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O Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros e a Atual Situação de Grande Parte dos

No documento FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 144-147)

CAPÍTULO 5. CENÁRIO ATUAL DA BACIA – PRINCIPAIS

5.4. O Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros e a Atual Situação de Grande Parte dos

Como já mencionado, o Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros - PCPER é parte integrante do Programa de Desenvolvimento do Cerrado – PRODECER. Este último, foi resultado de uma política macroeconômica do governo federal que contou com uma parceria entre o Brasil e o Japão e que, na região, foi mediado pela Companhia de Promoção Agrícola - CAMPO. Tal projeto tinha como objetivo a expansão da fronteira agrícola, tendo em vista que as pesquisas agronômicas realizadas nas décadas de 1960 e 1970 já apontavam que os solos do Cerrado, após serem corrigidos (através de calagem e fosfatagem) e corretamente manejados se tornavam aptos à produção agrícola. Os Cerrados são caracterizados por apresentarem solos de gênese muito antiga, cuja fração argila é composta, predominantemente, por óxidos de ferro e alumínio que, em condições naturais, são de baixa capacidade de retenção de nutrientes essenciais às culturas se caracterizando como pobres e ácidos. Todavia, tais solos revelam, como vantagem para a exploração agrícola, excelentes qualidades físicas e a predominância de um relevo plano e suave ondulado, o que o torna mais susceptível à mecanização.

Em função das condições topográficas, o PCPER foi implantado na região da foz do Ribeirão Entre Ribeiros em 1983, tendo em princípio a exploração de lavouras de sequeiro, que devido às condições climáticas da região se mostraram inviáveis. Como a região conta com uma drenagem favorecida, foi aproveitado o “potencial” do curso d’água para a criação de projetos de irrigação.

Dessa maneira, o PCPER proporcionou à agricultura local uma evolução quantitativa e qualitativa, com destaque para a introdução de novas tecnologias e novas práticas de manejos das culturas.

Contudo, segundo relatos da Associação dos Produtores6, para que isso ocorresse foram

necessários grandes investimentos, sobretudo na fase inicial do mesmo. Ressalta-se ainda, que tal projeto, devido a sua magnitude, configura-se como de maturação e retorno em longo prazo, visto que nos anos iniciais de abertura dos Cerrados e de sua adaptação à produção de grãos, os níveis de produtividade são pequenos.

Soma-se a isso o fato de que a situação conjuntural e o cenário econômico de tal período foram extremamente desfavoráveis, tendo em vista uma inflação alta e galopante, combinada à elevação das taxas de juros, à redução da disponibilidade de crédito e, conseqüentemente, houve uma incapacidade de capitalização dos seus beneficiários.

6 Em 1985 os produtores se organizaram e fundaram a Associação dos Produtores do Entre Ribeiros. Esta conta, hoje, com 29 associados, tendo

como atual presidente o Sr. Eurípedes Tobias. Dentre os principais objetivos da associação, estão a defesa e o desenvolvimento da produção rural animal e ou vegetal, além de melhores condições de comercialização, entre outros. Dos associados, 51% são provenientes de outras regiões, e a

Além disso, ocorreu uma redução considerável do valor do subsídio ao crédito rural durante a década de 1980, bem como constantes desvalorizações dos preços dos grãos. No caso da soja, por exemplo, houve uma redução de 22,5% nesse período em relação à década de 1970, e tal tendência continuou até o primeiro qüinqüênio dos anos de 1990. A primeira safra do Plano Real (1994/1995), também penalizou a agricultura por considerar a correção monetária nos empréstimos, sem a contrapartida de correção dos preços mínimos. Segundo a Associação, naquela safra muitos produtos não alcançaram sequer o preço mínimo.

O crédito mais caro e escasso provocou a redução do ritmo da expansão da produção e produtividade em nível nacional, embora este problema tenha sido sentido mais agudamente pelos segmentos menos capitalizados.

Nesse contexto, a escassez de crédito e o agravamento dos problemas de inadimplência, levaram muitos produtores a buscar alternativas de financiar suas safras, principalmente através do processo conhecido como “soja verde”, parceria que, em princípio, foi bastante desfavorável aos produtores por embutir altas taxas de juros.

A construção de canais de irrigação e da rede elétrica em projetos coletivos /comunitários facilitou a situação dos condôminos pela diluição dos custos dessa obra de infra-estrutura. Vale ressaltar que o primeiro canal foi implantado a partir de 1988, sendo ampliado em 1993. Trata-se de 34 km com captação de 11.060 m³/hora. Os financiadores desse investimento foram os bancos BDMG e BNCC e, segundo a Associação dos Produtores, as dívidas junto a estes agentes financeiros estão equacionadas. Já em 1997 foram concluídas as obras de mais um amplo projeto de irrigação e eletrificação com custos estimados na ordem de R$14.000.000,00 e R$11.000.000,00 respectivamente. Tais obras foram financiadas a “fundo perdido” com recursos dos Governos Estadual e Federal, além do Banco Mundial compreendendo a captação de 27.360 m³/hora, estações elevatórias, canal de 43 km e rede elétrica.

Já a solução de securitização das dívidas melhorou, mas não resolveu a situação, uma vez que a maioria dos produtores já apresentava débitos superiores a R$200.000,00.

Os débitos relativos aos diversos investimentos vêm sendo renegociados ao longo do tempo, sendo pequeno o nível de amortização do estoque destas dívidas.

Atualmente, além do elevado endividamento e, conseqüentemente, da maior dificuldade em se obter recursos financiados, vêm se somando outros empecilhos à situação dos produtores. Dentre eles, está a previsão do início da cobrança da água, bem como novas condições para a outorga por parte do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu – CBH Paracatu.

Além disso, a falta de um planejamento mercadológico e a produção, em sua maioria, de produtos brutos, ou commodities, que não agregam valor, e que são mais susceptíveis às oscilações do mercado, reduzem ainda mais as perspectivas de melhoria para os mesmos. De forma geral, isto é um fato recorrente no histórico brasileiro, que costuma concentrar sua produção em torno de uma única cultura, como foram os casos dos ciclos da cana de açúcar, do café e, recentemente, da soja.

Agregam-se a tudo isso, os reflexos da intensa modificação dos sistemas naturais, como apresentados neste capítulo, que começam, também, a corroborar para uma crise hídrica e o aumento do comprometimento econômico em um prazo não muito longínquo na bacia.

Dessa forma, toda esta situação conjuntural demanda um grande esforço e a combinação de diversos fatores no intuito de atenuar tanto as distorções ambientais quanto econômicas. É nesse sentido que os projetos ecológicos-econômicos, já mencionados, e que serão tratados, com maior nível de detalhe e aplicação nos capítulos adiante, podem atuar.

CAPÍTULO 6

No documento FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (páginas 144-147)