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População em Medida de Segurança

No documento DOUTORADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 187-200)

sobre as quais não se conta

3. Acompanhamento biopsicossocial e ocupacional: realizado pelos setores técnicos e

4.2 DISPOSITIVO PERFIL: quem são os incontáveis?

4.2.3 População em Medida de Segurança

Antes de entrarmos no perfil da população em cumprimento de medida de segurança no HCTP do Pará, vale, ainda, trazermos uma caracterização relativa ao perfil social- econômico da população aí institucionalizada, fazendo uso das informações do Censo Nacional do Ministério da Justiça, que embora seja de 2011 e contasse com 40% a menos de pessoas presas/internadas no HCTP do Pará, permite-nos apresentar dados que não conseguimos acessar, tais como cor da pele, estado civil, qualificação profissional e renda76.

Segundo o Censo Nacional (DINIZ, 2013, p. 175-177), a média etária da população do  

76 Informações sobre a cor da pele e situação conjugal são informações que deveriam constar nos relatórios do INFOPEN, os quais preferimos não utilizar, tendo em vista as inconsistências encontradas nos mesmos, como relatamos no capítulo metodológico. Sobre a renda da família do preso/interno e qualificação profissional, embora no prontuário único do HCTP constem as perguntas sobre ambos os quesitos, praticamente nenhum dos prontuários acessados continha as informações, o que também nos fez desistir de incluí-las no perfil.

HCTP do Pará “em medida de segurança era de 38 anos e a da população temporária era de 33 anos”. Quanto à cor da população, “pretos e pardos somavam 67% (110) e brancos somavam 20% (33)”, um único indivíduo amarelo e outro indígena; “12% (19) da população, não havia registro de cor”. Sobre a situação conjugal da população, “76% (126) das pessoas internadas eram solteiras e 7% (12) eram casadas”. Em relação à escolaridade77 da população, 24% (40) eram analfabetos, 53% (87) tinham o ensino fundamental incompleto e 7% (12) tinham o ensino fundamental completo. Com o ensino médio, eram 6% (10) da população.

Com relação à profissão que exerciam antes de serem internados no HCTP-PA,

as pessoas internadas concentravam-se em profissões que exigem pouca ou nenhuma qualificação técnica e educacional, o que se aproximava do observado no cenário dos demais estabelecimentos. Trabalhadores de serviços administrativos, vendedores do comércio, trabalhadores da área agropecuária, florestais e da pesca concentravam 33% (54) das ocupações (...). Além disso, no HCTP-PA, 16% (27) das pessoas internadas não tinham profissão (DINIZ, 2013, p. 177-178).

Para a caracterização da população em medida de segurança no HCTP do Pará, valemo-nos de informações coletadas dos prontuários jurídicos de cada um dos 86 internos, organizadas nos seguintes campos: (a) dados sócio-demográficos; (b) situação jurídica e (c) situação clínico-diagnóstica. Acompanhando a divisão das informações nas tabelas, apresentamos a seguir o perfil da população em forma de gráficos em porcentagens.

a. Dados sócio-demográficos

Os dados sócio-demográficos compreendem, além do nome da pessoa internada: data de Nascimento; Cidade em que residiam; Se recebiam visita; Se tinham documentos civis e quais; Se tinham Benefícios sociais; Escolaridade; Se estavam estudando ou não; se estavam trabalhando ou não. De um modo geral, temos 47% da população entre 31 e 40 anos de idade; 26% residiam na Região Metropolitana de Belém, sendo o restante do interior do Estado; 53% não recebiam visita de familiar; sobre 52% não havia informação acerca da documentação civil; 3% tinham BPC, mas sobre 72% não havia informação acerca do recebimento do benefício; 55% estavam estudando no HCTP; 30% eram analfabetos e 34% tinham o ensino fundamental incompleto; e 26% realizavam alguma atividade de trabalho no HCTP. A seguir traremos as informações detalhadas em gráficos para a maior parte dos itens do perfil sócio-demográfico.

 

77 Embora tenhamos caracterizado a população atual quanto a este quesito, incluímo-la nesta breve apresentação como modo de reafirmar a seletividade do sistema prisional, que vale para todas as instituições de controle social punitivo, diante das repetidas características que compõem o cenário da exclusão do socius: negros, pobres, de baixa escolaridade.

Quanto à faixa etária, temos uma população mais velha que a população de presos provisórios, como já dissemos. O maior grupo (47%) encontra-se entre 31 e 40 anos, seguido de 23% entre 41 e 50 anos.

Gráfico 5: Faixa etária da população em medida de segurança.

Quanto ao local em que residiam, considerando os 144 municípios do Estado do Pará, há internos de 49 municípios, sendo que 18 moravam em Belém, 3 em Ananindeua e 1 de Santa Izabel do Pará, perfazendo um total de aproximadamente 26% de encaminhamentos oriundos da Região Metropolitana de Belém. Dos municípios de Santarém e Paragominas há 4 munícipes de cada; de Cametá e Castanhal, três munícipes de cada. E o restante, isto é, 49 internos são de 42 outros municípios, como mostra o gráfico abaixo:

Embora alguns poucos municípios em que residiam os internos não coincidam com a comarca onde o delito foi cometido, ainda assim é possível saber quais municípios encaminham mais internos ao HCTP e isso nos possibilita pensar onde poderia ser interessante realizar uma intervenção junto aos magistrados para que possam compreender o novo modelo de atenção às pessoas com transtorno mental em conflito com a lei, proposto pelos mais atuais normativos. Além disso, saber onde residiam os internos, antes de serem encaminhados ao HCTP, ajuda-nos a mapear os dispositivos de saúde mental e assistência social existentes nos municípios (ou nas regiões de saúde) para onde poderão voltar a viver quando egressos e onde poderiam ser implantadas Residências Terapêuticas, considerando os casos em que esta modalidade de moradia seja adequada. Tal informação também pode viabilizar que a Equipe de Acompanhamentos e Avaliação das Medidas Terapêuticas (EAP), prevista pela portaria n. 94, do Ministério da Saúde, elabore o Projeto Terapêuticos Singular (PTS), buscando articular o atendimento do egresso diretamente com tais serviços.

Quanto à documentação civil, dos 86 prontuários jurídicos, em 36 (42%) havia cópia dos documentos civis do interno ou a informação de que sua família os tinha; pelo menos acerca de 9 (10%) havia a informação de que não tinham nenhuma documentação e sobre 41 (48%) não havia informação alguma.

Gráfico 7: Documentação civil da população em medida de segurança.

Apesar de, algumas vezes, termos solicitado à direção que a lista de presos/internos sem documentação civil fosse feita por seus assistentes sociais, para que a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos/SEJUDH pudesse ser chamada a realizar a retirada da

documentação in loco, infelizmente isso não pareceu ser uma ação necessária – talvez pelo menos naquele momento e em função da própria pesquisa, já que esta, ao apontar as lacunas da instituição e evidenciar suas falências, gera incômodos e resistências para atuar em parceria. Embora a documentação civil seja condição elementar para o processo de cidadania, a possibilidade de resgatar o direito civil de ir e vir ou de recorrer aos serviços públicos para receber atendimento, os quais, na maioria dos casos, exige identificação, não era questão a ser pensada com urgência, considerando o tempo em que padecem da espera dos exames de cessação de periculosidade quase nunca favoráveis a sua saída.

Engelman (2007), discutindo a indissociabilidade da zoè e da bíos, que diferentemente da Grécia Antiga, não deveria dar-se mais através do mérito, mas pelo simples nascimento e pertencimento a uma fronteira delimitada referente ao Estado nação, fala da certidão de nascimento como a passagem de um estado de natureza ao estado civil e, portanto, como produtora de transformações no estatuto jurídico como ato instantâneo, o que, para Deleuze e Guattari (apud ENGELMAN, 2007, p. 69), seria “uma transformação incorpórea que se faz no instante zero”. No entanto, como ela mesma afirma, a certidão de nascimento “nos confere a vivência da cidadania como virtualidade, como possibilidade e potência e não como certeza e fato” (Ibidem, p. 69), o que nos faz pensar que às vidas enredadas pelas forças de aniquilamento do HCTP do Pará, nem como virtualidade a vivência da cidadania se faz possível.

O mesmo ocorreu com relação aos benefícios sociais, em especial, ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), outro instrumento importante que pode ser articulado para o processo de desinstitucionalização, sobre os quais também solicitamos que as informações fossem atualizadas nos prontuários, já que para 72% deles não havia qualquer informação a respeito. Com relação aos 28% restantes, não é possível confiar se de fato são beneficiários ou não, já que a assistente social afirmou que tal benefício é suspenso quando o sujeito está sob custódia do Estado, tendo em vista o custo da mesma. Segundo a Lei Orgânica de Assistência Social, a situação de internação psiquiátrica não prejudica o recebimento do benefício (art. 20, §5), e a internação em HCTP não deve excluir essa possibilidade, principalmente considerando a situação de extrema pobreza da maioria.

Segundo Cartilha do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à fome o BPC78:

 

78 O BPC integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social – SUAS e para acessá-lo não é necessário ter contribuído com a Previdência Social; foi instituído pela Constituição Federal de 1988, e regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei n. 8.742, de 7/12/1993 e pelas Leis n. 12.435, de 06/07/2011 e n. 12.470, de 31/08/2011, que alteram dispositivos da LOAS e pelos Decretos no 6.214/2007 e no 6.564/2008.

garante a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo ao idoso, com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que comprovem não possuir meios para prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família (BRASIL, 2009b, p. 05).

É preciso ainda que se comprove condição de extrema pobreza, cujo parâmetro é que a renda per capita da família seja menor que ¼ do salário mínimo.

Segundo a cartilha da Defensoria Pública do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, s/d), o que torna a pessoa com deficiência elegível ao BPC na legislação pertinente à Assistência Social é estabelecido no artigo 4º, inciso II, do Decreto Federal n. 6.214 de 26 de setembro de 2007, que regulamenta o BPC. No documento, entende-se por pessoa com deficiência “aquela cuja deficiência a incapacita para a vida independente e para o trabalho”. Vale ressaltar que a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência define a pessoa com deficiência de modo oposto: a incapacidade não é própria da deficiência, mas do contexto social que se não adequa às suas necessidades, incapacitando a pessoa com deficiência para o desenvolvimento pleno de suas potencialidades.

Um outro ponto importante a ressaltar relacionado ao BPC é que não há a necessidade de interdição civil como condição para requerê-lo. A definição da incapacidade nesse âmbito, que não deve ser confundida com a noção de capacidade jurídica, é dada no inciso III do artigo 4º do citado Decreto Federal, o qual, coerentemente com a Convenção, classifica como:

Fenômeno multidimensional que abrange limitação do desempenho de atividade e restrição da participação, com redução efetiva e acentuada da capacidade de inclusão social, em correspondência à interação entre a pessoa com deficiência e seu ambiente físico e social (BRASIL, 2007, p. 4).

Nos casos em que a situação d interno em vias de desinternação ou do egresso de HCTP não obedeça aos critérios necessários para ser beneficiário do BPC, poder-se-ia requerer o auxílio-reabilitação psicossocial a egressos de longa permanência em Hospitais Psiquiátricos (mínimo de dois anos de internação). Trata-se de auxílio instituído pela a Lei 10.708/2001, denominado “Programa de Volta pra Casa”79, como importante dispositivo de desinstitucionalização, embora já desatualizado, considerando que apenas pode ser requerido àqueles que foram internados até o ano de 2003.

 

79 Este Programa, criado pelo Ministério da Saúde, atende ao disposto na Lei 10.216, de 06.04.2001, que no Art. 5º, determina que os pacientes há longo tempo hospitalizados, ou para os quais se caracterize situação de grave dependência institucional, sejam objeto de política específica de alta planejada e reabilitação psicossocial assistida.

Quanto ao acesso à escola nas dependências do HCTP, segundo relação disponibilizada pelo setor de educação, dos 86 internos, 55% estavam frequentando as salas de aula do HCTP em contraposição a 43% que não querem ou são considerados como sem condições de estudar, segundo avaliação da pedagoga. Em relação à escolaridade, 26 são analfabetos e 29 têm o ensino fundamental incompleto, enquanto 6 têm ensino médio completo e sobre 22 não havia informação a respeito. Como dito anteriormente, a escola é a única atividade regular que o HCTP oferece aos internos e presos diariamente, em dois turnos, devido ao convênio com a Secretaria Estadual de Educação/SEDUC. As aulas acontecem em três salas localizadas na parte “de cima” do HCTP, isto é, fora das alas carcerárias, e atendia na época da pesquisa aproximadamente 120 pessoas da população total institucionalizada.

Quanto ao trabalho, dos 45 presos e internos que desenvolvem atividades de trabalho no interior HCTP, 22 (25%) estavam em cumprimento de medida de segurança, desenvolvendo uma das atividades a seguir: limpeza, manutenção e atividades na cozinha, horta e biblioteca. Do total, 3/4 da população em medida de segurança não desenvolvia nenhuma atividade de trabalho no HCTP.

Para finalizar a exposição do perfil referente aos dados sócio-demográficos da população em medida de segurança, apresentamos na tabela abaixo dados sobre as visitas aos internos, dentre os quais mais da metade (45) não recebe visita de nenhum familiar há anos ou nunca sequer recebeu um dia. O fato de não receberem visita não permite supor que perderam vínculo familiar definitivamente, dado que muitas famílias moram em municípios distantes, considerando o tamanho do Estado do Pará, e não têm recursos financeiros suficientes para viajar até Santa Izabel. Mas, em parte, o número pode ser indicativo de abandono ou rejeição por medo da família em função do índice de crime doméstico, como veremos adiante.

Esses dados podem ser importantes para orientar a equipe do HCTP – ou posteriormente a Equipe de Avaliação e Acompanhamento das Medidas Terapêuticas Aplicáveis à Pessoa com Transtorno Mental em Conflito com a Lei/EAP, quando implantadas – na busca ativa das famílias ausentes, já que dão indicativo de quantos internos teriam condições de serem acolhidos de volta à família e quantos precisariam acessar outros recursos para o acesso ao direito à moradia. Em uma superficial sondagem, considerando a impossibilidade de acesso rápido a essa informação, e de posse da relação geral de internos, pedimos a dois técnicos do HCTP que indicassem quantos dali poderiam ter perdido vínculo com a família e que precisariam ser encaminhados para Residências Terapêuticas ou outras modalidades de moradia assistida, quando egressos do HCTP. Os técnicos listaram 41 (48%) internos que podem ter perdido o vínculo familiar ou a família rejeita recebê-los de volta em casa. Destes, 14 cometeram crime contra a família e 17 relataram uso de álcool e outras drogas – um dos motivos apontados pelos técnicos que mais gera a rejeição da família.

Após algumas interpelações80 que fizemos à Coordenação Estadual de Saúde Mental, conseguimos levar o HCTP como pauta do Movimento da Luta Antimanicomial (MLA-PA) para uma reunião com a gestão. Importante admitir que diante do intolerável da realidade em que há um semestre estava mergulhada, a invisibilidade da penúria daquelas vidas sem perspectivas, colocou-me a assumir posições diferentes na pesquisa, colocando o corpo à frente como um esforço pessoal para fazer algo acontecer no vazio daquele cenário de morte em direção à construção de políticas para a vida. Assim, em julho de 2013, numa primeira reunião, fiz uma apresentação geral da situação das pessoas em medida de segurança no HCTP do Pará como modo de chamá-los a pensar conjuntamente em ações voltadas a essa população e, um segundo momento, apresentamos duas informações requeridas pela coordenação: (1) relação de internos e seus municípios de origem; e, (2) relação de internos com os quais as equipes de saúde deveriam iniciar um trabalho para localizar as famílias e/ou buscar resgatar os vínculos com o interno. Além disso, era necessário apontar a quantidade de pessoas que, já sem a possibilidade de retornar às suas famílias, precisariam de vagas nos Serviços Residenciais Terapêuticos/SRTs, o que pleiteamos, considerando os quatro SRTs previstos no Plano Plurianual do governo.

 

80 Na participação em eventos acadêmicos para os quais fomos convidados a fazer alguma fala ou que abriram espaço de conversa, duas ocasiões nos permitiram convocar a coordenação para responder questões referentes à situação da população com transtorno mental em conflito com a lei internada no HCTP. Aproveitamos as situações de encontro público para chamar atenção para esta população, pautando a necessidade de que lhes incluíssem nas ações de garantia de direitos do governo.

A coordenação pareceu sensível à situação apresentada e comprometeu-se a colocar na pauta das reuniões das Comissões Intergestoras Regionais81 (CIR) a necessidade de pactuar a implantação de serviços de desinstitucionalização em municípios com maior número de internos. Nunca recebemos retorno acerca dessas reuniões e, pela postura esquiva com a qual a Saúde sempre se apresentou, pensamos que enquanto a sociedade civil, através do movimento social, não cobrar de modo contundente uma posição séria da gestão, essa agenda levará muito mais tempo para ser de fato posta em discussão. Na segunda reunião, conseguimos negociar também que seria importante incluir a situação das pessoas com transtorno mental em conflito com a lei como tema de oficinas, previstas no Plano Plurianual da Atenção Psicossocial, as quais seriam realizadas nos meses seguintes, mas estas também acabaram não ocorrendo.

b. Situação Jurídica

Os dados da situação jurídica correspondem aos seguintes aspectos: artigo do Código Penal Brasileiro (CPB) referente ao delito cometido; Se o crime foi contra a família; Comarca; Vara de Execução Penal (VEP); Data de entrada na prisão; Data de entrada no HCTP; Data da sentença; Datas das solicitações e da realização das perícias; número de internações. Optamos por não trabalhar este último aspecto na análise do perfil, devido à dificuldade de acesso à informação nos prontuários dos internos.

Iniciamos pela frequência dos delitos cometidos por pessoas em medida de segurança. Quase metade dos delitos cometidos foi homicídio (48%), sendo que 31 homicídios qualificados e 10 homicídios simples; 12 (14%) foram enquadrados por tentativa de homicídio; 11 (13%) cometeram crimes de atentado ao pudor; e 21 (25%) pessoas estão no HCTP por roubos, furtos, lesões corporais, violência doméstica, ameaças e porte de arma.

Chama atenção ver que ¼ dos delitos são crimes com menor potencial ofensivo e que boa parte dos crimes de homicídios ou tentativas de homicídio foram situações isoladas, cometidos por pessoas sem histórico de violência. Tais informações, dentro de um HCTP, não são consideradas atenuantes, o que significaria menor tempo de privação de liberdade. A  

81O Decreto n. 7.508/2011, que regulamenta a Lei n. 8.080/90 (BRASIL, 1990b), considera em seu artigo 2º,

inciso I, que as Comissões Intergestores são “instâncias de pactuação consensual entre os entes federativos para definição das regras da gestão compartilhada do SUS” (BRASIL, 2011c). A Comissão Intergestora Regional deverá pactuar tais regras entre os municípios que constituem cada Região de Saúde, a qual é definida no inciso IV, do mesmo decreto, como “espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde”.

perícia psiquiátrica, para averiguar a cessação da periculosidade, toma os diagnósticos psicopatológicos como atributos determinantes da mesma e, assim, decide pela perpetuação da medida de segurança devido à virtualidade de crimes futuros, isto é, condenam os “doentes mentais”, muitas das vezes, com isolamento perpétuo pelos crimes que podem vir a serem realizados.

Gráfico 9: Índice de delitos cometidos pelas pessoas em medida de segurança.

Importante dizer que dos 86 casos, 33 (38%) delitos foram cometidos contra pessoas da própria família do interno e, destes, 70% foram homicídio ou tentativa de homicídio, razão que muitas vezes justifica o abandono pela família ou medo de recebê-lo de volta, quando egresso. É interessante relacionar este dado com a informação acerca do tratamento anterior ao cárcere, presente na discussão sobre a situação clínica-diagnóstica a seguir, em que 70% dos casos não recebia acompanhamento em saúde mental e suas famílias viviam em total desamparo para lidar com o sofrimento psíquico da pessoa que veio a cometer o delito.

Gráfico 10: Frequência de crime cometido contra a própria família.

Com relação às comarcas que registraram os casos, podemos retomar a mesma análise que fizemos quanto às cidades em que os internos residiam para identificar os municípios que mais encaminham ao HCTP, já que o número de delitos cometidos em cidade diversa à que residem é ínfimo. Assim, temos que em ¼ dos casos, os delitos são cometidos em apenas três

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