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5.4 PARTE DOIS: TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NO USO DO SOLO ADVINDAS DA PRESSÃO ANTRÓPICA NO MUNICÍPIO DE COAR

No documento Coari : petróleo e sustentabilidade (páginas 193-200)

ANÁLISE ESPACIAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO USO DO SOLO EM COARI: 1987 A

5.4 PARTE DOIS: TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NO USO DO SOLO ADVINDAS DA PRESSÃO ANTRÓPICA NO MUNICÍPIO DE COAR

As transformações ocorridas no uso do solo no município de Coari, conforme citado anteriormente e para fins metodológicos, foram divididas em duas partes. A primeira, constante do item 5.3, envolveu as transformações diretamente relacionadas com as ações da Petrobrás na exploração de hidrocarbonetos na Província Petrolífera de Urucu (PPU). Essas transformações foram descritas seqüencialmente pela ordem das cenas (órbitas-pontos) das imagens constantes da Figura 4.2, em que as maiores transformações ocorreram nas cenas 1/63 e 233/63, sendo que nas demais se limitaram à abertura de clareiras para prospecção de sísmica (CAS) e helipontos.

A segunda parte em que foram divididas as transformações no uso do solo envolve, basicamente, a expansão antrópica ocorrida no município de Coari, desde o início da exploração de hidrocarbonetos na PPU em 1987. Essa expansão antrópica ocorreu em função do intenso fluxo migratório das áreas rurais e de outros municípios vizinhos para a área da sede do município, em que grupos humanos vinham, e continuam vindo, na esperança de encontrar emprego e melhor qualidade de vida.

Esses movimentos migratórios, abordados no capítulo seis, exerceram uma pressão considerável sobre as áreas florestais circunvizinhas e comunidades adjacentes, aumentando de forma desordenada, o desmatamento dessas áreas, principalmente para construção de moradias, que na sua grande maioria, possuem condições precárias de habitabilidade.

Os resultados expostos a seguir apresentam uma espécie de “radiografia” dessa expansão urbana, tanto na área rural como urbana do município de Coari, por meio da análise do uso do seu solo, com o uso da metodologia de geoprocessamento inserida no sistema Spring. Para isto, a seqüência a ser apresentada obedecerá às cenas TM/Landsat contidas na Figura 4.2, com maior ênfase sobre a cena 233/63 onde ocorreram as maiores transformações e onde se situa a área urbana do município.

Utilizando as informações contidas em cada classe do PI, aplicando os algoritmos de “medidas de Classes” e “tabulação Cruzada” do Spring, foram feitas as medidas de áreas dos PI que abrangem a mesma cena TM/Landsat e, assim, se mensurar os valores de área, medidos em km2, de cada classe e, conseqüentemente, as transformações ocorridas no uso do

solo ao longo do período estudado.

Os PI utilizados são os que constam da Tabela 5.2, a partir do sul do município de Coari, começando pela cena TM/Landsat 233/64, seguindo pela 1/64 e assim por diante, finalizando na cena 233/63, que abrange a área urbana de Coari.

5.4.1 - Transformações ocorridas no uso do solo na área da cena TM/Landsat 233/64 A Tabela 5.11 apresenta os valores de áreas de cada classe obtidos com o algoritmo “medidas de classes” do Spring, para os PI abrangidos pela cena TM/Landsat 233/64, em um período compreendido entre 1985 e 2003.

Tabela 5.11 – Áreas desmatadas resultantes da expansão antrópica – Área da cena TM/Landsat 233/64.

Ano Quantidade de feições Áreas das classes das feições (km2)

1985 346 6,05

1987 365 6,34

1999 457 7,67

2003 470 7,94

O crescimento antrópico, em termos de áreas ocupadas no solo, na área das imagens TM/Landsat 233/64, em um intervalo de 18 anos, foi relativamente pequeno, em torno de 1,89 km2, com um aumento de áreas ocupadas em 124 novas áreas, que não se pode afirmar que sejam áreas em termos de novas propriedades. A ocupação antrópica nessa região, como em toda a área rural do município de Coari, é basicamente feita às margens de rios, lagos e igarapés e, no caso da cena 233/64, concentra-se principalmente às margens dos rios Coari Grande e Itanhauã.

área da imagem TM/Landsat 233/64, a Figura 5.41 apresenta ampliações de dois PI, obtidas do Spring. Em sua parte esquerda consta um trecho da rede de drenagem do rio Coari Grande, do PI “drenagem_sul” (vide Tabela 5.3), em destaque para a área com um quadrado vermelho, cuja correspondência no terreno está na parte direita da figura, em que consta uma ampliação da imagem TM/Landsat 233/64 de 08/09/2003.

São possíveis visualizar sobre a imagem pequenas propriedades rurais às margens do rio Coari Grande, inclusive uma com área desmatada. As áreas desmatadas apresentam duas colorações: a de cor amarela, que é a resposta espectral de solo desmatado para algum tipo de cultura agrícola de subsistência; e, a de cor laranja, que é a resposta espectral correspondente a algum tipo de habitação; entretanto, essas correspondências necessitam ser verificado in loco, o que não invalida o fato de ser área desmatada para algum tipo de ocupação antrópica.

Figura 5.41 – Exemplo de uso do solo, por ação de desmatamento, em um trecho às margens do rio Coari Grande, na área da imagem TM/Landsat 233/64 de 08/09/2003, com uma feição

de área desmatada.

5.4.2 - Transformações ocorridas no uso do solo na área da cena TM/Landsat 01/64 A Tabela 5.12 apresenta os valores de áreas de cada classe obtidos com o algoritmo “medidas de classes” do Spring, para os PI abrangidos pela cena TM/Landsat 01/64, em um período compreendido entre 1987 e 2003.

Tabela 5.12 – Áreas desmatadas resultantes da expansão antrópica – Área da cena TM/Landsat 01/64.

Ano Quantidade de feições Áreas das classes das feições (km2)

1987 167 1,64

1999 366 4,96

2003 384 5,64

A área da cena TM/Landsat 1/64 encontra-se ao sul da PPU e, talvez por uma influência indireta desta, apresentou uma expansão antrópica acentuada, apesar de ter sido menor do que na área da cena TM/Landsat 233/64 (Tabela 5.11). No período compreendido

de 1987 para 2003 quase que quadruplicou a área desmatada. A área que sofreu maior quantidade de desmatamento situa-se às margens do rio Coari Grande, na maior elevação topográfica do município, em torno de 100 m de altitude, região representada com cor vermelha na Figura 5.36, próxima da fronteira sudoeste do município. Trata-se de uma região com possível encachoeiramento do rio Coari Grande, talvez a única no município com essas características topográficas.

A Figura 5.42 exemplifica algumas das transformações ocorridas no uso do solo da área da imagem TM/Landsat 01/64. Na parte esquerda superior da figura apresenta-se uma ampliação do mosaico do IBGE do estado do Amazonas, com ampliações obtidas do SPRING a partir do PI “antropico03_1/64” (Tabela 5.3). Em sua parte central superior consta um trecho do PI “antropico87_1/64” (Tabela 5.3); e, em sua parte direita superior consta um trecho do PI “antropico03_1/64” (Tabela 5.3); ambos sobre um trecho simplificado do PI “drenagem-sul” (Tabela 5.4), compreendendo um trecho do rio Coari Grande.

Figura 5.42 - a) Parte superior: exemplo de uso do solo por ocupação antrópica, por ação de desmatamento, ao longo de um trecho às margens do rio Coari Grande, na área da imagem TM/Landsat 01/64. b) Parte inferior: ampliações sobre as imagens TM/Landsat 01/64, de 17/07/1987, 03/08/1999 e 30/08/2003, com uma feição 0,61 km2 de área desmatada.

Pelo exame dessas ampliações da parte superior da Figura 5.42 é possível perceber como se deu à expansão antrópica ao longo das margens do rio Coari Grande, nesse trecho da cena TM/Landsat 01/64.

Na parte inferior da Figura 5.42 temos três ampliações de trechos das imagens TM/Landsat 01/64, de 17/07/1987, 03/08/1999 e 30/08/2003, respectivamente. Essas ampliações apresentam a feição de maior dimensão existente no PI “antropico03 1/64” (Tabela 5.3), centrada nas coordenadas geográficas de latitude sul de 05o 22´ 06.6” e longitude oeste de 65o 24´24.37”, próximas das curvas de nível de 100 metros de altitude. Essa feição possui uma área desmatada de 0,61 km2 em 2003, que em 1987 era de 0,13 km2 e

em 2003 era de 0,14 km2. Observa-se que a coloração da feição é esverdeada, o que não caracteriza solos totalmente expostos, restando alguma vegetação ou uma cultura agrícola. Todavia, essas correspondências necessitam ser verificado in loco, o que não invalida o fato de ser área desmatada para algum tipo de ocupação antrópica.

5.4.3 - Transformações ocorridas no uso do solo na área da cena TM/Landsat 01/63 A Tabela 5.13 apresenta os valores de áreas de cada classe obtidos com o algoritmo “medidas de classes” do Spring, para os PI abrangidos pela cena TM/Landsat 01/63, em um período compreendido entre 1987 e 2003.

Tabela 5.13 – Áreas desmatadas resultantes da expansão antrópica – Área da cena TM/Landsat 01/63

Ano Quantidade de feições Áreas das classes das feições (km2)

Áreas Antrópicas Áreas Antrópicas da

Petrobrás

Áreas Antrópicas Áreas Antrópicas da Petrobrás

1987 100 08 8,15 0,86

1999 220 25 10,71 9.91

2003 250 67 15,66 17,18

A área da cena 01/63 é a área da PPU e, talvez por uma influência indireta desta, apresentou uma expansão antrópica acentuada, maior do que as observadas nas áreas das cenas TM/Landsat 233/64 (Tabela 5.11) e 01/64 (Tabela 5.12).

As Figuras do item 5.3 exemplificam transformações no uso do solo que foram feitas por ação direta da Petrobrás. As explicitadas na Tabela 5.6 não envolvem a construção de alojamentos, base de apoio, portos, estradas da PPU.

A Figura 5.43 complementa a Figura 5.24 e apresenta uma composição colorida obtida por meio de fusão de trechos das imagens TM/Landsat 01/63 e Ikonos, do ano de 2000, produzidas pelo Departamento de Cartografia da Petrobrás. Na Figura é possível se visualizar o campo petrolífero RUC à esquerda, o campo petrolífero LUC à direita e uma ampliação do pólo Araras (no RUC) embaixo à esquerda. Excetuando o que já foi apresentado na Tabela 5.6, que envolvia, basicamente, poços, CAS e helipontos, seriam essas as principais transformações causadas pela Petrobrás na PPU.

Figura 5.43 – Transformações causadas no uso do solo pela Petrobrás na PPU (área da cena v 01/63): a) campo RUC; b) campo LUC e c) detalhe do pólo Araras.

Fonte: Adaptado de Petrobrás (2001)

No período compreendido entre 1987 e 2003, as transformações no uso do solo sofreram um aumento considerável em área desmatada, pois avançou de 0,86 km2 em 1987 para 17,18 km2 em 2003, devido à própria instalação e expansão da PPU, em um total de 67 feições distintas, sem considerar os helipontos, CAS e poços de exploração descritos na tabela 5.6.

Deve ser considerado que, na cena da imagem TM/Landsat 01/63, aparecem ao longo do período estudado áreas de desmatamento que constam da Tabela 5.13 que não se pode precisar se foram feitas pela Petrobrás ou por comunidades ribeirinhas ao longo do rio Urucu.

Conforme citado no capítulo um, a exploração de hidrocarbonetos na PPU teve recomendações feitas por especialistas de diversas áreas de conhecimento, seguidas com certo rigor pela Petrobrás, no sentido de que a exploração de hidrocarbonetos não atraísse movimentos migratórios para a região da PPU, incluindo aí a presença de madeireiros. Mesmo assim, existe a dificuldade de se afirmar à origem da expansão antrópica feitas por comunidades ribeirinhas citada na referida Tabela. Todavia, ela aconteceu e quase que dobrou de 1987 para 2003, passando de 8,15 para 15,66 km2.

A Figura 5.44 apresenta, como exemplo de área que sofreu ampliação na quantidade de desmatamento, uma feição situada na posição geográfica de latitude sul de 04o 42’ 27” e

longitude oeste de 064o 42´ 59”, às margens do rio Urucu, distante de cerca de 50,1 km à nordeste da base de apoio da PPU. Essa feição aumentou sua área desmatada de 0,12 km2 em 1987 para 0,27 km2 em 2003.

Figura 5.44: Exemplo de expansão antrópica por desmatamento às margens do rio Urucu. Área da cena TM/Landsat 1/63.

A Figura 5.45 apresenta, como exemplo de área que sofreu um aumento na área desmatada, um conjunto de doze (12) feições situadas próximas à posição geográfica de latitude sul de 04o 37’ 03” e longitude oeste de 065o 12´ 42”, nas proximidades das margens do rio Aruã, distante de cerca de 29,16 km à norte da base de apoio da PPU.

Na imagem TM/Landsat 01/63 de 02/08/1987, situada à esquerda da Figura 5.45, observa-se que não existiam as feições desmatadas. Na imagem de TM/Landsat 1/63 de 14/10/1999, situada ao centro da Figura, as feições aparecem na coloração amarela, que indicam solo exposto, com uma área total 0,40 km2. Na imagem de TM/Landsat 1/63 de 30/08/2003, situada à direita da Figura, as feições já não aparecem com o mesmo detalhe, indicando uma possível regeneração da cobertura florestal, com 0,2 km2 de área desmatada.

Essas correspondências necessitam ser verificado in loco o que não invalida o fato de ser área desmatada para algum tipo de ocupação antrópica.

Figura 5.45: Exemplo de expansão antrópica por desmatamento nas proximidades das margens do rio Aruã. Área da cena TM/Landsat 1/63.

Outros exemplos poderiam ser citados na área da cena TM/Landsat 01/63, para comprovar a crescente ampliação da área desmatada, não caracterizada como pertencentes à exploração de hidrocarbonetos na PPU. O que cabe ressaltar, conforme abordado no capítulo seis, é que houve uma migração antrópica intensa da área rural para a sede do município de Coari, com um acentuado esvaziamento do campo; assim, devido à falta de dados de campo, não se pode afirmar que essas áreas desmatadas estejam sendo utilizadas para algum tipo de ocupação antrópica.

As transformações no uso do solo do município de Coari citadas até aqui foram relacionadas diretamente com a PPU; em ordem crescente de transformações, de acordo com as seguintes cenas TM/Landsat: 233/64, 01/64 e 01/63. Segue-se a abordagem, também em ordem crescente, das transformações relacionadas com as seguintes cenas: 01/62, 232/62, 232/63 e 233/63, sendo nesta onde se concentram os maiores impactos advindos da exploração de hidrocarbonetos, no que tange à acentuada migração das áreas rurais para as áreas urbanas do município.

5.4.4 - Transformações ocorridas no uso do solo na área da cena TM/Landsat 01/62 A Tabela 5.14 apresenta os valores de áreas de cada classe obtidos com o algoritmo “medidas de classes” do Spring, para os PI abrangidos pela cena TM/Landsat 01/62, em um período compreendido entre 1987 e 2003.

No documento Coari : petróleo e sustentabilidade (páginas 193-200)

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