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2 BASE CONCEITUAL

2.1 PATENTE

Conforme Merola (2009), “o direito do inventor denomina-se privilégio de invenção; e o título que o comprova é a patente”.

INPI (2013) define patente como um título de propriedade temporária, outorgado pelo Estado aos inventores ou outras pessoas físicas/jurídicas detentoras de direitos exclusivos à exploração industrial e comercial do invento. É o instrumento oficial para conceder o privilégio do monopólio ao inventor, que se obriga a descrever detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente.

De acordo com Assis Neto (2010), “a patente tem como pressuposto a extinção do segredo industrial, supostamente, em benefício da sociedade, o que viria a tornar o conhecimento da tecnologia acessível a todos”. Merola (2009) acrescenta que a patente é fonte valiosíssima de informações técnicas, assim como informações sobre o mercado e seus atores. Por meio da patente, é possível realizar levantamento de tecnologias já conhecidas, de tecnologias que estão disponíveis para uso gratuito, de tendências de mercado, de apostas tecnológicas; indicar parceiros comerciais que possam estar desenvolvendo tecnologias complementares; entre outros.

Conforme INPI (2013), a patente tem como características fundamentais: limite temporal e interesse público na divulgação da informação contida no pedido de patente. Portanto, a patente é uma propriedade limitada temporalmente, visto que, após o transcurso de determinado período, cai em domínio público e torna-se disponível para utilização por toda a sociedade. Quanto ao interesse público na divulgação da informação contida no pedido de patente, a divulgação da informação permite à sociedade o livre acesso ao conhecimento da matéria objeto da patente. Dessa forma, outros inventores podem desenvolver pesquisas a partir de um estágio mais avançado do conhecimento, promovendo, assim, o desenvolvimento tecnológico do país.

A lei brasileira, que trata de propriedade industrial (Lei nº 9.279, de 14.05.1996), traz duas modalidades para patenteamento: patente de invenção e modelo de utilidade. A patente

de invenção (PI) é concedida a produto ou processo que atenda aos requisitos de: atividade inventiva, novidade e aplicação industrial. Sua validade é de 20 anos a partir da data do depósito. Já o modelo de utilidade (MU) é um objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. Sua validade é de 15 anos a partir da data do depósito (INPI, 2013).

2.1.1 A patente no Brasil

Embora o Brasil tenha sido um dos primeiros países-membros a assinar, em março de 1883, a primeira convenção para proteção da Propriedade Industrial – a Convenção da União de Paris para a Proteção da Propriedade Industrial (CUP), a disseminação da cultura para proteção do patrimônio intelectual do país ainda é incipiente (SOUZA et al., 2006; MARQUES, 2013).

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é o representante do Estado brasileiro responsável pela concessão da patente. O Instituto é uma autarquia, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, criada pela Lei nº 5.648, de 11 de dezembro de 1970, e regulamentada pelo Decreto nº 68.104, de 22 de janeiro de 1971 (INPI, 2013).

Em 14 de maio de 1996, entrou em vigor a Lei da Propriedade Industrial – LPI (Lei nº 9.279), norma brasileira que regula direitos e obrigações relativos à Propriedade Industrial. Seu Título I dispõe sobre patentes, estabelecendo regras e critérios para a titularidade; a patenteabilidade; o pedido de patente; a concessão e a vigência da patente; a proteção conferida pela patente; a nulidade da patente; as cessões e as anotações; as licenças; a patente de interesse da defesa nacional; o certificado de adição de invenção; a extinção da patente; a retribuição anual; a restauração; e a invenção e o modelo de utilidade realizado por empregado ou prestador de serviço.

A FAPESP (2011) apresenta um estudo, com 2 volumes, intitulado Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo 2010. O volume 1 traz, em seu Capítulo 5, particularidades das atividades de patenteamento no Brasil e no exterior. Na análise deste capítulo, as seguintes conclusões merecem destaque:

(1) Quanto ao posicionamento no ranking de patentes: Em 32 anos (1974 a 2006), o Brasil preservou o mesmo posicionamento no ranking de patentes depositadas no escritório dos Estados Unidos (USPTO – United States Patent and Trademark

Office): 29ª posição. Com relação às patentes triádicas, ou seja, patentes submetidas simultaneamente aos três principais escritórios de patente atualmente (European Patent Office – EPO, U.S. Patents and Trademark Office – USPTO e Japan Patent Office – JPO), o posicionamento do Brasil também não apresenta alterações significativas. Inicialmente na 27ª posição (em 1985), sobe para a 26ª posição em 2005.

(2) Quanto aos subdomínios líderes no Brasil: Dados processados do INPI, no período de 1980 a 2005, apontam que, para patentes depositadas no INPI por titulares no Brasil, tanto os quatro subdomínios líderes no país como sua ordem mantiveram-se (Consumo das famílias, Manutenção e gráfica, Construção civil e Transportes). Já para as patentes depositadas por não residentes no Brasil, os subdomínios líderes são: Química de base, entre 1980 e 1989; e Farmacêutico- cosméticos, entre 1990 e 2005.

(3) Quanto aos estados líderes em depósito de patente: São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina são os seis estados líderes, correspondendo a 90,4% do total das patentes entre 1980 e 2005.

(4) Quanto à natureza jurídica dos titulares: Pela natureza jurídica do titular, no período 1980-2005, 26,5% das patentes foram depositadas no INPI por pessoas jurídicas. Neste período, o número de pessoas jurídicas totalizou 9 552, sendo liderado pela Petrobras. Em relação às patentes de pessoas físicas, 37985 pessoas físicas depositaram patentes no INPI entre 1980 e 2005. Nesse conjunto, há seis inventores com mais de 50 patentes, dentre eles: C. Lorenzetti, com 103 patentes, e Nelson Bardini, com 93 patentes. Portanto, as patentes depositadas por pessoas físicas são mais numerosas do que as depositadas por pessoas jurídicas.

Diante do cenário exposto, segundo FAPESP (2011), é importante observar que:

(1) A manutenção do posicionamento do Brasil no ranking de patentes depositadas não deve ser uma meta para um país em desenvolvimento. A superação do subdesenvolvimento reflete, entre outros elementos, na posição tecnológica internacional do país. Portanto, as políticas de desenvolvimento industrial, científico e tecnológico do Brasil devem estar voltadas para a entrada do país em novas indústrias, preferencialmente em tecnologias emergentes, tais como biotecnologia e nanotecnologia.

(2) Como o registro de patentes atribui monopólio (temporário) aos titulares, o predomínio das patentes de não residentes em subdomínios tecnológicos associados a atuais tecnologias de ponta e tecnologias emergentes pode significar uma forte barreira à entrada nesses setores/tecnologias ou representar um alto custo. No entanto, a estabilidade dos subdomínios tecnológicos líderes para patentes de residentes indica a continuidade dos esforços tecnológicos nessas áreas.

(3) A predominância de patentes depositadas por pessoa física no período entre 1980 e 2010, de acordo com Penrose (1973), pode ser considerada um indicativo de subdesenvolvimento.

2.1.1.1 A evolução histórica da legislação nacional

Com o desenvolvimento tecnológico, fez-se necessária a elaboração de regras e normas que garantissem o reconhecimento e proteção dos direitos de propriedade intelectual, com foco principal em patente. O Quadro 2.1 apresenta a evolução histórica da legislação nacional relacionada ao tema.

Norma Data Assunto

Lei sem número 28/08/1830 Garante ao inventor o uso e a propriedade exclusiva da invenção por meio da patente

Lei 3.219 14/10/1882 Fixa em 15 anos o privilégio exclusivo da invenção Decreto 24.507 29/06/1934

Aprova o regulamento para a concessão de patentes de desenho ou modelo industrial, para o registro do nome comercial e do título de estabelecimentos e para a repressão à concorrência desleal

Lei 7.903 27/08/1945 Primeiro Código de Propriedade Industrial Decreto-Lei 1.005 21/10/1969 Segundo Código de Propriedade Industrial

Lei 5.648 11/12/1970 Cria o INPI – Instituto Nacional de Propriedade Intelectual Lei 5.772 21/12/1971 Terceiro Código de Propriedade Intelectual

Decreto 1.355 30/12/1994 Torna o TRIPS de observância obrigatória no território brasileiro (internalização)

Lei 9.279 14/05/1996 Dispõe sobre direitos e obrigações relativos à propriedade industrial

Decreto 3.201 06/10/1999 Dispõe sobre a concessão de licença compulsória nos casos de emergência nacional e de interesse público

Lei 10.196 14/02/2001 Altera e acrescenta dispositivos à Lei 9.279/96, criando o mecanismo da exceção bolar e da anuência prévia da Anvisa Decreto 4.830 04/09/2003

Altera o Decreto 3.201/99, modificando regras da licença compulsória nos casos de emergência nacional e de interesse público

Lei 10.973 02/12/2004 Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo

Portaria 985, GM/Ministério da Saúde

24/06/2005 Declara os princípios ativos Lopinavir e Ritonavir (Kaletra) de interesse público

Quadro 2.1 Evolução histórica da legislação nacional Fonte: GTPI (2013)

2.1.2 A patente na Universidade brasileira

Segundo Póvoa (2008), as universidades possuem papel fundamental no sistema nacional de inovação, uma vez que atuam como formadoras de cientistas e profissionais atuantes na indústria, além de agirem como fontes de conhecimentos científicos e de pesquisas, fornecendo técnicas úteis para o desenvolvimento tecnológico. Ainda, de acordo com o autor, governos de vários países industrializados têm incentivado a interação universidade-indústria, reconhecendo a relevância da pesquisa acadêmica como fonte de conhecimento para o avanço tecnológico.

Conforme FAPESP (2011), as universidades brasileiras vêm aumentando o número de depósitos de patente a partir da segunda metade da década de 1990. No ranking das 20 empresas e instituições líderes no Brasil, há cinco universidades: Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (UNESP).

É importante observar que as mudanças na lei de patentes e o advento da Lei da Inovação proporcionaram uma maior preocupação das universidades quanto à proteção de suas invenções, influenciando, portanto, o crescente número de patentes acadêmicas no Brasil (FAPESP, 2011; MEROLA, 2009).

Diferente da estatística apresentada na seção 2.1.1, a pesquisa realizada por FAPESP (2011) indica o potencial que as instituições de ensino e pesquisa têm para renovar a base tecnológica do país, relacionando em segundo lugar o subdomínio Farmacêutico-cosméticos, em quarto lugar o subdomínio Engenharia médica, e na oitava posição, Biotecnologia.

Na tendência da crescente preocupação com os depósitos de patente acadêmica, a Folha de S. Paulo (2013) desenvolveu uma metodologia, com o objetivo de fornecer uma listagem ordenada das principais universidades brasileiras. O Ranking Universitário Folha (RUF), além do indicador de inovação (número de pedidos de patente entre 2002 e 2011), utiliza indicadores de pesquisa, a opinião do mercado de trabalho e a opinião de pesquisadores renomados.

O Quadro 2.2 apresenta as 10 primeiras posições para a classificação geral e para o indicador de inovação no ano de 2013 e a classificação fornecida por FAPESP (2011).

Ranking Universitário Folha FAPESP

Posição Classificação

Geral

Indicador de

Inovação Classificação

1º USP USP UNICAMP

2º UFRJ UNICAMP UFMG

3º UFMG UFMG UFRJ

4º UFRGS UFRJ USP

5º UNICAMP UFRGS UNESP

6º UNESP UFPR -

7º UFSC UNESP -

8º UNB UFPE -

9º UFPR UFSC -

10º UFPE UFV -

Quadro 2.2 Classificação das universidades segundo o RUF e pesquisa da FAPESP Fonte: Elaborado durante a pesquisa

De acordo com FAPESP (2011), as cinco universidades brasileiras com maior número de patentes acadêmicas depositadas no período de 1980 a 2005 são: UNICAMP, UFMG, UFRJ, USP e, por último, UNESP. Todas pertencentes à região Sudeste. No entanto, na pesquisa realizada pela Folha de São Paulo, considerando o período de depósitos de patentes entre 2002 e 2011, a USP sobe 3 posições; a UFMG e a UFRJ caem uma cada e a UNESP cai 2 posições. É importante destacar a inclusão da UFRGS na 5ª posição no RUF para o indicador de inovação, única representante da região sul do país. Apesar de estar na 8ª posição, a UFPE é a única universidade da região nordeste a figurar no Quadro 2.2.