• Nenhum resultado encontrado

4.4 RESULTADOS DA TERCEIRA ETAPA

4.4.2 Propriedades ambientais para a mistura escolhida na terceira etapa

Após a realização da avaliação da eficácia técnica do uso do cimento como agente estabilizante/encapsulante, deu-se prosseguimento com a avaliação ambiental das misturas confeccionadas para a terceira etapa da pesquisa observando o que está exposto na NBR 10004. Foram realizados ensaios de Lixiviação e Solubilização para as misturas que continham cimento no teor de 5%. Esse teor foi escolhido em função dos bons resultados apresentados na avaliação técnica e por empregar um teor médio de cimento, visando não

tornar o emprego desta técnica oneroso. A intenção era avaliar todas as misturas contendo cimento, porém por se tratarem de ensaios com custo elevado, isso não foi possível.

A seguir são apresentados os resultados dos ensaios ambientais para a mistura SN15SCDP5Cim em diferentes tempos de cura (14, 28 e 56 dias), com isso se buscou avaliar o comportamento dos parâmetros presentes nos anexos F e G da NBR 10004 ao longo do tempo, bem como a eficácia da técnica de encapsulamento para o resíduo estudado. A Tabela 4.12 apresenta os principais resultados obtidos e um comparativo com os resultados obtidos para o SCDP e a mistura SN15SCDP.

Tabela 4.12 – Principais resultados obtidos na avaliação ambiental da solubilização.

PARÂMETROS

Alumínio Índice de fenóis Fluoreto Surfactantes(LAS) MISTURAS Resultado VMP* Resultado VMP Resultado VMP Resultado VMP

SCDP 0,735 0,2 < 0,01 < 1,5 2,1 0,5 Sn15SCDP 0,137 < < 0,58 Sn15SCDP5Cim (14 dias) 1,1 0,019 1,8 0,64 Sn15SCDP5Cim (28 dias) 0,667 < < 0,58 Sn15SCDP5Cim (56 Dias) 4,7 < < 1,1

*VMP: Valor Máximo Permitido conforme anexo G da NBR 10004. Fonte: Próprio Autor.

Na Tabela 4.12 são apresentados somente os principais resultados no tocante ao ensaio de solubilização. Com relação aos resultados obtidos para o ensaio de lixiviação, todos os parâmetros satisfazem aos limites estabelecidos no anexo F da norma regulamentadora, e por esse motivo não foram apresentados. No tocante aos resultados de solubilização obtidos para os parâmetros contidos no anexo G da NBR 10004 com relação ao Alumínio, com 14 dias de cura, houve um acréscimo no valor obtido em relação ao SCDP e à mistura SN15SCDP, ou seja, o nível desse parâmetro foi superior. Já para o nível de Surfactantes o valor obtido de 0,64, foi levemente superior ao da mistura SN15SCDP que foi de 0,58.

Também para o tempo de cura em análise, outros parâmetros excederam os limites permitidos, sendo estes o índice de fenóis e o Fluoreto, sendo que estes se mantiveram dentro dos limites aceitáveis tanto para o SCDP quanto para a mistura SN15SCDP. Porém, há de se destacar que mesmo excedendo os limites desses parâmetros, Fenóis e Fluoreto, os valores ultrapassaram os limites máximos por uma leve margem, 0,009 para o primeiro e 0,3 para o segundo.

Para o tempo de cura de 28 dias, observa-se que houve um decréscimo do nível de Alumínio na mistura cimentada em relação ao nível obtido com 14 dias de cura para a mesma

mistura, porém o valor obtido ainda foi superior ao obtido para a mistura SN15SCDP. Também houve um decréscimo no nível de Surfactantes quando se faz o mesmo comparativo, sendo que a concentração obtida para o período de cura de 28 dias é igual a obtida para a mistura SN15SCDP, ou seja, sendo está a mesma mistura sem o cimento, indicando que o aglomerante, para essa substância e para esse período de cura, não gerou ganhos no tocante ao encapsulamento. Com relação aos níveis dos demais parâmetros que foram observados para a cura de 14 dias, estes se mantiveram abaixo do máximo permitido como todos os outros contidos no anexo G.

Já para o período de cura de 56 dias, observaram-se apenas dois parâmetros, sendo estes os mesmos presentes após a cura de 28 dias para a mistura com 5% de cimento, bem como no SCDP e mistura sem cimento, em desconformidade. O valor obtido para o Alumínio, 4,7, é superior a todos os outros obtidos, tanto nos períodos de cura de 14 e 28 dias, como para as amostras de SCDP e SN15SCDP. Ao se levar em consideração o VMP que é 0,2, pode-se dizer que é muito superior a este. Com relação aos Surfactantes, o valor só não foi superior ao valor obtido para o SCDP.

Portanto, diante dos resultados obtidos, algumas considerações são necessárias. Com a análise da cura, não se obteve um padrão de comportamento do encapsulamento com o decorrer do tempo, haja vista que os valores oscilam entre os períodos de cura sem seguir nenhuma tendência. A cura a princípio não foi tão benéfica como se esperava, uma vez que os valores obtidos para as misturas cimentadas quando comparados aos obtidos para a mistura sem cimento, ou são superiores aos dessa ou próximos, o mesmo se pode concluir com relação a adição de cimento. Outro ponto importante é necessidade de contraprovas, pelo fato dos ensaios de lixiviação e solubilização não serem ensaios comuns, são caros e por isso a realização de réplicas e avaliação de outros cenários, como outros teores de cimento etc., acabam se tornando dificultadas.

Somando-se ao que foi exposto, há ainda o fato de tais ensaios não serem concebidos para a avaliação de resíduos que vise a incorporação desse tipo material na construção de pavimentos. Silva et al. (2002) destacam que em virtude da variedade de cenários de disposição que podem ser considerados, um único teste de lixiviação/solubilização não parece ser adequado para reproduzir as condições de campo. Os autores ainda destacam que um resíduo cimentado deveria ser submetido a agentes lixiviantes/solubilizantes condizentes com os provavelmente existentes no meio onde o resíduo será disposto, ou seja, água de chuva, de superfície ou subterrânea presente no local.

Por fim, Silva et al. (2002) concluem que apesar de no Brasil não existir uma regulamentação específica para os testes de lixiviação e solubilização para resíduos perigosos submetidos à técnica de encapsulamento, os resultados obtidos pela autora mostram que a aplicação de uma única norma, como por exemplo a norma brasileira, não pode ser um instrumento eficiente na avaliação/qualificação de produtos solidificados/estabilizados a serem dispostos em diferentes cenários.

Ubaldo et al. (2010) citam que de acordo com a NBR 10004, se um resíduo for considerado inerte, ele poderá ser usado para fins de pavimentação, sem restrições. No entanto, se o rejeito for considerado perigoso ou não inerte, o mesmo deverá passar por algum processo que o torne inerte. Segundo os autores, a norma não especifica os processos aos quais os resíduos poderão ser submetidos para se tornarem não inertes.

Os autores, destacam em suas considerações finais a urgência de discussão para que seja elaborada uma norma específica que trate do uso de rejeitos para o setor de pavimentação, fixando valores que garantam desempenho adequado do pavimento sem comprometimento da natureza e do bem-estar do ser humano. Além disso, tal norma não deve se limitar apenas as questões ambientais, pois deve ser apresentada uma metodologia de ensaios mecânicos para avaliação das propriedades técnicas necessárias visando o uso dos rejeitos em pavimentação.

Portando, não se pode simplesmente descartar o encapsulamento como a técnica a ser usada para destinação final de resíduos como solo contaminado, destacando-se sua incorporação na construção de pavimentos. Há de se testar outras formas de se encapsular contaminantes, bem como definir parâmetros para a análise da eficácia, técnica e ambiental, do processo antes de qualquer conclusão definitiva sobre o mesmo.