• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 5 – PEÇAS ARTESANAIS

5.8 PEÇA 7 – FONTES DE ÁGUA

A água é um elemento em movimento, sonora, sensorial e aguça os sentidos humanos e remete à vida. Ela tem funções terapêuticas, satisfação das necessidades, higiênicas, e regulação de temperaturas. Na figura 40, a fonte de água foi elaborada pelos artesãos pensando no encaminhamento do líquido e no recipiente de armazenamento.

Figura 40 – PEÇA 7 - Fonte de água 2 FA confeccionada pela Cia do Bambu.

Fonte: elaborado pelo autor, 2010.

Esta composição depende da ação da água movida por um motor mecânico para se completar. O movimento induzido da água remete a um chafariz e traça uma linha imaginária e física do desenho, o qual se sobrepõe ao fundo, composto por tiras de bambu amarradas.

A imagem lembra a composição de um quadro, com bambus com cortes diversos. Quanto ao equilíbrio do desenho, existe uma intenção espontânea em equilibrar as diversas cascatas que culminam em um recipiente de grande volume. Este tem a função de armazenar a quantidade de água necessária para subir, e também o dispositivo mecânico que impulsiona o líquido. Entretanto, o tamanho, se comparado aos outros elementos de composição (cascatas), é desproporcional.

Além disso, sua posição no quadro causa um aguçamento visual extremo, que não está em equilíbrio com outro elemento. Ele está assimétrico em relação ao eixo mediano da peça: em cima existe um espaço vazio que não está compensado com os elementos da outra metade. “Os conceitos visuais que temos de muitos objetos caracterizam-se por simetrias estruturais que se evidenciam mais diretamente por certos aspectos do objeto” (ARNHEIM, 2008, p. 100).

Como a composição bidimensional é plana, destacam-se as relações entre forma e fundo. Tiras de bambu, amarradas paralelamente, e a armação formam a estrutura da

peça. Ela funciona como fundo. As cascatas compostas por bambus cortados e dispostos alternadamente formam as figuras. Isto explica que uma peça, para ser equilibrada, ela precisa ser pensada a partir destes dois aspectos que dizem respeito à escala e a proporção.

A forma geométrica remete à observação de formas já existentes. O retângulo serviu de base para a composição porque era uma forma familiar. Os artesãos não souberam trabalhar com as linhas visuais para atingir o equilíbrio compositivo. Embora o conjunto composto pelos recipientes forme uma massa visual, o modo como foram dispostos no retângulo transmite uma sensação de desarmonia. Um olhar desatento do observador pode esconder este fato, e substituir o foco pela beleza do material. Um truque estético seria fixá-lo na parede acima da linha do horizonte de uma pessoa de altura média (1,70m) de forma a amenizar este efeito desarmônico. Isto vale para pequenas distâncias, em ambientes internos.

A dimensão, largura e altura (em média 60x80cm) podem limitar a utilização em ambientes internos. Por outro lado, se colocada em uma varanda, em um hall de entrada ou em uma instituição de ensino, em um consultório de psicologia, um espaço religioso, meditativo, ela assume funções que vão do sinestésico ao plástico.

Figura 41- PEÇA 7 – Fonte de água 2FA confeccionada pela Cia do Bambu.

Figura 42 - PEÇA 7 - Croquis (planta) da fonte de água 2FA executado pelo arquiteto. Fonte: elaborado pelo autor, 2010.

Figura 43 - PEÇA 7 Croquis da fonte de água 2FA executado pelo arquiteto (perspectiva).

Fonte: elaborado pelo autor, 2010.

A fonte de água, na figura 41, tem dimensões reduzidas e pode ser colocada em uma mesa de canto. Ela foi idealizada a partir de um projeto norteador e contribuições pessoais. O caminho percorrido pela água não é valorizado quando comparado ao seu volume. Tem-se uma percepção sinestésica da água tal qual em uma fonte no meio natural. Ela não fica contida, mas sim aparente. As ideias de figura e fundo estão embutidas em um cenário.

A base do desenho orgânico é a espontaneidade da curva, e aparece na peça da figura 41 em duas situações: (a) nos tamanhos variados das bolas de junco colocadas ao lado direito do condutor da água, (b) e no lado esquerdo com a flor em fibra de bananeira. Este estilo de desenho utiliza as formas curvas da natureza, não geometrizadas.

As minúcias foram idealizadas pelos artesãos e remetem aos recursos da proporção e da assimetria – bola de junco, flor e trançado de fibra de bananeira. A maneira de dispor estes acessórios sobre o deck teve também uma intenção plástica. O conjunto formado pelas bolas cria um volume e um peso visual que são compensados por uma flor de cor clara, estabelecendo nesta composição uma proporção similar e quase plana. “O circulo é uma forma não marcada ou neutra, que representa qualquer configuração, até que ela seja nitidamente oposta a outra, formas marcadas, tais como quadrados ou triângulos” (ARNHEIM, 2008, p. 171).

As massas de claro e escuro são equilibradas em proporção de volume. Embora a peça tenha uma forma geométrica predominante, são os elementos naturais manuseados pelos artesãos que dão uma fruição na composição, textura, e cor. Dois planos se interceptam, sustentados visualmente por uma forma cilíndrica (o recipiente que contém a água). O plano horizontal é construído com o alinhamento de pedaços de bambu lembrando um deck que se apóia na base em argila. Este plano contracena com o outro em posição vertical, feito em roti, reduzindo aparentemente a altura da peça. O recipiente pode ser visto parcialmente e o deck restringe o acesso direto à água que está contida por uma forma fechada.

O cilindro fica fechado em si mesmo e não estabelece relações com outras formas. Porém, quando a forma do círculo é quebrada pelo deck, a sensação visual do todo desaparece e se torna subentendida. Fica em suspense a parte ocultada e a satisfação visual pode ser completada pela parede ao fundo que atrai as linhas curvas. Arnheim (2008, p. 165) diz que “o círculo que com sua simetria central não particulariza nenhuma direção, é o padrão visual mais simples.”

A curvatura da parede permite o desalinhamento das posições das canaletas. O vertical, em roti, funciona como um suporte que apóia duas canaletas por onde corre a água. Ela é feita e ornamentada com flores de fibra de bananeira que funcionam como delimitadores da peça formando uma linha de contorno. Do mesmo modo, a totalidade da cor da cerâmica, a altura, a proporção são quebradas pelas duas linhas feitas com trançados em fibras brancas.

No quadro 7, faz-se um resumo sucinto, a partir dos conceitos teóricos, das tendências de mudanças ocorridas nas fontes de água antes (1FA) e depois das intervenções do pesquisador (2FA).

Quadro 7 - Comparativo analítico das fontes de água FONTE DE ÁGUA EM BAMBU – 1FA Linguagem Visual/ Equilíbrio Desenho/ Concepção Técnicas Estética/Forma e Função Aprendizado da técnica Médio Estável Resultado de aprendizado técnico Amarração e travamento complexos Convencional Função indefinida FONTE DE ÁGUA EM BAMBU – 2FA Aprendizado sistêmico - difícil Estável Resultado de projeto do produto Amarração, travamento e encaixe em materiais diversos Compatível com a função; estabilidade; Inovação formal

Fonte: elaborado pelo autor.