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Paisagem: Multifuncionalidade e Sustentabilidade

1. PAISAGENS

1.1. A PAISAGEM

1.1.1. Paisagem: Multifuncionalidade e Sustentabilidade

A investigação sobre a paisagem debruça-se não só sobre a componente cultural, mas também sobre a componente física e aborda uma série de questões como as alterações climáticas, as necessidades energéticas, a coesão social, a garantia alimentar, a pluralidade e a diferença, a governança equitativa e a qualidade de vida.

A integração da perspectiva humana esteve sempre subjacente na elaboração das temáticas da pesquisa da paisagem. Hoje o objectivo da pesquisa sobre a paisagem centra-se na

interdisciplinaridade, em termos sociais e políticos, com a presença da arqueologia,

antropologia, geografia cultural e humana, ecologia mas envolve, também, os estudos ambientais, históricos, de arquitectura paisagista, planeamento, psicologia e sociologia, entre outros.

A paisagem envolve uma multiplicidade de áreas temáticas, como a história, a ecologia, a mentalidade e a acção, bem como o ambiente físico. A paisagem constitui um recurso vivo e mutável para ser usado de uma forma sustentável, e não só para ser preservado. A construção e o “consumo” da paisagem são um processo social, mas, também, o resultado de um processo natural e humano que se vem prolongando do passado ao longo dos tempos.

Para um futuro programa de investigação europeu sobre a paisagem foram identificadas quatro áreas a serem desenvolvidas: “Bens universais: defender a paisagem como um bem comum”; “Raízes e rumos: mobilidade e estilos de vida”; “Reacções e resiliência: transformações da paisagem a longo prazo”; “Orientações: bases e contexto para uma mudança futura” (Science Policy Briefing 41, 2010).

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Sobre as recomendações, elas apontam para o reconhecimento de que os maiores benefícios resultam da combinação das perspectivas humanistas, das culturais e das sociais com as perspectivas científicas naturais e físicas, que trará benefícios para os dois lados. A investigação sobre a paisagem tem de envolver as ciências da terra, da vida e da área social, bem como as humanidades e os estudos históricos como a filosofia, a história de arte e as linguísticas.

Outra recomendação diz respeito à criação de um “Forum Europeu da Paisagem” com uma base interdisciplinar e trans-sectorial, envolvendo os políticos e os profissionais de todos os sectores da paisagem.

Por fim, entende-se ser necessário criar um “Programa Europeu” para o desenvolvimento da investigação sobre a paisagem, como fonte de inovação científica e de inspiração que venha a permitir a obtenção de respostas aos desafios que nos irão ser postos durante este século, no âmbito social e de uma forma sustentável.

Em relação ao espaço rural são vários os autores que constatam que o mesmo está a mudar, a desligar-se progressivamente da agricultura e a ganhar uma certa autonomia e nova identidade, influenciado por vários factores. A produção (agrícola) continua a ser importante, mas actualmente as expectativas centram-se noutros tipos de bens que terão de ser valorizados de modo a compensar quem os tem, quem os mantém e quem os produz (Marsden e van der Ploeg, 2009; Robinson, 2007).

O espaço rural assegura hoje em dia várias funções que, além da produção agrícola e da produção florestal, englobam ainda a protecção da natureza e a conservação ambiental, as actividades territoriais (caça, desporto, recreio) e a herança rural (saberes, festas, costumes) (Baptista, 2010), entre outros.

Noções como “funções do solo” (Verburg et al., 2009 in Haines-Young, 2009: 180), “funções do uso do solo” (Perez-Soba et al., 2007 in Haines-Young, 2009: 180) e “funções da paisagem” (Haines-Young, 2000; De Groot, 2006; Kienast et al., in press in Haines-Young, 2009: 180) emergiram como um meio de planear as ligações entre a terra e os sistemas ecológicos e os serviços dos ecossistemas que os suportam (o termo “função” é usado para identificar a capacidade do solo ou de um ecossistema para gerar um serviço que produz um benefício para as pessoas).

Há pois um conjunto de actividades (como a caça e o recreio), desenvolvidas no espaço rural, que ganha cada vez mais importância para as populações, tornando-o um espaço de consumo, mais do que um espaço de produção (Holmes, 2006).

Para Radich e Baptista (2005: 152-154), nas últimas décadas emergiram as funções ambientais e as de lazer e recreio – turismo rural, todo-o-terreno, cicloturismo, percurso pedonal, caça, pesca, passeio. Como estes autores realçam, reapareceu recentemente uma terminologia que tem subjacente uma oposição de “floresta de produção versus floresta de protecção”, mas que escamoteia o problema central, que não é a indicação da composição da floresta a instalar mas sim “a necessidade de avaliar os serviços ambientais que a floresta presta”, procedimento que deveria ser seguido sempre que se considerassem pagamentos de subsídios a propósito do ambiente.

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Estes serviços ambientais implicam o prestador, o utilizador ou beneficiário e o bem sobre o qual o prestador intervém para produzir o resultado que o utilizador procura. Porém, devem ser verificadas as condições que permitam o seu pagamento como as condições de prestação do serviço e o cumprimento de critérios justificativos do seu pagamento ao Estado.

Radich e Baptista (2005: 144) fizeram uma análise da política florestal no período de 1875 a 2005 que envolveu os proprietários privados e comunitários e o Estado, a área florestada e as funções que se esperavam das arborizações. Aqueles 130 anos foram divididos em três períodos (1875-1938, 1938-1974 e 1974-2005), tendo sido caracterizado o primeiro por um grande aumento da área florestada e os segundo e terceiro pela continuação do aumento, embora mais moderado, da área florestada e sendo marcados pela acção estatal (que no período intermédio se caracterizou por uma função de conservação e de protecção do território enquanto os privados se viraram mais para a produção). No último período, a partir da Revolução do 25 de Abril a função ambiental/conservação passou a ser exigida pela sociedade e pelos acordos resultantes da entrada de Portugal na CEE, depois UE.

Para aqueles autores o percurso da floresta é sobretudo o resultado da actividade, dos interesses e das lógicas de gestão dos diferentes tipos de proprietários, assegurando à

sociedade e à economia várias funções, nas quais se enquadram a produtiva, a de lazer e recreio, a ambiental e de conservação e a simbólica que em cada época podem esperar da

floresta.

Radich e Baptista (2005: 151) entendem que qualquer solução tem de conciliar o saber

técnico e as tecnologias disponíveis com a lógica de gestão dos proprietários.

Algumas das funções, como a ambiental, não têm mercado mas, como é necessário que sejam asseguradas, deviam ser pagas (pelos dinheiros públicos). A existência deste conjunto de bens e serviços não tem valor comercial (ainda), mas o seu conhecimento é decisivo para fundamentar as decisões para a gestão dos ecossistemas. Por outro lado, a agricultura atingiu os limites de produção, havendo uma cada vez maior consciência para as amenidades. Estas contribuem para a sustentabilidade e a protecção/preservação dos recursos, a par da função

de produção agrícola.

Aquela transição, de uma fase para outra baseada num modelo de produção de bens, com outros meios e funções nas áreas rurais (a conservação da natureza, o recreio, a qualidade da água, a manutenção da identidade cultural, a qualidade de vida), traduz-se num quadro de

multifuncionalidade dos espaços, envolvendo a produção, a conservação e o consumo, o pós- produtivismo (Holmes, 2006; Pinto Correia and Kristensen, 2013).

Neste quadro, são vários os bens públicos de amenidades que são normalmente considerados e que implicam novos paradigmas de gestão. A paisagem, como suporte de actividades de recreio e lazer, ou enquadramento de qualidade de vida, ou como componente fundamental na identidade local, é um dos bens públicos que mais relevância tem nestes processos e nas questões que hoje em dia se põem às políticas e intervenção pública (Pinto-Correia and Kristensen, 2013).

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No espaço rural, sobretudo em questões relacionadas com a gestão, há um conjunto de

conceitos que, pela sua natureza e importância, se entendeu deverem ser também abordados.

Entre eles, incluem-se os de “land cover” e de “land use” que, por vezes, têm um uso incorrecto devendo cada conceito ser clarificado, pois não têm o mesmo significado (Jansen e Di Gregorio, 2002; Comber, 2008 in Haines-Young, 2009: 179).

“Land cover” (ocupação do solo) é o conjunto das características físicas do solo – como a vegetação presente e a existência de estruturas construídas – que resultam das suas componentes bióticas e abióticas.

O conceito de “land use” (uso do solo) – refere-se às funções sociais e económicas da terra – é definido pelas propostas de gestão activas e passivas e pelos benefícios materiais e não materiais derivados da terra.

Embora se trate de conceitos que podem ter ligações entre si, eles são complexos e diferentes (Haines-Young, 2009: 179).

Este autor dá como exemplo de “land cover” um prado (“grassland”) que pode vir a ter vários usos como a produção de carne (pastagem para herbívoros), o recreio e a produção de turfa. Por outro lado um uso único como utilização mista (“mixed farming”), pode traduzir-se por diferentes tipos de cobertura incluindo prado (“meadow”), produção de cereais (“crop”) e terra em pousio (“fallow”).

Contudo e embora a distinção entre cobertura/ocupação (“cover”) e uso (“use”) do solo seja aceite, elas podem ser confundidas (Jansen e Di Gregorio, 2002 in Haines-Young, 2009: 179). Perceber as ligações entre “land use” e biodiversidade é fundamental na ajuda para um melhor entendimento das relações entre as pessoas e o ambiente. Por um lado, as transformações e a alteração do uso do solo na forma como é gerido são factores chave (“key drivers”) promotores das alterações na biodiversidade às escalas global, regional e local. Por outro lado, pelo facto de ser necessário sustentar os ecossistemas e os benefícios proporcionados aos seres humanos, a biodiversidade de um lugar ou de uma terra pode muitas vezes condicionar as opções sobre a forma como devem ser usados (Haines-Young, 2009: 178).

Este tema é tão importante que, para Turner et al. (2007 in Haines-Young, 2009: 178), a ciência da “alteração do uso do solo” constitui actualmente a componente central da pesquisa sobre ambiente e sustentabilidade.

A biodiversidade é a variedade dos elementos biológicos presentes numa área, mas envolve também a diversidade de genótipos, o funcionamento de grupos, comunidades e ecossistemas que possam ser identificados (de Bello et al., 2008 in Haines-Young, 2009: 179).

Por volta de 2100 o impacte da mudança do uso do solo na biodiversidade será mais significativa do que as alterações climáticas, a fixação do azoto, as introduções de espécies e do que as mudanças das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono à escala global (Chapin et al., 2000; Sala et al., 2000 in Haines-Young, 2009: 179).

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Sobre a mudança de uso do solo, ter-se-á de determinar se ela se refere a grandes alterações em que ocorre uma substituição total de um tipo de ocupação ou uso do solo por outra, ou se inclui alterações qualitativas nas características do solo (designadas “modificações na ocupação do solo” por Lambin, 1999 in Haines-Young, 2009: 179).

Turner et al. (2007 in Haines-Young, 2009: 179) entendem que, no âmbito da “ciência de alteração do solo”, há a necessidade de desenvolver métodos que o caracterizem. Nos anos mais recentes os estudos sobre as alterações de “land use” e “land cover” foram incrementados de forma interdisciplinar (Rindfuss et al., 2008).

O conceito de multifuncionalidade é actualmente muito empregue para descrever os múltiplos benefícios que o solo e os sistemas ecológicos podem gerar ao ser humano (Figura 1.1).

Os vários componentes da biodiversidade (ao nível do indivíduo, da população e da comunidade) e as funções ecológicas que eles suportam ocupam um lugar central nos novos conhecimentos de como estão ligados os seres humanos e os ecossistemas, muitas vezes sob o prisma de uso do solo e da ocupação do solo.

O aspecto físico da ocupação do solo depende, e é influenciado, pelos usos a que a terra é submetida e pelas características da biodiversidade.

De forma semelhante, a série de usos potenciais que uma determinada terra pode suportar é condicionada e determina os resultados da ocupação do solo e do seu estado ecológico (Haines-Young, 2009: 180).

Outro conceito, útil na compreensão e análise da paisagem, o de “SPU – Service Providing Unit” (Unidade Fornecedora de Serviços), proposto por Luck et al. (2003 in Haines-Young, 2009: 180) com o argumento de que enquanto uma população (ou organismos) pode ser definida por características geográficas, demográficas ou genéticas também pode ser

(Figura 1.1 – Destaca as interdependências mútuas entre a ocupação do solo, o uso do solo e a

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delimitada pelo serviço ou benefício que assegura a uma determinada escala (Figura 1.2, Anexo 1).

A Convenção Europeia da Paisagem foi elaborada em Florença em 20 de Outubro de 2000 e assinada por Portugal naquela data e, posteriormente, aprovada e publicada pelo direito português através do Decreto n.º 4/2005, de 14 de Fevereiro.

A CEP definiu, assim, paisagem – “designa uma parte do território, tal como é apreendida pelas populações, cujo carácter resulta da acção e da interacção de factores naturais e/ou humanos” (Conselho da Europa, 2000: 1025).

A CEP tem por objectivo promover a protecção, a gestão e o ordenamento da paisagem e organizar a cooperação europeia neste domínio (Art.º 3.º).

Cada país compromete-se a (ponto 1. do Art.º 6.º): “i) Identificar as paisagens no conjunto do seu território; ii) Analisar as suas características...

iii) Acompanhar as suas transformações”.

A CEP reconheceu o conceito de paisagem como a força mais importante para uma mudança, ou continuidade, ambiental e social e que a definição de paisagem, na percepção das pessoas, estimula a acção em termos de participação e enfoque social.

A CEP reconhece que a paisagem é um elemento importante da qualidade de vida das

populações o que implica não só as questões de sobrevivência e segurança, de crescimento e

bem-estar material, mas também outras como as de natureza estética, poética ou religiosa. Tratam-se de dimensões da paisagem que usualmente lhe conferem identidade, característica cada vez mais valorizada (Cancela d´Abreu, 2007: 75).

Para Relph (1976 in Taylor, s/d: 5) a identidade de um lugar integra três componentes: as características físicas, as actividades e funções visíveis e o significado ou símbolos.

Em termos conceptuais, alguns trabalhos elaborados sobre a temática da paisagem, expressam a paisagem como “...um sistema complexo, permanentemente dinâmico, em que os diferentes factores naturais e culturais se influenciam mutuamente e se alteram ao longo do tempo, determinando e sendo determinados pela estrutura global” (Forman e Godron, 1986, Naveh e Liberman, 1994, Zonneveld, 1990 in DGOTDU, 2004a: 10 – “O significado de paisagem e de unidades de paisagem”).

A paisagem é considerada “como o resultado visível dos processos resultantes da interacção entre os factores abióticos, bióticos e humanos, que variam segundo o lugar e o tempo, e que contribuem para o «genius loci» – Antrop, 2000; Makhzoumi e Pungetti, 1999 – ou, por outras palavras, uma configuração particular de relevo, coberto vegetal, uso do solo e povoamento, a que corresponde uma certa coerência nos processos e actividades naturais, históricos e culturais” (Green, 2000 in DGOTDU 2004: 28).

Para Norberg-Schulz (1985:13) o “sense of place” e o “genius loci” são termos/conceitos usualmente traduzidos por “espírito do lugar” que exprimem a individualidade e o facto de cada lugar ser único.

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Para Jackson (1994: 157-158 in Jivén & Larkham, 2003: 68) a expressão “sense of place” é muito utilizada por arquitectos, planeadores e promotores de condomínios e tem sido traduzida de uma forma ambígua e estranha do latim “genius loci”. Segundo o mesmo investigador, nos tempos antigos este último termo significava não tanto o lugar ele próprio mas também a divindade guardiã do lugar. Mais tarde, no século XVIII, o mesmo termo já era traduzido por “o génio de um lugar” mas hoje em dia é usado para “descrever a atmosfera de um lugar, a qualidade do seu ambiente”. Jivén & Larkham (2003: 68) entendem que quando Jackson se refere a “atmosfera” é uma indicação de que o “genius loci” se aliou ao conceito de “carácter de um lugar”.

Para Norberg-Schulz (1980 in Jivén & Larkham, 2003: 70) o “genius loci representa a percepção que as pessoas têm de um lugar entendida como o somatório de todos os valores físicos e simbólicos da natureza e do ambiente humano”.

Cancela d’Abreu (2007: 73) entende a paisagem ”como um conjunto de componentes naturais e culturais interdependentes que constituem um todo complexo com expressão estética, com algum tipo de coerência, organização determinável, continuidade temporal e funcionamento que identificam o sistema”. Entende ainda que em termos de conteúdo do termo “paisagem... para além de uma dimensão espacial e estética, está associada uma identidade e carácter, bem como uma apreciação emotiva por parte de quem a observa ou com ela convive”.

A propósito de identidade: “La identidad de un país o de una región se construye básicamente sobre el reconocimiento, a través de formas visibles en el paisaje, de prácticas agrícolas, de una estructura paisajística particular donde la localización y forma de los árboles, de los campos de cultivo, hacen sentirse como en casa” (in Areces, 2009: 18).

De uma forma simples, o carácter de uma paisagem é o que faz dela uma área única e “reflecte a sua capacidade narrativa, o seu peso em termos históricos e culturais” (Cancela d’Abreu e Pinto Correia, 1999: 7).

Sobre a questão do carácter de uma paisagem no trabalho desenvolvido por Cancela d’Abreu et al., para a DGOTDU (2004: 31):

- citaram estudos ingleses e escoceses (Countryside Commission, 1998 e Usher, 1999) em que se considerava que o carácter de uma paisagem resultava “de múltiplos factores ou variáveis e que é da forma como estes se combinam que resulta um carácter coerente de uma paisagem, distinto da envolvente, reconhecido pelas populações, que faz parte da identidade local e também nacional”;

- e, a propósito da definição de unidade de paisagem, consideraram que devia existir “um carácter próprio, identificável do interior e do exterior e, eventualmente, associado às representações da paisagem mais fortes na identidade local e/ou regional”.

É definido como “um padrão de elementos distinto, reconhecível e consistente, seja natural (solo, morfologia do solo) e/ou humano (por exemplo povoado e desenvolvimento) na paisagem que torna uma paisagem diferente de outra, independentemente de ser melhor ou pior”.

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Berque (1984 in Moreira et al., 2006: 218) entende que “as paisagens são a marca biofísica das actividades de gerações passadas bem como a matriz das gerações actuais e, claro, das gerações vindouras”. Do ponto de vista da ecologia humana, a interacção com as paisagens locais permanece uma característica constante na influência do desenvolvimento das sociedades através dos tempos.

Segundo Daniels e Cosgrove (2002: 1) a paisagem é uma imagem cultural, um meio pictórico de representar, estruturar ou simbolizar o que nos rodeia. É um modo importante de significação humana, informado por questões sociais, culturais e políticas e dando informação a estas questões.

Von Humboldt (in Farina, 2007: 5) define paisagem como “o carácter total de uma região”. Para Green et al. (1996 in Farina, 2007: 5) a paisagem é “uma configuração particular de topografia, cobertura vegetal, uso do solo e de padrão de povoamento que delimita alguma coerência de processos e actividades naturais e culturais”.

Já Farina (2007: 10 e 15) entende que a paisagem pode ser descrita com uma abordagem

ecológica – “representa o contexto biótico e abiótico no qual vivem os organismos” – ou cognitiva – “na descrição de padrões e processos aos quais os seres humanos são sensíveis”.

White e Walker (1997 in Moreira et al., 2006: 221) definiram paisagem como património, como algo que deve ser mantido numa condição meta-estável e resiliente para as gerações futuras.

Para Hurtado (2001: 293) a paisagem hoje em dia já não é considerada apenas como um cenário com um sentido estético maior ou menor mas antes como um valor que caracteriza uma zona não só por simples contemplação mas também como um recurso, um património próprio de um lugar que deve passar para as gerações futuras.

Outro conceito, o de paisagem global, tem sido defendido por Telles (1994 in Magalhães, 2001: 319) na perspectiva da intervenção na paisagem quando afirma “o espaço rural e o espaço urbano devem-se interligar de tal maneira que, sem que percam as suas características próprias e funcionamento autónomo, não deixem de servir os interesses comuns da sociedade, quer digam respeito ao mundo rural, quer à vida urbana”.

Em termos de ordenamento a paisagem, permitindo uma visão holística do território, é considerada desde há vários anos como a base para a integração de várias preocupações e políticas sectoriais (McHarg, 1969, Barreto et al., 1970, Hills, 1974, Caldeira Cabral et al., 1978, Barreto, 1982, Lyle, 1985, Cancela d’Abreu, 1989, Caldeira Cabral, 1993, Cancela d’Abreu, 1994, Naveh e Lieberman, 1994, Marsh, 1997 in DGOTDU, 2004a: 22).

Para Saraiva (1999: 185) o conceito (holístico) de paisagem é representado por um sistema complexo de três âmbitos de componentes que se inter-relacionam mutuamente: as componentes biofísica e ecológica; as componentes social, cultural e económica; e as componentes percepcional, estética e emocional.

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Smith (1985 in Hirsch, 1995: 11) propôs um novo conceito, o de paisagens típicas, representações que deveriam evocar a interpretação por parte das pessoas dos lugares característicos da área – resultado da tensão entre a convenção da pintura romântica e uma maior informação etnológica científica.

No trabalho da identificação e caracterização das paisagens (DGOTDU, 2004a: 10 e 32), foi feita uma abordagem holística para a compreensão global da paisagem, integrando as suas 4

dimensões:

“- a ecológica, que inclui as componentes físicas e biológicas dos sistemas;

- a cultural, em que são considerados tanto os factores históricos como as questões de identidade e capacidade narrativa da paisagem;

- a socio-económica, referente aos factores sociais e às actividades humanas que permanentemente constroem e alteram a paisagem (também os regulamentos e instrumentos que condicionam tais actividades);

- e, finalmente, a dimensão sensorial, ligada ao modo como as paisagens são apreciadas por