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OS ITINERÁRIOS DA PESQUISA-INTERVENÇÃO

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 41-51)

ITINERÁRIOS DESVIANTES

1.3 OS ITINERÁRIOS DA PESQUISA-INTERVENÇÃO

As ações/intervenções aqui apresentadas não se deram de forma linear, como já era previsto, mas ocorreram de modo simultâneo e complementar e se desdobraram em outras ações antes imprevisíveis, extrapolando inclusive o tempo anteriormente delimitado para sua execução: de um semestre anteriormente previsto, esta parte pesquisa ocorreu durante todo o ano de 2013 e alguns meses de 2014.

Para analisar os modos como são objetivados os considerados “loucos infratores” do HCTP do município de Santa Isabel, buscamos descrever as práticas direcionadas aos internos no interior do HCTP e seus efeitos de saber-poder-subjetivação, bem como caracterizar a

população que cumpre medida de segurança a partir da análise de seus prontuários clínicos e respectivos prontuários jurídicos.

Descrever as práticas exigia entrar no espaço asilar e acompanhar sua rotina institucional, não de um modo passivo, mas fluido, por onde encontrava alguma acolhida em minhas entradas e errâncias. A descrição de atividades, discursos e acontecimentos presentes naquele cenário cotidiano fez-se a partir de uma observação participante das racionalidades instituídas no interior do HCTP, de conversas informais, muitas vezes feitas pelos corredores com técnicos e agentes penitenciários, bem como através do acesso a documentos que buscam regulamentá-las – como o Plano de Gestão, elaborado no ano de 2012. Conta também com o Plano de Ação, para o qual fui chamada a construir parte, juntamente com membros da equipe técnica. Os prontuários clínicos e jurídicos também ajudaram nesse sentido, tendo em vista que parte das intervenções terapêuticas e pedagógicas prescritas aos internos constam em tais documentos. Além de descrever, no plano das formas, as práticas do HCTP instituídas para justificar a sua existência, com esse apanhado foi possível visibilizar algumas relações de poder e as intensidades desejantes que aí se configuram, adentrando o plano instituinte, como veremos no capítulo 4.

Utilizamos um diário de campo como forma de relatar não apenas as práticas observadas e informações acerca do funcionamento institucional, mas também aquilo que experienciei na relação com os técnicos e com o espaço, permitindo realizar uma análise das relações implicadas na experiência. Assim, o diário de campo teve a função de propiciar reflexões sobre o processo de pesquisa e extravasar sentimentos de tristeza, ansiedade, medo, raiva etc., produzidas no contato com um espaço de clausura e tortura, naturalizado por muitos que ali precisam estar cotidianamente.

Muitas vezes as informações obtidas, os relatos escutados e as experiências vividas em um dia de imersão no HCTP eram redigidas na viagem de volta a Belém - no diário de campo - ou assim que chegava; mas às vezes era impossível revivenciar na escrita as angústias do dia, deixando o registro para um outro momento e muitas vezes deixando de lado qualquer escrito no papel, permitindo apenas o registro feito pelas experiências diretamente no corpo, que certamente permaneceram afetando-o ao ponto de se tornarem operadores políticos. Assim, o diário de campo é uma seleção de escritos possíveis, escritos que não revelam verdades sobre a realidade da pesquisa ou do lugar onde é realizada, mas que constroem, no embate dos corpos e dos discursos de poder/saber, um conhecimento possível, enviesado pelas lentes daquele que habita um território, mesmo que temporariamente, e o (re)escreve.

Quanto à caracterização da população, a partir da análise dos prontuários dos internos em cumprimento da medida de segurança, traçamos o perfil desta população. O perfil foi a estratégia que escolhemos, considerando a possibilidade de que o mesmo servisse como provocação e/ou instrumento concreto para a construção de políticas de desinstitucionalização dessa população, como o foi a pesquisa de Biondi, Fialho e Kolker (s/d), nos três HCTP’s do Rio de Janeiro; o perfil da população com transtorno mental nos presídios do Estado de Goiás, que resultou na estruturação do Programa de Atenção Integral ao Louco Infrator (PAILI); e como o fez o primeiro e único Censo Nacional da população institucionalizada em Estabelecimentos de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (ECTP) do Brasil (DINIZ, 2013), sobre os quais falaremos no capítulo 3 e 4. Nesse sentido, debruçamo-nos sobre os 86 prontuários de cada um dos internos em cumprimento da medida de segurança, naquele período, para dar conta de identificar 21 aspectos, descritos no capítulo 4, referentes aos dados sócio-demográficos, à situação jurídica e à situação clínico-diagnóstica.

Nesse primeiro momento, habitar aquele território, de modo aparentemente solitário, para executar ambas as atividades iniciais de investigação, por si só, já provocaria interferência e desestabilização nas práticas instituídas do espaço, afinal, a “indissociabilidade que opera entre a pesquisa-intervenção, indica a possibilidade de domínios coletivos e metaestáveis, para além da mera observação ou descrição das realidades coletivas” (ESCÓSSIA; TEDESCO, 2009, p. 100). Embora não haja nada oculto a ser revelado, há um invisível de forças que guiam a reprodução das formas instituídas que, nunca problematizadas, apenas permanecem naturalizando-se e persistindo na segregação dos corpos tidos como inúteis e indóceis. Há, portanto, “incisões a serem feitas nos extratos, para que o invisível, já presente, se torne visível. São blocos de invisível buscando passagem e que, ao fazê-lo, produzem rachaduras” (BARROS, R., 1996, p. 186).

Diante do intolerável que me arrebatava em todas as semanas, algumas atitudes éticas foram mobilizadas, já que o insuportável daquele cenário, que não era fictício, por vezes me atirou para posições que extrapolaram a do observador participante e me convocou a desdobramentos da pesquisa para além do anteriormente previsto e visto como possível. O desejo intenso de acompanhar vários dos fluxos disparados pela pesquisa, que apontavam para algumas rupturas no campo de exceção encontrado, e o efeito de me fazer segui-los, talvez possam ser avaliados como um sobretrabalho em virtude de uma sobreimplicação, já que, de fato, a quantidade de atividades que passei a articular e a desenvolver me tomaram, em alguns momentos, excessivamente. Porém, segundo Lourau (2004, p. 191), “a sobreimplicação e o

ativismo, uma vez analisados, apresentam aspectos extremamente passivos: submissão a ordens explícitas ou a consignas implícitas da nova ordem econômica e social, ávida por preencher as grandes brechas”. Realmente as grandes brechas do vazio de ações e/ou mobilizações diante da situação das pessoas com transtorno mental “internadas” no HCTP do Pará, com a qual me defrontei, convocaram-me, mas para buscar traçar ativamente um plano comum que contasse com a participação e a inclusão de vários atores, que coletivamente pudessem interferir na ordem instituída e naturalizada para ali instaurar diferenciações. Além disso, o descaso ou a morosidade para a efetivação de políticas sociais no Estado do Pará, para parcelas bem mais visibilizadas da população, anunciavam as dificuldades a serem enfrentadas para a inclusão dessa população até então invisível nas pautas políticas que lhes considerassem um problema de governo.

Quanto a acompanhar/suscitar aberturas para processos de desinstitucionalização, uma primeira direção de trabalho que nos interessou foi a ampliação dos processos de análise e gestão coletiva. Iniciamos por uma espécie de mapeamento dos atores estratégicos que compõem o dispositivo jurídico voltado para os casos de medida de segurança e a rede de saúde mental do Estado do Pará. A finalidade de identificar os atores seria devido ao interesse em propor espaços de discussão individuais e coletivos, configurados como entrevistas e rodas de conversa, respectivamente, com a intenção de entender o fluxo das instâncias jurídicas que pedem, determinam e executam a medida de segurança e investigar as desinternações já ocorridas no HCTP de Santa Isabel e os meios pelos quais se deram. Em paralelo, víamos como necessário situar o lugar que ocupava a rede de saúde mental nesse processo; quais serviços atendiam egressos; quais discursos circulavam entre os profissionais da saúde mental acerca do considerado “louco infrator” e os efeitos de tais discursos sobre as práticas de acolhimento e atenção psicossocial9. Contatar a rede de profissionais da justiça e do executivo, de algum modo, envolvidos com a execução da medida de segurança, o que inclui o processo de desinternação e, portanto, o atendimento de egressos na rede de saúde mental, era também um modo de colocar o tema problemático à vista de um coletivo, convocando personagens estratégicos para interferir no dispositivo medida de segurança. Convocar coletivos a se aproximar de uma realidade distanciada e formada por estratos subterrâneos, diante do qual muitos se mostravam indiferentes, era um modo de promover

 

9 Embora as conversas com a presidente do MLA-PA e a coordenadora estadual de saúde mental tenham respondido a várias questões, tais discursos e seus efeitos foram identificados nas rodas de conversa feitas a partir da exposição de arte itinerante, descritas logo a seguir.

conexão entre elementos heterogêneos desse campo para a ativação de processos de individuação a partir das forças instituintes aí presentes.

Segundo Escóssia e Tedesco (2009), o processo de individuação, de Gilbert Simondon, diz respeito à constituição das formas dos indivíduos, mas também dos grupos e instituições, e se dá a partir do encontro das dimensões pré-individual ou transindividual e da sua dimensão individuada. Esta relaciona-se a tudo aquilo que parece ter tendência à repetição de si, com uma regularidade de fácil apreensão; e a dimensão pré-individual, ao contrário, escapa totalmente de qualquer possibilidade de ordenação, pois se constitui como fluxos de energia que interferem na gênese dos indivíduos por processos de derivação e diferenciação. A teoria de Simondon permite pensar os seres e objetos que compõem o mundo em constante processo de individuação, transmutando-se em função da carga pré-individual que carregam consigo que, como pode ser ativada a qualquer momento, devem ser considerados sempre inacabados.

Se pensarmos a pesquisa nessa perspectiva, uma das suas funções seria ativar a carga pré-individual das instituições que se põe a investigar, já que tal processo intervém nas regularidades instituídas e abre espaço para as forças instituintes operarem processos de diferenciação. A presença do pesquisador disposto a habitar um território e acompanhar os fluxos que o constituem provoca o contato dessas duas dimensões e dispara estados críticos devido à assimetria entre ambas, o que exige a procura de soluções por meio de reconfigurações nas suas formas anteriores. O encontro entre essas duas dimensões se daria no coletivo de forças que atua nos interstícios do individual e social, considerado como coletivo transindividual, presente no plano das intensidades e das singularidades, logo, “no plano instituinte e molecular do coletivo” (ESCÓSSIA; TEDESCO, 2009, p. 98).

Nesse sentido, os contatos feitos no início da pesquisa com o juiz da 1a Vara de Execução Penal e com os técnicos do antigo Setor de Fiscalização de Benefícios e Desenvolvimento Social (SEFIS) do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJE/PA), com uma promotora de justiça do Ministério Público do Estado do Pará (MPE/PA), com a coordenadora estadual de saúde mental, juntamente com a diretora de recursos humanos da Secretaria Estadual de Saúde (SESPA), e com a presidente do Movimento Paraense da Luta Antimanicomial (MLA-PA), dentre outros, foram fundamentais para decidir os caminhos que poderíamos trilhar, bem como identificar as articulações que se mostravam possíveis para a conexão dos elementos necessários que pudessem disparar fluxos no planos das intensidades, capazes de funcionar como ativadores da carga pré-individual, do qual nos fala Simondon, e

provocar novos processos de individuação ou reconfiguração do plano das formas instituídas. Nesse sentido, a parceria com o TJE/PA e o mergulho na militância do MLA-PA desdobraram a pesquisa em acontecimentos e ações que foram agregados à pesquisa, como veremos no capítulo 6.

Além disso, ter presenciado a comunicação de desinternação de um egresso enquanto acompanhava a rotina institucional do HCTP teve forte influência nas inflexões que a pesquisa sofreu, já que provocou a necessidade de ampliar o mapeamento de atores em direção ao terreno das políticas públicas direcionadas aos egressos do HCTP. Afinal, o que era oferecido aos egressos? Como retornavam às suas casas? Foram perguntas que acabamos fazendo à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH), por exemplo.

Após essa situação e os contatos iniciais da pesquisa, as desinternações ocorridas no HCTP de Santa Isabel ganharam um novo procedimento de investigação e construção de saber numa outra linguagem acerca das vidas nuas que conhecemos saindo do simulacro de campo de concentração que é o HCTP. A desinternação de dois internos tornou-se tema de um vídeo-documentário, realizado após seleção de um projeto10 que escrevemos e aprovamos em edital do Ministério da Saúde, com vistas ao fortalecimento do protagonismo dos usuários da Rede de Atenção Psicossocial/RAPS, no desejo de que de fato se tornassem não apenas usuários da rede, mas protagonistas de suas próprias vidas. Ampliamos o foco das desinternações partindo de como são propostas para acontecer através das instâncias da justiça, sistema penitenciário e saúde; tateamos o terreno das políticas (não) oferecidas aos egressos e partimos, posteriormente, para a própria vida deles: afinal como estão esses egressos? De que modo estão sendo acompanhados ou não pelos serviços de saúde e assistência social do estado?

A execução do projeto do vídeo-documentário nos permitiu coletivizar ainda mais as ações da pesquisa, pois contou com a participação de pelo menos 30 pessoas para mediar as rodas de conversa que fizemos após a sua exibição, junto a, no mínimo, mil pessoas de alguns municípios da Região Metropolitana de Belém. Afetados pela temática em experiências vivenciadas em círculos de educação popular, promovidos como parte do projeto, foram contagiados por afetos de indignação e desejo de compor as lutas contra os manicômios,

 

10 O projeto intitulado “Pessoas em medida de segurança no Pará: Novos protagonistas de um cenário (ainda) sem holofotes” foi aprovado na II chamada para seleção de projetos de fortalecimento do protagonismo de usuários e familiares da Rede de Atenção Psicossocial/RAPS, do Ministério da Saúde, e foi proposto pela autora desta pesquisa ao Movimento Paraense da Luta Antimanicomial, que o aceitou compor e executar conjuntamente.

incluindo os judiciários, a começar pela interferência nas rodas que mediaram e nos espaços de trabalho que frequentavam.

Identificar os atores estratégicos do campo jurídico e da saúde de algum modo envolvido com a execução da medida de segurança; mapear as políticas públicas voltadas aos egressos do HCTP; e investigar o processo de desinternação dos internos trouxeram à tona uma série de analisadores, que guiam as nossas problematizações no decorrer dos capítulos 4, 5 e 6; analisadores que também ajudaram a indicar a construção de micro-dispositivos que favorecessem o processo de desinstitucionalização dessa população, a exemplo do próprio documentário e o modo como foi executado o projeto que o envolvia.

A criação de micro-dispositivos iniciou-se quase que paralelamente ao mergulho na realidade institucional, relacionada, inicialmente, à necessidade de dar visibilidade/ narratividade à problemática vivenciada por pessoas em cumprimento de medida de segurança no HCTP do Pará. Jogar luz sobre os acontecimentos pouco vistos ou conhecidos, já que apartados da vida em sociedade, tornando evidenciadas as linhas de enunciação, visibilidade e força que, no escuro, contornam o dispositivo medida de segurança e produzem as vidas nuas do HCTP, poderia ser resultado da ação/intervenção de micro-dispositivos que, como já dissemos, atuam como contradispositivos para a produção de outras linhas de subjetivação, de implicação e desejo; criam conexões e desconexões e, a partir daí, devires (FERNANDEZ, 2007; ALVIM, 2012).

Nessa direção, pensamos na potência disruptiva e, ao mesmo tempo, estratégica de uma intervenção artística junto a internos do HCTP como um forte micro-dispositivo para criar afetações no plano de organização das formas e ali instaurar condições de diferenciações recíprocas, agilizando vetores de novas formas (BARROS, R., 1996). Assim, para começar o processo de incisão nos estratos que escondem as forças que atravessam o HCTP e o sustentam, estabelecemos parceria com quatro artistas profissionais de Belém e realizamos duas oficinas de arte (fotografia artesanal e xilogravura) com os internos, entendidas como passagens para tornar visível o invisível também em espaços extra-muro, já que o produto resultante da oficina seria utilizado como estratégias de comunicação dos mesmos com o mundo externo ao HCTP. Além da produção de imagens, o contato direto e a escuta das pessoas ali internadas também viria a disparar efeitos ético-estéticos-políticos dentro e fora do HCTP. No campo formal, as oficinas de arte também foram justificadas à Superintendência do Sistema Penitenciário/SUSIPE como uma contrapartida da pesquisa, tendo em vista a

autorização que precisamos solicitar para entrar no complexo penitenciário, onde se localiza o HCTP, que, sendo área de segurança máxima, é de circulação restrita.

Os micro-dispositivos criados também dispuseram a pesquisa como conectora de elementos heterogêneos do coletivo, cujos encontros pareciam ter força de ativação da carga pré-individual de novos processos de individuação ou instituição de novos fluxos e reconfigurações. Dessa maneira, a proposta das oficinas era também que os produtos resultantes – fotos e gravuras do interior do HCTP e deles próprios – pudessem funcionar como dispositivo de afetação a partir da visibilização e enunciação da situação em que se encontram as pessoas com transtornos mentais em conflito com a lei, internadas no manicômio judiciário, e como elementos de análise coletiva do social quanto ao modo de funcionamento da execução da medida de segurança, que é inconstitucional e se tornou ilegal desde a Lei Antimanicomial, n. 10.216/2001. Após exposição das obras finais aos trabalhadores do HCTP e alguns dos seus internos e presos, o produto final das oficinas foi usado como disparador de problematizações junto aos profissionais de saúde mental dos Centros de Atenção Psicossocial/CAPS de Belém, com os quais conseguimos articular a realização da exposição, seguida de rodas de conversa para fomentar discussões acerca dos posicionamentos que vêm assumindo frente a essas questões. Desse modo, a transversalidade dos espaços coletivos de discussão e as afetações que geram as problematizações feitas em grupo e foram algumas de nossas apostas para se promoverem deslocamentos nas noções, discursos e modos de ser, pensar e sentir a população egressa do HCTP, o que tornou as rodas de conversa realizadas potentes intervenções relativas ao processo de desinstitucionalização.

Em virtude do mapeamento dos atores da justiça e de outros contatos realizados no decorrer da pesquisa, expandimos o circuito da exposição das imagens produzidas pelos internos para outros espaços. Assim, a exposição tornou-se itinerante e, para além de ter sido realizada no próprio HCTP e em dois CAPS de Belém, suas imagens perturbadoras invadiram o prédio das Promotorias Criminais do Ministério Público do Estado do Pará, a Secretaria Estadual de Saúde (SESPA), o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJE/PA), e três universidades (em eventos acadêmicos); além de ter sido levada ao I Fórum Nacional de Direitos Humanos e Saúde Mental, ocorrido em São Paulo. Embora tenhamos realizado as rodas de conversa, na presença da exposição, apenas nos CAPS, esse dispositivo nos permitiu acompanhar discursos que mantêm e outros que rompem com noções periculosistas acerca do “louco infrator” e que legitimam práticas de segregação/exclusão dessa população em espaços como os manicômios judiciários.

Um dos desdobramentos da pesquisa provenientes da parceria realizada com o Tribunal de Justiça do Estado do Pará foi a organização e a realização do III Encontro de Execução Penal, o qual reuniu mais de 200 pessoas do Estado do Pará e de outros estados brasileiros. O evento abordou exclusivamente a temática da medida de segurança e também nos permitiu acessar o plano instituinte e molecular do coletivo. O Encontro teve atravessamentos afetivos mobilizados para além das falas acerca da medida de segurança, pois montamos situações de encontro e lateralização dos corpos, ampliando a transversalização (e a transdução) através de outros micro-dispositivos, a exemplo da presença de internos do HCTP, que puderam testemunhar a experiência que vivem no cumprimento da medida de segurança, para além do aparato médico-legal; e das intervenções performáticas que geraram cirandas, cantos e encantamentos conjuntos em meio ao evento. Os dispositivos promovidos

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