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Outras Medidas de Mitigação para a Situação dos Produtores, Conservação do Solo e da

No documento FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 166-170)

CAPÍTULO 7. CENÁRIO ALTERNATIVO – A PROPOSIÇÃO DO USO ORDENADO

7.2. Outras Medidas de Mitigação para a Situação dos Produtores, Conservação do Solo e da

Além das alternativas produzidas a partir do modelo de corredores, este estudo constatou outras indicações que poderão vir a complementar a proposta para o uso optimal da bacia.

No tocante a conservação da água, percebeu-se, primeiramente e segundo os dados do Comitê e da Associação dos Produtores, que na bacia do Ribeirão Entre Ribeiros as estações hidrológicas e fluviométricas são raras e localizadas de maneira aleatória. Neste caso, a primeira medida seria a implantação de um número significativo de estações bem distribuídas (à montante e à jusante) e com representatividade espacial (no maior número de mananciais possíveis).

Dessa forma, seria possível fornecer o correto conhecimento da disponibilidade hídrica e gerar modelos para o planejamento das ações e tomada de decisão, auxiliando os usuários, inclusive e sobretudo, durante os períodos de escassez. Nesse sentido, o sistema de alerta de vazões mínimas deve estar em operação e ser de conhecimento de todos os participantes.

Além disso, o planejamento agrícola das irrigações no final de cada período chuvoso, prevendo situações de escassez, possibilitaria minimizar os conflitos no período de menor disponibilidade. Aspectos como: alternância de operação, horário de funcionamento, área plantada, época de plantio e demanda exata de umidade do plantio de acordo com um sistema “right time right quantity - RTRQ” (tempo certo quantidade certa – TCQC), são apenas algumas das possíveis alternativas para otimização do uso das irrigações na bacia, integradas ao sistema de monitoramento hidrometeorológico a ser modelado e implementado, evitando desperdícios.

Ainda em relação à conservação da água, outros métodos são essencialmente necessários como: (1) A conservação das zonas de recarga de aqüíferos, sobretudo nas Unidades Geoambientais 1 e 5 e atenção também para a Unidade Geoambiental 4, com a manutenção de condições favoráveis para que ocorra a infiltração e os cuidados contra a contaminação;

(2) Ressalta-se, mais uma vez, a necessidade de se conservar as Matas Ciliares (Unidade Geoambiental 7);

(3) Realizar um controle de irrigação cuidadosamente planejado para os anos de escassez pluviométrica;

(4) Produzir estudos para verificar a atual situação das barragens já implementadas e avaliar as condições para novas implantações levando em conta: (a) a distribuição dos usuários atualmente presentes no manancial, (b) a capacidade de geração de vazões significativas para regularização, (c) o uso do solo e a cobertura vegetal, (d) a geologia do sítio da barragem, (e) a topografia adequada para implantação da barragem de baixo custo e de boa capacidade de reserva, (f) e a demanda de água para jusante do barramento;

(5) Desenvolver uma alternativa para recobrir e recuperar os extensos canais de irrigação no intuito de reduzir a perda de água pela intensiva evaporação, em virtude das altas taxas de insolação e temperatura que predominam na bacia (figura 7.2);

(6) Participação do Comitê da Bacia do Rio Paracatu de forma que as ações, com vistas a um programa de conservação, tenham apoio jurídico institucional;

Figura 7.2 – Exemplo de um dos extensos canais de irrigação no Vale de Entre Ribeiros que necessitam de uma medida para diminuir as enormes perdas de água por evaporação.

Já no que diz respeito à conservação do solo, procurou-se enfatizar, primeiramente, os condicionantes inerentes ao processo de erosão. Nesse sentido, no intuito de evitar tal processo, este trabalho alcançou as seguintes recomendações mitigadoras para a região da bacia do Ribeirão Entre Ribeiros:

(1) Ocupar as áreas de solos expostos, quando for o caso com os corredores, com o objetivo de evitar a ação das chuvas, a perda universal, a perda de nutrientes, e conseqüentemente, processos erosivos como erosão laminar e acelerada;

(2) Recobrir terrenos com pouca disponibilidade de nutrientes para favorecer novas condições de desenvolvimento de húmus/matéria orgânica, seja por processos anaeróbicos ou aeróbicos e através da inserção de insumos de maneira adequada;

(3) Propiciar o aumento da infiltração no solo e, quando for o caso, a infiltração e recarga dos aqüíferos, no intuito de diminuir o efeito de escoamento superficial acelerado decorrente após as chuvas. Técnicas, como o plantio direto, têm produzido resultados satisfatórios;

(4) A monocultura ou mesmo o sistema contínuo de sucessão do tipo trigo-soja ou milho safrinha- soja, característicos na região, tendem a provocar a degradação física, química e biológica do solo e a queda da produtividade das culturas. Também proporciona condições mais favoráveis para o desenvolvimento de doenças, pragas e plantas daninhas. Desta forma, a técnica de “rotação de culturas”, passa a ser vantajosa, visto que consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais, em uma mesma área agrícola e possibilita vários benefícios. As espécies escolhidas devem ter, ao mesmo tempo, propósitos comercial e de recuperação do solo. Diversos estudos têm demonstrado os efeitos benéficos da rotação de culturas, tanto sobre as condições de solo quanto sobre a produção das culturas subseqüentes (Fontaneli et al., 2000). Além de proporcionar a produção diversificada de alimentos e outros produtos agrícolas, se adotada e conduzida de modo adequado e por um período suficientemente longo, essa prática melhora as características físicas, químicas e biológicas do solo; auxilia no controle de plantas daninhas, doenças e pragas; repõe matéria orgânica e protege o solo da ação dos agentes climáticos e ajuda a viabilização do Sistema de Semeadura Direta e dos seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária e sobre o ambiente como um todo. Para a obtenção de máxima eficiência, na melhoria da capacidade produtiva do solo, o planejamento da rotação de culturas deve considerar, preferencialmente, plantas comerciais e, sempre que possível, associar espécies que produzam grandes quantidades de biomassa e de rápido desenvolvimento, cultivadas isoladamente ou em consórcio com culturas comerciais. Nesse planejamento, é necessário considerar que não basta apenas estabelecer e conduzir a melhor seqüência de culturas, dispondo-as nas diferentes glebas da propriedade. É necessário que o agricultor utilize todas as demais tecnologias à sua disposição, entre as quais destacam-se: técnicas específicas para controle de erosão; calagem, adubação; qualidade e tratamento de sementes, época e densidade de semeadura, cultivares adaptadas, controle de plantas daninhas, pragas e doenças.

(5) Dentre alguns exemplos para a rotação de culturas (item 4), está a plantação de leguminosas e cana de açúcar no período de intervalo entre as colheitas para evitar a exposição do solo contra os processos intempéricos e, eventualmente, produzir ração para o gado;

(6) Foi verificada em algumas regiões, a presença de pequenas barragens conhecidas como “barraginhas” desenvolvidas pela EMBRAPA S.A. e que produziram um efeito altamente positivo na infiltração da água e, conseqüentemente, na diminuição do escoamento superficial, além de favorecer a capacidade produtiva do solo. Trata-se de micro barragens inseridas em locais estratégicos onde ocorre, predominantemente, o escoamento superficial. Nesse sentido, deve-se elaborar estudos para verificar novos locais para a implantação das mesmas.

(7) Desenvolver o sistema permacultural, uma vez que o mesmo favorece a reposição dos nutrientes do solo e a recuperação, até mesmo, de áreas degradadas (itens 1 e 2);

(8) Evitar queimadas sucessivas que acarretam no empobrecimento do solo devido à perda de nutrientes.

Todas essas alternativas mencionadas, referentes à conservação do bioma, da água e do solo, recairiam sobremaneira em benefícios para os produtores e ao futuro da economia local da bacia.

Além dessas medidas, como a introdução dos corredores ecológico-econômicos aliadas a outras também conservacionistas, verificou-se mais algumas características positivas que merecem menção como:

Maturidade dos colonos e dos projetos;

Proximidade dos mercados consumidores do Distrito Federal e do pólo de desenvolvimento de Uberlândia.

Reais possibilidades de diversificação da produção;

Aumento do mercado interno pelo crescimento populacional;

Potencial vislumbrado por investidores nacionais e estrangeiros evidenciado por missões de empresários que visitam a região.

Outras potencialidades observadas e possíveis metas a serem alcançadas, por parte dos produtores, concernem a:

Agregar valor aos produtos produzidos, eliminando ou reduzindo o sistema de “commodities”, pouco rentável e sujeito às oscilações do mercado.

Produzir pesquisas sistemáticas de espécies passíveis de estudos farmacoquímicos, em virtude da presença de várias espécies no bioma Cerrado que possuem tal aptidão.

Investir em bioenergia, como por exemplo, através da produção de biodiesel, haja visto a grande tendência de adesão e investimentos para esta matriz energética, bem como ao alto potencial de produção em função da região já contar com uma intensa presença de cultivares de oleaginosas. No entanto, deve-se implantar um programa sustentável, promovendo inclusão social e resguardando os ecossistemas, no intento de não reproduzir a pressão que outros ciclos realizaram sobre o meio ambiente.

Realizar estudos de mercado para verificar as necessidades e anseios da população local e regional, bem como conferir a demanda para os novos produtos a serem oferecidos e, desta forma, subsidiar o planejamento estratégico e a tomada de decisão.

No documento FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 166-170)