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CAPÍTULO 2 – MARCO TEÓRICO

2.1 VISÃO HISTÓRICA DAS REPRESENTAÇÕES E TÉCNICAS

As descobertas arqueológicas relevantes para a história da humanidade parecem trazer a curso a própria evolução técnica do homem em sua existência. A relação de transformação do corpo e relações que permitem prescindir o pensamento antes do agir, trouxeram à luz do entendimento a diferenciação do homem no meio animal.

Entretanto das teorias que procuram explicar a diferenciação da mente humana e sua evolução relativa à inteligência e capacidade de adaptação no meio, estão as propostas, John Tobby e pelo antropólogo Irven De Vore, que se destacam por pesquisas no campo das ciências cognitivas8, procuram revelar as relações entre a evolução e a formação de grupos. Para eles, “as espécies evoluem umas à custa das outras” (PINKER, 1997, p. 202).

A intuição sobre objetos, forças, trajetórias, lugares, hábitos, estados, substâncias, essências bioquímicas ocultas, crenças e desejos, permitem combinar esses conhecimentos para criar em sua abstração a melhor solução de vida para o momento. (PINKER, 1997).

A técnica acompanha a evolução humana e permite desenvolver através da mentalidade criadora os desdobramentos e controle da matéria na perspectiva das soluções para necessidades humanas. Há de se observar que “o homem assim como o macaco são animais estritamente visuais”, segundo Pinker (1997, p. 207), a percepção da profundidade, o espaço tridimensional, a cor e textura dos objetos fixos ou móveis, facilitaram as abstrações visuais.

A criação, manejo e fabricação dos artefatos permitiram melhorar da capacidade de sobrevivência. O machado como objeto criado e o domínio das técnicas do seu manejo pelo homem veio transformar a matéria da natureza e moldar o mundo. As relações de conhecimento e domínio da natureza vão causar no século XIX a ilusão do

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As ciências cognitivas tratam de investigações no campo das cognições e do conhecimento. De caráter interdisciplinar se faz valer da psicologia cognitiva, da inteligência artificial, da filosofia da mente, da lingüística e da neurociência (OUTHWAITE & BOTTOMORE, 1996).

poder da ciência e tecnologia e irão colocar o racionalismo acima da intuição e percepção.

Pesquisas realizadas na França demonstram que seria necessário “um vocabulário de aproximados duzentos e cinquenta sinais para transmitir a habilidade” e gestos ou som para mostrar a ferramenta certa a ser usada. Os sons do aprendizado podem ter sido o mais importante resultado desta descoberta (BURKE e ORNSTEIN, 1998, p.39).

A comunicação e transmissão de técnicas pertinentes à sobrevivência humana se tornariam cada vez mais complexas em detrimento da quantidade de técnicas que surgiam. Este fator acabaria por contribuir para o aparecimento da criação de recursos com a finalidade de estender a capacidade da mente humana (BURKE e ORNSTEIN, 1998).

A transmissão das técnicas através da linguagem corporal e oral, a fabricação de recursos de extensão da memória contribuíram para o aparecimento de uma gramática capaz de comunicar um pensamento sequencial. Os intercâmbios das sociedades e as trocas de técnicas e produtos eram guardados cada qual na forma em que cada grupo sabia representar.

Não havia uma linguagem escrita ou um alfabeto comum como conhecemos na atualidade. Os objetos eram representados por desenhos, traços, aplicados ao bastão ou argila, de forma que poucos tinham acesso ao entendimento deste sistema de representações. A ideia de uma abstração que pudesse simplificar a comunicação viria por volta de 3.500 anos a.C na Mesopotâmia com a escrita cuneiforme e os desdobramentos em civilizações posteriores no Egito e Grécia.

No saber fazer da técnica do desenho do fim do século XVIII podia se encontrar as influências herdadas do Renascimento na perspectiva de Brunelleschi9, a geometria,

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Filippo Brunellesch i( 1377-1446) foi um arquiteto que viveu em Florença e fez parte de um movimento artístico composto por artistas como Dante e Giotto que nas primeiras décadas do século XV romperam com as ideias do passado e buscaram através do resgate da antiguidade clássica , elementos para criar novas formas de harmonia e beleza. Foi responsável pelo projeto e construção da Catedral de Florença o que lhe permitiu concretizar suas ideias de harmonia e proporções perfeitas e influenciar os arquitetos por mais de 500 anos. No campo das representações gráficas a sua contribuição foi responsável por uma revolução no desenho de perspectiva matemática. Sua descoberta influenciou os artistas e forneceu meios técnicos para o avanço das artes (GOMBRICH, 1999).

o desenho e a pintura que procurava diante de diferentes artistas e técnicas retratar o real. (GOMBRICH,1999).

O desenvolvimento tecnológico, das técnicas da arte e do belo pode ser constatado com as descobertas arqueológicas de peças e objetos ornamentais trabalhados com técnicas para moldar metais, pedra barro e madeira. Em outra os desenhos, os mosaicos, as pinturas neles inseridas representam a vida cotidiana e os utensílios domésticos, as armas, os meios de transporte e as guerras, os painéis esculpidos (CERAM, 1958).

Já passamos aquela fase em que fazíamos remontar a origem de todas as artes à Grécia e acreditávamos que a própria Grécia tinha saltado completa, como Palas, da cabeça de Zeus Olímpico. Verificamos como esta flor da civilização tirou sua força vital dos Lídios, dos Hititas, da Fenícia, de Creta, de Babilônia e do Egito. As raízes vão ainda mais longe: atrás todos estes povos estão os Sumerianos (CERAM, 1958, p.276).

Embora a civilização grega tenha exaltado a estética e a beleza, os egípcios traziam conhecimentos que datam de 2900 a.C. A organização da sociedade egípcia voltada para a figura do faraó considerado uma divindade que dominava o povo, permitiu estabelecer uma religião aliada à política que acabou por desenvolver a arquitetura, bem como um sistema de representações gráficas com elementos essenciais voltados para a eternidade da alma e do corpo. As construções em forma de pirâmide ajudar-lhes-iam a realizar esta ascensão (GOMBRICH,1999).

As artes escultóricas, arquitetura e desenhos procuravam preservar a essência do que se pretendia mostrar naquele momento, sem preocupações com estética e sim com as rígidas regras seguidas para representar de forma digna o trabalho. De forma resumida procuravam pintar o que era essencial ou relevante, por exemplo: pintavam de memória sem observar ângulos, se representar um lago com árvores podiam dispor o lago em planta e as arvores em perfis sem o menor constrangimento. Tudo se apresentava do ângulo de melhor entendimento.

Pode-se encontrar nas obras da civilização egípcia os conceitos de harmonia, equilíbrio, composição estável, ainda que de forma acentuada na geometrização das construções, objetos e esculturas regidas pelas rígidas leis de representação (GOMBRICH, 1999).