• Nenhum resultado encontrado

Parte II – O Plano Baker e o Plano Brady

Capítulo 3: A Crise da Dívida

3.2 A crise do Capitalismo nos anos 1970 – Visão a partir do centro

3.2.1 A “Era de Ouro”, começo e fim

Ao terminar a Guerra, o mundo viu-se dividido em dois blocos. Na porção Ocidental, um grupo de países com economia de mercado comandado pela nova potência hegemônica, os Estados Unidos, vitoriosos em seu embate particular com a Alemanha a respeito da supremacia no novo ciclo que se iniciava. Na porção Oriental, um grupo de países com economia Planificada, comandado pela URSS. À margem das disputas destes dois blocos, um grande número de países subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, constituídos pela América Latina, e por países recém formados na África e na Ásia.

Na esfera econômica, a conferência de Bretton Woods, em 1944, garantia o restabelecimento de um padrão monetário de câmbio fixo, com conversibilidade das moedas fixada em Dólares americanos – a única moeda com lastro no momento.

Esta conformação da economia mundial era sobremaneira favorável aos Estados Unidos. A inovação tecnológica represada na “Era da Catástrofe” e finalmente liberada e os salários relativamente baixos, ainda em decorrência da crise da década de 1930, representavam um extraordinário aumento da produtividade e garantiam elevados lucros às empresas do país. Estas, por sua vez, mantinham níveis consideráveis de investimentos. O amplo mercado interno norte americano, a princípio, absorveu o aumento da produção. Pouco depois, na década de 1950, também o comércio internacional, em rápido crescimento, absorveu a produção e possibilitou a continuidade do crescimento econômico.

Ocorre que no Capitalismo, conforme a Escola Clássica, os retornos marginais são decrescentes – e o lucro tende a zero156. Segundo Saes e Saes:

No entanto, ao longo da década de 1950, as economias européias e a do Japão se dedicaram à recuperação de suas indústrias, inclusive com o apoio norte-americano (...). com custos menores, pressionaram os preços para baixo, reduzindo a taxa de lucro dos produtores dos Estados Unidos.157

Ou seja, à elevada produtividade dos Estados Unidos, somava-se agora a elevada e crescente produtividade da Alemanha e do Japão, porém com custos menores e alta lucratividade. Além de salários menores que os pagos nos Estados Unidos, estes dois países (Japão, sobretudo) dispunham de novas tecnologias e técnicas gerenciais.

156 Considerando uma Economia concorrencial perfeita. 157 SAES e SAES, História Econômica Geral, 2013, p. 537.

Como já vimos, nos Estados Unidos predominava o sistema Fordista, com proteção ao emprego e técnicas tayloristas de gestão. No Japão, isento das leis trabalhistas norte- americanas, surgiam técnicas gerenciais inovadoras como o “Just in Time”158, acompanhadas por salários menores. Como resultado, os lucros dos Estados Unidos, já na década de 1960, tornaram-se decrescentes (ver Gráfico 1, abaixo), enquanto o Japão experimentava um “boom” econômico e aumento dos lucros (ver Tabela 8, na seqüência).

Gráfico 1 - Taxa de Lucro nos Estados Unidos de 1959 a 2001 - em % - Fonte: GOMES, 2009, p. 90.

Tabela 8 - O superávit comercial do Japão de 1961 a 1973

158

Segundo Sandroni – “Just in Time (JIT): Também denominado Sistema de Produção Toyota, ou Sistema Kanban, e também traduzido como “produção apenas a tempo”, é um sistema de controle de estoques desenvolvido pela empresa homônima, no qual as partes e componentes são produzidos e entregues nas diferentes seções um pouco antes de ser utilizadas. A definição mais sintética deste sistema seria “a peça certa, no lugar certo, no momento certo”. A Toyota começou a desenvolver este sistema durante os anos 30, mas só iniciou sua difusão no final dos anos 50 e início dos 60. A principal razão que levou a sua adoção e difusão, nas palavras de Taiichi Ohno, vice presidente daquela empresa e um de seus principais

implementadores: “O sistema Toyota de produção (just in time-Kanban) nasceu da necessidade de

desenvolver um sistema de produção de pequenas quantidades de automóveis diferentes no mesmo processo produtivo” SANDRONI, Dicionário de economia do Século XXI, 1999, p. 316.

Por que os Estados Unidos simplesmente não melhoraram a tecnologia a fim de cortar os custos e enfrentar a nova concorrência?

Uma explicação é fornecida por Brenner:

La consecuencia principal para la economía de EE.UU. de la posesión de tanto capital fijo colocado recientemente fue desalentar el crecimiento de la inversión. A su vez, el reducido crecimiento de la inversión puede muy bien haber contribuido a la declinación de la productividad manufacturera que, em combinación con el rápido crecimiento salarial, se manifestaba en um problema de alza de costos en el sector manufacturero, tanto en forma absoluta como relativa. Desde mediados hasta fines de los años 50, los manufactureros de EE.UU. enfrentaron una restricción en la utilidades por parte de los salarios, pero esto no fue todo. Por primera vez en el siglo veinte, empresas que producían en EE.UU. se encontraron con que tenían que soportar costos de producción relativamente altos y una rentabilidad relativamente baja en um creciente número de líneas de manufactura, a medida que productores que emergían con posterioridad y que tenían su base en Europa y Japón combinaban niveles relativamente altos de tecnología con salários relativamente bajos. Esta tendencia no sólo redujo el incentivo para invertir em casa sino que también dio un mayor incentivo a las corporaciones multinacionales y a los prestamistas internacionales para invertir en el extranjero. El interés individual de los capitalistas de EE.UU. por obtener la mayor tasa de utilidades llevó, en general, a una tendencia al estancamiento de la economía doméstica del país, especialmente en el sector manufacturero.159

Ou seja, temos uma questão de Sunk Costs. Os altos salários e o elevado volume de capital imobilizado por grandes empresas do setor industrial dos Estados Unidos nos anos 1950 impediam o investimento em atividades e técnicas inovadoras. A inércia atuava reduzindo a taxa de lucro destas indústrias, o que afugentava novos investimentos maciços. Ao mesmo tempo, crescia a concorrência internacional favorecida por menores salários. Como havia maiores taxas de lucro no exterior, ocorria um afluxo de capital para indústrias externas, sobretudo na Europa e no Japão.

Movimento semelhante fora apontado por Arrighi como causa para a estagnação e subseqüente declínio do ciclo Britânico a partir de 1873, quando suas indústrias, com custos muito elevados e lucratividade decrescente vêem o capital nacional financiar o desenvolvimento industrial de duas novas potências emergentes – os mesmos Estados Unidos e a Alemanha160.

Sob este aspecto, a crise da década de 1970 seria somente o desfecho de uma crise maior que já existia, uma crise cíclica, provocada pela própria estrutura do Fordismo, escorada no

159 BRENNER, El desarrollo desigual, 1999, p. 77.

160 Ver o declínio do Ciclo Sistêmico Britânico em ARRIGHI, O Longo Século XX: Dinheiro, Poder e as

Keynesianismo que, ainda segundo Brenner apresentaria uma contradição fundamental, o favorecimento do trabalho em detrimento da lógica do grande capital:

Sin embargo, de acuerdo a la oferta y las contradicciones de las tesis del Keynesianismo, a la larga el éxito de asegurar el crecimiento econômico resultó autodestructivo porque la implementación de esos mismos arreglos que, hipotéticamente, significaron la expansión de la demanda que sostuvo el boom de la posguerra, a largo plazo tuvieron el efecto de inclinar el equilíbrio del mercado y del poder socio-político a favor del trabajo y en términos generales de la ciudadanía, contra el capital.161

Além desta explicação estrutural, Brenner aponta outro problema, mais de âmbito conjuntural, para explicar a crise dos anos 1970.

A origem do problema estaria nos acordos firmados na conferência de Bretton Woods e na economia dos Estados Unidos. Ao se determinar o retorno do “Padrão-Ouro”, agora sob a forma de “Padrão Dólar-Ouro”, fixava-se o câmbio de todo o mundo ocidental, tendo o Dólar como moeda forte. Os termos de troca, porém, não seriam favoráveis aos Estados Unidos ante Europa e Japão durante a Era de Ouro. Os custos internos maiores acompanhados por uma moeda valorizada, faziam o capital escoar dos Estados Unidos para outros países com termos de trocas mais favoráveis no período, via balança comercial ou mesmo financiamento direto. A consequência foi o acúmulo de moeda americana depositada em bancos comerciais da Europa, Oriente Médio e Japão nos anos 1960 – os chamados Eurodólares e Petrodólares162. A tabela 9 abaixo demonstra as dificuldades encontradas pelos Estados Unidos em sua Balança Comercial a partir dos anos 1960. O diagnóstico era de que estas dificuldades tinham origem na política cambial de Bretton Woods.

161 BRENNER, El desarrollo desigual, 1999, p. 27

162

Eurodólar: “Termo aplicado atualmente à moeda norte-americana que é depositada em bancos comerciais da Europa, Oriente Médio e Japão e que resulta dos gastos ou empréstimos feitos pelos Estados Unidos no exterior. Em decorrência do poder de conversibilidade das diversas moedas nacionais, o mercado dos eurodólares (ou euromoedas) acabou por englobar o conjunto das moedas estrangeiras escrituralmente depositadas na Europa, formando-se assim uma grande reserva monetária em disponibilidade no mercado internacional”. SANDRONI, Dicionário de economia do Século XXI, 1999, p 227.

Tabela 9 - Balança Comercial dos Estados Unidos com Alemanha, Japão e o Mundo de 1963 a 1973.

O excesso de moeda americana no exterior pressionava o Dólar a uma perda de valor. O câmbio fixo, porém, impedia uma desvalorização oficial da moeda. A conversibilidade (1 Dólar = 35 onças de ouro) era cada vez mais difícil de ser mantida.

Para seu funcionamento, assim como ocorrera com o Padrão-Ouro original do século XIX, o sistema monetário de Bretton Woods pressupunha forte cooperação internacional entre as nações. Ocorre que na década de 1970 este modelo já apresentava falhas e relações menos cordiais. Em 1971, o presidente Nixon suspendera a conversibilidade do Dólar em ouro – era o desfecho final de uma crise iniciada na década de 1960 com a França. A esta suspensão, seguiu-se a desvalorização da moeda americana e, em 1973, a decisão pelo fim do regime das taxas de câmbio fixas, sob verdadeiro embate internacional. De um lado, Japão e a Alemanha insistiam na manutenção do regime de taxas fixas e na retomada dos padrões acordados em Bretton Woods (a conjuntura favorecia enormemente a estes países) 163. De outro lado, os Estados Unidos, a quem a política cambial de então já não era vantajosa. A pressão americana por maior mobilidade de capitais foi decisiva e o padrão de Bretton Woods foi definitivamente sepultado em 1973, com a imposição de um regime de câmbio flutuante e nova consequente desvalorização do Dólar.

O final da convertibilidade do dólar, em 1971, mostrou que a economia (queda da taxa de lucro) e o Estado (crise fiscal) não conseguiam mais sustentar os chamados ‘trinta gloriosos.164

163 SAES e SAES, História Econômica Geral, 2013, p. 538. 164 GOMES, “Fase Neoliberal”, 2009. p. 89.

A década de 1970 é caracterizada por uma inflação internacional particularmente acelerada. Um primeiro olhar pode relacionar a inflação da década à súbita elevação dos preços do petróleo em 1973, dado que este teria provocado aumento de custos e desequilíbrios nas balanças comerciais dos países importadores. Porém, diante das dificuldades americanas anteriores ao choque em 1973 e às desvalorizações do Dólar e abandono do sistema de câmbio fixo, entendemos o choque do petróleo não como causa da crise da década de 1970, mas como reflexo da crise sistêmica que se configurava.

Neste aspecto, o primeiro choque do petróleo de 1973 pertence a todo um contexto maior. Sua ocorrência pode ser vista como parte do aumento dos preços internacionais provocado pela queda do Dólar em 1971.

A brusca elevação do preço do produto a partir de 1973 não ocorreu como um raio em céu sereno. Foi precedida pela desvalorização do Dólar a partir de 1971 e pela crise financeira correspondente. Os preços de todas as commodities se elevaram pois eram cotadas numa moeda que se desvalorizou, o dólar. 165

A superação do regime de câmbio fixo em 1973 deu um novo respiro à economia dos Estados Unidos. A desvalorização do Dólar ante o Marco alemão e ao Iene japonês reduziu a vantagem competitiva destes países, reduzindo suas taxas de lucros. Para retomar o crescimento e impulsionar a indústria, os EUA mantiveram a adoção de políticas econômicas de caráter Keynesiano associadas a restrições às importações de automóveis e aço do Japão, sobretudo:

Desse modo, foi possível aos governos americanos dos anos 1970 (…) adotar política fiscal de caráter Keynesiano (por meio de crescente déficits públicos) e políticas monetária não restritiva (com taxas de juros negativas). A desvalorização do dólar permitiu o aumento das exportações norte-americanas a fim de enfrentar o crescente déficit externo que levara à crise do dólar (o que seria impossível no regime de câmbio fixo).166

Com estas medidas, e apesar do primeiro choque do petróleo em 1973 e de uma recessão generalizada entre 1974 a 1975, a capacidade produtiva mundial se recuperou ao longo dos anos 1970, ainda que apresentando baixo crescimento agregado. No Japão e na Alemanha, menores lucros não impediram novos investimentos e países periféricos (México, Brasil e o Leste Asiático) surgem no cenário internacional como maiores produtores de bens industrializados.

165 SANDRONI, Traduzindo o Economês, 2003, p. 125. 166 SAES e SAES, História Econômica Geral, 2013, p. 538.

Nos Estados Unidos, os investimentos e a produção eram sustentados por um endividamento crescente da união – a política Keynesiana de déficits públicos.

Durante la segunda mitad de los 70 las administraciones de Ford y de Carter incurrieron en déficits que como porcentaje de PGB, triplicaron el nivel de finales de l960. Señalaron así a la economía privada que harían lo que fuese necesario para impedir que la economía cayera en una depresión y ayudaron a crear las condiciones para um incremento paralelo de préstamos en el sector privado. Entre l975 y l979, los préstamos públicos y privados tomados en conjunto alcanzaron niveles récords, promediando 19.2 % del PGB y echando las bases para un breve período de estabilidad y crecimiento.167

A estabilidade, porém, segundo Brenner, seria ilusória. Ao final da década de 1970, a política Keynesiana de déficits orçamentários havia chegado ao limite e cobrava seu preço sob a forma de aumento da taxa de inflação, crescimento da dívida pública e crescentes déficits em conta corrente. Além disto, a continuidade da desvalorização ameaçava a posição da moeda americana como moeda internacional. Em 1979, uma corrida internacional contra o Dólar parecia iminente. Naquele momento, “a continuidade da política norte-americana mostrava-se inviável e exigia algumas mudanças para fazer frente à crescente desvalorização do Dólar e à inflação que já atingia a casa dos dois dígitos.” 168

Esta percepção de desequilíbrio é reforçada pelo texto de Tavares (1985) que descreve o momento como de perda momentânea do poderio econômico norte-americano.

Na visão da autora, era evidente durante os anos 1970 até 1981 a perda gradativa da importância dos Estados Unidos na economia mundial. A autora vai além, e aponta que nos anos 1970, havia uma clara tendência a um novo arranjo do poder econômico internacional, a operar num modelo policêntrico (com EUA, Japão e Alemanha, em crescimento, como a nova configuração do centro sistêmico). Além disto, os fatos caminhavam para um sistema bancário privado a operar de modo totalmente independente do FED e a um sistema de filiais de transnacionais operando segundo os interesses intrafirma, o que nem sempre coincidiriam com os interesses dos EUA.169

Diante deste quadro, a política externa dos EUA, de 1979 em diante, teria sido voltada, sobretudo, para reverter esta tendência e restabelecer o poderio norte-americano na economia mundial.

167 BRENNER, El desarrollo desigual, 1999, p. 226. 168 SAES e SAES, História Econômica Geral, 2013, p. 539.

“Os desdobramentos da política econômica interna e externa dos EUA, de 1979 para cá, foram no sentido de reverter estas tendências e retomar o controle financeiro internacional através da chamada diplomacia do dólar forte”170.

Como conseqüência desta escolha, o que estaria por acontecer colocaria toda a economia mundial em risco, mas acabaria por revitalizar as finanças dos EUA e os colocaria novamente como potência hegemônica mundial inconteste. Tavares afirma, assim, que interesses geopolíticos estariam por trás da escolha pela política de valorização do dólar verificada a partir de 1979:

“Como é de conhecimento geral, na última reunião do FMI em, 1979, Mr. Volcker, presidente do FED, retirou-se da reunião, foi para os EUA e de lá declarou ao mundo que estava contra as propostas do FMI e dos demais países membros, que tendiam a manter o dólar desvalorizado e a implementar um novo padrão monetário internacional. Volcker aduziu que o FMI poderia propor o que desejasse, mas os EUA não permitiriam que o dólar continuasse se desvalorizando tal como vinha ocorrendo desde 1970, em particular depois de 1973 com a ruptura do Smithsonian Agreement. A partir desta reviravolta de Volcker, os EUA declararam que o dólar se manteria como padrão internacional e que a hegemonia de sua moeda ia ser restaurada. Esta restauração do poder financeiro do FED custou aos EUA mergulharem a si mesmos e à economia mundial numa recessão contínua por três anos. Quebraram inclusive várias grandes empresas e alguns bancos americanos, além de submeterem a própria economia americana a uma violenta tensão estrutural. O início da recessão e a violenta elevação da taxa de juros pesaram decisivamente na derrota popular de Carter.”171

Temos, então, que ainda no governo do democrata Jimmy Carter, o Federal Reserve (FED) opta por dar início a uma política de elevação das taxas de juros. O objetivo declarado era atrair recursos externos que invertessem a tendência à desvalorização da moeda.

A estratégia Keynesiana, segundo Brenner (em consonância com a percepção da Escola da Regulação), havia fracassado. Não só não havia conseguido evitar uma crise, como era apontada como a causa dela.

Nos Estados Unidos, em 1980, o novo governo republicano Reagan acenava com uma mudança de mentalidade. A solução para o impasse viria do receituário da Ortodoxia Monetarista. Soluções restritivas de combate à inflação e aos déficits foram implantadas ou intensificadas. Como consequência, a nova política econômica adotada pelos Estados Unidos na da década de 1980 primou pelo reforço na elevação dos juros, o que possibilitou a

170 TAVARES, A retomada da hegemonia norte-americana, 1985, p.6. 171 TAVARES, A retomada da hegemonia norte-americana, 1985, p.6.

recuperação do valor do Dólar ante outras moedas, porém com consequências desastrosas para as economias da América Latina, como veremos adiante.

No total, os juros reais dos EUA saltam de menos de 2% em 1979 para 7,5% em 1985. Os juros elevados atraíram capital para o país, como consequência, a moeda americana sofreu uma valorização, entre 1978 e 1985 de 46,5% ante o Marco alemão e 15% ante o Iene.

Como contraponto, as medidas de elevação dos juros e valorização do Dólar tiveram forte caráter recessivo. Nos primeiros anos da década de 1980, a economia dos Estados Unidos mergulha numa recessão. Para superar o problema, Reagan reduziu os impostos (dos mais ricos) e elevou os gastos (em armas, reduzindo os gastos com o social) 172. O resultado foi a elevação da poupança e a retomada paulatina do crescimento ao longo da década.

O novo modelo resultou no médio prazo na solução para a questão do crescimento americano e domou a inflação daquele país, mas nem tudo foi sucesso. A política restritiva também repercutiu nas contas externas. Os EUA, agora com moeda novamente valorizada, saem de um superávit de US$ 5 bilhões em 1981 para um déficit de US$ 119 bilhões em 1985 173. Para o resto do mundo, América Latina em especial, as consequências da nova política americana foram desastrosas, com impacto severo durante toda a década de 1980.

Concluindo esta seção, de um modo mais amplo, podemos ler a crise dos anos 1970 como originária das escolhas feitas no pós-guerra, ainda na década de 1940, e que teriam mesmo sustentado a “Era de Ouro do Capitalismo”. O câmbio fixo (Padrão Dólar-Ouro), a proteção ao emprego, elevados salários e os gastos públicos para incentivar a demanda e a produtividade (políticas Keynesianas), escolhas adequadas ao Fordismo não eram condizentes com os novos interesses do capital. Os choques do petróleo seriam elementos a mais, a agravar uma crise maior, sistêmica, causada por lucros decrescentes e crescentes déficits públicos no centro do sistema da Economia Mundo. A crise, originada e agravada nos Estados Unidos levaria toda a economia mundial a caminhar a passos lentos nos anos 1970.

Os déficits dos Estados Unidos e a inflação acelerada seriam contornados com políticas restritivas e consequente elevação dos juros. No centro da Economia Mundo, o Fordismo chegava ao fim em prol de um novo arranjo econômico, com recomendações por uma economia livre das “amarras” do Estado. A consequente elevação dos juros mostrar-se-ia bem

172 SAES e SAES, História Econômica Geral, 2013, p. 541. 173 SAES e SAES, História Econômica Geral, 2013, p. 541.

sucedida para os EUA ao longo da década de 1980, quando esta volta a apresentar substanciais taxas de crescimento.

Ao largo do território americano, a solução não foi tão simples, no entanto. A solução