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Dentre as regiões do Estado uma das que mais se destacam na piscicultura é a região do Vale do Itajaí. Nesta região, em novembro de 1998, foi instalado o Pólo de Aqüicultura do Vale do Itajaí, como parte das estratégias do "Programa Nacional de Desenvolvimento da Aqüicultura^'; liderado pelo então recém criado

Em 1998 0 setor responsável, a nível de Governo Federal, pela pesca e aqüicultura saiu do âmbito do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA) e passou para o âmbito do Ministério da Agricultura e do Abastecimento (MA), tendo sido criado o Departamento de Pesca e Aqüicultura daquele ministério. O Pólo de Aqüicultura do Vale do Itajaí foi o sétimo pólo implantado no país, dentre os quais incluía-se o Pólo de Maricultura de Florianópolis (ver Grumann et al., 1998).

"Departamento de Pesca e Aqüicultura" (DPA), do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, com o apoio do "Projeto Novas Fronteiras da Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável" (PNFC), das Nações Unidas. A instalação do Pólo foi considerada, pelos organizadores, como sendo uma conseqüência do crescimento e organização da piscicultura na região, sobretudo da organização dos produtores, e do fato de existir ali uma estrutura disponível capaz de dar suporte para o desenvolvimento da atividade. O Pólo em si não é uma entidade definida, mas é para se tornar uma referência para as políticas dirigidas ao setor, sendo composto pela articulação dos principais atores envolvidos na "cadeia produtiva da aqüicultura da região". Na sua formação, além da participação na cadeia produtiva, também foram levados em conta aspectos como os recursos naturais, as articulações políticas, a estrutura agrária, a rede hidrográfica, etc. Para representar o Pólo foi constituída uma "Câmara Setorial de Aqüicultura", na qual participam os representantes de quase toda a cadeia produtiva, sob a coordenação executiva de um técnico da EPAGRI. Esta câmara foi organizada para ser um espaço de negociação e reivindicação, devendo, por sua vez, articular-se ao "Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural" (CEDERURAL).

A referência ao Pólo é importante para se entender o processo de consolidação da piscicultura no Alto Vale do Itajaí e no Estado por dois motivos: Primeiro, porque nos permite visualizar a cadeia produtiva da piscicultura, sua dimensão regional, importância e perspectivas. Segundo, porque através da definição do Pólo também é possível visualizar o próprio processo de organização e representação da piscicultura tal como a EPAGRI a desenhou.

A partir da instalação do Pólo a EPAGRI elaborou um diagnóstico apresentando "os principais atores da piscicultura no Pólo, a estrutura disponível e o

papel que desempenham na cadeia produtiva na região" (Grumann et al., 1998: 8).

Através deste diagnóstico a EPAGRI descreveu as diversas entidades que compõem a piscicultura no Vale do Itajaí e também procurou definir como estas deveriam ser relacionadas na organização da cadeia produtiva. No diagnóstico há, Inicialmente, uma delimitação do espaço geográfico de abrangência do Pólo, a qual é dada seguindo a divisão das "Regiões Hidrográficas do Estado de Santa Catarina""“ . O Pólo de Aqüicultura foi localizado na região hidrográfica RH7 , formada pela bacia hidrográfica do Rio Itajaí (figura 2). Com seus 15.000km2 e mais de um milhão de habitantes, é considerada a mais expressiva das dez regiões hidrográficas do Estado e é também a que mais tem sido afetada por enchentes. Embora seja uma das regiões mais industrializadas, possui ainda uma população de aproximadamente 25% na área rural"*^ e uma produção agrícola significativa. Sob o ponto de vista da piscicultura nacional é considerada "uma das regiões que dispõe

de uma das mais funcionais e equilibradas estruturas para o desenvolvimento da aqüicultura" (idem:7).

A divisão em regiões hidrográficas foi feita visando a implantação de um sistema de gestão e gerenciamento dos recursos hídricos em todas as bacias hidrográficas do Estado e teve como critérios as características físicas (geomorfologia, geologia, hidrologia, relevo, solo, etc), geográficas (área, divisão municipal, divisão de bada, etc), socioeconômica (população, atividades econômicas, estrutura fundiária, etc), associativas ( associações de municípios) e municípios (número de municípios) (Grumann et al., 1998). O Estado foi dividido em 10 regiões hidrográficas. Ver o Diagnóstico Geral das Bacias Hidrográficas do Estado de Santa Catarina (Santa Catarina. 1997)

Na pesquisa o principal ator listado foi a própria EPAGRI, através dos seus diversos técnicos e pesquisadores da área, suas perícias e meios de trabalho. Atuam principalmente em estações experimentais, laboratórios e projetos de pesquisa. Na região está localizado o Campo Experimental de Piscicultura de Camboriú - CEPC, administrado pela EPAGRI. Esse Campo, além de desenvolver uma série de pesquisas voltadas para a piscicultura, mantém parcerias com a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALE, a Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, 0 Laboratório de Águas e Efluentes do SENAI de Blumenau, o Centro de Pesquisa e Avaliação de Impacto Ambiental - EMBRAPA, e várias outras instituições. Há ainda a Estação Experimental de Itajaí e a Estação Experimental de Ituporanga, ambas também administradas pela EPAGRI.

No ensino formal há duas escolas técnicas, a nível de segundo grau em agricultura, onde são ministradas disciplinas de aqüicultura. No ensino superior a UNIVALE ministra a disciplina de piscicultura de água doce no curso de oceanografia e a FURB desenvolve trabalhos de ensino e pesquisa em parceria com a Fundação de Piscicultura do Vale do Itajaí - FUNPIVI. Embora não localizada no Vale do Itajai, a UFSC tem importante papel no ensino da área através do curso de pós-graduação em aqüicultura, a nível de mestrado, e a abertura a partir de 1999 do curso de graduação em Engenharia Aqüicola. Quanto a assistência técnica, a EPAGRI é o principal ator, presente nos 52 municípios da região com técnicos atuando na assistência aos produtores, sendo que alguns deles trabalham especificamente na área de piscicultura. Algumas prefeituras também têm dado apoio no fomento à atividade através das suas secretarias de agricultura. Do trabalho da EPAGRI destacam-se os cursos de profissionalização para produtores.

com duração de uma a duas semanas, realizados nos centros de treinamento da EPAGRI em Agronômica e Itajaí.

A comercialização e a industrialização, segundo o diagnóstico, eram consideradas pontos críticos para o desenvolvimento da atividade. Mas isto tem se alterado pelo crescimento dos pesque-pagues"^^ tanto na região (aproximadamente 200), como de fora, que têm absorvido aproximadamente 2 mil toneladas de peixes por ano da produção do pólo. Na avaliação da EPAGRI “íA

piscicultura catarinense e brasileira, dos anos 90, deve creditar à industria do lazer e da pesca desportiva, representados por estes empreendimentos, o estágio alcançado" (Grumann et al., 1998: 12). A região do pólo conta ainda com um

frigorífico de pescados, instalado em 1996. Embora este tenha a capacidade de processar 30 t/dia, estava operando com apenas 3 t/dia. 0 frigorífico detém tecnologias modernas de processamento do pescado e tem o aval do Serviço de Inspeção Federal - SIF, representando, para a EPAGRI, “a validação definitiva da

atividade e a garantia de mercado permanente à produção" (idem: 12).

Quanto ao crédito, não existem linhas específicas para a atividade. Um dos motivos para isto era, até então, a não legalização da atividade quanto à legislação ambiental. É que sem a licença ambiental não é possível obter o registro de aqüicultor junto ao IBAMA, e sem este. pelas normas do Banco Central, não é possível obter o crédito bancário. Entretanto os produtores estão organizados em 18

Pesque-pagues são locais de lazer no meio rural em que há açudes nos quais são colocados peixes que as pessoas pescam e pagam por eles confomie seu peso. Trata-se de um fonna de turismo rural em crescimento nos últimos anos que tem contribuído para o aumento do emprego rural não-agrícola. Além dos açudes com peixes, que requerem transporte adequado dos viveiros até

0 pesque-paque, a maioria deles oferece (ou explora) uma série de serviços, como restaurantes, quadras para jogos, passeios de barco, etc.

associações municipais e duas regionais. Além disto, desde 1986 existe a Associação Catarinense de Aqüicultura. Fundada com a participação de técnicos, tem contribuído para o processo de organização dos produtores a nível municipal. As tarefas das associações são definidas como de representação política do setor, aquisição de equipamentos, materiais e insumos, comercialização e defesa dos interesses dos associados. Embora recente, a aqüicultura tem sido considerada como uma das mais organizadas atividades produtivas do meio rural catarinense, sobretudo no Alto Vale do Itajaí.

Quanto aos equipamentos e insumos, a região do pólo possui inúmeras industrias as quais os fornecem para diversas outras regiões e estados. Algumas redirecionaram sua produção da pesca marítima para a aqüicultura. Dentre os equipamentos estão as redes, aeradores, alimentadores automáticos, equipamentos de transporte de peixes, etc. No setor de insumos destacam-se a produção de alevinos, cuja maior produtora é a FUNPIVI, além de diversos outros produtores da iniciativa privada. A tendência é que no futuro seja exigido o “selo de qualidade” para os produtores de alevinos, bem como alevinos recriados. Quanto às rações, há diversas indústrias locais e fornecedores de outras regiões.

A EPAGRI dividiu o fluxograma da cadeia produtiva (figura 3) em; 1)insumos e serviços; 2)produção; 3)comercialização/distribuição. No item insumos destacou a pesquisa e a assistência técnica como um dos fatores que mais influenciaram o desenvolvimento da atividade, pelo fato da piscicultura ser nova nas propriedades rurais, exigindo assim maiores esforços na assistência técnica e na organização dos produtores. A produção tem como base os peixes de águas mornas e as pequenas propriedades familiares. Conforme a EPAGRI essas duas partes da cadeia produtiva

são lideradas pelo Governo do Estado, através da própria EPAGRI em parceria com as representações dos produtores. A comercialização/ distribuição baseia-se na venda de peixe vivo. No Alto Vale prevalece a venda para o frigorífico, enquanto no Médio e Baixo Vale para os pesque-pagues. Contudo, o setor aqüi-industrial e a comercialização, na avaliação da EPAGRI, "não detém liderança ou coordenação

específica. Estrutura pela competência individual dos diferentes empresários que apostaram no setor.” (idem: 24). 0 frigorífico de pescados, por exemplo, embora

procure estabelecer parcerias com os piscicultores, não se relaciona como um sistema de integração, como acontece no caso das relações de integração entre produtores de aves e suínos e suas respectivas agroindústrias.

Geopoliticamente o Vale do Itajaí está dividido em Foz do Rio Itajai, Médio Vale e Alto Vale. 0 Alto Vale, onde concentramos a pesquisa, possui uma área de 6.837 km2, correspondente 7,17% da área do Estado. Politicamente está dividido em 26 municípios, e uma população de 224.188 habitantes, sendo 49,9% urbana e 50,1% no meio rural, sendo que mais de 70% dos estabelecimentos possuem menos de 50 ha (censo 1991). Os produtos agrícolas mais significativos são: arroz, batata doce, batata inglesa, cebola, feijão, fumo, maçã e mandioca, alcançando uma produtividade acima da média do Estado na maior parte desses produtos (AMAVI, 1994).

TABELA 8. Produção de peixes cultivados em água doce, número de piscicultores e área alagada por município no Alto Vale do Itajaí em 1997.

Município Número de Area Alagada Produção

Piscicultores (há) (kg) Agroiândia 60 50 140.000 Agronômica 60 30 35.000 Atalanta 25 15 33.000 Aurora 160 40 100.000 Braço do Tombudo 30 27 31.000 Chapada do Lageado 20 10 10.000 Dona Emma 90 35 31.000 Ibirama 60 15 19.000 Imbuia 420 35 36.000 Ituporanga 300 50 67.000 José Boiteux 40 21 42.000 Laurentino 120 25 25.000 Lontras 65 50 53.000 Mirim Doce 125 32 40.000 Petrolándia 300 50 41.000 Pouso Redondo 60 45 60.000 Presidente Getúlio 250 45 53.000 Presidente Nereu 80 25 35.000 Rio do Campo 40 25 56.000 Rio do Oeste 85 30 27.000 Rio do Sul 350 140 83.000 Salete 50 50 63.000 Taió 200 100 78.000 Trombudo Central 120 110 220-000 Vidai Ramos 120 95 51.000 Vitor Meireiles 50 25 53.000 Witmarsun 120 50 42.000 - 800* 200 96.000 Totais 4.200 1.500 1.620.000

Fonte; Gross, Kniess, Tamassia e Schappo - EPAGRI (Grumann etal., 1998) * Produtores de auto-consumo em diversos municípios.