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2.6 Segurança contra incêndios e a sustentabilidade

2.6.2 Os incêndios e a sustentabilidade

A proteção contra incêndios e a sustentabilidade partilham o objetivo comum de tornar o mundo um lugar melhor e Grant (Grant, 2010) sustenta que a proteção contra incêndios está a contribuir inerentemente para a sustentabilidade porque “a proteção contra incêndios se esforça por conservar e manter”, que é quase o mesmo que se pretende que a sustentabilidade faça.

Uma vez que este tema é relativamente novo, em primeiro lugar há que determinar o nível de consciencialização sobre as características dos edifícios sustentáveis que potenciam os incêndios, entre os

arquitetos, os engenheiros, as autoridades nacionais com responsabilidades pela legislação, os responsáveis pelas classificações de sustentabilidade e os bombeiros. Este tópico é importante porque pode ajudar a determinar se a segurança contra incêndios está a ser comprometida a partir de falhas nos materiais, ou projetos, ou da falta de consciencialização das medidas de segurança contra incêndios em edifícios sustentáveis.

Os novos conceitos de sustentabilidade, quer seja em projeto, construção, operação, ou manutenção de edifícios, estão a desenvolver-se a um ritmo mais acelerado do que a preocupação em mante-los seguros contra incêndios. Até ao momento a pesquisa permitiu desenvolver maneiras de modificar os edifícios de modo a que estes se tornem mais amigos do ambiente, mas nem sempre as questões de segurança contra incêndios são tidas em consideração. Para que os edifícios sustentáveis sejam verdadeiramente seguros as medidas de segurança contra incêndio têm de ser incorporadas desde o início da sua conceção.

A proteção contra incêndios utiliza estudos de fatores, tais como o comportamento do fogo, o comportamento humano, a compartimentação e a extinção para identificar os riscos de incêndio e desenvolver técnicas de segurança que, muitas vezes, dão origem a códigos e a regulamentos da área da construção e da segurança contra incêndios. Os projetistas são responsáveis por incluir e respeitar a regulamentação em vigor nos seus projetos e os donos, ou responsáveis dos edifícios, pela manutenção dos sistemas e a sua respetiva atualização. Também há necessidade de garantir que a construção e os materiais sustentáveis não comprometam a segurança contra incêndios.

A menos que intencionalmente integrados em outros sistemas de construção, o valor dos sistemas e procedimentos de segurança contra incêndios podem permanecer adormecidos até surgir um incêndio para o qual foram concebidos. Assim, o valor dos sistemas e procedimentos de segurança contra incêndios relacionados com a sustentabilidade, bem como outros aspetos construtivos de mitigação do risco, podem ser inadvertidamente negligenciados durante a avaliação da sustentabilidade de um edifício tradicional.

No entanto, quando se procede a uma abordagem holística do ciclo de vida de um edifício, para incluir possíveis eventos que estão fora das normais condições de funcionamento, os aspetos construtivos de mitigação do risco podem proporcionar uma redução significativa do impacto ambiental do edifício.

Os incêndios podem provocar impactos negativos na sustentabilidade, independentemente de se tratarem de circunstâncias industriais, comerciais ou residenciais. Os exemplos vão desde a libertação de materiais

tóxicos e gases de efeito estufa para a atmosfera, o enorme consumo de água aquando do combate ao incêndio, escorrências de águas contaminadas para o solo e para os aquíferos resultantes da extinção, perda de rendimentos devido à interrupção da produção, aumento de custos e impactos ambientais devido à reparação, ou reconstrução (na produção e transporte de novos materiais de construção), impactos na saúde dos funcionários, utentes, ou moradores e no público em geral, perda de empregos, risco de paralisação permanente de unidades de produção pesadamente danificadas, impacto social na comunidade local devido à perda de empregos, entre outros. A proteção contra incêndios pode, obviamente, aumentar grandemente os índices de sustentabilidade. (Kasmauskas, 2010)

A Figura 17 mostra o impacto que um incêndio tem no ambiente devido ao aumento da emissão de carbono, durante o ciclo de vida de um edifício;

Figura 17 – Emissões de carbono no ciclo de vida de um edifício, incluindo o impacto de um incêndio. [Fonte: Wiezorec, Ditch & Bill, 2010]

O estudo da emissão de carbono de um edifício alargou-se por Gritzo pelo desenvolvimento de uma metodologia de análise dos fatores de risco, que incluiu os riscos de um potencial incêndio e os riscos naturais. A aplicação da metodologia proposta indicou que, dependendo do nível do risco, os incêndios e os riscos naturais podem contribuir significativamente para a emissão de carbono em todo o ciclo de vida de um edifício e podem ser criadas estratégias tendo em vista a mitigação dos mesmos. Por exemplo, as emissões de carbono associadas a um grande incêndio num edifício de escritório médio, sem proteção eficaz contra incêndios, podem representar um aumento de até 14% nas emissões de carbono. Para todas as ocupações

Emissões de Carbono Incêndio Construção Reconstrução Tempo Utilização Demolição Aumento de emissões de carbono devido ao incêndio

consideradas desde a residencial até às instalações de elevado risco, a falta da segurança contra incêndios, estatisticamente, aumenta as emissões de carbono de todo o ciclo de vida dos edifícios. (Gritzo, et al, 2011).

Isto é um fato indesejável, uma vez que reduz os estímulos para a instalação de medidas de segurança contra incêndios como um meio de aumentar a sustentabilidade e reduzir os riscos de incêndios em geral.

Foi sugerido que a segurança contra incêndios fosse incluída nos sistemas de avaliação da sustentabilidade, refletindo o aumento do ciclo de vida dos edifícios que a segurança contra incêndios proporciona. (Carter, et al, 2011).