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1. A avaliação Institucional

1.5. Os dilemas da Avaliação

Na avaliação, o objectivo principal é obter informação relevante e justa, de modo a perceber o funcionamento das escolas e orientar os seus processos de mudança (Marchesi, 2002,p.37). Assim, as decisões sobre a avaliação são imensas e complexas, nalguns casos dizem respeito à função, outras vezes aos modelos adoptados e outras vezes à utilização da informação recolhida assim como aos resultados da avaliação. Descreveremos de seguida alguns dos dilemas da avaliação que se colocam aos decisores, segundo Marchesi, um investigador da Universidade Autónoma de Madrid.

1.5.1. Função de controlo versus função de melhoria

São atribuídas à avaliação duas finalidades distintas: uma visa o controlo administrativo e a prestação de contas e a outra tem como finalidade a melhoria do funcionamento das escolas.

No primeiro caso o objectivo da avaliação é conhecer o funcionamento das escolas para verificar a exequibilidade dos objectivos educativos. Neste contexto, a administração pode tomar decisões em face dos problemas detectados. A outra face do

A Auto – avaliação institucional – um processo de responsabilidade e autonomia 79 controlo é a prestação de contas que surge mais ligada à busca de informação sobre o funcionamento da escola à comunidade educativa e à sociedade. Esta prestação de contas insere-se num paradigma liberal em que é necessário assegurar aos pais uma escolha adequada da escola que desejam para os seus filhos. A prestação de contas transforma-se, assim, numa forma de controlo social, uma vez que as escolas sentem-se obrigadas a melhorar o seu funcionamento.

A melhoria da escola é outra função da avaliação. Nesta função os programas que são dirigidos para o desenvolvimento e para a melhoria da escola baseiam-se na participação voluntária das instituições, no compromisso dos professores, e no pacto da comunidade educativa. Nestes métodos são utilizados a auto-avaliação e a avaliação interna, embora também possam ser completados com algum tipo de avaliação externa.

1.5.2. Avaliação externa versus avaliação interna

A avaliação interna é conduzida pelos próprios professores ou comunidade educativa de cada escola. A avaliação interna permite um melhor conhecimento da realidade da escola, a sua história, as suas principais características, os problemas do passado que muitas vezes condicionam o presente, e a relação entre os diferentes dados adquiridos.

Mas, por outro lado é apontada à avaliação interna a dificuldade em focalizar os problemas que condicionam o funcionamento da escola, já que são os próprios professores a ter de os levantar e analisar. Outro aspecto referenciado a possível existência duma objectividade suficiente na avaliação dos dados obtidos.

A avaliação externa é conduzida por pessoas e equipas que não pertencem à escola, muitas vezes a pedido da própria comunidade outras por ordem da administração educativa responsável. As dificuldades apontadas neste processo são o desconhecimento da escola e a incerteza que gera nos professores, quando não são explicitadas com clareza as consequências da avaliação, ou quando se está em desacordo. Por outro lado, as vantagens mais conhecidas são a objectividade e a possibilidade dos resultados obtidos serem analisados à luz dos obtidos em escolas semelhantes. Esta última característica pode causar consequências negativas se comparada publicamente entre as escolas.

A Auto – avaliação institucional – um processo de responsabilidade e autonomia 80 uma vez que um pode ser demasiado subjectivo (avaliação interna) e o outro pode causar graves problemas ao ensino (avaliação externa). É importante que estas duas ferramentas tão necessárias sejam tratadas de forma a superar as dificuldades e a contribuírem em conjunto para o melhor desempenho da organização educativa. Este carácter necessário e complementar é apontado por Nevo (cit por Marchesi, 2002, p.35). Outro aspecto que achamos importante referir é o facto de a realização da avaliação interna poder permitir gerir a pressão da avaliação externa (Afonso, 2000). Este tipo de relação faz da auto-avaliação um instrumento da autonomia da escola e permite afirmar-se como uma organização aprendente (Bolívar, 2000;Guerra, 2000).

1.5.3. A Comparação na Avaliação

As comparações podem ser segundo Tiana (1997) de três tipos: comparação de dados obtidos com os critérios ou normas antecipadamente estabelecidos, comparar as escolas entre si e ordenara a relação existente, e o terceiro é a comparação longitudinal.

Em qualquer dos tipos de comparação urge pensar na melhor estratégia a adoptar para evitar obstáculos inerentes à sua utilização. Se a finalidade for tornar público os resultados da comparação, os controlos terão de ser mais exigentes, pois os riscos serão maiores. Se se pretender fornecer às escolas de forma confidencial as possibilidades serão maiores.

A comparação desde que seja reservada, ela pode ser útil se tiver em conta o contexto da escola e se a interpretação interna da informação recebida for o principal objectivo.

1.5.4. O Destino da Informação

Antes de realizar qualquer avaliação, é importante saber que tipo de informação irá ser desenvolvida e a que colectivos se destinam.

A opção de publicar os resultados obtidos pelas escolas, por vezes, conduz a clima de mal-estar entre os professores e muitas vezes corre-se o risco de promover uma imagem desajustada do trabalho das escolas e de distorcer o próprio processo educativo. Muitas vezes os dados apresentados apontam os resultados finais obtidos pelos alunos, mas o contexto sociocultural e o nível inicial dos seus conhecimentos não são considerados. Esta é uma das limitações da comparação da avaliação, pois não abrange

A Auto – avaliação institucional – um processo de responsabilidade e autonomia 81 o esforço que cada escola realiza, a partir das condições em que os seus alunos se encontram.

Esta diferença entre os resultados que se esperam que os alunos alcancem, tendo em conta o seu nível inicial e as suas condições à partida, e os resultados que efectivamente obtêm, é considerado o valor acrescentado das escolas.

Outra limitação é a informação referente só aos resultados dos alunos em áreas tradicionais do currículo, omitindo outros factores da educação, como as estratégias de aprendizagem, a educação para os valores e das atitudes, e os processos que se produzem na sala de aula e na escola. Nesta perspectiva de apresentação de resultados nas áreas tradicionais do currículo, as escolas trabalharão no sentido de que os alunos consigam prestar uma resposta favorável às provas a que são sujeitos e poderão limitar os seus objectivos aos que irão ser directamente avaliados.

A informação fornecida a cada comunidade educativa sobre os dados da sua escola e a incorporação de pontos de referência comparativos são dimensões para que a avaliação seja válida e útil (Marchesi, 2002, p.37).

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