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Outros resíduos estudados para serem incorporados na pavimentação no estado do Ceará

2.7 INCORPORAÇÃO DE RESÍDUOS NA PAVIMENTAÇÃO

2.7.2 Outros resíduos estudados para serem incorporados na pavimentação no estado do Ceará

Dentre os rejeitos estudados no Brasil e exterior nos últimos 10 anos, com a finalidade de emprego em pavimentação, podem-se destacar: o resíduo da construção e demolição (RCD), a escória de aciaria, a fibra de coco, a borracha de pneus, a areia de fundição, as cinzas, o material fresado, etc. No entanto, no presente trabalho, resolveu-se restringir e citar apenas algumas das pesquisas realizadas no estado do Ceará.

Estudos vêm sendo desenvolvidos, ao longo dos últimos anos, pelo Laboratório de Mecânica dos Pavimentos (LMP), da Universidade Federal do Ceará (UFC), com a finalidade de incorporar resíduos na construção de pavimentos, tanto em camadas de revestimento como em camadas granulares.

Castelo Branco (2004) realizou estudo sobre o emprego da escória de aciaria (também chamada de Agregado Siderúrgico - AS), gerado por uma siderúrgica localizada no Ceará, em revestimentos asfálticos. Em sua pesquisa, analisou os resultados obtidos para misturas do tipo Concreto Betuminoso Usinado à Quente (CBUQ), onde foram usados como agregados a brita e a escória. Essa autora concluiu que há possibilidade do emprego do AS em pavimentação, embora o teor de ligante na mistura tenha sido superior ao obtido para mistura produzida com brita.

Santos Neto (2007) estudou o emprego do AS visando melhorar as propriedades de um solo de baixa qualidade para uso em pavimentação, mostrando que o resíduo tem viabilidade técnica e econômica para ser empregado na construção de camadas granulares

mais nobres (base e sub-base) de um pavimento. Portanto, o uso do AS deve ser incentivado como forma de promover a preservação dos recursos naturais, quando utilizado em substituição a brita, bem como proporcionar o desenvolvimento sustentável.

Silva (2009) estudou o RCD puro também chamado agregado reciclado, material oriundo da britagem de postes e outras estruturas de concreto. O programa experimental adotado pelo referido autor constou da realização de ensaios de caracterização, ensaios ambientais, ensaios mecânicos de resistência e análise da imprimação betuminosa. As misturas estudadas foram elaboradas com dois solos naturais, um argiloso e outro arenoso, ambos provenientes da Região Metropolitana de Fortaleza. Os teores de agregado reciclado utilizados foram de 40%, 50% e 60% em massa das misturas compostas. Na imprimação, utilizou-se o asfalto diluído CM-30 e o CAP/BIO (composição feita com cimento asfáltico e biodiesel com a intenção de minimizar os impactos ambientais causados pelo uso de asfalto diluído).

Os resultados ambientais encontrados por Silva (2009) mostram que o RCD não é um resíduo perigoso, não trazendo riscos à natureza e à saúde. Com relação aos ensaios mecânicos, no tocante ao CBR, os solos naturais apresentaram baixos valores de índice de suporte, sem o emprego do agregado reciclado. Já as misturas, tanto com o solo arenoso como com o argiloso, obtiveram valores de CBR’s que possibilitavam seu uso em camadas de base de pavimentos. O mesmo ocorreu para os ensaios de módulo de resiliência (MR) e resistência à compressão simples (RCS) adaptado (sem imersão). Com relação à imprimação, todas as misturas foram aprovadas à luz do ensaio de penetração.

Lima e Barroso (2009) investigaram o emprego do RCD misto, constituído de telhas, tijolos, concreto, brita etc., visando sua aplicação em camadas de base e sub-bases de pavimentos. Foi também verificado o efeito da adição de 2% de dois agentes aglomerantes (cal e cimento) no comportamento mecânico do RCD. O procedimento experimental adotado constou de ensaios de caracterização do RCD, ensaios ambientais (lixiviação e solubilização) e ensaios mecânicos (CBR e RCS). Os resultados encontrados mostraram que o RCD misto não é um resíduo perigoso. Destaca-se que em alguns ensaios de caracterização, como o de abrasão Los Angeles, o RCD misto apresentou melhores resultados do que a brita. Com relação ao CBR, o valor obtido sem a utilização dos agentes aglomerantes foi semelhante ao encontrado para a brita, comprovando a boa qualidade do resíduo. Já com o emprego do cimento e da cal, atingiram-se altos valores de CBR’s próximos a 200%. Para o ensaio de RCS, os valores encontrados para as misturas foram, também, superiores (cerca de 150%) aos obtidos para as misturas com brita.

Por se tratar de um resíduo, o RCD, tanto misto como puro, se constitui em uma alternativa viável econômica e ambientalmente, pois possui custo inferior a brita, agregado comumente utilizado no estado do Ceará, e possibilita a preservação dos recursos naturais por substitui-la.

Cavalcante et al. (2010) buscaram empregar o agregado siderúrgico (AS), em camadas de base e em revestimentos do tipo tratamento superficial (TS). O programa experimental constituiu na realização de ensaios de caracterização, ensaios mecânicos para os materiais a serem utilizados na camada de base. Já para emprego no TS, foram realizados ensaios de caracterização e desgaste Wet Track Abrasion Test (WTAT) para revestimentos contendo brita convencional e AS. Os resultados mostraram que para as misturas solo-escória houve grande aumento nos valores de CBR e bom comportamento resiliente. No tocante ao TS, os resultados apontaram para a possibilidade de uso do AS em substituição a brita, pois os desgastes dos revestimentos confeccionados com escória foram inferiores aos apresentados para aqueles que continham brita. Os autores também fizeram uma avaliação econômica e comparativa entre o uso da brita e da escória. Os resultados mostraram que o uso do AS, em substituição ao agregado mineral, ocasionaria uma redução nos custos de construção de uma via.

Pereira (2013) avaliou o emprego da escória de aciaria ou agregado siderúrgico (AS), que é um resíduo da indústria siderúrgica, em revestimentos do tipo tratamento superficial. Os resultados encontrados pelo autor, quando comparados os desempenhos no simulador de tráfego de laboratório entre o agregado mineral (brita) e o agregado siderúrgico, o desempenho do AS com emulsão convencional foi considerado bom. Indicando o bom potencial desse material para pavimentação.

Vasconcelos (2013) estudou o emprego do AS em revestimentos delgados do tipo cape seal. Esse tipo de revestimento, não possui uso conhecido no estado do Ceará. Trata-se da junção entre dois tratamentos de superfície, sendo estes: o tratamento superficial e o microrrevestimento (MRAF). Em sua concepção, com a união entre TS e MRAF, buscou-se apresentar um revestimento com as boas qualidades de ambos.

Após a realização de todo o programa experimental de sua pesquisa, Vasconcelos (2013) verificou que os corpos de prova, fabricados com agregado siderúrgico e submetidos ao simulador de tráfego de laboratório, apresentaram resultados melhores do que o agregado mineral quanto à avaliação ao desgaste, deformação e rugosidade, indicando assim a potencialidade do AS em tratamentos do tipo cape seal e tratamento superficial.

O Laboratório de Mecânica dos Pavimentos também estudou a borracha de pneus que incorporada ao ligante asfáltico proporcionou melhora de suas propriedades, permitindo a sua aplicação em campo conforme pode ser visto em Lima (2008). Esse resíduo já foi aplicado em construção de vias conforme pode ser encontrado em Pinheiro e Soares (2005).

Dentre as diversas pesquisas, pode-se citar também o trabalho de Vale (2007) que estudou a incorporação de fibra de coco em misturas asfálticas do tipo Stone Matrix Asphalt (SMA). Essa autora concluiu que a utilização da fibra é possível, proporcionando assim uma destinação mais nobre para esse resíduo.

Por fim, percebe-se que a utilização de resíduos em obras de pavimentação pode ser uma alternativa viável, do ponto de vista econômico, técnico e/ou ambiental. Desde que estudos voltados para o desenvolvimento de técnicas de reincorporação de rejeitos e aprimoramento das existentes venham possibilitar o emprego desses nas obras viárias em prol da preservação do meio ambiente e da sustentabilidade.