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3. SONHANDO O PROCESSO CRIATIVO – CORDEL DO SONHO SEM

4.2 A REFLEXÃO COMPARTILHADA DO PROCESSO

4.2.3 Os murais como avaliação

Outro aspecto interessante a ser ressaltado nesse processo foi a construção de murais não só para fins de registro do processo, mas também como aspecto de avaliação com a turma. O uso dos post-its nos sonhos individuais, papéis coloridos, cartolinas, foram alguns dos recursos para criação dos murais.

Os murais acabaram fornecendo informações para a construção dramatúrgica dos depoimentos e a adaptação do texto teatral e, além disso, foram utilizados no encontro final como estratégia de avaliação do processo juntamente com a roda de

conversa. Um momento precioso durante a roda de avaliação final com alunos foi o processo de releitura dos primeiros sonhos compartilhados no início do processo.

Figura 18 - Mural adaptado por mim a partir dos post-its da 2º rodada de sonhos dos alunos

Fonte: Acervo pessoal

Resolvi replicar as informações dos post-its num só mural a fim de facilitar o processo de leitura no encontro. Após uma leitura coletiva dos sonhos, seguimos para a construção do nosso último mural com base na seguinte pergunta: a partir do processo vivenciado, quais novos sonhos o teatro poderia ajudar a realizar?

Figura 19 - Confecção do mural do último encontro

Figura 20 - Mural finalizado

Fonte: Acervo pessoal

O cruzamento das informações dos sonhos iniciais, a roda de conversa sobre o processo e a construção de um novo mural visando novos sonhos através do teatro configuravam como interessantes mecanismos de avaliação do processo com os alunos. Nesse último mural25, os sonhos escritos e desenhados apresentavam na expressão deles um teor mais conectado com o vocabulário conquistado nas rodas de conversa, em que “ter mais imaginação”, “ajudar a me expressar melhor”, “respeitar a diferença”, eram objetivos que se conectam totalmente com os principios de uma coletividade saudável na turma. Ao acompanhar o percurso das atividades, tive a impressão que após vivenciar um processo, ou seja, sonhar e realizar algo desejado, os sonhos seguintes partem de um amadurecimento do próprio fazer, presente inclusive no modo de expor os novos sonhos.

Esse aspecto dialoga com a valorização da experiência como “capacidade de formação ou transformação. É experiência aquilo que “nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma.” (LAROSSA, 2001, p. 25-26). A experiência de sonhar e realizar já reinventa uma nova formar de sonhar e realizar.

25 Um quadro com novos sonhos foi construído para melhor visualização das informações e anexado ao Apêndice junto aos registros de processo.

A partir dessa experiência com murais, considerei importante assumi-los como um método de avaliação e quem sabe pensar sobre a escola incorporá-los nas diretrizes de ensino, contemplando na visualidade e no convite à criatividade o registro dos percursos criativos. Essa observação se aproxima, de forma tímida, da proposta que parte da criação de mapas como avaliação, da pesquisadora do ensino do teatro Marina Marcondes Machado, que problematiza:

Pouquíssimos pesquisadores brasileiros ocuparam-se do tema “avaliação em teatro”. Por que [não] avaliamos? Como avaliamos? E ainda: que acessos damos aos alunos a esses modos de avaliar [...] Avaliar por meio de mapas a brincadeira infantil e seus “avanços”, ou seja, ganhos imaginativos, teatralizantes de criação e companheirismo entre as crianças, parece um bom convite: rumo a topologias do faz de conta, observação minuciosa de regiões, redes e fluxos inventados pelas crianças, e possivelmente enriquecidos por pequenas intervenções adultas (MACHADO, 2016 p. 7)

Machado (2016) utiliza a “concretude plástica e onírica” dos mapas como um convite para que crianças e adultos imaginem com o corpo, construam essas cartografias em que realidade e ficção podem ser atravessadas. Os murais, em certa medida, também podem cumprir a mesma função. A pesquisadora realizou uma prática nesse teor com professoras da educação infantil26, no entanto é possível repensar a proposta na perspectiva da sala de aula com os alunos, como uns dos modos de avaliação de processo. A partir dessa prática é possível acompanhar o desenvolvimento do ponto de vista da linguagem teatral e verbal, mas também das inquietações estéticas, poéticas que possam ser pontuadas. “Fazer o que sonhar [...] ser o que imaginar” presente em um dos murais, são umas dessas inquietações que surgem no processo, e que pedem atenção para registro e reconhecimento de uma maturidade reflexiva que caminha para conscientização do aluno.

De acordo com Japiassu (2016), reunir os documentos de processo trabalhados com e pela turma como um portfólio, considerando-o como um atributo didático pedagógico de avaliação, gera um importante deslocamento na lógica tradicional do ensino na escola. Ao considerar esses registros, as singularidades do aluno e aspectos como autonomia e colaboração ganham destaque e importância na

26 Experiência descrita no artigo “MAPEIE-SE! E busque de modos criativos de ser e estar no mundo para relacionar-se com a artisticidade das crianças” de Marinas Marcondes Machado. Disponível em <https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/teatro3c/article/view/2372>

compreensão da avaliação em detrimento “da mera verificação retrospectiva dos saberes consolidados pelo aluno” (VILLASBOAS apud JAPIASSU, 2006, p. 17).

Nesse sentido, os murais poderiam se converter em instrumentos de avaliação do percurso criativo com os alunos, em que a trajetória de criação pode ser acessada e com ela revisitar o processo de criação a partir das dúvidas, inquietações e propostas. Rever as soluções encontradas para os problemas de percurso da criação e da aprendizagem (as escolhas de caminhos a seguir) pode ser um excelente modo de reconhecer um aprendizado significativo e de valorizar a experiência. Essa proposta encontra diálogo com a autoavaliação prevista nos PCNs, de modo que, a partir de uma estruturação de roteiro/guia feito pelo professor, o aluno possa reconhecer os pontos de aprendizagem e “expressar suas ideias e posteriormente comparar, reconhecer semelhanças e diferenças entre suas observações e as dos colegas.” (BRASIL, 1998, p. 55).