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Saber Jurídico: Polícia e Judiciário na Apuração dos Suicídios

OS TRÊS PODERES:

3.2. Saber Jurídico: Polícia e Judiciário na Apuração dos Suicídios

O suicídio, como foi visto, foi alvo de condenação de várias religiões, que ainda o considerava como um crime. Esta visão não foi restrita somente às visões religiosas, pois o suicídio já foi considerado um crime em alguns países do Mundo Ocidental.

No Ocidente, a aceitação ou a condenação do suicídio variava entre diferentes regiões, países e períodos. Como exemplo, Roma Antiga, inicialmente aceitava o suicídio, com exceção do suicídio dos soldados e dos escravos, pois isto ia contra os direitos de propriedade, que naquele caso era contra o Estado e neste contra a privada. Todavia, durante os reinos de Diocleciano e Constantino houve uma mudança nessa perspectiva. Como o reino romano, no final do século IV e início do V, estava vivendo uma crise, tanto demográfica como econômica, houve a proibição ao direito de suicidar- se. Em 332 o estado começou a confiscar os bens daqueles que se suicidavam como uma forma de fugir de um julgamento. Desta forma, “gradualmente estabelecendo a conexão entre confisco e culpabilidade no suicídio”. 45

Com a condenação por S. Agostino, visto anteriormente, e com o crescente domínio da Igreja Católica “após o quarto século, quando [esta] tornou-se dominante, vamos assistir a uma mudança radical da percepção do suicídio.” 46

O mesmo, passou a ser uma ofensa não só contra Deus, mas também contra a natureza humana e a sociedade, chegando, segundo Minois, até ser mais severamente punido do que o

43

ALMEIDA, Alexander M. de; NETO, Francisco Lotufo de A. Religião e comportamento suicida – a cultura da morte. Op. Cit.

44 Trataremos nesta parte da questão do suicídio visto pelos Processos Criminais, presentes no Memorial

da Justiça de Pernambuco (MJPE).

45 MINOIS, Georges. History of Suicide. Op. Cit. p. 29.

46

CORRÊA, Humberto; BARRERO, Sérgio Perez. “O Suicídio ao Longo dos Tempos”. In: CORRÊA, H.; BARRERO, S. P. Suicídio: Uma Morte Evitável. São Paulo: Atheneu, 2006. P. 6.

133 próprio homicídio. Assim, foi na Antiguidade Clássica que se encontram as raízes do suicídio visto rigorosamente como um tabu. 47

Com a Idade Média, segundo Hooff, a sua maior inovação foi uma condenação sem reservas, que veio a influenciar novos códigos. Estes foram influenciados pela mentalidade católica, que negava o enterro aos suicidas. Desta forma, as autoridades seculares incorporaram nas leis as diretrizes católicas, como nas punições dadas aos corpos dos suicidas, que podiam ser enterrados em cruzamentos; ter as mãos cortadas e enterradas em outra localidade; ter o corpo queimado; ter o corpo jogado ao lixo, etc.

Segundo os Seabournes, o “suicídio na Inglaterra medieval era tanto uma preocupação religiosa como secular. Isto era um tempo particularmente importante na evolução das leis comuns e idéias legais a respeito de intenção e responsabilidade” 48

. O Estado inglês chegou a confiscar os bens do suicida, além do instrumento utilizado para o ato, independente à que pertenceste.

Havia outra razão por trás da condenação dos suicídios nos códigos, que era o fator econômico, pois o confisco dos bens “eram devidamente enaltecidas e tornadas economicamente rentáveis para o Estado por lei.” 49

Segundo Alvarez, foi também, durante essa época, que surgiu a idéia do suicídio como conseqüência de problemas mentais, pois desta forma justificava-se que o indivíduo não estava racional durante o ato e, portanto, não poderia ser condenado pelo mesmo. Os advogados utilizavam desta artimanha como uma forma de garantir o enterro do suicida e que seus bens não fossem confiscados.

Posteriormente, com a Renascença e a volta aos valores clássicos, começou-se a questionar a condenação ao suicídio, devido ao fato que iniciava um período de maior entendimento das individualidades humanas. A sociedade começou a questionar as leis que abordavam a relação entre o privado e o Estado. Sendo este o período em que teve início a uma busca racional para justificar o suicídio, como pela melancolia. Hooff atribui a esta mudança pelo simples fato que os mercantes ricos estavam preocupados com o incentivo do Rei aos legistas, dando-lhe o pagamento de 13 s. 4 d. para cada comprovação de suicídio, tendo, consequentemente, a tomado dos seus bens. 50

47 HOOFF, Anton J. L. van. A Historical Perspective on Suicide. In: MARIS, Ronald; BERMAN, Alan;

SILVERMAN, Morton. Op. cit.

48

SEABOURNE, Alice; SEABOURNE, Gwen. Suicide or accident – self-killing in medieval England: series of 198 cases from the Eyre records. In: British Journal of Psychiatry. 2001, 178, 42-47. P. 42

49 ALVAREZ, A. O Deus Selvagem: um estudo do suicídio. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. P.

61.

134 O efeito dos questionamentos fez que com, durante o Iluminismo, houvesse uma mudança na percepção do suicídio, que foi passando da condenação para a busca do entendimento do ato. Este foi cada vez mais sendo associado aos problemas das faculdades mentais, algo que, segundo Hooff, coincide com a expansão de hospícios no século XIX. Como foi visto no primeiro capítulo, este foi a época do surgimento da primeira teoria psiquiatria do suicídio, com Esquirol.

Possivelmente, esta nova mentalidade veio a influenciar o código penal do Império brasileiro, pela a sua não consideração do suicídio como um crime. O código penal de 1890 manteve essa percepção. Esse código ficou vigente até 1940. A possível razão para a manutenção desta percepção da não criminalidade do suicídio podia ser devido ao fato que o relator do código de 1830, segundo Filgueiras, foi chamado para ser da comissão de elaboração do novo código.

Apesar de não considerá-lo como um crime, o suicídio foi abordado na promulgação do código penal pelo decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890. O artigo 299 deste trazia que “induzir, ou ajudar alguém a suicidar-se, ou para esse fim fornecer- lhe meios, com conhecimento de causa: Pena – de prisão celular por dois a quatro anos.” 51 Podemos observar uma pequena mudança do código de 1830 para o de 1890 com relação ao suicídio, que foi na redução da pena, pois daquele o tempo de prisão era de dois a seis anos (Artigo 196 do código criminal do Império do Brasil, de 1830). Possivelmente, havia prisões com base neste artigo, apesar de não termos encontrado nenhum caso, no entanto, notamos que os suicidas muitas vezes diziam “que ninguém teve culpabilidade do fato.” 52

A lei previa crime para “quem induz, incita, aguça, compele à prática, cria a idéia [...] quem ajuda conferindo os meios materiais para que o ato seja praticado. O objetivo de um artigo prevendo estas circunstâncias como crime é exatamente preservar a vida humana.” 53

Baseando-se ainda no pensamento de Paulino, podemos notar que o artigo 299 só se referia ao suicídio, em si, e não a tentativa. Desta forma podemos supor que o indivíduo que induzisse ou ajudasse só seria punido caso o suicida realmente morresse.

Consequentemente, podemos entender porque o suicídio seria investigado pelas autoridades competentes. Além do mais, há duas formas de morte, segundo o direito

51 BRAZIL, CÓDIGO PENAL DOS ESTADOS UNIDOS DO. Disponível em:

http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=66049. Acessado em: 19 de outubro de 2010.

52 Processo relativo a Amara M. R. Caixa 773 da Comarca do Recife, 1929. (MJPE). 53

PAULINO, Naray J. A. Considerações Jurídicas sobre o Suicídio. In: CORRÊA, H.; BARRERO, S. P.

135 judiciário: a natural e a violenta. Esta consistindo nas mortes por acidente, homicídio ou suicídio, logo este se torna alvo de investigação, pois há a necessidade de determinar qual foi a verdadeira causa desta morte. 54 De fato como poderia haver o envolvimento de crimes nos casos de suicídios, logo, necessita-se de averiguação policial.

Segundo Michel Misse,

Em praticamente todos os países modernos, a persecução penal é precedida de uma fase preliminar ou preparatória, destinada a apurar se houve crime e a identificar o seu autor. A atribuição de conduzir essa fase preliminar pode ser exclusivamente da polícia (sistema inglês, na tradição da common law) ou do Ministério Público, que dispõe para isso da Polícia Judiciária (sistema continental, na tradição da civil law). [...]

No Brasil, e apenas no Brasil, encontramos uma solução não somente mista, mas ambivalente na persecução criminal: cabe à Polícia a investigação preliminar como também o aprofundamento das investigações e um relatório juridicamente orientado do resultado dessas investigações. Esse relatório, chamado “inquérito policial”, não deve ser confundido com a mera investigação policial, pois inclui depoimentos transcritos em cartório, além das necessárias peças periciais. É, assim, a “forma jurídica” que a investigação policial deve adquirir para chegar às demais instâncias judiciárias. É, portanto, uma forma de “instrução criminal”. 55

Através das notícias nos jornais, isto quando referentes ao suicídio e as tentativas, notamos que, no início da década de 1920, a polícia no mínimo tomava ciência dos casos. Segundo Marcos Bretas, a polícia, não raramente, permitia que a família realizasse o enterro, sem haver antes um necropsia do cadáver.

Neste período crescia “um grande fascínio pela idéia de investigação policial, como parte do grande espetáculo da ciência moderna.”56

Havia relatos no Diário de Pernambuco, inclusive, da polícia colhendo depoimentos dos que sobreviveram as tentativas e também das famílias e outros indivíduos. Quando o indivíduo deixava um bilhete ou carta, a polícia procurava também saber o contento da mesma. A relação da imprensa com o suicídio será retratado mais aprofundado no próximo capítulo.

Na década de 1920, houve também a abertura de processos criminais para apurar o fato. Vale observar que aqueles também estão relacionados às sociedades; aos contextos e às temporalidades em que estão inseridos, pois a idéia de crime e o modo como ocorre à investigação criminal consistem em fatores variáveis. Cabendo ao direito processual penal a finalidade de regulamentar a maneira como se investiga um crime,

54 PAULINO, Naray J. A. Considerações Jurídicas sobre o Suicídio. Op. Cit. P. 211. 55

MISSE, Michel. O inquérito policial no Brasil: Resultados gerais de uma pesquisa. IN: DILEMAS: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social. Vol. 3; nº 7; JAN/FEV/MAR 2010 (PP. 35-50). PP. 35- 36.

56

BRETAS, Marcos Luiz. Revista Policial: formas de divulgação das polícias no Rio de Janeiro de 1903. In: História Social, n. 16, primeiro semestre de 2009.

136 como se dava a comprovação da verdade e os critérios a serem utilizados pelo judiciário nas tomada das decisões. 57

Os processos criminais são fundamentalmente fontes oficiais, produzidas pela Justiça, a partir de um evento específico: o crime e seu percurso nas instituições policiais e judiciárias. Por conta disso, é fundamental que os processos sejam tomados também como “mecanismos de controle social”, marcados necessariamente pela linguagem jurídica e pela intermediação do escrivão. 58

Observamos nos anos 1920 que após uma investigação policial, ao apurar os fatos e na coletas de testemunhos, para, então, haver o arquivamento do processo por um juiz, dado a não condição criminal do suicídio. Contudo, antes de abordar os processos criminais, em si, torna-se necessário conhecer um pouco sobre a polícia da época e do Recife.

Segundo Bretas, a polícia consiste num órgão público moderno, que possui o seu próprio cotidiano, seguindo suas expectativas e até impondo valores, tanto pela persuasão como pela violência. Os “policiais confrontados com a sordidez da realidade/sociedade em que vivem podem reagir de diferentes formas, seja pela aceitação cínica, seja pelo intenso desajuste, seja ainda por vontade quase messiânica de transformar o mundo, pela ação ou pelas armas.” 59

A polícia algumas vezes aplicava suas próprias formas de castigo, como a prisão correcional, pela qual o indivíduo ficava preso sobre a custódia policial por um determinado tempo. 60 No Recife, “a interpretação da lei pelos policiais dava margem a muitas controvérsias. [...]. Portanto, para ser preso nas ruas do Recife nos anos vinte, bastava sair à noite, perambular sem destino, ou querer se passear e divertir-se [...].”61 Provavelmente, isso explica o fato de que algumas pessoas terem sido recolhidas ao xadrez por tentarem suicidar-se apesar de não ser considerado um crime pela legislação vigente.

O alvo de investigação da polícia era, quase na sua totalidade, o cidadão comum. Os casos referentes às classes superiores são em números bem menores, segundo Marcos Bretas. Eles aparecem mais nos casos como vítimas e, raramente, em casos de

57

GRINBERG, Keila. A história nos porões dos arquivos judiciários (processos criminais). In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de. (orgs.). O Historiador e suas Fontes. São Paulo: Contexto, 2009.

58 Idem, p. 126.

59 BRETAS, Marcos Luiz; PONCIONI, Paula. A cultura policial e o policial civil carioca. Disponível em:

http://www.comunidadesegura.org/files/aculturapolicialepolicialcarioca.pdf. Acessado em 11 de novembro de 2010. Pg. 151 e BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade: o exercício cotidiano da autoridade policial no Rio de Janeiro: 1907-1930. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

60

BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade. Op. Cit.

137 desordem. “O relacionamento entre a polícia e as classes superiores nunca foi confortável. As vítimas [elites] podiam recusar assistência médica, suicídios eram dispensados das formalidades médico-legais, e mesmo casos sobre os quais não pairavam dúvidas podiam ser sustados.” 62

Este fato da relação entre a polícia e a elite pode ser observado nos processos criminais no Recife da década de 1920. Isto porque, colhendo fontes no Memorial da Justiça de Pernambuco foram encontrados 14 processos referentes ao suicídio e tentativa na comarca do Recife neste período. Analisando as profissões dos suicidas, observamos que dos 14: cinco eram domésticas; um era presidiário, que antes era um auxiliar de comércio; um era jornaleiro; um cobrador; um pedreiro; um louco; uma menor de idade e os outros três não foram mencionadas. Podemos, então, notar que eram na sua maioria indivíduos da classe comum. Além do mais, cinco casos trouxeram se a pessoa era analfabeta ou não, destes quatro eram.

Outra questão, segundo Madel Luz, era que os cadáveres dos brancos não eram sujeitos à autopsia, algo observado nestes 14 processos, dos quais dois eram brancos (sendo uma menor de idade). Dos demais, uma era preta; dois não foram identificados e o restante foi de pardos, ou seja, nove pardos.

A polícia na cidade do Recife em parte crescia sua atuação devido ao receio das elites com essas camadas populares, pois estes eram tidos como perversos, violentos, e imorais. Logo, se precisava estabelecer a ordem, disciplina e trabalho. Esta mesma polícia também servia como uma forma de impor novos valores e comportamentos que se buscava na época com a modernização da cidade. 63

Buscava-se mudar os hábitos e costumes da população, como o hábito de carregar armas pelas camadas populares, mesmo nas ruas. Providências foram tomadas, com na apreensão das armas pela polícia. Isto ajudava na redução das brigas, pois, segundo Couceiro, as armas brancas eram as preferidas nos conflitos entre populares. Também podia ter tido um efeito no meio utilizado para suicidar-se, pois dos 14 processos criminais, em nenhum deles houve a utilização de armas de fogo, bem como as armas brancas.

Contudo, a polícia recifense da época tinha problemas de hábitos e costumes dentro da própria organização. Isto porque, aqueles contratados para manter a ordem,

62 BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade. Op. Cit. p. 166.

63 COUCEIRO, Sylvia C. Cidade, cotidiano e violência: cultura popular e polícia no Recife dos anos

1920. In: GUILLEN, Isabel C. M.; GRILLO, Maria A. F. (orgs). Cultura, cidadania e violência: VII Encontro Estadual de História da ANPUH de Pernambuco. Recife, UFPE, 2009.

138 disciplina e o trabalho muitas vezes vinham da própria camada popular, logo, muitas vezes seguiam os hábitos e costumes destas. Assim,

“Barbaridades da Polícia”, “Soldados Turbulentos”, “Patrulha Inconveniente”, eram algumas das manchetes das reportagens que reclamavam da violência dos guardas, das prisões ilegais, dos abusos de autoridade, do envolvimento em desordens e agressões, das bebedeiras e da convivência com criminosos, prostitutas e “vadios”. 64

Isto serve mais uma vez para explicar as prisões ilegais de alguns indivíduos que haviam tentado o suicídio, dado ao aspecto de abuso de poder da polícia recifense.

No entanto, medidas foram tomadas pelas autoridades para reverter esse quadro negativo da polícia. Destarte,

Novas instituições foram criadas, leis e códigos foram instituídos e o processo de investimento no que se denominou, na época, de “polícia de carreira” começou a ser viabilizado no sentido de instruir e formar agentes e policiais preparados, com uma postura menos violenta e repressiva, mais voltada para a prevenção e a garantia da aplicação da lei por outros meios. 65

Mudanças nos órgãos policiais já haviam sido buscadas já desde o início do século XX, pois havia a necessidade de modernizar o país, tornando-o mais civilizado. Desta forma, “sob a República serão outras as condições de expansão da Força Pública66

[...] devido às novas condições da própria estrutura econômica-social.” 67

A Força Pública, durante a república, passou por várias mudanças, buscando a profissionalização da atividade policial. Neste período também houve a criação da guarda civil, cuja finalidade era “diminuir a hostilidade do público de aparência diante do patrulhamento uniformizado e oferecendo uma polícia de aparência melhor para o centro renovado da cidade.” 68

Havia também a figura do chefe de polícia na instituição policial, que consistia num indivíduo bacharel em direito. Este seria o cargo mais alto, apenas tendo autoridade inferior ao presidente da República e a superintendência do Ministro de Justiça. Suas atividades era manter a ordem das instituições ligadas a Repartição Central da Polícia, porém estas atividades eram auxiliadas pelos delegados auxiliares. 69

Segundo Marcos Bretas, as idéias de uma carreira policial já existia no Rio de Janeiro desde o regulamento de 1907. Através deste tentou-se estabelecer as bases para

64 COUCEIRO, Sylvia C. Cidade, cotidiano e violência. Op. Cit. Pp. 42-43. 65

Idem, p. 44.

66

Segundo a mensagem de 1922 do Presidente da Província de Pernambuco, José Rufino, a Força Pública deste estado contava com dois batalhões de infantaria; 1 regimento de cavalaria; e uma secção de metralhadoras.

67

FAUSTO, Boris (dir.). O Brasil Republicano, v.9: Sociedade e Instituições. Tomo III. 8 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. P. 266.

68

Marcos Luiz. Ordem na Cidade. Op. Cit. P. 49

139 essa carreira, além da questão das ascensões aos delegados. As delegacias ainda podiam possuir escrivão, oficial de justiça ou ainda um escrevente para as delegacias da 1ª e 2ª entrância.

A carreira policial ou o polícia de carreira era uma necessidade no Recife, tanto que foi mencionada na mensagem do Presidente da Província em 1921, José Rufino Bezerra Cavalcanti, que veio a criticar o sistema de segurança e prevenção de crimes de Pernambuco como insuficiente. Assim, notamos que ainda no início da década de 1920, a capital pernambucana ainda estava atrasada da capital federal, em relação ao policial de carreira.

A polícia de carreira era vista como algo ideal, pois devido a esta forma, exigia- se indivíduos idôneos, além de uma boa remuneração. José Rufino, ainda em 1922, criticava que a administração policial de Pernambuco possuía defeitos orgânicos e formais. Para ele,

A tendência moderna é cercear a competência da polícia judiciária e estabelecer em bases científicas a polícia administrativa. O inquérito, como ainda usamos, vem a ser uma antecipação do juízo, um acúmulo de provas, afetando o caráter contraditório. Conviria adotar simplesmente diligências policiais, base da ação do ministério público, como fez o Projeto do Código de Processo Criminal para o Distrito Federal, em 1910. Tem produzido bons resultados em nações adiantadas o sistema de especialização nos serviços de investigação. 70

Ainda em 1923, o novo Presidente da Província, Sérgio Loreto menciona a necessidade da polícia de carreira, ainda na criação de delegacias no interior do Estado, no aumento no número de guardas civis; e uma reforma na Repartição Central da Polícia. Entretanto, mudanças na administração policial só ocorreram devido à lei nº 1770 de 25 de novembro de 1925, segundo a mensagem de 1926 de Sérgio Loreto. Houve, então, o desdobramento dos distritos policiais do Recife, que passaram de três para cinco, consequentemente, elevou-se a seis a quantidade de delegados, com isto, a execução dos serviços tornou-se mais breve e fácil.

A tão necessária polícia de carreira só veio a ser criada após a promulgação da lei nº 1844 de 31 de dezembro de 1926. O ano de 1927 também trouxe grandes