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II. No âmbito dos ordenamentos jurídicos nacionais

1. Os princípios constitucionais da tributação

1.2. Os limites materiais da tributação

revogação e alteração das leis fiscais (favoráveis). Ademais, este princípio aplica-se também aos operadores jurídicos, nomeadamente à Administração fiscal, se e na medida em que lhes seja conferida uma margem legal de livre decisão cujo parâmetro imediato seja a CRP344.

Importa salientar que deste princípio não decorre

“um imperativo de segurança “a todo

o preço”, que só seria plenamente alcançado pela imutabilidade da lei fiscal e a proibição da sua

modificação; estamos, sim, perante a tentativa de definição de princípios mínimos de

estabilidade sem os quais se não pode obter uma efectiva segurança jurídica.”

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1.2. Os limites materiais da tributação

1.2.1. O princípio da igualdade fiscal

O princípio da igualdade fiscal é uma expressão específica do princípio geral da igualdade, sendo aferido através da capacidade contributiva, o que implica igual imposto para aqueles que disponham de igual capacidade contributiva – igualdade horizontal – e imposto diferente, qualitativa ou quantitativamente, para aqueles que disponham de diferente capacidade contributiva na proporção dessa diferença – igualdade vertical346. Significa isto que aquilo que a

lei deve garantir, na sua aplicação, não é um resultado igual para cada contribuinte, mas sim uma diferenciação de resultados correspondente à efectiva diferença existente entre os contribuintes.

343 Não foi totalmente absorvido na medida em que o princípio da segurança jurídica “também serve de critério de ponderação em

situações de retroactividade imprópria, inautêntica ou falsa, bem como em situações em que, não se verificando qualquer retroactividade, própria ou imprópria, há que tutelar a confiança dos contribuintes depositada na actuação dos órgãos do Estado” (idem, ibidem, p. 145).

344 Idem, ibidem, p. 144.

345 J. L. SALDANHA SANCHES, Manual…, p. 171.

346 JOSÉ CASALTA NABAIS, ob. cit., p. 149. Como salienta RITA CALÇADA PIRES (ob. cit., p. 78), estão interligadas com o princípio

da capacidade contributiva as preocupações quer de igualdade horizontal – “todos aqueles que detenham a mesma capacidade contributiva, i.e., que estejam em igualdade de circunstâncias, devem ter o mesmo tratamento fiscal, ou seja, devem ter a mesma tributação” –, quer de

igualdade vertical – aqui “o que se pretende salvaguardar, na continuidade do espírito da solidariedade social e da redistribuição, é um

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A capacidade contributiva, enquanto critério de tributação, consubstancia, pois, um princípio enformador do ordenamento jurídico tributário, sendo

“simultaneamente um axioma

ético e a síntese de princípios constitucionais vinculativos para o legislador.”

347 A igualdade fiscal

só pode, efectivamente, ser alcançada se o legislador fiscal adoptar, como objecto dos impostos, factos que indiciem a capacidade contributiva de cada sujeito passivo348 e dotar a Administração

fiscal dos meios adequados para obter o cumprimento da lei fiscal. Porquanto, é inequívoco que para assegurar a igualdade fiscal, o legislador fiscal tem de garantir uma efectiva distribuição dos encargos fiscais, seja por via da sua formulação normativa, seja através do seu cumprimento generalizado349.

1.2.2. O princípio do respeito pelos direitos fundamentais

Atento o disposto nos artigos 8.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, da CRP, os direitos fundamentais reconhecidos e protegidos no ordenamento jurídico da União Europeia – seja por via da CDFUE, seja através da CEDH, nos termos previstos no artigo 6.º do TFUE –, também devem ser reconhecidos e garantidos no contexto da ordem jurídica portuguesa no concernente à tributação350, sendo que os encontramos todos consagrados na CRP351.

347 J. L. SALDANHA SANCHES, Manual…, p. 228.

348 Como afirma JOSÉ CASALTA NABAIS (ob. cit., p. 151), “…constituindo a ratio ou a causa da tributação, este princípio [da

capacidade contributiva] afasta o legislador fiscal do arbítrio, obrigando-o a que, na selecção e articulação dos factos tributários, se atenha a revelações da capacidade contributiva, ou seja, erija em objecto e matéria colectável de cada imposto um determinado pressuposto económico que seja manifestação dessa capacidade e esteja presente nas diversas hipóteses legais do respectivo imposto.” Como refere RITA CALÇADA PIRES (ob. cit., p. 78), “a construção de um sistema fiscal justo passa pela adopção do princípio da capacidade contributiva” através do qual “o legislador fiscal garante a observância das especificidades pessoais e familiares do contribuinte, garantindo que este último apenas é tributado com base na sua efectiva possibilidade de contribuir para as despesas colectivas”, assim se protegendo “o património e a necessária disponibilidade dos rendimentos pelo contribuinte, afectando-se à tributação apenas aquilo que está fora do necessário para a sobrevivência e para o desenvolvimento daquele sobre quem recai o imposto.” Ainda quanto ao princípio da capacidade contributiva, DIOGO LEITE DE CAMPOS (O sistema tributário no Estado dos cidadãos, Coimbra, Almedina, 2006, p. 59) diz que este “…é uma exigência do estatuto da pessoa e um fundamento do sistema tributário. Deve considerar-se que é da correcta aplicação pelo intérprete e pelo legislador das normas que impõem o respeito pela capacidade contributiva que decorre a justificação do sistema tributário.”

349 Neste sentido, J. L. SALDANHA SANCHES, Manual…, p. 211.

350 Neste sentido, NUNO SÁ GOMES, loc. cit., p. 76.

Ver, supra, o número 3. do ponto I deste Capítulo.

351 Como salientam J.J. GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA (ob. cit., p. 376): “No caso de direitos [fundamentais] de origem jus-

Nessa medida,

“as garantias dos contribuintes que vigoram na ordem interna

portuguesa enquanto aspectos dos direitos fundamentais, têm fontes constitucionais, legais e

internacionais, abrangendo quer fontes intencionais ou voluntárias (tratados, acordos

internacionais e direito derivado), quer fontes não intencionais ou não voluntárias (direito

internacional não escrito: princípios gerais e costume internacional).”

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Sendo assim, nos termos do disposto no artigo 18.º, n.º 1, da CRP –

“os preceitos

constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias são directamente aplicáveis e

vinculam as entidades públicas”

–, quer o legislador fiscal, quer a Administração fiscal, quer os tribunais que julguem litígios de índole fiscal estão adstritos à estreita observância dos seguintes direitos fundamentais353: o acesso ao direito e à tutela jurisdicional efectiva (artigo 20.º da CRP),

o direito à reserva da intimidade da vida privada e familiar (artigo 26.º, n.º 1, da CRP), o direito à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação (artigos 13.º, n.º 2, e 26.º, n.º 1, da CRP), o direito à protecção dos dados pessoais (artigo 35.º da CRP), o direito de propriedade privada (artigo 62.º da CRP) e os direitos e garantias perante a Administração (artigo 268.º da CRP).

2. O enquadramento jurídico da troca de informações fiscais com os Estados-