável com o tempo. O artigo 183 da CLT é expresso em determinar a utilização de maquinário com dispositivos necessário à inibição de acidentes de trabalho. A NR nº 12 do Ministério do Trabalho e Emprego, em seu item 12.2.1., é clara quanto à necessidade do empregador adotar as devidas precauções preventivas ao acidente de trabalho, cujos custos das mais diversas naturezas, são de uma forma ou de outra, transferidos ao conjunto de toda a sociedade”. (grifo nosso)

Trata-se do Recurso Ordinário nº 00504.2006.311.02.00-0 (20090110611), 6ª Turma do TRT da 2ª Região/SP, Rel. Valdir Florindo. j. 17.02.2009, DOe 06.03.2009, cuja ação foi intentada por “Rubens Aparecido Ferreira” em face de “Coreplás Indústria e comércio de plásticos Ltda-ME, originária da 1ª. vara do trabalho de Guarulhos/SP, processo n. 504/2006. A ação foi julgada parcialmente procedente, condenando a contraparte em danos morais no valor de R$ 6.072,30 e outras avenças pelo acidente de trabalho. Inconformada, a reclamada recorreu da decisão, porém foi negado provimento, mantendo-se in totum o teor da decisão do juízo a quo, por unanimidade de votos, tendo sido transitado em julgado.

105 O art. 57 assim dispõe: “A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta

Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.”

106 O parágrafo 1º do art. 57 assim dispõe: “A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei,

Assim, os custos sociais de uma doença profissional, transferidos à toda a sociedade, podem ser minimizados através de medidas protetivas mais eficazes de valorização do trabalho, pois os crescentes ganhos do capital sofrem hodiernamente com as peias de uma legislação protetiva do trabalho, a qual deve se estender à uma tutela efetiva do trabalhador.

Importa dizer, por fim, que há outros julgados no mesmo sentido, sendo uma tendência dominante da jurisprudência pátria 107.

Com os números cada vez mais crescentes dos acidentes do trabalho no Brasil, merece atenção o fato de que:

107 A fim de exemplificar, declina-se o recente julgado, demonstrando que é comum a aposentadoria, neste caso,

proporcional ao tempo de serviço, decorrente da atividade de exposição do trabalhador segurado ao ambiente insalubre: “PREVIDENCIÁRIO – APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO – ATIVIDADE ESPECIAL – RECONHECIMENTO DA INSALUBRIDADE – EXPOSIÇÃO A AGENTE INSALUBRE – JORNADA DE TRABALHO – REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS – PROCEDÊNCIA – I- Remessa oficial conhecida, em observância ao disposto no § 2º do artigo 475 do Código de Processo Civil. II- A jurisprudência firmou-se no sentido de que a legislação aplicável para a caracterização do denominado serviço especial é a vigente no período em que a atividade a ser avaliada foi efetivamente exercida, devendo, assim, ser levada em consideração a disciplina estabelecida pelos Decretos 53.831/64 e 83.080/79, sendo possível o reconhecimento da condição especial com base na categoria profissional do trabalhador. Após a edição da Lei nº 9.032/95, passou a ser exigida a comprovação da efetiva exposição a agentes nocivos em caráter permanente, podendo se dar através dos informativos SB-40, sem prejuízo dos demais meios de prova. III- Somente a partir de 05/03/1997, data em que foi editado o Decreto nº 2.172/97, regulamentando a Medida Provisória 1.523/96, convertida na Lei nº 9.528/97, tornou-se exigível a apresentação de laudo técnico para a caracterização da condição especial da atividade exercida. IV- A insalubridade da atividade exercida pelo requerente restou devidamente comprovada no período pleiteado, através dos documentos apresentados. V- Não merece prosperar a alegação de que a exposição a agente insalubre deve perdurar por toda a jornada de trabalho, tendo em vista que na época em que a atividade foi desempenhada não havia a exigência legal de comprovação de exposição a agente insalubre de forma permanente, a qual somente foi introduzida pela Lei nº 9.032/95, que deu nova redação ao § 3º do artigo 57 da Lei nº 8.213. Ainda que assim não o fosse, a expressão tempo de trabalho permanente à qual se refere este parágrafo deve ser interpretada como o labor continuado, não eventual ou intermitente, de modo que não significa a exposição ininterrupta a agente insalubre durante toda a jornada de trabalho. VI- A parte autora faz jus à concessão do benefício de aposentadoria proporcional por tempo de serviço, uma vez demonstrada a implementação dos requisitos legais. VII- O termo inicial do benefício é a data da citação, a teor do disposto no art. 219 do Código de Processo Civil, posto que na data do requerimento administrativo a parte autora ainda não havia implementado todos os requisitos necessários para a concessão do benefício. VIII- As parcelas em atraso devem ser corrigidas monetariamente nos termos do disposto na Resolução nº 561, de 02/07/2007, do Conselho da Justiça Federal, que aprovou o Manual de Orientação de Procedimentos para Cálculos na Justiça Federal, observando-se a Súmula nº 08 desta Corte Regional e a Súmula nº 148 do Egrégio Superior Tribunal de Justiça. IX- Juros de mora devidos a contar da citação, à taxa de 12% (doze por cento) ao ano, conforme Enunciado nº 20 aprovado na Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal. X- Honorários advocatícios reduzidos para 10% (dez por cento) sobre o total da condenação, excluídas as parcelas vincendas, considerando-se as prestações vencidas as compreendidas entre o termo inicial do benefício e a data da sentença (Súmula nº 111 do STJ). XI- Remessa oficial e apelação do INSS parcialmente providas. (TRF 3ª R. – Ap-RN 2008.03.99.045953-3/SP – 7ª T. – Rel. Des. Fed. Walter do Amaral – DJe 08.07.2010 – p. 1233)” (grifo nosso).

O Brasil é o país campeão em acidentes e doenças do trabalho, e mesmo assim não vem enfrentando o problema com a devida seriedade, muito embora a Reforma da Previdência esteja sempre na ordem do dia. Basta atentar para um fato gravíssimo: atualmente, cerca de 80% das doenças que tem relação com o trabalho acabam sendo consideradas, pela Previdência Social, como doenças comuns. Decorrem das chamadas subnotificações acidentárias, e os reflexos desta omissão custam caro aos cofres públicos. 108

O grande problema disso tudo são os custos arcados principalmente por toda a sociedade, advindos das despesas realizadas pela previdência social em prol do acidentado, porquanto:

Em outras palavras, tem o INSS o dever de buscar o ressarcimento, junto ao mau empregador, daquilo que foi gasto, e isso pelo fato de não ter sido propiciado ao trabalhador um meio ambiente do trabalho sadio, obrigação constitucional das empresas que não pode ser considerada como ‘custo da mão-de-obra’.

Nada disso é feito, e o resultado é que perde o trabalhador, perde a Previdência Social e perde principalmente a sociedade, que obriga-se a custear, com os impostos que paga, os benefícios por incapacidade causados por maus pagadores, os únicos ‘premiados’ por essa grave omissão. 109

Para se ter uma ideia da dimensão dos acidentes de trabalho no Brasil, o magistrado do trabalho titular da vara do trabalho de Orlândia/SP, José Antônio R.O. Silva, comenta que “[...] os acidentes laborais matam 60 vezes mais do que a dengue. Em 2005, houve 45 mortes por dengue no Brasil, enquanto 2.708 trabalhadores perderam sua vida por acidentes do trabalho.” 110

As estatísticas não param por aí, demonstrando o total descaso para com o trabalhador vítima desses percalços, sendo que mesmo os índices lançados pela Previdência Social não refletem toda a realidade, onde, infelizmente, é percebida uma certa “subnotificação dos acidentes”, pois:

De acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho da Previdência Social, houve 545.268 acidentes com CAT emitida em 2008, sendo 80% (438.536) de acidentes típicos. Onde estão as doenças

108 MOTA, Daniel Pestana. LER-DORT: quem paga a conta? Revista Nacional de Direito do Trabalho,

Ribeirão Preto, v. 11, n. 126, p. 11, out. 2008.

109 Ibid., p. 12.

110 SILVA, José Antônio R. O. Os problemas relacionados às perícias judiciais para a constatação de doença

ocupacional e a responsabilidade objetiva do empregador pelos danos decorrentes de acidente do trabalho e adoecimentos ocupacionais. Revista LTr: legislação do trabalho, São Paulo, ano 74, n. 11, p. 1326, nov. de 2010.

ocupacionais? Segundo as estatísticas, elas representam pouco mais de 3% (18.576) das CATS emitidas. Isso não corresponde à realidade, pois a maior parte dos processos trabalhistas que envolvem a questão traz à tona casos de doenças ocupacionais, não de acidentes típicos. Isso já permite concluir que há uma acentuada subnotificação de acidentes, mormente de adoecimentos relacionados ao trabalho. Para se ter uma clareza dessa afirmação, basta constatar que o Anuário referido aponta a quantia de 202.395 acidentes sem CAT emitida, principalmente pela presunção estabelecida a partir do NTEP (Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário). Assim, tivemos no Brasil, somente no ano de 2008, um total de 747.663 acidentes e adoecimentos laborais, dos quais 27% nem foram notificados. 111

Segundo as últimas estatísticas da Previdência Social 112, a quantidade de acidentes do trabalho ocorrido no ano de 2009 foi de 528.279 com registro da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) 113, e, desse universo, 17.693 por doenças do trabalho. Muito embora tenha havido uma ligeira queda quando comparado às estatísticas de 2008, a proporção manteve-se em torno de 3% das doenças laborais, não se podendo olvidar, é claro, da existência de subnotificação dos acidentes, em que muitos não são sequer registrados.

Relata ainda o doutrinador que, segundo estimativas da OIT, no ano de 2006, os acidentes e doenças profissionais mataram mais que as tragédias de guerras, acidentes de trânsito e epidemias como a Acquired Immune Deficiency Syndrome (AIDS), porquanto:

6.000 trabalhadores morrem todos os dias, no mundo, em decorrência de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho. Outra estimativa da referida Organização, de 2002, aponta para 2.000.000 de trabalhadores mortos por ano, no mundo, por acidentes do trabalho, ao passo que 9.000 pessoas morrem em acidentes de trânsito, 500.000 devido às guerras e 312.000 de AIDS/SIDA.

Ora, isso demonstra que estamos vivendo uma verdadeira ‘guerra civil’ em termos de acidente do trabalho, que mata duas vezes mais do que as próprias guerras. 114

Por fim, deve ser observado que a preocupação com o meio ambiente do trabalho não deve ser apenas uma preocupação dos empregados e sim dos empregadores, tendo em vista o

111 SILVA, José Antônio R. O. Os problemas relacionados às perícias judiciais para a constatação de doença

ocupacional e a responsabilidade objetiva do empregador pelos danos decorrentes de acidente do trabalho e adoecimentos ocupacionais. Revista LTr: legislação do trabalho, São Paulo, ano 74, n. 11, p. 1325, nov. de 2010.

112 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL. Anuário Estatísitico da Previdência Social. 2009. Disponível em

<http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=990>. Acesso em: 1 abr. 2011. Trata-se do Anuário Estatístico divulgado pelo INSS relativo ao ano de 2009, na Seção IV “Acidentes do Trabalho”.

113 A comunicação do acidente do trabalho, a princípio, é ônus do empregador ao INSS, cujo prazo é até o

primeiro dia útil subseqüente ao acidente, e, na omissão do empregador, o próprio empregado pode fazê-lo, os dependentes, o sindicato da categoria, o médico que o atendeu ou mesmo qualquer autoridade pública, independente do prazo anteriormente mencionado.

fato dos custos sociais oriundos das doenças ocupacionais atingirem o Welfare State, diante do considerável número de concessões dos benefícios previdenciários.