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1. A Organização Educativa

1.1. Teorias da Organização

Vivemos numa sociedade em que imperam as organizações. Desde o nascer ao morrer estamos dependentes de organizações. Como Etzioni (1989, p.7) refere “do nascimento à morte somos fiéis clientes das organizações sempre presentes no nosso dia-a-dia”. Além disso a presença das organizações é assegurada pelo nosso interesse quer como utilizadores, fornecedores ou membros (Sousa, 1990, p.8).

Devido à sua complexidade torna-se difícil clarificar o conceito Organização, pois existe uma série de variáveis que estabelecem relações umas com as outras e, conforme os investigadores se concentram nesta ou naquela variável, assim se vão desenvolvendo explanações que determinam diferentes pontos de vista sobre a mesma realidade.

Alguns autores salientam predominantemente os aspectos materiais e técnicos da definição – conjunto de equipamentos e de processos de transformação, meios técnicos e financeiros – porém, outros colocam a tónica na componente social do conceito, conjunto de pessoas organizadas e dotadas de objectivos.

A Auto – avaliação institucional – um processo de responsabilidade e autonomia 40 Mitchell (1983, p.10) refere que o conceito de organização integra a presença “de pessoas que trabalham juntas para atingir um fim comum”. Na mesma linha Mélèse (1979, p.82) explica que uma Organização é um “conjunto de indivíduos que utilizam um conjunto de meios para realizar tarefas coordenadas em função de objectivos comuns”. Concordamos com Etzioni (1989, p.3) que esclarece que as Organizações são “unidades sociais intencionalmente construídas e reconstruídas a fim de atingir objectivos específicos”.

A teoria Científica da Administração iniciou-se no século XX com os clássicos Taylor, Fayol e Weber. Para estes autores, as organizações deveriam ser um espaço de estandardização, de hierarquização e de distinção na execução das tarefas, assim como também de uma racionalidade comportamental determinada por regras, regulamentos e uma autoridade formal. Para Taylor era importante “o homem certo no lugar certo”, pois defendia o princípio da separação entre a concepção e a execução da tarefa. Havia a clara separação entre quem executa e quem pensa, a unidade de comando e o princípio da justa remuneração do pessoal.

Segundo esta concepção as organizações atingem o máximo da eficiência se adoptarem uma administração de tipo burocrático. A organização é percebida como um sistema fechado e a Administração recomendada é a directiva, que se corporaliza através de regras. Várias teorias das Administração seguiram este modelo valorizando o aspecto formal da organização.

Todavia numa organização coexiste a dimensão informal – aquela que resulta do intercâmbio entre pessoas, irrompe de modo natural e espontâneo e tem um carácter transitório. Alaiz et al (2003, p.24) refere que a dimensão informal “foge à racionalidade dos organogramas, escapa às hierarquias estabelecidas, que as atravessa e que, por vezes, impede o seu funcionamento “normal”, isto é, tal como foi pensado por quem decidiu a sua institucionalização”.

O papel das pessoas e a sua participação nas Organizações são enfatizados na década de quarenta. As investigações iniciadas por Mayo e a sua equipa deram importância ao factor psicológico das organizações. Este estudo em parte foi uma reacção contra os pressupostos economicistas do Taylorismo. O homem das organizações, nomeadamente o “Homo psicologicus” e o “ Homo Sociologicus” postulado pela corrente das Relações Humanas necessita ser reconhecido socialmente e interagir harmoniosamente com o seu grupo, participar e decidir sobre os aspectos

A Auto – avaliação institucional – um processo de responsabilidade e autonomia 41 relacionados com a execução das tarefas e sentir satisfação no local de trabalho. Foi formulado um conjunto de determinações sobre o factor psicológico no funcionamento das organizações produtivas:

a) A produção não é tão determinada pela capacidade física do empregado como pelas normas sociais que o envolvem;

b) Os trabalhadores actuam como membros de grupos;

c) As recompensas e sanções dos grupos exercem influência sobre motivação e a satisfação do trabalhador;

d) Na empresa há grupos informais que não coincidem com os grupos definidos pela estrutura formal da empresa;

e) As relações humanas são as acções que resultam dos contactos entre os indivíduos e os grupos (Chiavenato, in Sedano e Perez, 1989, p.80).

A Teoria das Relações Humanas focalizou o seu estudo na dimensão informal das organizações, nomeadamente nos aspectos como a dinâmica de grupo e a motivação dos trabalhadores. A organização é ainda entendida, segundo Scott (cit. por Rocha, 1999, p.18) “como um sistema fechado e o principal papel da Administração é conseguir motivar as pessoas e os grupos”.

As organizações, segundo a teoria sistémica postulada por Scott, são entendidas como uma estrutura que se adapta às necessidades e exigências do meio. As organizações têm como objectivo atingir a eficácia. É importante que a máquina Administrativa funcione internamente bem, do ponto de vista técnico e humano, mas, é primordial que execute funções adequadas às necessidades e exigências do meio. A flexibilidade e a adaptabilidade são qualidades imprescindíveis na organização, pois a principal missão da Administração é adaptar as estruturas às exigências distintas e mutáveis do meio. A organização é preconizada como um sistema aberto, sendo um produto do seu ambiente externo, na medida em que nele encontra a energia, a informação e a matéria que são vitais para o seu funcionamento. Lawrence e Perrow são os representantes mais significativos desta concepção de organização e administração.

Outra forma de conceber a organização é aquela que considera a organização um organismo administrativo aberto ao meio e a si mesmo, do ponto de vista técnico e humano. É um conceito que acolhe noções de jogo, estratégia, controlo de zonas de incerteza organizacional, interesse, poder, conflito, cultura (s) organizacional (ais), ambiguidade, regateio, adhocracia, participação (Rocha, 1999, p.19). O homem não é

A Auto – avaliação institucional – um processo de responsabilidade e autonomia 42 apenas um mero servidor mais ou menos “feliz” da organização que cumpre sem questionar, os seus objectivos, ele é também um actor que tem interesses e objectivos próprios e que procura, nos contextos organizacionais, promover estratégias com vista a beneficiar das oportunidades em ordem à sua execução. Já não basta à organização a contingência técnica é necessário acrescentar a contingência humana O conceito de organização nesta abordagem pressupõe uma administração participativa de toda a organização através da cultura. Crozier, Weick, March e Ouchi são os teóricos deste conceito de organização.

Todas as Organizações têm um aspecto que é fundamental e referenciado por muitos investigadores – a dimensão formal. As organizações têm uma hierarquia, têm tarefas distribuídas, têm regulamentos e normas. Para além da dimensão formal as organizações têm a dimensão informal, isto é, a organização formal representa a visão racional da organização, a dimensão informal constitui o lado afectivo e social (Alaiz et al, 2003, p.25.). Também na esteira de Santos Guerra as organizações são constituídas por duas componentes interligadas: a nomotética ou institucional e a ideográfica ou pessoal

“ A dimensão nomotética é formal, sistematizada, relativamente estável, quase sempre explícita, previsível e pode ser conceptualizada, independentemente das pessoas (…) A dimensão ideográfica refere-se às pessoas. Representa o imprevisível, o instável, o informal. Dentro da escola, os indivíduos mantêm as suas posições, as suas atitudes, as suas motivações, as suas formas de ser (…) Os indivíduos, apesar dos papéis que têm que desempenhar, continuam a ser eles mesmos” (2002, p.77).

Embora nos confrontemos com uma variedade de definições acerca das organizações em geral, identificamos características que podemos adaptar para o estudo das escolas, pois como refere Lima (1992, p.42) “é difícil encontrar uma definição que não seja aplicável à escola”.

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