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Parasserialidades como atrativos

No documento irisdearaujojatene (páginas 141-146)

4.2. MOLDURAS EXTERNAS: ASPECTOS DA PRODUÇÃO

4.2.4. Parasserialidades como atrativos

A parasserialidade é um fenômeno característico do meio televisivo e pode ser explicado como os textos sobre a obra produzidos a partir de mecanismos internos que darão

Figura 9: Cores representam momentos distintos de Herivelto na narrativa

suporte para o entendimento e a divulgação do produto. São reportagens, aberturas, chamadas publicitárias que servem como ―bulas‖ (BALOGH, 2002, p. 44). A TV o tempo todo se autorreferencia e, para isso, mantém ―programas-contêiner‖44

. O Vídeo Show e a revista eletrônica Fantástico são exemplos destes programas. No caso da televisão brasileira, revistas especializadas e, hoje, a internet também se prestam a esse tipo de função paratextual, com a criação de sites oficiais das obras lançadas, por exemplo. Além disso, produtos que vão além das obras em si são lançados ou relançados para comercialização. Trilhas sonoras, DVDs com conteúdo na íntegra ou não, e até objetos de cena ou acessórios dos personagens. Atualmente, a Rede Globo mantém o site Globo Marcas45, especializado em produtos relacionados aos programas da emissora.

No caso de minisséries baseadas em narrativas anteriores, estas geram ainda referências de retorno às obras que serviram – em maior ou menor grau – de inspiração para sua criação. As telebiografias, por exemplo, remetem aos livros que, junto com documentos, diários e testemunhos, são fontes de consulta para tecer a trajetória do biografado. Não foi diferente com Maysa e com Dalva e Herivelto: ambas as obras foram lançadas posteriormente em DVD, sem contar a busca pelos álbuns musicais e pelas biografias das personalidades retratadas – algumas delas, mesmo pré-existentes à obra, recorreram à vinculação direta em relançamentos para atrair consumidores. Tanto Maysa: só numa multidão de amores (2007), de Lira Neto, quanto Minhas duas estrelas (2009), no qual Pery Ribeiro fala sobre seus pais Dalva e Herivelto, trouxeram em suas capas selos que garantiam o vínculo.

Como se pode ver, as parasserialidades são mais que ―bulas‖: servem também como ―objeto de sedução‖, como marketing para atrair o telespectador. Talvez, em Dalva e

44

Segundo Ana Maria Balogh (2002), ―programas-contêiner‖ são aqueles que se valem de outros produtos da emissora para construir o seu próprio conteúdo. É a partir deles que as emissoras falam de si mesmas. O Vídeo

Show, da TV Globo, é um exemplo de ―programa-contêiner‖.

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Herivelto as chamadas em si – principalmente as televisivas – foram o mais evidente nesse

cenário. Mais que matérias disparadas em diversos meios impressos ou eletrônicos, as estratégias de propaganda da emissora chamaram atenção ao apresentarem o polêmico casal ao público. A publicidade impressa em revistas e jornais na ocasião do lançamento, por exemplo, foi composta por supostos recortes de manchetes sobre o casal, destacando seu sucesso musical em contrapartida com a ruína do casamento. ―Esse amor deu o que cantar‖ foi o slogan que acompanhou os recortes e uma foto do casal protagonista (atores)46.

Já na TV, foram cinco chamadas antes da estreia47. A maioria evidenciava exatamente os mesmos pontos: sucesso nas carreiras e a decadência matrimonial. Contudo, foram acrescentados elementos que adiantavam a posição de vítima de Dalva em relação a um Herivelto insensível e egoísta – sem deixar de lado a paixão entre os dois. ―A história de dois corações unidos pela música. Eles viveram e sofreram com uma paixão tão intensa quanto polêmica‖, anunciava um dos vídeos, seguido por evidências da traição de Herivelto. Em outra chamada, Dalva assumia de vez o protagonismo da minissérie: ―uma estrela que conquistou o país com as mais lindas paixões [cenas de Dalva cantando] e se tornou personagem de uma história de amor intensa e polêmica‖. Nessa mesma chamada a cantora aparece entristecida e Nacid – grande fã da estrela – a conforta afirmando que ela não está só em seus sofrimentos.

Mas o vídeo que mais chama atenção é o que lista uma série de casais polêmicos do cenário mundial da música, envolvendo referências que atravessam as mais diversas décadas: de Johnny Cash e June Carter (que ganharam uma cinebiografia em 2005) a Rihanna e Chris Brown – que foram notícia em novembro de 2009 (vale frisar, a dois meses da estreia

46

A imagem da propaganda pode ser conferida pelo link:

<http://umacancaodeamor.wordpress.com/tag/propaganda/>. Acesso: 23/01/2013.

47

Há um compacto com as cinco chamadas no Youtube, disponível pelo link <http://www.youtube.com/watch?v=cWBy3fUCS7o>. Acesso: 23/01/2013.

da minissérie) depois que o rapper norte-americano agrediu fisicamente a namorada – passando por Sid Vicious e Nancy, e Kurt Cobain e Courtney Love. Em seguida, anuncia-se: ―Conheça o casal que deu origem à série de casais polêmicos da história da música‖ e, então aparece a foto de Adriana Esteves e Fábio Assunção caracterizados de Dalva e Herivelto, que é rasgada para, enfim, aparecer a logomarca da obra. Vale observar que a trilha sonora da chamada é composta por acordes de guitarra, relacionando ao rock as atitudes extremas dos pares citados. Quando entra a foto do casal da minissérie, a música é trocada pelas suaves notas das músicas instrumentais das rádios dos anos 1940. A mudança de trilha sinaliza não somente o período em que Dalva e Herivelto viveram, mas também o contraste entre suas histórias e o mundo de glamour da MPB e as rádios naquela época.

As chamadas para Maysa – quando fala o coração, por sua vez, centraram-se na figura polêmica e geniosa da cantora. Em duas delas48, pode-se ouvir: ―Ousada. Intensa. Verdadeira. Ela viveu uma vida de paixões‖. Em outra49

, o texto é mais enfático quanto às ações da vida particular de Maysa: ―A trajetória de uma mulher que não abriu mão de escrever seu próprio destino. Um caminho marcado pela paixão e por difíceis escolhas‖. Esta

48

Ver em: <http://www.videolog.tv/video.php?id=898615> e

<http://www.youtube.com/watch?v=VjkguznKlkA>. Acesso em: 23/01/2013.

49

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=1kCPHDuZpmo>. Acesso em: 23/01/2013. Figura 10: Chamada de Dalva e Herivelto sobre casais polêmicos

última, aliás, relaciona as ―difíceis escolhas‖ ao relacionamento distante que manteve com o filho. Frases dela e de outros personagens questionam o sentimento de maternidade da cantora. ―O Jayminho sente sua falta‖, alerta Inah (Ângela Dip), a mãe. ―Eu sou a mãe dele. Uma boa mãe‖, enfatiza Maysa que tem como resposta de André: ―Um dia ele vai crescer e há de julgar a boa mãe que você foi ou deixou de ser‖.

A relação com o filho Jayme foi, sem dúvida, destacada como um grande atrativo aos telespectadores. Não à toa, o fato está nas chamadas televisivas e figurava as mais diversas matérias e entrevistas sobre a estreia da minissérie, ora pelo relacionamento em si, ora por causa do fato de Jayme ser o responsável pela direção geral da obra. Na matéria que foi ao ar no Fantástico50, na véspera da estreia (04/01/2009), por exemplo, o fato de Maysa ser a mãe do diretor foi destacado três vezes.

O site oficial de Maysa – quando fala o coração51 também chama atenção ao se pensar sobre as parasserialidades enquanto atrativo. O espaço virtual englobou mais que as editorias comuns a sites da teledramaturgia da Rede Globo. Assim, além dos bastidores, vídeos, capítulos e personagens, links levavam o internauta a informações sobre a vida e a obra de Maysa, bem como um diário de produção e outro do diretor. Vale frisar que a página foi disponibilizada online seis meses antes da minissérie ir ao ar (BRANDÃO e FERNANDES, G., 2011, p. 47), tempo consideravelmente superior ao que costuma ocorrer (em média, um mês antes é o mais comum). O site abriu ainda espaço para a participação do público: Participe e Fale com o diretor eram os mais diretos, mas era em Mural que se podia conferir a popularidade da cantora ainda nos dias atuais – mesmo 32 anos após sua morte, reunindo 125 depoimentos, especialmente de fãs acima dos 40 anos, e que falavam de diversos aspectos da série e da trajetória da cantora, inclusive em suas vidas (BRANDÃO e

50

Ver em: <http://www.youtube.com/watch?v=nj7pB1OfhWI>. Acesso em: 23/01/2013.

51

FERNANDES, G., 2011, p. 49). Espaços como este, ―[...] além de contribuírem para os produtores terem um feedback de suas criações, fazem com que o público tenha outra plataforma para exprimir seus anseios de projeção identitária‖ (idem, p. 55).

Como se percebe, as diversas formas extra-narrativas de que lançaram mão as duas obras colaboraram tanto para atrair o público quanto para corroborar as características mais marcantes dos biografados. No caso de telebiografias e outras obras baseadas em textos anteriores, as minisséries servem ainda como marketing para suas próprias fontes – como os livros biográficos sobre Maysa e sobre Dalva de Oliveira e Herivelto Martins. As parasserialidades, portanto, mais que ―bulas‖ para as obras, como definiu Balogh (2002), servem como chamariz, como um convite ao público para desfrutar da minissérie. Mas é uma via de mão-dupla: se ajudam a obra a prosperar, aproveitam-se também dos conteúdos para se autopromoverem – com relançamentos de livros e pautando os chamados programas- contêineres da emissora.

No documento irisdearaujojatene (páginas 141-146)