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O Brazil era amplo demais para os seus tres milhões de povoadores em 1800. Além disto, á contiguidade territorial, delineada numa costa inteiriça, contrapunha-se completa separação de destinos. Os varios agrupamentos em que se repartia o povoamento rarefeito, evolvendo emperradamente sob o influxo longinquo dos alvarás da metropole, e de todo desquitados entre si, não tinham uniformidade de sentimentos e ideas que os impelissem a procurar na continuidade da terra a base physica de uma Patria.36

35TURIN, Rodrigo. Tempos cruzados: escrita etnográfica e tempo histórico no Brasil oitocentista. Tese

(Doutorado em História) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009, p. 26.

Embora este texto de Euclides da Cunha (1866-1909)37 não possa ser considerado etnográfico, o peso atribuído às questões raciais para a interpretação do país é evidente. Preocupado em traçar um panorama sobre a história brasileira desde a chegada da família real até a inauguração do regime republicano, Cunha atribui ao período monárquico o papel de manter a unidade de um amplo território geográfico que possuía características que poderiam tê-lo levado à fragmentação, pois sua população não forneceria as bases para a configuração de uma Patria.

Formações mestiças, surgindo de uma dosagem variavel de tres raças divergentes em todos os caracteres, em que as combinações dispares e múltiplas se engraveciam com o influxo differenciador do meio physico, de par com as mais oppostas condições geographicas, num desdobramento de 35 graos de latitude – chegavam ao alvorar da nossa edade com os traços denunciadores de nacionalidade distinctas.38

A grande utilidade do Império para Euclides da Cunha consistiu na manutenção desta difícil unidade, ao cumprir sua “missão histórica” quando Diogo Feijó “restaurou, por um milagre de energia incomparavel, a auctoridade civil”.39 As revoltas ocorridas durante o período regencial foram para Cunha efeito do problema da unidade nacional e do “crescente desequilibrio entre os homens do sertão e os do litoral”40, uma vez que “O raio civilisador, refrangendo na costa, deixava na penumbra os planaltos”.41 Entre disputas políticas, a guerra do Paraguai e a questão da escravidão o período monárquico cumpriu as etapas na evolução nacional desfragmentando-se ao atingi-las. O importante de se ater na 37Euclides da Cunha foi um intelectual de grande relevância no Brasil das primerias décadas do século XIX.

Nascido em 1866, particpou em 1887 da Campanha de Canudos, onde escrevia para o jornal O Estado de S.

Paulo. Dessa viagem resultou o livro publicado em 1902 intitulado Os Sertões. Nesse livro Euclides da Cunha

dividiu sua análise em três partes: A terra, O homem e A luta. Nessa perspectiva, Cunha efetuou uma análise dos homens que comporam Canudos vinculado a aspectos geográficos e raciais. Sua obra tornou-se paradgimática para os intelectuais brasileiros do período. Os Sertões pode ser considerado um trabalho etnográfico por suas características de pesquisa. Euclides foi membro do IHGB e da ABL. Para mais detahes de sua biografia ver: VENTURA, Roberto. Retrato interrompido da vida de Euclides da Cunha. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

38Idem. 39Idem, p. 33. 40Idem, p. 36. 41Idem.

interpretação euclidiana apresentada é o entendimento do autor em relação ao desenvolvimento do país a partir de uma perspectiva racial, as características das populações do Brasil seriam determinantes para a história do próprio.

O estudo publicado por Etienne Brazil é dedicado a um desses movimentos acontecidos no período regencial e a entender sua população: Os Malês. Trazidos pelo tráfico negreiro ficaram concentrados na Bahia e foram a parcela mulçumana entre aqueles que chegaram ao país. Essa foi a característica analisada por Etienne Brazil, pois, sua vida social “não discrepa muito das usanças dos outros negros” por esse motivo “somente as suas religiosidades merecem um capitulo especial”.42 Cabe destacar as considerações a respeito dos Malês como bárbaros e praticantes de uma religião não civilizada, assim como sua caracterização nesse sentido:

Cumpre notar, entrementes, que hoje em dia o numero dos Malês baixa cada vez mais – facto explicavel pelo desapparecimento progressivo dos Africanos puros, como tambem pela impossibilidade de uma religião rasteira e immoral manter-se num meio civilizado, com é a ínclita patriabrazileira. Em toda a União federal apenas se pódecifral-os á cousa de algumas centenas. De engenho bronco, imbuidos em necedades e pequenices, os Malês são inchados de insulsa soberba. São fartos de odio contra os brancos e os christãos. Com uma ignorancia crassa e demasiada, agarram-se, por contencioso fanatismo, a umas desenxabidas praticas.43

Mesmo não sendo muito numerosas, as representações a respeito dos negros seguiram essas diretrizes nas publicações da Revista. Além do texto sobre os Malês, encontramos mais um artigo de Étienne Brazil intitulado O Fetichismo dos negros do Brazil e outro de Nina Rodrigues (1862-1906)44 sob o título de A Troia Negra. Neles os

42BRAZIL, Étienne. Os Malês. Revista do IHGB, vol. 72, 1907, p. 75. 43Idem, p. 74.

44Mariza Corrêa em seu livro Ilusões da Liberdade analisou a trajetória do médico Nina Rodrigues e sua

importância para o campo intelectual brasileiro das décadas seguintes. Nina Rodrigues foi tratado como uma escola por seus seguidores, que utilizavam a autoridade do médico como espaço de legitimização de suas próprias pesquisas, com destaque para Afrânio Peixoto e Arthur Ramos. Neste livro a autora demonstra como a área de medicina e antropologia se desenvolveu no Brasil desde as últimas décadas do século XIX até meados do XX. CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. Bragança Paulista, Edusf, 1998.

temas do feitichismo, da animosidade e da inferioridade dos negros que vieram ao Brasil assumem o primeiro plano de suas análises. Por exemplo, no seguinte trecho de Rodrigues:

O que se apura, em resumo, das descripções conhecidas é que em liberdade os negros de Palmares se organizaram em um Estado em tudo equivalente aos que actualmente se encontram por toda a Africa ainda inculta. A tendência geral dos negros é de se constituirem em pequenos grupos, tribus ou estados, em que uma parcellavariavel de auctoridade e poder cabe a cada chefe ou potentado.45

É importante notar que os três estudos procuram analisar esses povos historicamente em momentos do passado do país com o intuito de compreender a participação deles nos destinos da nação. O tema de A Troia Negra é a formação do quilombo de Palmares e seu desenvolvimento no período colonial, enquanto Étienne Brazil se dedicou as revoltas acontecidas no período monárquico. Em ambos os casos o que estava em pauta era a contribuição ou empecilho causado por estas populações ao progresso nacional rumo à civilização brasileira:

A todos os respeitos menos discutivel é o serviço relevante prestado pelas armas portuguezas e coloniaes, destruindo de uma vez a maior das ameaças á civilização do futuro povo brasileiro, nesse novo Haiti refractario ao progresso e inacessível á civilização, que Palmares victorioso teria plantado no coração do Brasil. E nesse sucesso não foi producto de uma acção fácil e sem perigo. Custou ao contrário à tenacidade e previdência do Governo colonial grandessacrificios de homens e de dinheiro.46

O elemento africano, portanto, é considerado um entrave à formação de uma civilização nos trópicos, se em relação aos indígenas o debate era intenso e contemplava variadas posições, não parece ser esse o caso quando essas populações são o objeto das análises. A noção de civilização em sua concepção iluminista compõe um projeto francês universalista e humanista de interpretação do mundo. Segundo Denys Cuche o conceito de civilização de origem francesa contrapôs-se ao conceito de cultura (kultur) alemão. O primeiro pressupunha a unidade da humanidade e sua diferenciação segundo o estado 45RODRIGUES, Nina. A Troia Negra. Tomo LXV, parte I. Revista do IHGB, 1912, p. 240.

evolutivo em que se encontra, enquanto kultur privilegiava a visão particularista das sociedades. Civilização, neste entendimento, seria o estágio mais avançado no caminho evolutivo da humanidade em que se encontrariam apenas algumas sociedades europeias. Para o autor essas noções de civilização e cultura foram importantes no século XIX na conformação das ciências sociais nascentes e da forma como definiram seus olhares sobre outras populações.47 No caso brasileiro os caminhos percorridos na busca de um posicionamento para a questão também foram decisivos para o desenvolvimento das ciências sociais no país.

Nesse contexto as disciplinas da etnografia e da história começam a ser empreendidas no estudo desses outros do discurso nacional em construção e encontra no IHGB seu lugar de produção por excelência. Apenas a partir da década de 1870 outros lugares começam a pesquisar a questão racial sob outras perspectivas, notadamente o Museu Nacional. No entanto, as pesquisas desenvolvidas em antropologia física pelos cientistas do Museu, que ainda teriam grande repercussão nas primeiras décadas do século posterior, não abandonaram as noções de civilização e progresso. Ao contrário, associaram tais ideias com as perspectivas biológicas em voga.

No livro o Espetáculo das Raças Lilia Moritz Schwarcz dedicou-se ao amplo panorama de teorias raciais que foram utilizadas nas interpretações no Brasil entre as décadas finais do século XIX e as primeiras do XX. Localizando o início da recepção de tais ideias na década de 1870 a autora argumenta que a preocupação dos brasileiros a respeito da mestiçagem tornou-se durante o período “uma questão central para a compreensão dos destinos da nação”.48 As concepções evolucionistas associadas à biologia geraram modelos analíticos pautados na noção de raça de uma forma determinista que, embora paradigmáticas, resultaram em diferentes leituras.

Para Schwarcz a discussão no século XIX entre monogenistas e poligenistas foi amenizada a partir da publicação de Charles Darwin em 1859 de a Origem das espécies, daquele momento em diante o novo paradigma evolucionista foi capaz de aglomerar os dois 47CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 2002.

48 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 18.

grupos. Os primeiros seriam aqueles ligados a uma tradição cristã e que acreditavam numa origem una da humanidade, assim como os escritos iluministas que olhavam os homens como iguais em sua origem e nas possibilidades de progresso. Por outro lado, os poligenistas podem ser caracterizados como os que afirmaram que diversos grupos deram origem aos homens. Nessa segunda perspectiva as diferenças eram consideradas irredutíveis, a humanidade seria formada por várias raças.49

Entre os intelectuais brasileiros pensar essa posição de um país mestiço e suas possibilidades de progresso rumo à civilização tornou-se objeto de investigações científicas, obras literárias e políticas públicas. Em todas as instituições de ensino e pesquisa do país o tema foi contemplado: museus etnográficos, faculdades de direito e medicina e Institutos Históricos. Nesse sentido pensar a constituição étnica da população brasileira era uma condição para o entendimento das possibilidades de futuro da nação.

Prova da força desta forma de pensar é o texto apresentado por Alberto Rangel (1871-1945) que se propunha a observar os Aspectos geraes do Brasil, e ao analisar suas características geográficas e históricas não deixou de reservar espaço para reflexões sobre os habitantes das regiões do Brasil.

Nos lagos do Canuman continuou o caboclo a arpoar o peixe, a campear o gado nos ‘lavrados’ de Monte Alegre. Não se despresoucousa alguma. Ha gente no Iça, esqueletica, tiritando de febre; ha no Xapuri com bem estar as cores da saude. O colono veio de toda parte. Da Syria é o bufarinheiro lacustre; o taverneiro é do Algarve ou Beira Alta; tal seringueiro desembarcou de Hong Konk, aquelle outro é natural de Minas. No mesmo barracão dão-se rendez-vous todas as raças. O indioUaupichana trabalha com o Marselhez e o preto de Barbados; o aviador pode ser Allemão, o aviado Cearense.

Mas o nortista do Brasil é o alienigena de maior numero. A massa mameluca não subiu na transmigração de ha trinta annos a esta parte os rios da Havea e da Castilloa; ficou no baixo Amazonas assistindo ao desaparecimento de Gurupá, Alemquer, Silves e Urucará, colhendo uns kilos de cacau, umas barricas de castanha,

entaniçando umas folhas de tabaco, flechando pirarucus e tartarugas, trocando-os pelo sal e pelas chitas vistosas das cunhamucús.50

Alberto Rangel apresenta a composição étnica das populações de todas as regiões do país, colocando-a ao lado de dados geográficos como clima, solo e vegetação, criando um conjunto explicativo das características regionais brasileiras que considera os aspectos raciais como centrais para explicar o país. Caboclo e mameluco, assim como outros termos utilizados para as demais regiões, eram categorias recorrentemente utilizadas em classificações biológicas das populações e expressavam normalmente uma perspectiva que levava em consideração as características físicas do indivíduo. Assim como o estudo de Euclides da Cunha não podemos considerar Aspectos geraes do Brasil como um trabalho etnográfico, mas o mesmo demonstra que pesquisas mais amplas que buscavam responder a um questionário histórico e geográfico também levavam em conta questões tipicamente etnográficas, como uma explicação válida para compreender o desenvolvimento do passado nacional.51

Portanto, apenas compreendendo a dimensão que a etnografia adquiriu no período ao se preocupar com a formação de um povo é que podemos verificar a sua utilização em diversas áreas como nos textos citados. A partir desta perspectiva a etnografia se aproxima de outras áreas como a história regional e o folclore, como é possível verificar no exemplo a seguir.

Rodolfo Garcia inicia a apresentação de seu Dicionário argumentando que este seria um trabalho de anotação ao Novo Diccionario da Lingua Portuguesa, publicado por Candido de Figueiredo em 1899. Neste sentido, compreende sua obra como um “inventário das palavras”,52 de “pesquisas etimológicas e da variação de sentido e sua distribuição geográfica” inserindo-se, por conseguinte, em uma tradição de estudos dedicados às línguas brasileiras que buscavam valorizar os regionalismos como evoluções da língua, ao invés de 50RANGEL, Alberto. Aspectos geraes do Brasil. Revista do IHGB.Tomo LXXVI, parte I, 1913, 466-467. 51Diversos são os estudos que embora não possam ser considerados estritamente etnográficos, fizeram uso

deste conhecimento ou das teorias raciais como explicação para as mais variadas questões. Não foi o intuito no nosso trabalho realizar um levantamento exaustivo deste tipo de produção, citamos neste capítulo os textos de Euclides da Cunha e Alberto Rangel para demonstrar que a utilização desta perspectiva como categoria explicativa não se limitou e foi muito mais ampla que nos artigos listados em nossa pesquisa.

52 GARCIA, Rodolfo. Diccionario de brasileirismos (peculiaridades pernambucanas). Revista do IHGB.

corrupções da mesma. Garcia elenca uma série de trabalhos lexicográficos realizados desde meados do século XIX e que apresentam as seguintes divisões: vocabulários brasileiros, vocabulários regionais, de palavras indígenas e o livro não lexicográfico As Aves do Brasil escrito por Emilio A. Goeldi, mas benemérito para o autor em todos os aspectos.53 Interessante notar que os estudos elencados por Rodolfo Garcia colocam lado a lado a linguagem nacional, regional e indígena.

Garcia utiliza-se da divisão de Rodolfo Lenz para pensar o caso brasileiro e delimita quatro itens que contemplam os estudos de brasileirismos: I – Termos luso-brasileiros; II – Termos pan-americanos; III – Termos pan-brasileiros; IV – Termos locaes, ou regionaes. O primeiro refere-se àqueles termos originários do antigo português que caíram em desuso em Portugal, mas permaneceram no vocabulário do Brasil; os termos pan-americanos, por sua vez, são aqueles compartilhados por diversas repúblicas americanas e que tiveram suas origens muitas vezes ligadas às línguas indígenas, termos que seriam difíceis de ter estabelecidas com propriedade os motivos de sua expansão em longos territórios pela própria dificuldade em conhecer sua história:

Um meio haveria, apresentando sérias garantias de exactidão: seria o que se baseasse nas migrações dos differentes povos através do continente que separa os dous mais vastos oceanos; infelizmente, até hoje não disse ainda a sciencia a sua ultima palavra sóbre tão magno problema, e cada ethnologo nos apresenta o seu systema mais ou menos fundamentado, mas todos elles entre si inconcilliaveis. Assim, enquanto um não se apresenta que a todos os mais suppere, julgamos preferível deixar o facto em si mesmo, sem a preoccupação de suas remotas causas.54

53 As referencias listadas por Rodolfo Garcia foram: Antonio Alvares Pereira Coruja, Collelçãode -

seVocabulos e Frases usados na Provincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul, 1852; Braz da Costa Rubim, Vocabulario Brasileiro para servir de complemento aos diccionarios da língua portuguesa, 1853; José Veríssimo, Palavras de origem tupi-guarani usadas pela gente amazonica e em pratica corrente na região, incluído nas nasScenas da Vida Amazonica, 1886; Paulino Nogueira, Vocabularioindigena em uso na Provincia do Ceará, 1887; Antonio Joaquim de Macedo Soares, Diccionario Brasileiro da LinguaPortuguêsa, 1888; Antonio Alves Camara, Vocabulario dos termos termostechnicos de construção naval, annexo à obra Ensaio sobre as construcçõesnavaesindigenas do Brasil, 1888; BeaurepaireRohan, Diccionario de Vocabulos Brasileiros, 1889; J. Romaguera Corrêa, Vocabulario Sul Rio Grandense, 1898; Vicente Chermont de Miranda, Glossario Paraense, ou Collecção de vocábulos peculiares á Amazonia e especialmente á ilha de Marajó, 1905; Alfredo de Carvalho, Phrases e Palavras, 1906.

Dessa forma, diante da impossibilidade de definir as causas etnológicas que levaram ao uso em diferentes lugares de termos vindos de diversas línguas indígenas, resta compreender os próprios termos. Sem uma explicação que fosse plausível para Rodolfo Garcia, o autor se limita a elencar palavras provenientes do chamado mexicano ou nahuatl que possuía grande influencia na linguagem brasileira, como exemplo podemos listar: abacate, cacau, chicote, chocolate, galpão e tocaio que além do Brasil estiveram presentes em países Colombia, Equador, Chile, Venezuela, Argentina, Peru, Mexico e Costa Rica. Outras línguas de procedência indígena importantes foram o Antilhano, Haitiano, Quechua (Incas), Mapuche e Tupi-Guarani. A essas deveria ser somado o elemento africano que, embora considerado menos importante, também teve sua influencia no continente.

O terceiro item foi dedicado aos termos pan-brasileiros que são aqueles falados em todo o território nacional devido à importância da língua portuguesa associada ao tupi- guarani e às línguas africanas.

O portuguez era, sim, a língua official, como ainda hoje o hispanhol no Paraguai, a língua do commercio nos portos do litoral, nas cidade e villar mais importantes, e no seio das familias propriamente portuguezas; mas ainda ahiapparecia o tupi, falado pelos famulos, quase todos índios, ou de descendencia índia - informa o dr. Theodoro Sampaio, que accrescenta ser até meiado do século XVIII a proporção entre as duas linguas faladas na colônia mais ou menos de tres para um, do tupi para o portuguez.55

Por fim, Rodolfo Garcia divide as regiões do país a partir das peculiaridades da língua utilizada em cada uma dessas localidades para, então, chegar ao objetivo do seu estudo: as particularidades da língua falada no estado de Pernambuco. Conciliando fatores externos e internos na composição da língua em níveis continental, nacional e regional fica evidente o caráter cultural atribuído à mesma e sua relação com diferentes grupos populacionais advindos de territórios americanos e africanos. Assim, o desenvolvimento da língua na concepção de Garcia esteve intrínseco aos caminhos de tais povos.

Euclides da Cunha, Alberto Rangel e Rodolfo Garcia demonstram que questões etnográficas são encontradas em trabalhos de natureza muito diversas que utilizaram as 55Idem, p. 649-650.

questões abordadas por tal saber como explicação para seus respectivos questionários. Da mesma forma, Etienne Brazil e Nina Rodrigues foram os responsáveis nas páginas da Revista por abordar de forma explícita aspectos das populações africanas que foram transportadas para o Brasil. A partir desses autores é possível argumentar que a etnografia não se limitava aos indígenas, embora essa vertente ainda fosse majoritária, mas como fio