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2.1 Os programas de Iniciação Científica

2.1.1 Os programas de Iniciação Científica: vantagens e desafios

A Iniciação Científica tem um histórico mais favorável do que contrário. A primeira vantagem de um estudante de iniciação científica é a fuga da rotina escolar, pois ele tem a oportunidade de se agregar a professores e a disciplinas com que tem mais simpatia, além de desenvolver habilidades manuais, orais e escritas. Eles aprendem a ler as bibliografias de forma crítica, uma vez que o orientador pode lhe mostrar as fundamentações das diferenças entre os textos (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000).

Em geral, todos os estudantes que realizaram atividades de Iniciação científica têm melhor desempenho nas seleções para a pós-graduação e terminam mais rápido a titulação. Tanto se optar pela carreira científica ou profissional, certamente irá usufruir de melhor capacidade de análise crítica, maturidade intelectual e enfrentará melhor suas dificuldades (FAVA-DE-MORAES, 2000).

Autores renomados de vários trabalhos do assunto como, Azzi, Mercuri e Moran (1995), Bridi (2000) e Fava de Moraes e Fava (2000) são unânimes no que se refere às vantagens que as atividades de pesquisa agregam à vida acadêmica e profissional dos jovens pesquisadores, incluindo o índice de permanência no curso, a obtenção de habilidades em escrita acadêmica e a aproximação dos estudantes com seus professores.

Para Cury (2014), o Programa de Iniciação científica traz a integração entre ensino e pesquisa, além possibilitar um melhor acesso entre a graduação e a pós-graduação.

Outra vantagem citada por esse autor em sua obra, é a possibilidade de criação de espaços propícios para a seleções bem sucedidas em cursos stricto-sensu e a produção científica junto a docentes.

As autoras Maldonado e Paiva, (1999) reforçam em seu artigo denominado “A Iniciação Científica na Graduação em Nutrição: Possibilidades e Contribuições para a Formação Profissional” a importância da inserção dos universitários nos Programas de I.C pois, lhes permitem vivenciar práticas de aprendizagem além da grade curricular e permear a interação de professor-orientador.

As atividades de I.C. estimulam a juventude a ir além da rotina escolar, onde os alunos são limitados a uma atitude passiva, sem desenvolvimento de análise crítica, inibindo as ideias inovadoras. Dessa forma, os jovens pesquisadores deixam de aceitar passivamente as informações e transpô-las nos dias de prova, e querer ir além de apenas terminar o curso, pegar o diploma e tentar se inserir no mercado (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000).

Por outro lado, os Programas de I.C., eventualmente, podem apresentar algumas imprecisões.

Além vantagens descritas, muitos Programas oferecem auxílios financeiros (bolsas) aos alunos e, muitos utilizam essas verbas para custear livros, documentações etc. Alguns, porém, utilizam o recurso financeiro para ajudar a própria família ou para dispensar a mesada. Deste modo a Iniciação científica passa a exercer outra responsabilidade de natureza social, diferente daquela exclusivamente científica (FAVA-DE-MORAES; FAVA, 2000).

Dentre outras imprecisões, a mais grave, ainda segundo estes autores, é a decepção enfrentada por alguns estudantes, após demonstrar vontade e motivação na sua relação com a ciência. Muitos escolhem seu orientador com base na amizade, no tema preferido e na simpatia pelo ambiente e terá dificuldade de escolher um bom orientador, pois não é suficientemente maduro.

[...]É necessário ter cuidado com quem se vincula, pois muitos estudantes de iniciação científica são convertidos em “mão-de-obra barata”, deturpando o verdadeiro objetivo do programa. Os orientadores devem fazer mais pelos alunos do que o mero enriquecimento curricular. Devem contribuir para o seu enriquecimento pessoal e intelectual. (FAVA-DE-MORAES et al., 2.000, p. 74).

Outra possível imprecisão é a ocorrência de desintegração de estudantes de Iniciação Científica com outros alunos de níveis superiores (latu estrictu-sensu) e outros docentes.

Para Cury (2004), as bolsas de iniciação científica funcionando de forma isolada produzem avanços, mas sem a qualidade de uma integração institucional mais ampla.

Os pesquisadores também podem se sentir afetados em virtude da competitividade acirrada entre seus pares e pressão em produzir e publicar trabalhos e artigo científicos em detrimento da manutenção ou obtenção de financiamentos junto à órgãos de fomento (OLIVEIRA; FERNANDES, 2014).

Apesar da publicação e submissão de trabalhos não ser uma exigência explícita das Agências de fomento e também, não ser o único objetivo dos Programas de I.C., ainda é considerada uma das formas mais objetivas de se qualificar e quantificar os resultados.

Para Dias (2014), os resultados das pesquisas científicas devem ser publicados para que seja dado o conhecimento ao público, principalmente a outros pesquisadores da área. Por isso é imprescindível a publicação, desde a graduação.

Ainda de acordo com o autor, sobre a importância da publicação dos resultados, é afirmado o seguinte:

[...] A iniciação científica sem publicação dos trabalhos, é trabalho clandestino, não é ciência. Não se justifica o não envio para uma revista, pois existem de todos os níveis e assim são discriminadas pelo sistema webqualis, e há muitas que recebem trabalhos somente de iniciação científica (DIAS, p. 37, 2014).

Este procedimento, utilizado em universidades como a FAPESP confere proteção e credibilidade ao pesquisador. (FAVA-DE-MORAES et al., 2000).

À medida que a comunidade científica cresce, mais se exige mérito, tanto do projeto quanto dos pesquisadores. Em instituições jovens, em que ainda predominam pesquisadores que ainda não possuem títulos tão elevados, devem se agregar a outros pesquisadores consolidados que obtém projetos com financiamento (FAVA-DE-MORAES et al., 2000).

Os autores ainda relatam em sua obra os processos de seleção de bolsas se mostram cada vez mais “acirrados” e concorridos em decorrência dos critérios que são estabelecidos pelas Agências de financiamento, como o CNPq, que considera a produtividade do orientador e o desempenho acadêmico de seu orientado, conforme regulamentado na RN017/2006, em especial nos itens de 3.6.1 à 3.6.6 (BRASIL.CNPq, RN017/2006, 2017).

No que se refere à forma de financiamento dos programas de I.C., a prática pelas Agências de financiamento é realizada basicamente através da concessão de Bolsas aos alunos.

Dentre as agências de fomento responsáveis pela maior parte do financiamento de Bolsas de I.C. nas Instituições federais de ensino, destacam-se a CAPES, CNPq e FAP’s, além daquelas financiadas com recursos diretos da União, que são repassados às universidades.

Segundo Rodrigues (1996), as agências de fomento, inegavelmente, vêm desempenhando um papel importante na concessão de bolsas e auxílios à pesquisa para estudantes de graduação, contribuindo para a sua formação científica. Essas agências não se limitam apenas concessão de auxílio financeiro. Elas também implementam políticas para a formação científica e profissional.

Os órgãos financiadores regulamentam e estabelecem critérios para a concessão de bolsas e auxílios, delimitando a forma como devem ser as atividades de Iniciação científica e selecionando os perfis desejáveis dos orientadores, estudantes e aspectos da pesquisa (RODRIGUES, 1996).