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Capítulo IV Algumas concepções e manifestações de afectividade

3. Fundamentação do quadro metodológico

3.1. Paradigmas metodológicos

A metodologia adoptada numa investigação depende directamente do objecto em estudo, da sua natureza, extensão e dos objectivos estabelecidos pelo investigador. Em geral, segundo Quivy & Campenhoudt (1992), a intenção dos investigadores em Ciências Sociais não é só descrever, mas compreender os fenómenos e, para tal, torna-se necessário recolher dados que mostrem o fenómeno de forma inteligível.

Em Educação, cada vez mais se considera importante a necessidade de conhecer e explicar, com carácter científico, a natureza dos fenómenos educativos. Assim, começamos por discutir o paradigma em que nos situamos, dado que partilhamos com Botelho (2002) a ideia que é importante numa investigação conhecer o debate entre paradigmas metodológicos, no sentido de apreciar decisões e controvérsias sobre os métodos a adoptar.

Patton afirma que os paradigmas constituem “important theoretical constructs for

illuminating fundamental assumptions about the nature of reality” (1990: 39)

Lessard-Hébert et al., citam Herman (1983: 4), que define paradigma como “...um conjunto

de pressupostos filosóficos, de modelos teóricos, de conceitos-chave, de resultados influentes de investigações, constituindo um universo habitual de pensamento para os investigadores num dado momento do desenvolvimento de uma disciplina” (1990: 19).

T. S. Kuhn, (1983: 238), in Lessard-Hébert et al. (1990: 18) reconhece que o conceito de paradigma pode ser utilizado em dois sentidos complementares. Deste modo, pode designar:

- as crenças, de valores reconhecidos e técnicas comuns aos membros de determinado grupo;

- as soluções concretas de enigmas que, utilizadas como modelos ou exemplos, podem substituir as regras explícitas enquanto base de soluções para determinados enigmas.

Botelho (2002: 287) define paradigma “...como um conjunto de crenças básicas que

conduz o investigador, não só na escolha dos métodos, mas também ontológica e epistemologicamente”. Esta autora recorrendo a Guba & Lincoln (1994: 108) afirma que as

crenças básicas que definem cada paradigma resumem-se às respostas dadas por cada um deles a três questões fundamentais e que se relacionam entre si:

- “As questões ontológicas que procuram responder à forma e à natureza da realidade e ao que se pode conhecer sobre ela;

- As questões epistemológicas, que definem a relação entre o investigador e o conhecimento;

- As questões de carácter metodológico que permitem orientar os procedimentos que o investigador deverá adoptar para atingir o conhecimento” (2002: 287)

A partir destas considerações, apreende-se que os paradigmas se distinguem pela forma como o conhecimento é produzido, pelos processos de investigação e pela descrição da realidade. Assim sendo, é necessário ponderar que estas assimetrias entre os paradigmas têm implicações e consequências importantes, tanto para a maneira prática como se desenvolve a investigação, como para a exploração e interpretação dos resultados.

Tendo em conta as respostas dadas a essas questões, focar-nos-emos no âmbito do paradigma interpretativo, procurando fundamentar as nossas opções metodológicas e, simultaneamente, relacioná-las com as características da investigação em sala de aula.

3.1.1. Paradigma interpretativo

De acordo com Cohen & Manion (1986: 36), “the interpretive paradigm (…) is

characterized by a concern for the individual” pelo que todas as teorias construídas dentro

do contexto do paradigma interpretativo tendem a ser anti-positivistas. Isto significa que a investigação tende a ser mais naturalista (pouca ou nenhuma intervenção no meio natural), tais como os estudos com base na observação participante.

Por sua vez, Erickson, in Lessard-Hébert et al. (1990), defende que o paradigma interpretativo sublinha um interesse fulcral pelo significado conferido pelos «actores» às acções nas quais se empenharam. Deste modo, este significado é o produto de um processo de interpretação que cumpre um papel essencial na vida social. As investigações que tomam em consideração esta dimensão na delimitação do objecto do estudo e nas operações metodológicas são qualificadas por estes autores como “interpretativas”.

O principal esforço no contexto do paradigma interpretativo é, então, compreender o mundo subjectivo da experiência humana. Assim, este paradigma centra-se na acção. Isto pode ser pensado como comportamento com significado; é comportamento intencional e como tal orientado para o futuro. Nesta linha, Lessard-Hébert et al. (1990: 39), afirmam que “no contexto do paradigma interpretativo, o objecto de análise é formulado em termos

de acção...”. Face ao objecto acção-significado, o investigador postula uma oscilação das

relações entre as formas de comportamento e os significados que os participantes lhes atribuem através das suas interacções. Segundo Cohen & Manion (1986: 36) “Actions are

only meaningful to us in so far as we are able to ascertain the intentions of actors to share their experiences”. Assim sendo, um grande número das nossas interacções do dia-a-dia

assentam nessas experiências partilhadas.

Botelho (2002), por sua vez, sublinha que, no paradigma interpretativo e do ponto de vista ontológico, a realidade é assumida como múltipla e variada (e não única) entrando, por vezes em conflito, uma vez que é produto das mentes dos indivíduos; do ponto de vista epistemológico, o conhecimento é perspectivado como uma construção na interacção entre investigador e participantes.

Para manter a integridade do fenómeno a ser investigado, têm-se feito esforços para colocar a pessoa que investiga no meio a estudar, para atingir a compreensão a partir do seu interior, valorizando-se os comportamentos observáveis relacionados com significados criados. Isto significa que a observação participante, onde o próprio investigador é o instrumento principal de observação, afigura-se como um imperativo. Assim sendo, de acordo com os postulados epistemológicos do paradigma interpretativo, o investigador, partilhando as mesmas circunstâncias humanas dos indivíduos que observa, procura compreender o mundo social a partir do seu interior (Lessard-Hébert et al., 1990).

O paradigma interpretativo, ao valorizar a compreensão e a explicação, exige a obtenção de dados ricos em pormenores descritivos, relativamente aos seus intervenientes, como forma de compreender e interpretar os fenómenos na sua complexidade. Neste quadro, tendo em conta que a finalidade capital da investigação no contexto do paradigma interpretativo vai de encontro à finalidade primeira deste estudo – compreensão de uma

realidade – no nosso caso em sala de aula, e que estes contextos são muito diversos, embora se assumam semelhanças superficiais, optámos pela adopção deste paradigma na condução geral da nossa investigação.

Assim, uma vez que, de acordo com as questões colocadas, se pretende que o produto do estudo tenha uma natureza descritiva e interpretativa, optar-se-á por uma investigação qualitativa, explicitada devidamente imediatamente a seguir.