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Os sentidos da análise: a arte de construir com retalhos

3 DOCÊNCIA EM SERVIÇO SOCIAL: A PRODUÇÃO CIENTÍFICA

3.4 Os sentidos da análise: a arte de construir com retalhos

O processo de produção deste trabalho foi curto devido o curto espaço de tempo no calendário acadêmico para a monografia do curso de graduação. Por consequência os resultados não podem ser analisados com a profundidade que a extensão da temática exigiria. Porém, consegue-se expor algumas análises e proposições que podem contribuir para um debate tão necessário ao Serviço Social.

Construí-lo foi desafiador. Pode-se comparar ao processo de uma artesã construir uma colcha de retalhos em que na sua pesquisa procura ordenar os retalhos de forma coerente, que possa ser apresentado e que ela cumpra sua função. Assim o foi. Os retalhos podem ser comparados às publicações sobre docência no Serviço Social num geral, as quais são tão poucas e pouco desenvolvidas. A preocupação enquanto pesquisadora é se a construção não será prejudicada em sua apresentação pela falta de publicações, ou seja, se a colcha servirá ao seu propósito.

O objetivo deste trabalho é “contribuir na discussão de como a docência em Serviço Social tem sido abordada e compreendida nas publicações produzidas pela categoria profissional em relação ao exercício docente, e sua importância no processo formativo”. E as questões que nortearam o processo foram: “Pensar a docência no Serviço Social leva a caminhos de indagar como a própria categoria tem se percebido, se a profissão tem produzido sobre a própria docência e também quais os direcionamentos estão sendo dados nas produções”29

.

Assim foram feitas pesquisas nos mais diversos locais na área de Serviço Social, porém a ênfase maior fora realizada nas revistas e em seus artigos. Os resultados obtidos foram oito artigos, os quais foram expostos no quadro 8 e categorizados no quadro 9.

29

A docência no Serviço Social tem sido abordada limitadamente apenas no que tange aos rebatimentos do capitalismo em seu cotidiano, por exemplo, o adoecimento, o produtivismo, aumento da carga de trabalho se tornando exaustiva, mudança das atividades exigidas, regime de trabalho. Demandas que são importantes e precisam ser discutidas, porém são limitadas porque não saem desse ciclo.

O processo do ser professor, do cotidiano em sala de aula, da construção de estratégias de ensino; do lidar com diferentes perfis de discentes; de como orientar graduandos, mestrandos e doutorandos em seus trabalhos de conclusão de curso analisando a conjuntura de inserção do aluno; de como elaborar uma aula; como melhor gerenciar o tempo e não levar trabalho para casa; ter horas de planejamento dentro das horas contratadas; da didática em si, como ela se relaciona com o Código de Ética do Serviço Social e o seu PEP; como funciona a relação docente assistente social e discente usuário do serviço; o perfil pedagógico do assistente social na docência; formação contínua para docentes; enfim, inúmeras questões que têm sido infimamente debatidas e aprofundadas em todo conjunto de publicações pesquisadas - não só os artigos, ou seja, um debate que não tem acontecido adequadamente na formação do profissional.

Esse cenário com tantas lacunas na formação para ser docente o leva ao autodidatismo, a solitude em não saber como lidar com determinadas questões que aparecem no cotidiano. É uma área sócio ocupacional junto com seus profissionais que têm sido esquecidos e carecem de atenção. Afinal de contas esses professores estão formando Assistentes Sociais país a fora e se esse ciclo não for quebrado, apesar de redundante afirmar isso, ele não mudará.

É possível que se esse espaço sócio ocupacional ao receber a devida atenção quanto às suas necessidades, os rebatimentos sofridos pelos docentes que são citados enfaticamente nos artigos analisados possam ser enfrentados e amenizados apropriadamente, pois as estratégias de enfrentamento serão elaboradas de maneira mais assertiva. Além do que essas estratégias poderiam minimizar alguns problemas como os expostos por Leite (2017, p. 211)

Esta rotina desborda largamente a carga horária diária/semanal de trabalho e invade a residência dos docentes, tomando-lhes os dias de descanso e as férias. Esta intensificação desmesurada, de acordo com Meis et al. ( 2003), propicia a ocorrência de: – Aumento do consumo de álcool, drogas e tabaco - provocando doenças crônicas, principalmente cardiovasculares e respiratórias. – Depressão - abuso de ansiolíticos, hipnóticos e neurolépticos. Suicídio. – Síndrome de Burnout - resultado de um prolongado processo de tentativas de lidar com determinadas condições de estresse, sem sucesso. – Assédio moral (psicoterrorismo ou acoso ou bullying) - um processo de

violência psicológica extremado contra o trabalhador, que pode ter relação direta com danos à sua saúde.

O aumento no consumo de álcool e as síndromes depressivas, mesmo quando percebidas, rapidamente são ocultadas pelos docentes e seus colegas de labor. No máximo, comentários são tecidos, in off, a respeito: “fulano está ‘derrubando’ uma garrafa por noite”; ou “cicrano (sic) está tomando ‘tarja preta’”. Estas ocorrências são de difícil caracterização como sequelas de uma intensificação brutal do trabalho, com a sua desumanização paulatina. Não obstante, trata-se de manifestações silenciosas. Porém, o efeito mais deletério destas (sic) mazelas é a negação, por parte dos docentes, de que elas existem. Mas é necessário sinalizar que estas manifestações patológicas, derivadas das condições de trabalho, só aparecem como tal ou como doenças ocupacionais após o advento da reestruturação produtiva, ou seja, trata-se de novas doenças, mesmo que tragam em si sintomas de antigas.

Os limites já estão postos e já foram citados. Precisa-se enquanto categoria debater quais são os passos necessários para seguir o melhor caminho. O primeiro passo é a conscientização e o início do debate. Após ele consegue-se construir as estratégias de enfrentamento individuais e coletivas. O Conjunto CFESS/CRESS tem iniciado em 2019 o Fórum Nacional em Defesa da Formação Profissional, uns dos temas trabalhados são exatamente a docência e a atribuição do Assistente Social Docente30. Algo demasiadamente importante para o início de tudo e interessante, pois ocorreu coincidentemente no período de finalização dessa monografia.

Algumas questões podem somar a discussão além das pontuadas acima sobre a prática do ser docente.

Como inserir o espaço sócio-ocupacional da docência no ensino superior desde a graduação? Como formar esse assistente social na pós-graduação para lecionar no Ensino Superior? Como poderiam ser realizados cursos de formação permanente? Ainda em tempo para aqueles que já lecionam seriam necessário cursos de reciclagem? Se sim, como funcionariam?

O conjunto CFESS/CRESS poderia elaborar resoluções em conjunto com os profissionais como as que já existem construídas para orientar e regulamentar a atuação do assistente social em diversas áreas. Como também a elaboração de subsídios como também já existem em outras áreas. Os da educação que já elaborados possuem e enfoque na educação em escolas de ensino básico.

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No último dia 31 de maio de 2019 foi realizado mais um seminário da série trabalho e a formação profissional no Serviço Social, o qual está sendo realizado pelo conjunto CFESS/CRESS. Esse encontro foi especificamente para debater as atribuições de assistentes sociais docentes (coordenação, direção, ensino e supervisão de estágio, entre outras). Tem-se então um encaminhamento em andamento. Fonte: <http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1576>.

A docência no Serviço Social tem um longo trajeto a ser trilhado. Este trabalho não se propõe a esgotá-lo mas sim a uma aproximação inicial e provocação para abrir o caminho à pesquisas posteriores.