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Capítulo II – A construção social da pessoa sem-abrigo

2.2. Os média

Neste ponto darei conta da pesquisa realizada, com base nas peças jornalísticas publicadas na imprensa on-line, assim como da estratégia metodológica desenvolvida na recolha e análise desse material. As notícias, com os descritores “sem-abrigo” ou “sem-tecto”, foram coligidas desde o último trimestre de 2005 até ao primeiro trimestre de 2009. Esta iniciativa consistiu, no seu começo, numa experiência. Não tinha, na altura, a ideia dos resultados que iria obter. Contudo, quando semanalmente comecei a receber as ligações para as notícias, fiquei impressionada. Não estava à espera de uma produção de informação tão intensa e regular sobre as pessoas ou o fenómeno sem-abrigo.

Cedo me apercebi que o “mundo” das notícias on-line tem as suas regras de funcionamento próprias e muitos dos relatos recebidos eram variações de uma mesma informação escrita. Isto é, o mercado da informação parece ser alimentado por algumas agências noticiosas que fornecem os mais variados jornais locais, espalhados pelo país. Muitas das notícias que recebia eram repetidas, não propriamente iguais, mas os factos relatados e a forma como eram descritos era muito semelhante.

O processo de compilação e organização deste material foi sendo construído ao longo dos anos e foi sofrendo alterações que darei conta, brevemente, nas linhas que seguem.

Numa primeira fase comecei por fazer uma triagem das notícias recebidas, imprimindo-as em papel para posteriormente as analisar. Nesses primeiros tempos de contacto com a matéria informativa, guardava apenas os textos que me pareciam mais relevantes para a pesquisa. Pouco a pouco o volume de notícias foi-se acumulando e a capacidade para seleccionar, distinguindo o que iria desprezar e

conservar tornou-se menos óbvia. Tinha receio de rejeitar informação que poderia ser interessante tratar mais tarde.

Em 2007, já com um número considerável de textos, preocupei-me com a forma como iria tratá-los. Uma vez que o material já estava em formato digital, utilizá-lo em suporte de papel para o tratar posteriormente, fazia pouco sentido. Criei, então, um ficheiro de texto com informação sobre os recortes, registando os seguintes dados: nome da publicação; ano da edição; título da notícia; link; e a data de acesso à notícia. Posteriormente, já o ficheiro continha uma grande quantidade de registos, apercebi- me que algumas ligações ao texto da notícia deixavam de estar acessíveis, o que indicava que estava a perder informação que não poderia recuperar. Mudei, então, de estratégia. A partir dessa altura passei a incluir no ficheiro o texto completo da notícia. O aspecto do ficheiro passou a ficar bastante confuso e com uma usabilidade reduzida, contudo, esta forma de arquivo permitia-me guardar as notícias com um mínimo de segurança. O aspecto deste segundo ficheiro pode ser observado no Quadro 2.13.

Só devemos receber

quem se porte bem"

Francisco Mangas

O presidente da Junta do Bonfim, no Porto, defende a expulsão dos imigrantes "sem inserção na sociedade", porque "aumentam o número de sem-abrigo" na cidade e passam uma imagem de "degradação da nossa sociedade". Armindo Teixeira, social-democrata, denunciou ontem situações de insegurança na sua freguesia, "agravadas nos últimos três anos", e acusou a PSP de não fazer "o trabalho bem feito".

Os imigrantes sem-abrigo, segundo o autarca, estão associados ao aumento de assaltos na zona do Bonfim. No entanto, Armindo Teixeira não apresentou quaisquer estatísticas ou dado oficial que justificassem a sua afirmação.

"Se passam o dia sem fazer nada, digam-me então do que vivem eles?", questiona o presidente da Junta. Para Armindo Teixeira, "só devemos receber na nossa casa até um limite e apenas os que se comportarem correctamente". Caso contrário, "devem ser expulsos " para o nosso país não ficar "como as favelas do Brasil".

A insegurança na freguesia do Bonfim, na parte oriental da cidade do Porto, tem como foco "mais preocupante" a zona da Lomba. É daí, refere o autarca, que alegadamente "um grupo com cerca de 30 traficantes e consumidores de droga" espalha o "pânico" entre os moradores. "O centro de idosos na Rua do Heroísmo foi assaltado duas vezes em Outubro. Sabemos que os assaltantes estão referenciados, mas nada lhes acontece", sublinha Armindo Teixeira.

Parte substancial do grupo, refere, veio de outras zonas da cidade, principalmente dos bairros sociais "do Lagarteiro, Sé ou do S. João de Deus". A polícia tem actuado "mas não da melhor forma". A política social da Câmara do Porto (governada pela coligação PSD/PP) também merece críticas do social-democrata Armindo Teixeira. "Se a autarquia actuasse a nível da cidade, e não apenas nos bairros camarários, teríamos o problema resolvido".

À acção da polícia, o autarca sugere "a táctica do cerco"- a PSP deveria actuar "de forma silenciosa e usar a táctica de cerco para evitar a fuga dos marginais". Para isso, a investida policial terá de ser feita a pé, "sem luzes, nem sirenes".

Diário de Notícias (2006). "Só devemos receber quem se porte bem". In:

http://dn.sapo.pt/2006/11/12/cidades/so_devemos_receber_quem_porte_be m.html Acesso em 2007/08/29.

Quadro 2.13. Exemplo do ficheiro de texto com as notícias incluídas

A opção de criar uma base de dados com as notícias foi-me sugerida por Catarina Martins, doutoranda em História da Educação, na Universidade de Lisboa, que estava então a utilizar o FileMaker21 para a criação de uma base de dados documental. Com esta base de dados, consegui, finalmente, arquivar, de um modo rápido e fiável, as notícias.

Inicialmente, optei por não estabelecer uma estrutura complexa, uma vez que este

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software permite a inclusão e alteração dos campos, com muita flexibilidade. Defini os

primeiros campos da base de dados que, de facto, não eram mais do que os que já estava a registar nos ficheiros de texto anteriores. O carregamento da base de dados permitiu-me confirmar as potencialidades e riqueza do material que vinha recolhendo.

Através da Professora Rosa Maria Hessel Silveira, da Universidade Luterana do Brasil, tive conhecimento da pesquisa de Cristina Ponte. Esta investigação incidia sobre o tratamento jornalístico da criança e da infância, durante um período de trinta anos, com base nas notícias publicadas em Portugal, entre 1970 e 2000. Esta pesquisa, intitulada Crianças em notícia : a construção da infância pelo discurso jornalístico

(1970-2000) pretendia conhecer ‘quando’ e ‘como’ as crianças são notícia de

informação geral. A autora propunha um sistema de análise dos textos, adaptável à base de dados que estava a construir.

É evidente que havia aspectos tratados por Ponte, 2005, que não poderia contemplar no meu trabalho e que provavelmente teriam interesse, como os relativos à localização da notícia no interior do jornal, ao número da página e à proximidade com outras peças. Na imprensa on-line esta análise não é possível, pois a localização do texto e o modo de acesso à informação é muito distinto da interacção física e linear que se estabelece com um periódico impresso em papel. No entanto este trabalho proporcionou-me sugestões para a definição dos campos a criar na base de dados, das categorias de análise que poderia utilizar e sobre um outro aspecto que começou a tornar-se muito evidente nas notícias, o que a autora denomina por “vozes no texto”. Dei por terminada a recolha de notícias no final do primeiro trimestre de 2009. Por coincidência, nessa data, o número de registos na base de dados era de seiscentos. Passei, em seguida, à etapa da análise dos textos. À medida que os ia lendo, apercebi- me que alguns eram totalmente irrelevantes para a pesquisa, apaguei esses registos, tendo posteriormente optado por deixá-los na base de dados criando um indicador de registos a “não tratar”. Finalizados o tratamento e a primeira análise das notícias, a quantidade de registos constante na base de dados passou a ser quinhentos e setenta e oito. Deste conjunto, retirei os assinalados para rejeitar, ficando um total de quinhentos e quarenta e dois textos para tratamento mais aprofundado.

Conforme referido acima no texto, a Lusa Agência de Notícias de Portugal, SA é a única agência noticiosa em Portugal e de âmbito nacional. A missão da agência pode ser consultada na página institucional na internet, e está definida do seguinte modo:

“A Lusa, como única agência de notícias portuguesa de âmbito nacional, tem como objectivo a recolha e tratamento de material noticioso ou de interesse informativo, a produção e distribuição de notícias a um alargado leque de utentes (média nacionais e internacionais, empresas e instituições diversas de carácter público e privado) e a prestação ao Estado Português de um serviço de interesse público relativo à

informação dos cidadãos.” 22

Um número considerável de notícias publicada nos média on-line tem a sua origem

22

nesta agência. Ao longo do tratamento da informação recolhida, fui verificando notícias repetidas ou com ligeiras variantes. Para solucionar esta situação dispunha de várias alternativas. Optei por marcar como “repetida” as que recordava já ter lido, confirmando, posteriormente, esse facto. No final, verifiquei que cento e nove tinham sido marcadas como repetidas. A fim de evitar comparar, notícia a notícia se se tratava da mesma informação, optei por organizá-las por instituição e desprezar o facto de estarem repetidas. Na verdade, o meu interesse era conhecer como o fenómeno e a pessoa sem-abrigo eram descritos nos média, quando e por quem. A análise realizou-se por aproximações sucessivas, numa perspectiva top/down, isto é, partindo de categorizações mais gerais, até chegar ao detalhe. Numa primeira etapa criei uma estrutura geral, composta por um reduzido número de campos de informação genérica: Nome da publicação; Ano da notícia; Autor; Título; Indicação do link; Data de acesso ao link; e o Texto da notícia.

Apresento, em seguida, informação quantitativa relativa ao conjunto de notícias tratadas. Assim, no Quadro 2.14, sintetizo o número de notícias recolhidas e agrupadas por ano de publicação.

Quadro 2.14. Notícias recolhidas por ano de publicação

Conforme assinalado anteriormente, em 2005 e 2009 não foram recolhidas notícias abarcando o ano na sua totalidade. Apesar de não estar a trabalhar com cinco períodos completos, verifica-se um crescimento gradual da quantidade de artigos publicados, indiciando um aumento progressivo do interesse deste tema pelos média e pela sociedade em geral.

No Quadro 2.15 apresento os títulos dos periódicos com mais notícias publicadas em Portugal, contendo a expressão sem-abrigo e/ou sem-tecto. Optei por organizar a listagem por ordem decrescente.

Como se pode verificar, há uma grande diversidade de publicações que difundiram informação sobre o tema, desde a agência de notícias da Igreja Católica, Agência Ecclesia, passando pelas publicações regionais ou outras ligadas a partidos políticos, associações desportivas, e ainda pelos jornais diários com maior tiragem, ou distribuídos gratuitamente nas principais cidades do país. O Jornal de Notícias destaca-se claramente das demais publicações, com oitenta e duas peças publicadas.

Ano Total Out-Dez 2005 16 Jan-Dez 2006 105 Jan-Dez 2007 148 Jan-Dez 2008 222 Jan-Abr 2009 51 Total 542

Publicações On-line Total Jornal de Notícias 82 Portugal Diário 38 Agência Ecclesia 36 Correio da Manhã 36 Diário de Notícias 34 Diário Digital 30

Público Última Hora 20

Rádio e Televisão de Portugal 20

Sol 13

Diário dos Açores 12

O Primeiro de Janeiro 12 Jornal da Madeira 11 Fábrica de Conteúdos 10 Rádio Renascença 10 Fátima Missionária 9 Destak 8 Esquerda 8 O Mirante 8 Uefa.Com Magazine 8 Açoriano Oriental 7 O Setubalense 7 TSF Online 7 Lusa 6 Jornal Regional 5

Quadro 2.15. Títulos das publicações on-line com maior número de artigos

Um outro aspecto relevante para esta análise está relacionado com a origem geográfica das notícias, isto é, se o texto se refere a um acontecimento ou facto ocorrido em Portugal ou no estrangeiro, distinguindo a região ou o país. O Quadro 2.16 apresenta a origem geográfica das notícias.

Quadro 2.16. Origem geográfica das notícias: nacionais e internacionais

Distrito/Região Autónoma Total País Total

Açores 23 Alemanha 5

Aveiro 25 Austrália 1

Beja 1 Bélgica 1

Braga 11 Brasil 2

Coimbra 14 Canadá 1

Évora 1 Coreia do Sul 1

Faro 13 Dinamarca 1 Leiria 9 Espanha 8 Lisboa 195 EUA 21 Madeira 22 Europa 2 Porto 63 França 10 Santarém 3 Itália 7 Setúbal 13 Japão 4

Viana do Castelo 7 Luxemburgo 6

Vila Real 1 Reino Unido 6

Viseu 2 Rússia 1

Total por distrito/região 403 Vaticano 2

Venezuela 1

Total por país 80

Portugal (âmbito geral) 46 Mundial 13

A nível nacional, os distritos com um peso mais significativo na produção de informação sobre este tema são o de Lisboa, representando 48,39%, seguido do Porto com 15,63%. Os distritos de Aveiro e as Regiões dos Açores e Madeira apresentam percentagens inferiores, com 6,2%, 5,7% e 5,5%, respectivamente, no entanto, são estes os que depois de Lisboa e Porto mais informação produzem sobre o fenómeno ou as pessoas sem-abrigo. São dois os distritos sem notícias, Bragança e Portalegre. Já a nível internacional, os EUA são os responsáveis por 26,25% do total de notícias por país, seguido da França e da Espanha, cada um deles com percentagens de 12,5% e 10%, respectivamente.

Para além desta análise quantitativa das notícias que num determinado período foram publicadas, focando o fenómeno ou a pessoa sem-abrigo, a visão qualitativa dos conteúdos das notícias é particularmente relevante para a minha pesquisa. Das quinhentas e quarenta e duas notícias, retiraram-se cento e nove que estavam marcadas como repetidas.

Nas fases iniciais do processo de análise, verifiquei que uma quantidade significativa de notícias indicava, explicitamente, uma ou mais organizações. Criei um campo específico para incluir os nomes da instituição, ou instituições presentes nas notícias. Porém, algumas não se referiam a instituições e, nesse caso coloquei-lhe o descritor “Indivíduo” ou “Sociedade”, consoante se tratasse de um artigo acerca duma pessoa isolada ou de um grupo, ou de uma acção promovida pela sociedade em geral. No Quadro 2.17 apresento as quantidades e percentagens de notícias classificadas quanto à instituição.

Quadro 2.17. Classificação das notícias em relação à instituição

É importante salientar que o peso das notícias provenientes das instituições representa 74% do total de artigos coligidos. As instituições são variadas, no entanto algumas têm uma maior representatividade dentro do grupo em questão. No Quadro 2.18 identifico os nomes das instituições dominantes neste conjunto.

As organizações de solidariedade social representam 45% deste grupo de notícias. A autarquia de Lisboa 14% e as notícias provenientes de instituições governamentais e de organizações católicas são responsáveis por 13%, cada. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social têm um peso de 4% e 3% no conjunto destas notícias. Dentro de todas as organizações que são notícia, concretamente as de Solidariedade Social, a Comunidade Vida e Paz é a que mais proporciona informação mediática.

Instituição Total %

Indivíduo 101 23,33%

Instituição 321 74,13%

Sociedade 11 2,54%

Quadro 2.18. Instituições com maior número de notícias publicadas

Em relação às notícias em que a instituição presente é o indivíduo ou a sociedade, por não tratarem de temas relativos a organizações formais, as mais representativas estão apresentados no Quadro 2.19.

Quadro 2.19. Notícias, mais representativas, em que o foco é o indivíduo ou a sociedade

A categoria “indivíduo: homem sem-abrigo” é a que contém um maior número de informação nos média. O “caso Gisberta” gerou um número considerável de informação, assim como os artigos de opinião de vários escritores nacionais23. Também as actividades do Presidente da República em que o foco é a pessoa sem- abrigo são motivo de notícia. Por último, na categoria sociedade, incluí os artigos que relatavam situações sobre ocupação urbana de edifícios abandonados e iniciativas de solidariedade para com as pessoas em situação de sem-abrigo, promovidas por grupos informais ou por indivíduos isolados.

À medida que ia aprofundando o conhecimento sobre o material em análise, outras

23 O caso Gisberta foi uma notícia com grande impacto mediático, em 2006, por se tratar de um crime

que resultou na morte de uma pessoa em situação de sem-abrigo, a residir no Porto, confessado por um grupo de jovens residentes numa instituição nessa cidade.

Instituição Total

Comunidade Vida e Paz 27

Câmara Municipal de Lisboa 21

Cáritas 11

Associação CAIS Círculo de Apoio à Integração dos Sem Abrigo 10

Legião da Boa Vontade 9

AMI - Assistência Médica Internacional 8

Nóuni, Associação para a Cooperação e Desenvolvimento 8

Instituto de Segurança Social 6

Santa Casa da Misericórdia de Lisboa 6

Autoridade Nacional de Protecção Civil 5

Câmara Municipal de Aveiro 5

Comunidade de Santo Egídio 5

Associação Novo Dia 4

Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade 4

Cruz Vermelha Portuguesa 4

Movimento de Apoio à Problemática da Sida 4

Serviço Jesuíta aos Refugiados 4

Associação Ares do Pinhal 3

Florinhas do Vouga 3

Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social 3

Instituição Total

Indivíduo: homem sem-abrigo 30

Indivíduo: caso Gisberta 8

Indivíduo: artigo de opinião 7

Indivíduo: Presidente da República 5

Sociedade: ocupação urbana 5

questões se colocavam em relação às pessoas em situação de sem-abrigo veiculadas na imprensa on-line: Quando é notícia? Qual o objectivo da notícia? Quem está presente na notícia? Como é descrito? Estas questões foram sendo respondidas, notícia a notícia. Com o avançar da codificação, surgiram, claramente, quatro áreas temáticas: uma relativa às instituições presentes nas notícias; outra que reflectia posições da sociedade face às pessoas ou fenómeno sem-abrigo; uma terceira em que surgiam descrições sobre o individuo sem-abrigo ou um grupo de indivíduos; e uma quarta área com descrições sobre o fenómeno sem-abrigo. Consequentemente, criei um novo lay-out da base de dados para incluir a situação da notícia, contendo novos campos com excertos dos textos a incluir em cada um destes quatro grupos.

Esta nova abordagem permitiu obter informação um pouco distinta da anteriormente apresentada, tanto em termos qualitativos, quanto quantitativos. De facto, numa mesma notícia encontrava, frequentemente, descrições a incluir em todas estas áreas, outras só em uma ou duas. No Quadro 2.20 apresento um exemplo de uma notícia já categorizada em função das várias descrições presentes no texto. Trata-se de um exemplar que contém excertos incluídos nas quatro áreas: Indivíduo; Fenómeno; Sociedade; Instituição.

Quadro 2.20. Exemplo do lay-out da situação de uma notícia constante na base de dados

No Quadro 2.21 apresento as quantidades de descrições incluídas em cada uma das categorias: Sociedade; Instituição; Indivíduo; e Fenómeno. Dentro do conjunto de notícias em análise, as que fazem referência ao indivíduo e ao fenómeno são as

menos representadas, isto é, dos quatrocentos e trinta e três textos, 40% incluiu descrições do indivíduo/grupo e 34% do fenómeno. As referências à sociedade e à instituição são mencionadas em 53% e 47% das notícias, respectivamente. Face a estas percentagens, duas primeiras ilações podem ser retiradas: mais de metade das notícias da imprensa on-line, que referem as pessoas sem-abrigo, utiliza essa expressão para diversos fins que não se aplicam especificamente à condição de existência do indivíduo ou grupo; sensivelmente metade das notícias refere as instituições que trabalham na área e não às pessoas ou ao fenómeno.

Quadro 2.21. Descrições presentes nas notícias nas categorias: sociedades; instituição; indivíduo; e fenómeno

Após a classificação dos textos e da inclusão nos diferentes tipos de descrições nos grupos respectivos era necessário prosseguir a procura dos sentidos expressos nos textos que continham descrições sobre o indivíduo ou grupo. Optei por focar a minha atenção somente nos excertos que continham descrições acerca do indivíduo ou grupo, abandonando a análise das outras dimensões: fenómeno; instituição e

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