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Parceria entre universidade corporativa e instituição de ensino superior

3 Revisão de literatura

3.4 Universidades corporativas

3.4.3 Parceria entre universidade corporativa e instituição de ensino superior

estratégico das organizações e, de outro, expertise acadêmica, de modo que, ao combinar rea- lidades distintas, haja, ao mesmo tempo, uma aproximação do mundo acadêmico com a reali- dade de mercado e um melhor aproveitamento de conquistas do saber da academia no mundo empresarial.

Para Alperstedt (2001) são várias as razões que contribuem para o estabelecimento de parcerias entre as universidades corporativas e as instituições tradicionais de ensino superior. Do ponto de vista das empresas, tais acordos podem ser motivados pela: (i) possibilidade de validação de créditos ou de diplomas; (ii) pela inexistência de instalações físicas na organiza- ção, como salas de aula, biblioteca e equipamentos, que podem ser oferecidos pela instituição parceira; (iii) pela necessidade de professores com conhecimento especializado e com experi- ência didática; (iv) pela necessidade de fundir currículos com a cultura corporativa. Por parte das instituições de ensino, a pareceria pode trazer as seguintes vantagens: (i) aproximação com a realidade organizacional das empresas; (ii) incremento das possibilidades de pesquisa;

(iii) ampliação das possibilidades de financiamento; (iv) aumento do potencial de captação de

estudantes.

O advento da universidade corporativa redefiniu a relação entre negócio e educação, segundo Meister (1998c, p. 20-26). Na visão da autora, progressivamente a aprendizagem e o trabalho tornam-se a mesma coisa e isso se dá antes no local de trabalho que na sala de aula.

À medida que o ritmo de mudanças se acelera com a introdução da desregulamenta- ção, com as pressões da competitividade e com os avanços tecnológicos, as corporações vão- se convertendo cada vez mais nos principais educadores da força de trabalho. Nesse contexto, existe um desafio que torna muito relevante a parceria entre universidades corporativas e uni- versidades convencionais: a atualização permanente da base de conhecimento dos emprega- dos. Para superar esse desafio, que envolve o empregado, a corporação e a instituição educa-

cional, é fundamental contar com as vantagens comparativas advindas de parcerias entre a universidade corporativa e a universidade convencional. Essa nova parceria entre negócio e educação está proativamente envolvida em garantir conhecimentos e habilidades necessários à força de trabalho de amanhã. Ainda segundo Meister (ibidem), o ponto de partida, tanto para a universidade corporativa quanto para a instituição de ensino superior, é a discussão aberta e o desenvolvimento de uma visão compartilhada da aliança. Em parcerias colaborativas bem sucedidas, nenhuma organização concentra o esforço ou define metas e resultados unilateral- mente.

No contexto específico do Setor Público brasileiro, no qual se inserem as universida- des corporativas que integram a presente pesquisa, o processo de se estabelecer parceria entre a universidade corporativa e a universidade acadêmica pressupõe, segundo a Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, a elaboração do projeto básico do programa por parte da instituição a que pertence a universidade corporativa e sua ampla divulgação aos potenciais fornecedores, pré- qualificados ou não, visando à obtenção de propostas para a sua realização.

A análise e a conseqüente escolha da instituição acadêmica deverão ser pautadas pelos critérios estabelecidos em edital próprio, e, via de regra, a definição da instituição parceira ocorrerá pela melhor combinação dos critérios de técnica e preço. No edital, elaborado pela instituição a que pertence a universidade corporativa, deverão estar explicitados, no mínimo, justificativa do programa; seus objetivos e resultados esperados; público-alvo; modalidade, desdobrada em programas lato sensu ou stricto sensu; metodologia, compreendendo a defini- ção de uma ou a combinação de duas ou mais metodologias para a realização do programa (presencial, semi-presencial ou a distância); local e período de realização do programa.

Uma vez delineada a visão e escolhida a instituição parceira acadêmica, o próximo passo é desenvolver plano de negócio que esboce os objetivos, estratégias e métodos de im-

plementação necessários para alcançar a visão compartilhada. Se se pretende bem sucedida a parceria entre negócios e educação, ela deve afetar diretamente resultados críticos, importan- tes para cada parceiro. Desenvolver uma parceria bem sucedida requer também o desenvolvi- mento de um vocabulário comum e o senso de confiança entre todos os envolvidos, especial- mente se nunca trabalharam juntos. A linguagem, as abordagens dos problemas e as formas de solucioná-los diferem entre pessoas de negócios e educadores. Se pessoas de negócios vão se comunicar com educadores, ambos devem aprender a linguagem do outro e entender as pers- pectivas do outro. Concluindo, Meister (ibidem) reconhece que, historicamente, tem sido en- fatizado um modelo em que a empresa é o cliente e a comunidade educacional, o fornecedor. Deve haver aí — como em qualquer boa associação entre cliente e fornecedor — um esforço de colaboração para se alcançarem objetivos comuns.

Finalizando a análise do processo de parceria entre universidade corporativa com insti- tuição de ensino superior para a realização de programa de pós-graduação, cabe ressaltar arti- go de Gaspar da Costa (2001, p. 61-71), em que a autora faz uma abordagem sobre o interesse das organizações em investir em programas de pós-graduação, tomando por base a experiên- cia de uma grande empresa privada nacional. Segundo ela, a razão do investimento em pro- gramas de pós-graduação para os empregados não está na falência do ensino convencional, mas na oportunidade de fortalecer o espírito de corpo na organização.

Gaspar da Costa (ibidem) afirma que a revolução tecnológica trouxe a exigência de um novo tipo de trabalhador, não com uma formação técnico-profissional restrita e especializada como demandara o capitalismo desde a revolução industrial, mas com visão holística, flexível, participativo, com raciocínio abstrato e criativo. Diferentemente do período taylorista e for-

dista, em que o treinamento para economizar tempos e movimentos na linha de produção era

fundamental para elevar os níveis de produtividade na indústria, o modelo atual requer eleva- ção dos patamares de escolaridade formal dos empregados, uma vez que é a partir da educa-

ção formal que se desenvolve o senso crítico e a visão do todo.

A autora, no entanto, entende que subjacente à necessidade de atender a esse novo per- fil profissional, o investimento na educação pós-graduada tem a finalidade de gerar compro- metimento do trabalho com o capital. Ela prossegue afirmando que a educação corporativa foi desenvolvida a partir da idéia da educação pela qualidade, no sentido de complementar o atual sistema formal de ensino. Na década de 90 fortalece-se o tripé qualidade-produtividade- rentabilidade, utilizado para tratar o conflito trabalho-capital como sendo uma relação coopta- tiva e não contrária. A busca pela qualidade significa tratar os trabalhadores como sócios, comprometidos com o capital. Continua a autora: o fato de as empresas modernas buscarem fora do ambiente da academia os cursos de pós-graduação não tem a ver com a qualidade do ensino superior no país. As corporações se interessam em constituir suas próprias universida- des corporativas para controlar o conhecimento que é direcionado aos seus empregados, com o propósito de incutir a mentalidade do espírito corporativo, do comprometimento com os resultados da empresa. Não é à toa que as empresas continuam investindo em suas universi- dades corporativas, uma vez que esse aceno pode substituir, a custos muito mais atraentes, a remuneração variável, ao desenvolver a mentalidade dos participantes no sentido de ser a em- presa também um empreendimento deles próprios. Cabe ressaltar, no entanto, que o emprega- do se beneficia desse contexto, à medida que o conhecimento adquirido valoriza sua carteira de competências, com reflexos diretos e proporcionais na sua empregabilidade.

Esse artigo de Gaspar da Costa (op. cit.) traz à tona uma abordagem singular, de cunho ideológico, enfocando, como tema do estudo, exatamente o segmento de pós-graduação que é o pano de fundo da presente dissertação. No entanto, as instituições pesquisadas para fins des- ta dissertação pertencem ao Setor Público Federal brasileiro e a empresa estudada pela autora integra o Setor Privado nacional. Embora não sejam ambivalentes, os setores público e priva- do têm-se aproximado muito em anos recentes, sobretudo pela transposição de conceitos de

gestão próprios do Setor Privado para melhorar os níveis de eficiência e de eficácia da gestão do Setor Público. O argumento central defendido pela autora de utilização da oferta de pro- gramas de pós-graduação para gerar maior comprometimento dos trabalhadores com as orga- nizações parece irrefutável. Há aderência desse propósito institucional com a intenção dos trabalhadores de evolução na carreira, pois uma a participação em programa de pós-graduação pode representar possibilidades de ascensão. Outro ponto de vista ressaltado pela autora diz respeito à utilização de programas de pós-graduação como forma de reter talentos. No caso do Setor Público, dadas as características de evolução funcional, via de regra pouco flexíveis, o investimento na oferta de programas de pós-graduação pode também significar fator relevante de preservação de quadros técnicos especializados.

Diante dos argumentos apresentados, neste capítulo, pode-se concluir que o estado da arte de universidades corporativas compreende: (i) visão clara do futuro da organização para que se possa contextualizar os rumos da universidade corporativa; (ii) suporte político para a priorização das ações de desenvolvimento profissional e institucional; (iii) definição quanto à forma de custeio do funcionamento e dos programas da universidade corporativa, consideran- do, fundamentalmente, se ela será um centro de resultados, inclusive financeiros, ou se haverá aporte integral de recursos por parte da própria organização; (iv) capacidade de identificação de conhecimentos críticos para o negócio, especialmente com foco prospectivo, ou seja, quais conhecimentos serão necessários para a sobrevivência e para o desenvolvimento da organiza- ção; (v) vinculação dos programas educacionais ao planejamento estratégico, inclusive com a mensuração de resultados; (vi) viabilização de programas educacionais destinados à agrega- ção de valor a processos, produtos e serviços, privilegiando-se, assim, o conhecimento aplica- do; (vii) definição de alianças e de parcerias institucionais, em especial com instituições de ensino e com centros de pesquisa; (viii) definição quanto ao envolvimento ou não da cadeia de valor; (ix) adoção de metodologias de ensino presenciais, semi-presenciais e a distância, com-

binando-as segundo as características de cada programa.

No próximo capítulo, serão abordados os métodos e os materiais utilizados para a pes- quisa de campo sobre o estado da prática de universidades corporativas do Setor Público Fe- deral brasileiro, estado da prática que será comparado ao estado da arte contemplado neste capítulo.

4 Materiais e métodos

A pesquisa de campo teve como propósito verificar — a partir de entrevistas com diri- gentes de universidades corporativas do Setor Público Federal brasileiro e de respostas a um questionário por parte de uma amostra representativa de egressos de programas de pós- graduação lato sensu, realizados em parceria por universidades acadêmicas e universidades corporativas, objeto deste estudo — se a hipótese levantada e seus desdobramentos se confir- mam na avaliação da população escolhida, ou, em outras palavras, se há aderência entre o estado da arte de universidades corporativas e o estado da prática das instituições pesquisadas, segundo a percepção da clientela.