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Capítulo III. As reformas da Contabilidade Pública

3.3 Abordagem geral da reforma da Contabilidade Pública em Portugal

3.3.3 Os planos setoriais de contabilidade do Setor Público

O n.º 1 do artigo 5.º do POCP refere que serão aprovados, por portaria do Ministério das Finanças e/ou outros Ministérios competentes, consultada a Comissão de Normalização Contabilística da Administração Pública28, as normas necessárias à aplicação do POCP, as fases e os prazos para adaptação dos planos setoriais em vigor, “bem como os planos setoriais que se mostrem indispensáveis”. O n.º 2 do mesmo artigo estabelece que, no caso das autarquias locais, as normas e as adaptações do POCP, referidas anteriormente, seriam estabelecidas mediante Decreto-Lei.

Neste contexto, foram aprovados vários planos setoriais de contabilidade, com aplicação específica a determinados setores da Administração Pública, como a Administração Local, instituições do setor da Educação, instituições do Ministério da Saúde e instituições de Solidariedade e Segurança Social (Quadro 3.3)29.

28

O n.º 1.º do artigo 4.º do POCP estabelece, à semelhança do que existia à data para a contabilidade privada (Comissão de Normalização Contabilística), a criação da Comissão Normalização Contabilística da Administração Pública, cujas atribuições e competências vieram a ser estabelecidas mediante aprovação do Decreto-Lei n.º 68/98, de 20 de março (art.º 1.º):

‒ Coordenar e acompanhar a aplicação e aperfeiçoamento do POCP, bem como a sua aplicação setorial. ‒ Promover os estudos necessários à adoção de princípios, conceitos e procedimentos contabilísticos de

aplicação geral e setorial.

‒ Elaborar os projetos que impliquem alterações, aditamentos e normas interpretativas do POCP. ‒ Pronunciar-se sobre a aprovação, adaptação e alteração dos planos setoriais.

Refira-se que, entretanto, em dezembro de 2011 esta Comissão foi extinta (Decreto-Lei n.º 117/2011, de 15 de dezembro), sendo as suas atribuições integradas na Comissão de Normalização Contabilística e com o intuito de criar uma subcomissão para criação do Sistema de Normalização Contabilística Público (SNCP), conforme previsto na Portaria n.º 474/2010, de 1 de julho. Recentemente foi publicado Decreto-Lei n.º 134/2012, de 29 de junho que prevê então a criação de um Comité de Normalização Contabilística Público para os fins já referidos.

29

Salienta-se o facto de já existir, antes do novo modelo de Administração Financeira do Estado, planos de contas aprovados, designadamente o Plano Oficial de Contas para as Instituições de Segurança Social (Decreto- Lei n.º 24/88, de 29 de janeiro), o Plano Oficial de Contas para as Instituições Públicas de Solidariedade Social (Decreto-Lei n.º 78/89, de 3 de março) e o Plano Oficial de Contas para os Serviços Municipalizados e Federações de Municípios (Decreto-Lei n.º 226/93, de 22 de junho).

Havia também um projeto de Plano para as instituições do Ministério da Educação, designado Plano Oficial de Contas para as Instituições do Ensino Superior Público (POCIES), que viria a ser substituído pelo atual Plano Oficial de Contabilidade para o Setor da Educação – POC-Educação (Portaria n.º 794/2000, de 20 de setembro).

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Quadro 3.3: Planos setoriais de contabilidade aplicáveis à Administração Pública

Plano Diploma Âmbito de Aplicação

Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL) Decreto-Lei n.º 54-A, de 22 de fevereiro de 1999, com as alterações introduzidas pela Lei n.º 162/99, de 14 de setembro30, Decreto-Lei n.º 315/2000, de 2 de dezembro31 e Decreto-Lei n.º 84- A/2002, de 5 de abril32

Autarquias locais, áreas metropolitanas, assembleias distritais, associações de freguesias e de municípios de direito público e às entidades que, por lei, estão sujeitas ao regime de contabilidade das autarquias locais, como por exemplo as regiões de turismo (art.º 2.º).

Plano Oficial de Contabilidade para o

Setor da Educação

Portaria n.º 794, de 20 de setembro de 2000

Serviços e organismos do Ministério da Educação, bem como aos organismos autónomos sob sua tutela que não tenham natureza, forma e designação de empresa pública (art.º 2.º, n.º 1). Nos termos do n.º 2 do referido artigo, o presente plano aplica-se ainda a organizações de direito privado sem fins lucrativos cuja atividade principal seja a Educação ou que dependam, direta ou indiretamente, das entidades referidas anteriormente, desde que disponham de receitas maioritariamente provenientes do Orçamento do Estado e/ou dos orçamentos privativos destas entidades. Plano Oficial de Contabilidade do Ministério da Saúde (POCMS) Portaria n.º 898, de 28 de setembro de 2000

Serviços e organismos do Ministério da Saúde, bem como aos organismos autónomos sob sua tutela que não tenham natureza, forma e designação de empresa pública (artigo 2.º, n.º 1). De acordo com o n.º 2 do mesmo artigo, aplica- se também às organizações de direito privado sem fins lucrativos cuja atividade principal seja a saúde ou que dependam, direta ou indiretamente, das entidades referidas anteriormente, desde que disponham de receitas maioritariamente provenientes do Orçamento do Estado e/ou dos orçamentos privativos dessas entidades.

Plano Oficial de Contabilidade das Instituições do Sistema de Solidariedade e da Segurança Social (POCISSSS) Decreto-Lei n.º 12, de 25 de janeiro de 2001

Instituições do sistema de solidariedade e de segurança social, bem como às instituições do setor das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira (art.º 2.º).

Sintetizando, os planos setoriais aplicáveis à Administração Pública surgem na sequência do POCP, distinguindo-se deste, fundamentalmente pela inclusão de matérias específicas de cada setor. Na Figura 3.1 é efetuada uma análise comparativa do POCP e dos planos setoriais, onde se salienta, de modo resumido, as características comuns e específicas. Da análise da figura depreende-se a existência de variadas características comuns aos diferentes planos setoriais vigentes na Administração Pública portuguesa. Contudo, apesar de em menor número, observam-se algumas características específicas que justificaram um Plano separado. Por exemplo, o POCAL e o POC-Educação introduzem um regime simplificado mais adequado à

30

Introduz alterações nos prazos de implementação do POCAL, na natureza das entidades sujeitas apenas a um regime simplificado de contabilidade e correspondentes limites financeiros, e na identificação dos organismos da Administração Central responsáveis pelo apoio técnico e jurídico e pelas ações de formação do pessoal das autarquias locais.

31

Estabelece novos prazos de implementação do POCAL.

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59 realidade de algumas entidades33, bem como regras para o desenvolvimento da Contabilidade de Custos (no caso do POCAL) ou analítica (no caso do POC-Educação)34. Verifica-se também que uma outra matéria inovadora foi a introdução nos planos setoriais de regras para o desenvolvimento do Sistema de Controlo Interno (SCI), pelo POCAL, seguindo-se o POC- Educação e o POCMS35.

33

O POCAL (ponto 2) prevê um sistema simplificado de organização da contabilidade para as autarquias locais cujo movimento de receita seja inferior a 5 000 vezes o índice 100 da escala indiciária do regime geral da função pública. Este sistema baseia-se numa Contabilidade Orçamental como sistema contabilístico que recorre ao método de escrituração unigráfico, idêntico ao que se encontra previsto no Decreto-Lei n.º 341/83, de 21 de julho e Decreto Regulamentar n.º 92-C/84, de 28 de dezembro, ambos revogados pelo POCAL.

O POC-Educação prevê um regime simplificado, que exige apenas a elaboração de uma Contabilidade Orçamental (o plano de contas compreende apenas as contas da Classe 0 – “Contas do Controlo orçamental e de Ordem”), para os serviços e organismos que reúnam determinadas condições, desde que integrados num grupo público que assegure a respetiva expressão patrimonial (art.º 4.º):

a) Estejam dispensados de remessa das contas ao Tribunal de Contas; b) Não sejam dotados de autonomia administrativa e financeira.

A principal diferença entre o regime simplificado e o regime geral reside, sobretudo, no facto das entidades sujeitas ao regime geral estarem obrigadas a aplicar, de uma forma articulada, a Contabilidade Orçamental, a Patrimonial e a de Custos/Analítica.

34

A este propósito refira-se que, apesar do POCP alertar para a necessidade da implementação de uma Contabilidade Analítica, não define quaisquer regras para o efeito, estando implícito o uso da Classe 9.

35

Refira-se que o POCP não aborda o SCI na medida em que este se encontra instituído no Decreto-Lei n.º 166/98, de 25 de junho.

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Figura 3.1: Análise comparativa do POCP e os planos setoriais de Contabilidade Pública

Fonte: Caiado et al. (2007:19)

POCAL

Contabilidade de Custos Mapas previsionais (PPI) Classificação funcional Taxas de provisões para cobrança duvidosa

Princípios orçamentais Regime geral e simplificado Sistema de Controlo Interno

POCP