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Pautas ambientais nas revistas brasileiras

No documento Ebook Rio20 (páginas 64-69)

Recortamos, como ponto focal na organização do relato sobre as pesquisas realizadas no Brasil, aquelas que têm as revistas de informação geral como objeto e com foco na questão ambiental, pois assim podemos organizar o conhecimento buscando uma contribuição direta ao estudo que ora apresentamos. Fizemos a síntese de artigos, dissertações e teses em ordem cronológica de publicação, o que ao final também pode compor um panorama da evolução destes estudos. Nossa busca deu-se nas bibliotecas de teses e dissertações brasileiras e nos periódicos científicos da área da Comunicação e do Jornalismo.

O primeiro artigo localizado é de Targino (1994), que relata o estudo de três revistas semanais de caráter informativo (Isto É, Manchete e Veja) com o objetivo de avaliar a relevância da informação ambiental; identificar os temas mais explo- rados; verificar a natureza das matérias publicadas e avaliar a qualidade técnica

jornalística. A análise de conteúdo de 39 edições da revista entre julho a setembro de 1994, apontou 17 matérias sobre o tema. O resultado da análise é que a infor- mação ambiental é tratada de forma “circunstancial, superficial e incipiente. A Manchete é a que mais destaca a informação ambiental e os temas mais explorados são ecoturismo, cosmo e Amazônia, com predominância das notícias nacionais” (TARGINO, 1994, p.38). A propósito, a revista Manchete deixou de circular no ano 2000.

[...] a informação ambiental veiculada pelas revistas analisadas, em sua quase totalidade, omite o processo de deterioração ecológica e a inefici- ência na gestão dos recursos naturais, mesmo com a responsabilidade da mídia, que figura como a primeira instância na produção de discursos e saberes da sociedade hodierna, superando, às vezes, a educação formal. Assim, afirma-se que a informação ambiental não constitui prioridade na- cional (TARGINO, 1994, p.57).

Na tese de Moura (2001), a análise teve o objetivo de identificar as três retó- ricas utilizadas ao longo dos anos a respeito dos valores da floresta amazônica e envolveu vários jornais de forma diacrônica (ao longo de um período histórico) e culminou com a análise do discurso de uma reportagem especial publicada pela revista Veja, na qual os elementos previamente selecionados estavam reunidos. A partir da observação sobre os valores atribuídos à floresta e as metáforas utiliza- das na narrativa, a autora conclui que:

A metáfora central no texto em análise é a da [mata dos ovos de ouro]. Mantém a defesa do valor de mercadoria da Floresta, mas deixa um espaço aberto para os críticos da valoração econômica do meio ambiente. O espaço aberto fecha em um piscar de olhos e demonstra que os [devidos cuidados] devem ser dados à Floresta para que continue produzindo seus [ovos de ouro] e não por algum motivo estético, filosófico, romântico, religioso ou qualquer outro defendido pelos [xiitas da ecologia] (MOURA, 2001, p.15).

Silva (2005) também estudou a cobertura à floresta amazônica em revistas internacionais e na revista Veja a partir da Análise do Discurso e da teoria do enquadramento. A conclusão da tese de doutoramento, Estudo comparado do

enquadramento e do discurso jornalístico sobre a Amazônia nas revistas, Time e The Economist foi de que o tratamento tanto nacional quanto internacional in- dica a proteção da floresta. Considerou que os enquadramentos enaltecem a im- portância ambiental e econômica da região, porém, desqualificam o Brasil para a tarefa necessária de conservação, indicando a corrupção ambiental como entrave (SILVA, 2005).

Na dissertação de Angelo (2008), O Jornalismo Ambiental como ferramenta para a sustentabilidade, o foco são as revistas Veja, Isto É e Época, analisadas no período de outubro de 2006 a outubro de 2007. As matérias foram agrupadas a partir de uma análise de conteúdo temático: Biodiversidade, Mudanças globais e Relações Socioambientais. As reportagens foram avaliadas em relação à qualidade do texto, da ilustração, fontes e tratamento geral. O autor aponta como principais conclusões o número de publicações dos temas, sendo que a revista Época supe- rou as demais, seguida por Isto É e Veja. A apreciação apontou o crescimento do interesse pelo tema após o 4o Relatório do IPCC e que, em sua maioria atingiu o

objetivo de informar sobre o tema.

Num artigo sobre o tratamento de pautas ambientais da revista Veja entre 1985 e 2005, Campos (2006) indicou mudança da revista na abordagem do tema. Uma delas é que houve aumento no uso de expressões como “proteção ao meio ambiente”, “impacto ambiental” e “ecologia” no decorrer dos anos. O tema am- biental em meados dos anos 1980 é apontado pela autora como secundário, en- quanto que o ângulo se modificou especialmente por influência da Rio92, pois as ângulações de reportagens de temas recorrentes foram alteradas, como exemplo as que tratavam da Floresta Amazônica: “a primeira reportagem analisada, de 1985, a respeito da venda de peixes ornamentais, e a matéria sobre o fogo que des- trói a floresta e a saúde, em 2005” (CAMPOS, 2006, p.13).

Tonini e Seligman (2011) apresentaram levantamento de análise de conteúdo sobre a frequência do tema ambiental nas capas da revista Veja desde seu lança- mento em setembro de 1968 até março de 2011, quando a pesquisa encerrou a co- leta. Além da presença realizaram a ligação com os critérios de noticiabilidade. A pesquisa concluiu que o tema ambiental é pautado na maioria das vezes pela nega- tividade e pelo desvio, especialmente presentes nos desastres ambientais. Os crité- rios seguintes se referem a “paraísos exóticos” e por último aparecem as questões sociais, demonstrando que há “[...] mais espaço para se apreciar a biodiversidade

brasileira do que para travar discussões educativas sobre a ação inconsciente do homem na natureza” (TONINI e SELIGMAN, 2011, p.16).

As semanais Veja e Carta Capital foram analisadas durante a cobertura da Conferência do Clima de 2009, a COP 15, por Costa et al (2011) que apontaram enfoques diferenciados em relação às principais fontes de informação e também do ponto de vista econômico e político. Concluem que ambas usaram fontes es- trangeiras de forma prioritária quando trataram do aquecimento global, sendo a “ONU e os órgãos ligados a ela, especialmente o IPCC, entre as instituições internacionais mais citadas” (COSTA el al., 2011, p.11). Porém, salientam que en- quanto Veja coloca em cheque a credibilidade do IPCC, destacando o vazamento de mensagens eletrônicas de alguns cientistas em 2009 (Climagate), Carta Capital trouxe o órgão como fonte inquestionável.

A prática discursiva de um conjunto de revistas brasileiras, de circulação na- cional, foi objeto da tese de doutorado Uma ecologia do Jornalismo: o valor do ver- de no saber dizer das revistas da Abril, de Schwaab (2011). A análise foi realizada a partir de textos editoriais e reportagens de capa para buscar como as revistas se posicionam em relação ao discurso sobre o meio ambiente. Entre as revistas estudadas, que fazem parte do projeto Planeta Sustentável, encontra-se a semanal Veja. Para o autor, “[...] a credibilidade em poder dizer, inerente ao Jornalismo, é elemento reiterado na inscrição discursiva das revistas no valor do verde para a constituição de um lugar de saber dizer o tema”. (SCHWAAB, 2012, online)

A natureza do “discurso sobre”, que caracteriza o Jornalismo, impulsiona- do por uma vontade de “desambigüização” (Mariani, 1998), faz com que as publicações utilizem os valores que compõem a memória do dizer so- bre meio ambiente para passar em revista a questão ecológica e inseri-la naquilo que cabe na sua ordem (institucional, editorial, mercadológica), propondo uma gramática verde adequada ao tempo presente, ou seja, uma ecologia das revistas (SCHWAAB, 2012, online)

Sobre a revista Veja, o autor aponta que esta constrói um lugar demarcado em que há um esforço em mostrar o valor de sua identidade pela qual se apre- senta ao seu leitor. O processo discursivo aciona a memória do fazer jornalístico, “[...] isento e baseado na verdade dos fatos”. No entanto, este fazer encobre a sub- jetividade, afirmando-se desta forma como fiel ao leitor e defensora do Brasil.

Desta forma, Veja apresenta o tema ambiental dentro de um projeto maior de seu discurso. Além disso, conforme o autor, “[...] aciona o lugar social do Jornalismo em geral, o lugar do seu Jornalismo, a instituição (Abril) que a sustenta e, por fim, que lugar tem o seu discurso acerca das problemáticas trabalhadas” (SCHWAAB, 2012, online).

Já na dissertação Fontes jornalísticas em Veja: enquadramento como estratégia de noticiabilidade em pautas de clima e meio ambiente, Miranda (2012) investiga a relação dos enquadramentos realizados pela revista com a escolha das fontes que figuram nas reportagens do periódico durante o primeiro semestre de 2011. Entre as observações, chama a atenção de que os assuntos mais abordados são re- lacionados às catástrofes e a preservação ambiental. Em relação ao Brasil, segundo a autora da pesquisa, Veja aponta um país de “problemas ambientais”, já que as “soluções sustentáveis que o país já pratica” não merecem atenção (MIRANDA, 2012, p.87). A conclusão é de que as escolhas das fontes são determinantes para o enquadramento escolhido pela publicação.

A leitura das falas das fontes nos levou a compreender que suas visões de mundo e pontos de vista são, de certa forma, um recorte que o próprio jor- nalista faz sobre a realidade, de modo a poder construir o quebra-cabeças de informações e referências com o qual compõe a reportagem (MIRAN- DA, 2012, p.88).

Neste item, apresentamos as consultas a três teses de doutorado (MOURA, 2001; SILVA, 2005; SCHWAAB, 2011) enquanto que localizamos apenas duas dissertações (ANGELO, 2008; MIRANDA, 2012). Os outros textos citados são decorrentes de estudos, levantamentos e pesquisas não associados a teses ou dis- sertações, mas com o foco em revistas de informação geral e a questão ambiental, publicados em anais de eventos ou revistas. O levantamento indica que há espaço para nossa pesquisa, abordando as questões discursivas e do enquadramento da mudança climática pelo Jornalismo, tópico que será melhor detalhado no item seguinte.

No documento Ebook Rio20 (páginas 64-69)