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OS ANOS LOUCOS: A DÉCADA DE

2.2. Os Meios de Transporte:

A urbanização e os melhoramentos das infra-estruturas das cidades, aliados ao crescimento das indústrias, tornou necessária uma melhoria dos meios de locomoção, pois o novo estilo de vida urbana e moderna trouxe a tona uma nova noção de espaço e de tempo, na qual o mundo passava a ficar mais acelerado. Era um mundo mais acelerado, em que a velocidade era um fator de encanto.

Os bondes de tração animal foram substituídos pelos bondes elétricos. Além também do surgimento do automóvel, que possibilitou no encurtamento das distâncias, sendo que com a mudança do predomínio do capital inglês para o americano, coube aos EUA a introdução dos veículos automobilísticos no Brasil.

Os automóveis tiveram um importante papel na modernização do país, pois:

O rodoviarismo era uma forma de modernidade e a construção de rodovias seria uma forma de modernização do Estado. Não se tratava de uma diretriz regional, mas de uma ênfase em uma linha cultural comum a todos os países, associando os veículos a motor às idéias de velocidade, independência e liberdade. Nesse sentido, havia uma sintonia com a pregação modernista, esboçada entre 1917 e 1918 e oficializada com a Semana de Arte Moderna de 1922. A ênfase colocava-se sobre certas formas de modernização, características da sociedade industrial e do desenvolvimento tecnológico, enfatizadas pelo cinema, pela arquitetura e pelas diferentes atividades artísticas. O automóvel era sempre apresentado como um símbolo de modernidade. 17

As companhias automobilísticas Ford e General Motors se instalaram no país. Aquela foi a percussora desta indústria no Brasil, assim, Ford Motor Company veio a se instalar em São Paulo em maio de 1920. Os bondes elétricos foram introduzidos em Pernambuco no ano de 1914 e o primeiro carro presente na cidade do Recife foi o do Dr. Octávio de Freitas.

16 DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Tentou contra a vida. Recife, 13 de março de 1920. P. 3. FUNDAJ 17 FILHO, Nestor Goulart Reis. “Cultura e Estratégias de Desenvolvimento”. In: In: LORENZO, Helena

Carvalho de; COSTA, Wilma Peres da. (orgs.). A Década de 1920 e as Origens do Brasil Moderno. São Paulo: UNESP, 1997, pp. 154-155.

69 Os bondes elétricos, em especial, vieram a mudar o cotidiano urbano do Recife, pois antes da introdução deste na cidade, eram utilizados os bondes puxados por burros. Esta mudança causou também modificações no cotidiano,

pois com os bondes de burros era possível para seus usuários mandarem seus criados para que pedissem aos condutores dos bondes que esperassem os seus patrões chegarem. Contudo, isto não foi mais possível com os bondes elétricos, além destes serem mais velozes do que o seu antecessor.

Outro transporte público presente no Recife foi o ônibus, porém algo pouco mencionado na literatura. Segundo “A Pilhéria”, o serviço de “autos omnibus” deu-se pelo espírito empreendedor da sociedade composta Fontes e Cª. Contudo, a instalação destes não veio sem reclamações, principalmente da Pernambuco Tramways, empresa que controlava os bondes. Assim, as opiniões se

dividiam, uns a favor e outros contra o ônibus.18 No entanto, o serviço dos bondes deixava a desejar, na revista “A Pilhéria” falava-se que o povo pagava bem, sendo mal servido, considerando os bondes do Recife um dos piores possíveis. Os ônibus, em contrapartida, mostravam competência, porém previam o favorecimento dos bondes, pois:19

Esse povo gosta das novidades. O ônibus é coisa nova elegante confortável. O povo experimenta e “gasta” nos primeiros tempos. Depois, cai no bonde. Não há outro remédio. Mesmo porque nós não fazemos uso de pneumáticos, e o “ônibus” está sujeito a ter furadas de uma vez as suas quatro rodas. Isto quer dizer que a nova empresa não agüenta o repuxo. 20

Além do mau serviço, os bondes, como os da rua Cabugá, podiam estar sempre cheios, além da demora na espera dos mesmos. Reclamavam-se das misturas de classe

18 A PILHÉRIA. A Tramways está zangada com o Omnibus: O dr. Democrito defende e o dr. Pedro

Allain é contra. Dois bicudos não se beijam... Recife, 9 de junho de 1923. Nº 89. P.6. DP

19 A PILHÉRIA. Os serviços da Tramways: Ouvindo pelo telegrapho o dr. Eugenio Gudin. Recife, 19

de maio de 1923. Nº 86. P. 10. DP

20

Ibidem. Nas citações optamos por fazer a atualização da grafia, quando possível, para um melhor entendimento das idéias.

-?...

- Você quer o Bond, eu quero o omnibus... Vamos solucionar: Seguimos a pé até Dois Irmãos.

A Pilhéria nº 89 (09/06/1923)

Charge ilustrando a lotação dos Bondes do Recife. (A Pilhéria nº 98; 11/08/23 – P.13)

70 dentro dos bondes, mas segundo Couceiro, havia alguns com vagões de 1ª e 2ª classe, mas também havia uma divisão social informal, na qual os mais abastados sentavam à frente e os populares nos bancos de trás. Mesmo com as divisões, reclamavam-se dos maus cheiros, dos que fumavam, em geral, da ausência dos bons modos dos populares.

Os bondes também deixaram marcas no Recife, os buracos, que foram feitos pela Tramways para a soldagem dos trilhos, assim, danificando o calçamento. Coisa que até influencia nos taxímetros, pois os motoristas passavam lentamente pelos buracos para evitar estragos ao carro. 21 Seria esta uma estratégia da Tramways contra os carros? Isto porque, o alvo do sucesso caiu mesmo sobre os automóveis, que tiveram papel principal na modificação do cenário urbano, ao encurtar as distâncias e o tempo de viagem. Fator importante “Numa época em que luta pela existência adquiriu aspectos trágicos, e que todo o mundo está atacado da febre dos negócios, é preciso correr, andar depressa, chegar à hora, engolir quilômetros e ampliar o tempo, numa fúria louca ...” 22

O carro logo passou a ser um objeto de desejo, tendo em vista que uma pequena minoria poderia possuí-lo, como pode ser observada com a revista “A Pilhéria”, “O automóvel em Recife é a esparrela da aristocracia, o formidável chamariz dos novos-ricos.” 23

O Brasil era o segundo país da América Sul em quantidade de carros, pois a Argentina possuía 241.356 carros. Pela estatística do The American Automobile, o Brasil ficava em nono lugar de

números de carros, quando observando o fator mundial, com 140.102 carros, sendo o líder de número de carros os Estados Unidos com a quantia de 24.500.000. 24

Com os automóveis surgiram até uma profissão nova, o chauffeur, que chegou a ser uma das profissões de maior sucesso na época, segundo Couceiro25, mas segundo

21 A PILHÉRIA. Os buracos da “tramways”. Recife, 2 de junho de 1923. Nº 88. P. 3. DP

22 CUNHA, João Vidal. O Problema Médico do Chauffeur. Tese para obtenção do grau de Doutor em

Ciências Médico-Cirúrgicas. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia (Cadeira de Medicina Legal), 30 de Outubro de 1928. P. 23. LAPEH

23

A PILHÉRIA, 06/02/26 apud REZENDE, Antonio Paulo. (Des)Encantos Modernos: Histórias da Cidade do Recife na Década de Vinte. Op. Cit., p. 61.

24 CUNHA, João Vidal. O Problema Médico do Chauffeur. Op. Cit. P. 11. LAPEH 25

COUCEIRO, Sylvia Costa. Artes de viver a cidade: conflitos e convivências nos espaços de diversão e prazer do Recife nos anos 1920. Tese de Doutorado em História. Recife: UFPE, 2003.

O Progresso

- E quanto tempo levaremos do Recife a Olinda? - Meia hora em cada ponte e mais o trajeto... Devemos levar umas duas horas e meia, no máximo!

71 Silva26, tornar-se chauffeur não parecia ser uma tarefa fácil. Grande a sua importância, pois chegou a ser tema de tese médica, “O Problema médico do Chauffeur”, na Faculdade de Medicina da Bahia, tendo João Vidal da Cunha como seu autor.

Também exerceram sua influência no esporte com a promoção de corridas de automóveis e de motocicletas, como a que foi promovida em março de 1922 pela “Auto Sport Club”, tendo a corrida sido realizada na Praia de Boa Viagem. O evento em si não ocorreu com muito sucesso, devido à indisciplina dos chauffeurs e também pela exaltação dos proprietários dos automóveis. 27

Todavia, o chauffeur estava longe de serem bem vistos, pois

Este estaria apropriando-se do fascínio e magia exercícios pelos autos para inverter papéis e subverter a ordem estabelecida, assumindo, aos olhos das elites, o comando de todo um novo estilo de vida que se implantava. Assim, o chauffeur era visto aqui como um usurprador que se aproveitava do prestígio da máquina para dirigir a vida das pessoas e conseguir visibilidade social.28

Mas toda novidade tem o seu preço, e a dos automóveis foi à quantidade de acidentes por eles provocados, sendo, então, alvo de transtorno, pois, possivelmente, as pessoas ainda não estavam acostumadas à velocidade do carro ou até a sua crescente presença nas ruas. Podemos supor isto com base nas inúmeras notícias no Diário de Pernambuco que retratam os atropelamentos, como o caso de Arthur Ferreira Bastos, de 28 anos, que no dia 13 de março de 1921 foi alcançado por um automóvel. 29

Havia também o abuso da velocidade pelos motoristas, cuja vítima podia ser qualquer um, como a atriz Judith Rodrigues, que segundo o Diário de Pernambuco, era muito apreciada e conhecida. Ela foi atropelada no Recife em 1923, devido ao excesso de velocidade.30

As causas dos desastres são as mais desencontradas; para o chauffeur, foi o transeunte que passou a pouca distância do seu carro não lhe dando tempo para usar os freios ou, quando deles fez uso, não havia mais tempo para evitar o desastre ou, finalmente, foi o transeunte que se atirou propositadamente sobre o carro. 31

A desculpa dos chauffeurs, segundo o Dr. Cunha, era dos transeuntes, que possivelmente, ainda não estavam acostumados à presença dos carros e da velocidade. Entretanto, nem todos os acidentes foram culpa dos chauffeurs, pois havia aqueles que

26 SILVA, Jaílson Pereira. O Encanto da velocidade: Automóveis, Aviões e Outras Maravilhas no

Recife dos Anos 20. Dissertação de Mestrado em História. Recife: UFPE, 2002.

27

DIARIO DE PERNAMBUCO. Automobilismo. Recife, março de 1922. FUNDAJ

28 COUCEIRO, Sylvia Costa. Artes de viver a cidade. Op. Cit. P. 72.

29 DIARIO DE PERNAMBUCO. Alcançado por um automóvel. 14 de março de 1921. FUNDAJ 30

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Triste occorrencia. Recife, 20 de abril de 1923. FUNDAJ

72 aproveitavam de sua velocidade para se suicidarem, como a atriz Itala Ferreira, que se atirou na frente de um automóvel em movimento, numa Avenida no Rio de Janeiro.32

Os bondes elétricos também trouxeram um aumento no número de acidentes, pois as pessoas ainda não estavam acostumadas com a sua velocidade, podemos supor isto com base nas notícias do jornal Diário de Pernambuco. Como exemplificação, podemos citar o caso do jovem de 19 anos, José da Cunha, que caiu ao tentar sair de um bonde em movimento, tendo sofrido ferimentos contusos em ambas as rotulas33. Outro caso seria do popular Severino da Hora, só que este caiu quando tentava tomar um bonde em movimento. 34 Os bondes também serviram como meio para suicidar-se, como o caso de Luiz P.35, que se atirou na frente de um bonde elétrico da Várzea.

Contra o número de acidentes de carros, o governo buscou regularizar a situação, pois antes do novo Código de Trânsito de 1927, para tirar-se a carteira, era necessário solicitar e prestar um exame perante o Inspetor de Polícia. O novo código veio a realizar uma:

[...] fiscalização foi apertada, multas foram instituídas, e os infratores tinham seus nomes e a placa dos carros publicados nos jornais. Além das transgressões mais comuns, como o excesso de velocidade, trafegar na contra-mão e avançar sinal, algumas outras multas eram aplicadas aos que circulassem com automóveis com escape livre ou que desprendessem fumaça, assim como aos que apresentassem comportamentos considerados indevidos, tais como: “uso de chapéu ao volante, dormir no auto quando em

descanso, ou fumarem na direção.” 36

Aparentemente, este novo código trouxe melhorias, pois na tese do dr. Cunha, o mesmo menciona que quando se iniciou a regulamentação dos veículos em 1927, houve uma redução no número de acidentes. Mas devido ainda ao elevado número, foi criada a escola de polícia, ensinando as noções de tráfego, além da polícia, e que também houve no Estado a criação de uma escola de motoreiro e chauffeurs, seguindo as existentes em Paris. Contudo, ainda necessitava-se de certa evolução do código penal, pois o vigente (de 1890) não poderia supor a existência do automóvel e seus problemas de algo que viria 38 anos depois.

Para o Dr. Cunha era necessário realizar exames mais aprofundados. Dever-se-ia exigir do candidato a chauffeur exames médicos, que deveriam ser realizados “com todas as minúcias, visando não somente a moléstias infecciosas, com[o] também a

32

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Tentativa de Suicídio. Recife, terça 2 de junho de 1925. FUNDAJ

33 DIARIO DE PERNAMBUCO. Cahio de um Bond. 14 de março de 1921. FUNDAJ 34 DIARIO DE PERNAMBUCO. Queda de Bond. 07 de abril de 1921. FUNDAJ 35

DIÁRIO DE PERNAMBUCO. Tentativas de suicídio. Recife, 9 de junho de 1923. P. 2. FUNDAJ

73 vícios outros que altere a capacidade física ou mental.” 37

Deste modo, deve ser realizado, primeiramente, um exame respiratório; se abusa do álcool ou tabagismo; se possui moléstia contagiosa ou do sistema nervoso orgânico ou funcional; os antecedentes hereditários e caso de morte dos pais, além de moléstias ou vícios dos mesmos casos existam; se teve ou tem moléstias infecciosas ou venéreas; exames dos aparelhos circulatórios, urinários, fígado etc.; e finalmente exame do sistema nervoso. Só depois destes exames deveria o médico estabelecer a habilidade ou não para se obter a carteira de chauffeur. Após esta investigação da vida do indivíduo, ainda seria necessário um exame físico geral; exame Oto - oftalmológico; exame auditivo; e exames mentais (atenção, deliberação, inteligência, memória, tranqüilidade, emoção, etc.).

As multas não se restringiram aos automóveis, mas também aos bondes elétricos. Aparentemente, estas já vinham ocorrendo faz alguns anos, pois numa reportagem em “A Pilhéria”, traz-se uma entrevista do Dr. Engenio Gudin, um dos acionistas da Tramways. Segundo ele, o que estava matando a companhia eram as multas impostas pelos fiscais, em que “multa-se por tudo”.38

A velocidade que encantava era a que também matava, tanto que Sevcenko menciona que as pessoas precisavam sair às ruas com cautela e alarme, porque cortar o caminho poderia se tornar o meio mais rápido ao necrotério. Possivelmente, a velocidade dos meios de transporte foi incorporada ao novo hábito de caminhar às pressas e sozinho pelas ruas, que seria conhecido como “andar à americana”.39

Apesar deste lado negativo dos meios de transportes, estes serviram como facilitadores das relações, especialmente os carros, que tinham um poder de sedução, pois as moças olhavam e sorriam quando passava um rapaz num carro buzinando.

Uma revolução de costumes iniciou-se. De repente tudo estava mais próximo e a cidade parecia funcionar em ritmo mais acelerado. Os almofadinhas conseguiram uma nova arma de conquista que fulminava os corações: .As namoradas perguntam logo se temos automóvel. Se temos, o namoro está firmado. Se não temos é um muchocho. O automóvel transforma-se em emblema de prestígio e força, elemento importante nas conquistas amorosas. As famílias agora arriscavam passeios pelos arrabaldes mais distantes, como Dois Irmãos, Boa Viagem, marcavam piqueniques em cidades próximas, como Cabo, e em antigos engenhos das redondezas.40

37 CUNHA, João Vidal. O Problema Médico do Chauffeur. Op. Cit. P. 47. LAPEH

38 A PILHÉRIA. Os serviços da Tramways: Ouvindo pelo telegrapho o dr. Eugenio Gudin. Recife, 19

de maio de 1923. Nº 86. P. 10. DP

39 SEVCENKO, Nicolau. “A Capital Irradiante: Técnica, Ritmos e Ritos do Rio”. In: NOVAIS, Fernando

(dir.); SEVCENKO, Nicolau (org.). História da Vida Privada no Brasil: República: da Belle Époque à Era do Rádio. Vol. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. PP. 549-551.

74 Os automóveis passaram a serem objetos de

desejo, logo, possuir um significava status e prestígio. Dados os problemas do transporte coletivo e a associação dos mesmos com as camadas populares, os carros passaram a serem mais valorizados, assim, havendo uma crescente valorização do transporte individual sobre o coletivo.

Possivelmente, dado ao poder de sedução dos carros, como comenta Rezende, e do grupo restrito que

podia possuí-los, estes trouxeram sentimentos de violência contra aqueles que os possuíam, como podemos observar no processo criminal de 1923:

No dia 18 de outubro do ano corrente de 1923, pelas 18 ½ horas, o dr. Alfredo Bastos Tigre, de volta de um passeio, passava de automóvel com a sua esposa e filhos pela estrada de Boa Viagem, no lugar Beira Mar, distrito de Imbiribeira, quando notou dois homens parados no meio da estrada e por isso diminuiu a marcha do auto, fonfanando repetidas vezes, enquanto desviava o carro para a esquerda, afim de não ofender os citados indivíduos. Neste momento, o denunciado Manoel Sotero (?) vibrou para dentro do automóvel um golpe de faca [...]. 41

Apesar dos fatores negativos associados aos carros, estes causaram uma revolução nos costumes da época, até havendo uma moda especial para as senhoras andarem nos automóveis.

41 Processo Criminal de Alfredo Bastos Tigre. Caixa 851 da Comarca do Recife, 1923(MJPE).

Propaganda da venda do carro Ford

A Pilhéria 20/12/1924

Seção intitulada Moda. Diário de Pernambuco 21 de Agosto de 1921

75 2.3. O Consumo e a Beleza.

Antes mesmo da década de 1920, o capitalismo e o desenvolvimento das cidades urbanas proporcionaram no surgimento de uma nova mentalidade burguesa no Brasil, que ocasionou no surgimento de novas formas de convivência social.

Com o processo de modernização do país, não foram só as cidades urbanas que presenciaram transformações, mas também surgiram novos costumes em relação às pessoas e às situações. As modificações pela qual passava o mundo também vieram a atingir as mulheres, que se viram beneficiadas com a urbanização, que possibilitou na ampliação dos espaços de sociabilidade, bem como a presença feminina nas cidades urbanas.

Parte desta nova mentalidade devia-se as mudanças no consumo da população.

A grande expansão do intercâmbio comercial e financeiro com o exterior, desde a segunda metade do século XIX, vinha provocando grandes modificações no estilo de vida não apenas das principais cidades do Brasil, mas também de toda a América Latina, cujos padrões de consumo começavam a se espelhar nos europeus, especialmente Paris e Londres. Em consequência, ocorreram novos tipos de demanda social e econômica, sobretudo das classes dominantes, que desfrutavam a prosperidade gerada pelas exportações do setor primário. Para o atendimento dessa demanda organizam-se empreendimentos por iniciativa de alguns pioneiros locais e do capital estrangeiro para a implantação de infra-estrutura de transportes e, paralelamente, serviços de utilidade pública (telefones, transportes urbanos, iluminação pública, geração e distribuição de energia elétrica). 42

Com a expansão do capitalismo, possibilitada pela produção em larga escala, visando à intensificação do consumo, modificaram-se as formas de mecanização da produção dos produtos, tendo presente várias novas formas de fazê-las; melhoramentos na produtividade; e consequentemente veio a modificar o processo da divisão social do trabalho.

O imperialismo americano não exerceu somente sua influência no comércio brasileiro, mas também na formulação do modelo das sociedades de consumo e da cultura de massas, que veio a ser conhecido como o american way of life, possibilitado pela expansão da produção norte americanas e com o surgimento da cultura de massas nas sociedades capitalistas e urbanas. 43

A moldagem e a aceitação de um estilo americano de viver resultou da conjugação entre a produção em série e a promoção de vendas, por meio de uma tecnologia que explorava as possibilidades do rádio, do cinema e da imprensa. Novas formas de comunicação firmaram informações e valores comuns, enquanto se criavam cadeias de lojas e marcas registradas nacionais.

42 LORENZO, Helena Carvalho de. “Eletricidade e Modernização em São Paulo na Década de 1920”. Op.

Cit., p. 160.

76

O incentivo ao consumo alcançava os interessados em suas próprias casas por meio de catálogos de venda enviados pelo correio. Neles eram oferecidos comida enlatada e empacotada, roupas prontas para vestir, objetos de decoração, móveis, utensílios domésticos, brinquedos e muitos outros objetos que poderiam ser pagos à prestação, forma esta vista como propícia à melhoria do nível de vida da família. 44