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Processos de avaliação da sustentabilidade

2.5 Sustentabilidade na Construção

2.5.5 Processos de avaliação da sustentabilidade

Os processos de avaliação sustentável servem de suporte à conceção de edifícios novos, bem como de reabilitações, no seu sentido mais global considerando o comportamento do edifício como um todo. Os vários sistemas existentes no mercado variam consoante a escala de utilização a que estão adaptados, no sentido mais regional ou global, e consoante a escolha do tipo de indicadores e do peso relativo que lhes é atribuído. Estes fatores contribuem para as grandes diferenças entre as metodologias e justificam os resultados distintos que o mesmo objeto de estudo pode obter.

O Building Research Establishment Environmental Assessment Method, BREEAM, foi criado no Reino Unido e utilizado pela primeira vez em 1990, apresenta 13 versões adaptadas ao tipo de utilização do edifício a ser avaliado, como por exemplo, habitação, escritórios, prisões, etc., havendo também uma versão adaptável a outros países. As categorias envolvidas no BREEAM avaliam a saúde e bem-estar, gestão, energia, transporte, água, materiais, uso do solo, ecologia e poluição. À soma da pontuação resultante em cada indicador é associado uma classificação global. Esta classificação apresenta seis níveis consoante os resultados obtidos em cada categoria: - menor de 30% não é aprovado; - entre 30% e 45% o edifício passa na avaliação, com a classificação mais baixa; - entre 45% e 55% é considerado bom; - entre 55% e 70% excelente; - e entre 85% e 100% é extraordinário, melhor classificação possível. Um exemplo de um edifício em Portugal certificado através do BREEAM é o Eco-Industrial Park Azambuja, plataforma logística para a SONAE distribuição, em 2010.

O Leadership in Energy and Environmental Design, LEED, foi desenvolvido pelo U.S. Green Building Council (USGBC), nos EUA, em 1998, e é responsável pela certificação dos edifícios do governo americano. Tal como o BREEAM é aplicado em versões diferentes, consoante o tipo de utilização do edifício. O LEED é referenciado como um processo aberto e transparente onde os critérios utilizados e propostos são discutidos publicamente e aprovados pelos mais de 10 mil membros. Existem mais de 116.000 edifícios certificados pelo LEED em todo o mundo. O Sonae Maia Business Center é o primeiro edifício em Portugal certificado por este método, em 2010.

Inicialmente designado por GBTool (GreenBuildingTool) e atualmente apelidado de SBtool (Sustainable Building Tool) foi criado no Canadá, em 1996, como uma ferramenta de avaliação da sustentabilidade de um edifício.

Ao longo dos últimos anos vários países têm vindo a aderir a este desafio, no sentido de adaptar o programa às realidades locais permitindo a sua comparação a um nível global. Esta ferramenta de avaliação consiste num sistema hierarquizado de critérios de avaliação ambiental de edifícios. Foi concebida para efetuar a análise na fase de projeto, embora seja possível a sua aplicação nas várias fases do edifício – estudo prévio, projeto, construção e uso.

Em 2007, Portugal aderiu a este grupo de trabalho e adaptou o sistema SBTool à realidade portuguesa. Os sistemas que são utilizados em Portugal são: o DomusNatura, o Lider A e o SBToolPT®.

O DomusNatura é uma metodologia combinada de avaliação de sustentabilidade e qualidade: Domus Natura+Domus Qual, desenvolvido pela SGS (Société Generale de Surveillance). A sua classificação é feita por somatório de pontos através da avaliação de 127 critérios. Consoante a pontuação final, o edifício é qualificado em quatro níveis: nível I (443 a 541 pontos), nível II (542 a 689 pontos), nível III (690 a 836 pontos) e nível IV (837 a 974 pontos). A grande vantagem deste sistema é o destaque que é dado à arquitetura bioclimática, mas a extensa lista de critérios a considerar, bem como a dificuldade de acesso ao sistema, condicionam a utilização deste programa. Em Portugal, o Edifício do Parque, em Matosinhos, é o primeiro edifício certificado pelo DomusNatura.

Figura 12 – Logotipo da DomusNatura, [Fonte: http://www.pt.sgs.com/pt/domusnatura_sustainable_buildings]

O LiderA surgiu em 2007 através do Instituto Superior Técnico e apresenta cerca de 50 critérios, sendo que 38 deles são pré-requisitos. A sua classificação é feita através de uma escala entre E e AA+++. Tem como grande vantagem a adaptabilidade a várias tipologias de edifício, mas os seus critérios são de difícil

avaliação por parte dos projetistas. Em Portugal, o primeiro edifício certificado através desta metodologia foi a Torre Verde, em Lisboa.

Figura 13 – Logotipo do Líder A [Fonte: http://www.lidera.info/]

O SBToolPT®, baseado no sistema SBTool, foi desenvolvido pela Universidade do Minho e é utilizado desde

2009. O sistema apresenta 3 dimensões de avaliação: Ambiental, Social e Económica, distribuídos em 9 categorias e 25 parâmetros. A classificação do SBToolPT® apresenta-se numa escala de E a A+, à semelhança

da certificação energética. O reconhecimento internacional surge como uma das principais vantagens desta metodologia, bem como o reduzido número de parâmetros que simplifica o processo. Em Portugal, o primeiro edifício certificado por este sistema foi o Edifício Ponte da Pedra, em Matosinhos.

Figura 14 – Logotipo do SBToolPT® [Fonte: http://www.apemeta.pt/edicoes/imagens/@ficheiros/2219]

Uma vez que um dos objetivos desta dissertação é o desenvolvimento de indicadores de segurança contra incêndios, ou uma aproximação aos mesmos, sob o ponto de vista da sustentabilidade, para o SBToolPT® convém fazer uma descrição um pouco mais exaustiva do sistema para melhor se enquadrarem os referidos indicadores.

O SBToolPT® avalia o edifício globalmente através da análise de diversos parâmetros que podem ser

dimensionados e manipulados de acordo com as necessidades. Esta ferramenta possui um sistema muito direto de contabilização dos impactes ambientais, incorporados nos materiais de construção. Possui como tópicos base: consumo de recursos, cargas ambientais, qualidade do ambiente interior, qualidade do serviço, economia, planeamento das fases de projeto e transporte. A avaliação é sempre realizada com parâmetros de referência. Porém, uma característica muito importante é a possibilidade de adaptação dos pesos de cada

parâmetro e indicador em função das prioridades específicas de cada local, avaliando o edifício globalmente. Esta ferramenta possui um sistema simples de contabilização dos impactes ambientais incorporados nos materiais de construção. (Mateus, et al, 2006).

O SBToolPT® tem por base a ferramenta internacional SBTool (Sustainable Building Tool), sendo uma

adaptação da metodologia à realidade portuguesa, desenvolvida pela associação iiSBE (International Initiative for the Sustainable Built Environment). A sua adaptação à realidade portuguesa foi o resultado de uma associação entre a Ecochoice e o Laboratório de Física e Tecnologias da Universidade do Minho (LFTC-UM). Através desta metodologia é possível avaliar e classificar o desempenho de um edifício, tendo como base dois níveis de referência que são adaptados ao contexto português: a melhor prática e a melhor prática convencional.

Figura 15 – Estrutura da Metodologia do SBToolPT® [Fonte: BRAGANÇA, Luís e MATEUS, Ricardo]

Os princípios mais importantes da metodologia SBToolPT® são: o desenvolvimento de um sistema adaptado

a cada região baseado na metodologia internacional; estar em concordância com as normas ISO CEN/TC350 “Sustainability of Construction Work – Assessment of Environmental Performance of Buildings”; ter sempre como premissas bases as três dimensões do Desenvolvimento Sustentável; ser uma metodologia com o número suficiente de parâmetros para incluir os impactes mais importantes dos edifícios mas, simultaneamente, reduzida para ser de fácil utilização; não possuir critérios qualitativos que sejam de difícil avaliação e progressivamente aumentar a fiabilidade dos resultados obtidos, com o recurso de métodos LCA na avaliação do desempenho ambiental, (Mateus e Bragança, 2009).

A metodologia divide-se em três dimensões que incorporam nove categorias de avaliação e vinte e cinco parâmetros. Estes relacionam-se com a fase de conceção de um novo edifício, ou com fase de conceção de uma operação de reabilitação.

Quadro 124 - Parâmetros ambientais do SBToolPT® [Fonte: BRAGANÇA, Luís e MATEUS, Ricardo]

Dimensão Categorias Parâmetros PID

DA - Ambiental C1 - Alterações climáticas e qualidade do ar exterior

Valor agregado das categorias de impacte ambiental de ciclo de vida do edifício por m2

de área útil de pavimento e por ano

P1

C2 – Uso do Solo e Biodiversidade

Percentagem utilizada do índice de

utilização líquido disponível P2

Índice de impermeabilização P3

Percentagem da área de intervenção

previamente contaminada ou edificada P4

Percentagem de áreas verdes ocupadas

por plantas autóctones P5

Percentagem de área em planta com

reflectância igual ou superior a 60% P6

C3 - Eficiência Energética

Consumo de energia primária não renovável na

fase de utilização P7

Quantidade de energia que é produzida no edifício

através de fontes renováveis P8

C4 - Materiais e resíduos

sólidos

Percentagem em custo de materiais reutilizados P9

Percentagem em peso do conteúdo reciclado do

edifício P10

Percentagem em custo de produtos de base

orgânica que são certificados P11

Percentagem em massa de materiais substitutos

do cimento no betão P12

Potencial das condições do edifício para a

promoção da separação de resíduos sólidos P13

C5 - Utilização eficiente da

água e efluentes

Volume anual de água consumido per capita no

interior do edifício P14

Percentagem de redução do consumo de água

Quadro 125 - Parâmetros Sociais do SBToolPT® [Fonte: BRAGANÇA, Luís e MATEUS, Ricardo]

Dimensão Categorias Parâmetros PID

DS – Dimensão Social C6 - Conforto e saúde dos ocupantes

Potencial de ventilação natural P16

Percentagem em peso de materiais de

acabamento com baixo conteúdo de COV P17

Nível de conforto térmico médio anual P18

Média do Fator de Luz do Dia Médio P19

Nível médio de isolamento acústico P20

C7 - Acessibilidade

Índice de acessibilidade a transportes públicos P21

Índice de acessibilidades a amenidades P22

C8 – Sensibilização e educação para a sustentabilidade

Disponibilidade e conteúdo do Manual de

Utilização do edifício P23

Quadro 126 – Parâmetro Económico do SBToolPT® [Fonte: BRAGANÇA, Luís e MATEUS, Ricardo]

Dimensão Categorias Parâmetros PID

DE - Económica

Custos de ciclo de vida

Valor do custo do investimento inicial por m2 de

área útil P24

Valor actual dos custos de utilização por m2 de

área útil P25

Os valores normalizados da avaliação são convertidos numa escala, de A+ a E, sendo que a melhor prática

será A, ou A+, e a prática convencional representada pela letra D.

A estrutura deste sistema de avaliação permite a obtenção de uma nota de desempenho do edifício ao nível de cada uma das categorias, ou dimensões avaliadas e, simultaneamente, uma nota global, denominada de Nível de Sustentabilidade, pela agregação dos diferentes desempenhos.

Esta estrutura é transportada para o certificado de sustentabilidade emitido como comprovativo da avaliação, possibilitando uma análise direcionada a cada uma das diferentes categorias constituintes das três dimensões do desenvolvimento sustentável, permitindo compreender as mais-valias e os aspetos que poderão ser melhorados.

Concluindo, todos estes sistemas têm em consideração diferentes indicadores, com diferentes pesos, o que conduz, invariavelmente, a diferentes interpretações do mesmo objeto a ser avaliado. O mesmo edifício analisado por diferentes metodologias pode apresentar resultados distintos.