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Os desafios de positivação dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes:

2 A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO MODERNO

2.3 DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES – PACTOS

2.3.1 Desafios teóricos da Convenção Sobre os Direitos das Crianças e Adolescentes:

2.3.1.1 Os desafios de positivação dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes:

Não podemos nos eximir de inserir, neste contexto, a distância entre os direitos a que se referem a convenção e a realidade global das crianças. Nesse processo, apresentam, além das violações econômicas de negação de direitos básicos de cidadania, as violações à vida e à sociabilidade, perpassadas pelos diversos conflitos armados gerados ao longo do século anterior e neste milênio, onde nos defrontamos com a ‘nova’ geração de conflitos, com questões seculares, mas com uma formulação e tecnologia diferentes. Destacam-se os conflitos separatistas por território, a exemplo da região da Caxemira, na Índia e os conflitos entre a Ucrânia e a Rússia, e os de direto interesse econômico, de acordo com sua referência

12 Foram reconduzidos para mais um mandato: Jorge Cardona (Espanha), Bernard Gastaud (Monaco),

HatemKotrane (Tunísia), GehadMadi (Egito) e Kirsten Sandberg (Noruega).Passam a ocupar pela primeira vez o Comitê dos Direitos das Crianças: Suzanne Aho Assouma (Togo), HyndAyoubiIdrissi (Moroco), Joseph Clarence Nelson (Samoa) e José Angel Rodríguez Reyes (Venezuela). A partir de agora, a região latino americana encontra-se representada por Sara Oviedo (Equador), José Angel Rodriguez Reyes (Venezuela) e o brasileiro Wanderlino Nogueira.

ou origem13, que violam diretamente a vida e a integridade dos direitos humanos dos indivíduos, sejam adultos ou crianças.

Chama-nos a atenção que nos protocolos internacionais de defesa das crianças nos conflitos armados, o papel da ONU que, nesse processo, não tem garantido os direitos civis. Os compromissos elencados através da Carta das Nações Unidas que enumeram os objetivos de paz, desenvolvimento, direitos humanos e promoção do direito internacional, que representou a motivação para o ordenamento jurídico internacional da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, através de uma organização internacional de Nações Unidas, voltado à consolidação e expansão de direitos internacionais da sua importância afirmada pela representação dos Estados Partes, e na consolidação e expansão do Direito Internacional.

Dados do relatório de Genebra afirmam que os confrontos armados mataram mais de 95 mil pessoas no mundo em 2012, sendo que em sua maioria civis, e afirma que o acordo que define os conflitos armados é mais permissivo, pois não há disputa direta entre Estados soberanos, o que os definem de acordo com as circunstâncias, conforme o relatório anual do Instituto de Heidelberg de Pesquisa Internacional de Conflitos (HIIK), através do Barômetro de conflitos14. O ano de 2013 foi, junto ao ano de 2011, o que registrou mais conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial, com um total de vinte (20).

No discurso do Secretário-Geral das Nações Unidas, ao apresentar o Relatório do Milênio, chama a atenção um dos objetivos fundamentais das Nações Unidas: libertar todos os povos do flagelo da guerra e, em especial, da violência dos conflitos civis e do medo da destruição maciça, duas grandes fontes do terror que o nosso mundo enfrenta hoje em dia. Isso só será possível se reforçarmos o respeito pelo direito no plano internacional, “[...] em especial pelas disposições dos tratados relativos ao controlo dos armamentos, bem como o direito humanitário internacional e o direito relativo aos direitos humanos” (UNRIC, 2014).

Essas afirmações não se concretizam no quadro mundial de relações de paz, são nessas contradições que emergem os debates em relação à efetividade dos direitos humanos e a condição de seu reconhecimento enquanto valor universal. Nesse sentido, nosso

13 Além desses, destacam-se os conflitos no Oriente Médio e os conflitos Israel-Palestina e outros que iremos tratar posteriormente.

14 O "Barômetro de Conflitos 2013" mostra que às guerras iniciadas em Afeganistão, Síria, Paquistão e Iraque se

somaram, no ano passado, as do Mali e da República Centro-Africana no nível máximo dos cinco possíveis em que o HIIK classifica os conflitos. "A Síria é (...) conflito que mais fez vítimas". 11 das 20 guerras estão acontecendo na África Subsaariana. Apenas no Sudão e Sudão do Sul o instituto alemão registrou cinco conflitos que qualificou como guerras. As demais acontecem principalmente no Oriente Médio (Síria, Egito e Iraque) e Ásia (Afeganistão, Paquistão e Filipinas). Já o México continua sendo o único país do continente americano presente na lista por conta das questões com o narcotráfico.

questionamento não se refere diretamente ao órgão responsável pela defesa dos direitos humanos, mais nas relações que se engendram em torno delas, de como as autoridades nacionais se relacionam com seus concidadãos, nas demandas referentes aos conflitos de territórios e das contradições inerentes ao modo de intervenção dos organismos internacionais de defesa, que além de pactos e protocolos possuem seus interesses, também se percebe o destaque aos interesses hegemônicos de primazia econômica que impedem a real implementação dos direitos humanos, incluindo os de crianças e adolescentes.

Na perspectiva filosófica, os direitos humanos se relacionam com outras categorias, através de várias questões colocadas na academia e na sociedade, vislumbrando a essência do fenômeno. Os conflitos são inerentes ao conceito, haja vista a distância entre os instrumentos de defesa e sua efetividade de forma global, além do que, podemos considerar a crise em que se dão os pressupostos de sua origem, como a dicotomia entre liberdade e igualdade. Algumas questões se colocam em xeque, no plano real e no debate filosófico, pois em termos de garantias legais e de reconhecimento das condições de humanidade, as legislações já avançaram e algumas conquistas realmente tiveram êxito, porém as contradições entre a violação dos direitos humanos e o legado político filosófico e jurídico permanecem.

A questão dos direitos humanos é um elemento central da teoria política e, mais especialmente da concepção de democracia proposta por Norberto Bobbio (CHAMPELL-DESPLATS, 2008). É mais sobre o ângulo da teoria política que da teoria do direito que Bobbio aborda os direitos humanos, mesmo se isto não proíbe interações entra as duas concepções. Assim, a concepção analítica, de tipo descritivo, que caracteriza a teoria geral do direito de Bobbio não esta totalmente ausente de suas reflexões sobre os direitos humanos. Ela lhe permite, por exemplo, distinguir os direitos dos deveres ou os “direitos” ditos naturais ou morais dos direitos postos nos sistemas jurídicos. Entretanto, Bobbio está mais disposto a pensar os direitos humanos situando-os em problemáticas filosóficas, sociais ou políticas gerais (CHAMPEIL-DESPLATS, 2013, p.139).

Elencamos algumas questões que se contrapõe a viabilidade dos direitos humanos, em contexto de contradições da sociedade capitalista, e a relação do indivíduo detentor de direitos humanos universais e o direito de cidadania, que se expressam nas condições de êxodo de grupos populacionais de diversas partes do mundo, em especial as advindas do continente africano, os refugiados e imigrantes e as relações desses sujeitos com o direito à democracia na participação das decisões políticas no Estado nação em que se estabelecem, em um contexto político e econômico mundializado; outro elemento se refere ao declínio da esfera pública, a partir da crise política pós-guerra e a emersão dos governos totalitários; a crise do

modo de produção capitalista, expondo à exaustão os projetos da social democracia e do neoliberalismo e as contradições que se expressam na barbárie entre os povos, sociedades e indivíduos.

Esses pressupostos fortalecem o nosso questionamento acerca da efetivação dos instrumentos de direito internacional e nacional e as definições teóricas e materiais de sua implementação. Não nos propomos a desvencilhar teoricamente esses questionamentos, mas ao longo de nossa pesquisa irão se desdobrar no contexto nacional, haja vista a possibilidade e a capacidade de enfrentamento que os instrumentos de direitos humanos se propuseram realizar e os desafios de sua implementação. Assim, procuramos discutir essas questões no ECA e suas perspectivas na realidade política e econômica de nossa sociedade.