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4 O PAPEL DO EXERCÍCIO FÍSICO REGULAR NA SAÚDE MENTAL

No documento DE PROMOÇÃO DA SAÚDE: (páginas 49-54)

SAÚDE MENTAL E INATIVIDADE FÍSICA DE ESCOLARES: UM ALERTA DE SAÚDE GLOBAL

4 O PAPEL DO EXERCÍCIO FÍSICO REGULAR NA SAÚDE MENTAL

Em 2016, um estudo de revisão enfatizou a relação dos níveis mundiais de inatividade física com a saúde mental, cognição e mais especifi camente com a demência. Nesse estudo, os pesquisadores destacam a crescente evidência sobre o papel da atividade física no

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SAÚDE MENTAL E INATIVIDADE FÍSICA DE ESCOLARES:

UM ALERTA DE SAÚDE GLOBAL

Aline R. Lehnhard,João F. de Castro Silveira,Letícia de B. Schneiders, Cézane P. Reuter, Sílvia I. R. Franke

vimento e manutenção da capacidade cognitiva durante toda a vida, citando os avanços em pesquisas que demonstram o impacto da atividade física sobre a neurogênese, potenciação neuroelétrica e fatores neuroquímicos no hipocampo e áreas do cérebro responsáveis pelos níveis mais elevados de controle executivo durante a infância, o que indica para uma melhoria cognitiva e no desempenho escolar de crianças fi sicamente ativas (SALLIS et al., 2016).

A infância é um período importante e sensível para o desenvolvimento cognitivo e mo-tor, porém ainda há poucas pesquisas publicadas sobre a relação entre esportes e funções cognitivas em crianças, conforme investigado na revisão de Bidzan-Bluma e Lipowska (2018).

Os autores concluíram que as áreas de atenção, pensamento, linguagem, aprendizagem e memória foram analisadas em relação ao esporte e à infância, e os resultados dessas pesquisas sugerem que o envolvimento em esportes no fi nal dessa fase infl uencia positivamente nas funções cognitivas e emocionais.

Já na outra extremidade da saúde mental, ou seja, pessoas com doenças ou transtornos, um estudo de revisão analisou os efeitos do exercício físico nos aspectos cognitivos e compor-tamentais em doentes psiquiátricos, destacando que o exercício físico regular é signifi cativa-mente benéfi co para esses pacientes. Além disso, este hábito regular pode estar infl uenciando na redução dos sintomas psicopatológicos, no aumento da percepção e qualidade de vida, e ainda, sugerem que o exercício físico poderá atuar de forma preventiva em intervenções tera-pêuticas na melhoria de funções cognitivas (KNOCHEL et al., 2012).

Os benefícios de atividades físicas para a cognição de crianças são estudados em vínculo com seu desempenho escolar. Para isso, sugere-se que os efeitos do exercício no desempe-nho acadêmico das crianças são mediados por mudanças na função executiva, memória e inteligência (TOMPOROWSKI et al., 2015). Dessa forma, o funcionamento cognitivo efi ciente não está ligado apenas a um valor alto no quociente de inteligência, mas também a níveis adequados no desenvolvimento das funções como: motivação, capacidade de estabelecer me-tas e autocontrole, todas praticadas e exigidas nos esportes e exercícios físicos padronizados (BIDZAN-BLUMA LIPOWSKA, 2018).

A revisão de Knochel et al. (2012), com a população psiquiátrica, constatou que em adultos e idosos já são realizados estudos da interferência do exercício físico nas doenças ou transtornos, e que esse traz benefícios para a pessoa, podendo até ser um tratamento ou pre-venção para a depressão. Esse estudo ainda assinala que as pesquisas incluídas nessa revisão mostraram que um programa de exercício físico controlado de aproximadamente 10 semanas reduziu a depressão, além de existir comparações equivalentes entre a efi cácia do treinamento de resistência aeróbica com a efi ciência dos antidepressivos em pacientes depressivos. No es-tudo de Deslandes et al. (2009) evidenciou-se que pacientes com depressão poderiam reduzir signifi cativamente a dose de medicação quando se exercitavam.

As evidências já destacam que tanto os períodos agudos de exercício físico, quanto o treinamento físico alteram a cognição de crianças e adolescentes, portanto, os tipos quanti-tativos ou qualiquanti-tativos de exercícios aumentam o processamento cognitivo (TOMPOROWSKI

et al., 2015). Sendo assim, a prática de atividades físicas pode estar associada a alterações de algumas estruturas cerebrais, o que ocasiona a melhora da memória e do controle cognitivo (BIDZAN-BLUMA LIPOWSKA, 2018).

O aumento da prática de atividades físicas regulares por crianças e adolescentes, inde-pendente da faixa etária, tem demonstrado relação com a progressão da função cognitiva, especialmente na memória de trabalho, memória geral e ações cognitivas (BIDZAN-BLUMA LIPOWSKA, 2018). Os autores supracitados sugerem ainda que possa existir uma infl uência do exercício físico nas funções verbais, desempenho ortográfi co, compreensão da linguagem e detecção de erros, e abre uma lacuna em relação a investigações mais profundas do tema, visto que assim poder-se-ia criar programas mais específi cos de treinamento para crianças e adolescentes, com vínculo não apenas em sua saúde física, mas também com foco na saúde mental e no desempenho cognitivo.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que a relação entre inatividade física e danos à saúde mental é uma realidade em crescente expansão, e que hábitos de prática de atividade física regular, desde a infância, são primordiais para prevenir algumas demências, de modo não farmacológico.

Além de serviços de saúde mental, incluídos na saúde pública, são necessárias outras linhas de base, como o estímulo à prática regular de atividades físicas, por exemplo, visto que este seria um dos métodos preventivos mais interessantes economicamente, e que traria outros benefícios agregados (dos demais sistemas corporais). Portanto, a questão da saúde mental deve iniciar nas fases de vida mais precoces e crianças e adolescentes devem estar entre os grupos favorecidos por estas intervenções, considerando os dados mundiais de inatividade física e baixa qualidade de vida.

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