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PECUÁRIA RIO-GRANDENSE

No documento Revista do IHGRN - 2015 (páginas 100-104)

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PECUÁRIA RIO-GRANDENSE

(1601)

Uma vez fundada a povoação de Natal e feitas as pazes com os índios potiguares, chegou o momento de cuidar da economia e tornar essa capitania um empresa lucrativa para a fazenda de Sua Majestade. No entanto, esbarrou- se numa questão que foi quase consenso entre os cronistas da época. A terra arenosa e escalvada, formada por dunas e pobre em água, era imprópria para a unica atividade econômica que gerou avultosos lucros no recém-descoberto continente: a cana-de-açúcar.

Gabriel Soares de Souza: “E sta terra do R io G rande é m uito sofrível para este rio se haver de povoar, em o q u a l se m etem m uitas ribeiras em que se podem fa ze r engenhos de açúcar pelo sertão”. - Tratado D escritivo do Brasil, 1 5 8 7

Diogo de Campos Moreno: “A terra do R io G rande é arenosa e escalvada, e de pouco proveito para as canas de açúcar em 5 e 6 léguas ao redor da fo rta leza , pelo que não é tão h abitada como a Paraíba e as dem ais que tem açúcar e pau-brasil".A ila ç ã o das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

Diogo de Campos Moreno: “A terra desta capitania geralm ente ê terra fraca, m ais para gados e criações que para canaviais e roças; e as vezes fa lta nelas chuvas, m as tem m uitas partes em que se podem fa ze r fa zen d a s, ainda que as águas são rasteiras, e os matos não são de m adeiras tão reais, como os da Paraíba, m as não fa lta m as que hoje podem ser necessária, lenhas não faltarão n unca”. — Livro que D á R azão ao Estado do Brasil, 1611

A solução foi encontrar uma outra fonte de renda para a capitania que não losse o açúcar. E todos os cronistas foram consensuais em dizer que a pecuária era a atividade que melhor traria lucros.

Padre Gaspar Samperes: “A m or p a rte da capitania do Rio G rande é m uito p la n a e sem m ontes, toda cam pinas retalhadas de m uitos rios e lagoas, todas elas m u i propósito para criação de gados”. — H istória da C om panhia de Jesus no Brasil, Tomo I

Frei Vicente do Salvador: “C ria-se na terra m uito gado vacum , e de todas as sortes, por serem para isto as terras m elhores que para engenhos de açúcar, e assim não se hão fe ito m ais que dois, nem se puderam fa zer, porque as canas-de-açúcar requerem terras massapés e de barro, e estas são de areia solta, e assim podem os d izer ser a p io r do Brasil, e contudo se os hom ens tem indústria, e querem trabalhar nela, se fa zem ticos".H istória do Brasil, 1 6 2 7

Diogo de Campos Moreno: “N esta capitania se dão m u i proveitosam ente todas as sortes de gado. Crescem e m u ltip lica m m uito. Os bois e as vacas são m uito grandes

e grossos. A s cabras parem 3 a 4 cabritos ordinariam ente e todo o gado se deixa ordenhar e do seu leite fa ze m queijos e requeijões, como no term o de Lisboa, que oi queijos se guardam e duram m uito. Porcos são m uitos e de m uito proveito e toda esta costa e p ra ia do R io G rande a té a Paraíba vai em partes povoada de redes ou pescarias e de currais de gado que fa z aquele cam inho, sendo o m ais afastado e pobre de todo '■ — A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

Mauritz van Nassau-Siegen: “N esta capitania os m oradores se ocupam prin cip a lm en te com a criação do gado que a li existia em abundância. A guerra (ü p a rtir de 1 6 3 0 ) o reduziu m u ito e o fe z selvagem , m as trata-se de am ansá-lo com toda a diligência e de levá-los aos currais. O R io G rande está dando m uito gado que é conduzido para a Paraíba, Itam aracá e P ernam buco, onde serve, que para corte, quer para trabalharem nos carros e nos engenhos. - Breve D iscurso Sobre as Quatro

C apitanias C onquistadas, 1 6 3 9

Adriaen Verdock: "As pastagens são a li excelentes e os habitantes não têm outrA riqueza senão o gado, com o que fa ze m m u ito dinheiro; entretanto, a m aioria do povo é m iserável m a l tendo de que viver; pegam a li m u ito peixe, p la n ta m grandt q u a n tid a d e de m andioca para fa ze r fa rin h a e tam bém m u ito m ilho, o que tudo é trazido a q u i para Pernam buco; h á igualm ente abundância de caça e de frutos silvestres ”. - R elatório de 2 0 de m aio de 1 6 3 0

PISCINICULTURA

(1 5 9 9 )

Outra atividade que ganhou grande importância para a economia da capitania foi a pescaria. Peixes eram abundantes naqueles mares e rios. E os pescadores tornaram-se grandes nomes na nova sociedade rio-grandense, como os ilustres João Loustão de Navarra (Tabatinga), Joáo Seremenho (Pirangi), Gregório Pinheiro (Tibau do Sul), Joáo do Porto (Rio Ceará-Mirim), Gregório Gonçalves (Litoral norte), Gregório Gonçalves (Rio Potengi) e o Padre-Vigário (também no Rio Potengi). Mesmo o capitão-mor para melhorar suas rendas, recebia um porto de pescaria em frente à fortaleza dos Reis Magos.

Auto da Repartição das Terras da Capitania do Rio Grande:

“15. A data (lote) q u in ze é de João Lostão, deu-lha João Rodrigues Colaço em V de marco de 1601, tem m il e duzentas braças ao longo do rio C anairí para o norte, t para o sertão outras tantas. Tem porto de pescaria (texto ilegível) é terra m á para pasto-

17. A d a ta dezessete fo i dada a João Serem enho p o r o capitão João Rodrigues Colaço em 2 3 de a b ril de 1601, é de m il quinhentas braças ao longo do m ar t quinhentas para o norte (3 0 0 0 rrr) do rio Perangy (P irangi), e do dito rio para o su l

m tl e para o sertão m il e quinhentas, na q u a l p ra ia há dous portos de pescarias, um em que sem pre pescou, que é o da banda sul, e o da banda norte haverá d ez anos que o deixou João Serem enho.

18. A data dezoito é de Gregário P inheiro, deu-lha o capitão-m or João Rodrigues Colaço em o rio Subaúm a, duzentas braças dele para o sul, e outras tantas para o norte ao longo do mar, e para o sertão, m il. E sitio de pescaria em o q u a l vive e o m ais da terra serve para pasto de gado e m antim entos.

40. A data quarenta deu João Rodrigues Colaço a A fonso A lvares em 7 de m arço de 1602. São quinhentas braças em quadra no rio Seara (C eará-m irim ) da banda norte da costa e outras tantas pelo rio dentro para rede de pescar e m antim entos, o qual não fe z benfeitorias nenhum as. D eu depois p o r devolutas a Gregário D om ingues que a vendeu a José do Porto, cujo é hoje este porto, que não serve m ais que para a pescaria que nela fa z.

43. A data quarenta e três deu João Rodrigues Colaço a Gregário G onçalves em 3 de março de 1602, é de m il braças de terra p o r costa, com eçando de um riacho p o r nome C onapotú-m irim (sete léguas ao norte do P otengi) para a banda su l e para o sertão m il braças, o q u a l posse possui hoje D om ingos M artins, e tem nela um a rede de pescar e um curral de vacas. M a n u el R oiz lha vendeu a quem fo i dada p o r devoluta e não serve para outra cousa.

44. A data quarenta e quatro deu João Rodrigues a M anoel Rodrigues e a A n tô n io Freire, seu cunhado, em 3 0 de m arço de 1602. É um porto de pescaria, ju n to a fortaleza, desde o recife a té o riacho prim eiro, e hoje dos soldados p o r o m andar assim o senhor govenador geral G aspar de Sousa e pescam os soldados nele com sua rede.

51. A data cinqüenta e um deu João Rodrigues Colaço ao padre vigário G aspar Gonçalves em 2 3 de ju n h o 1603, e são m il e quinhentas braças que com eçam da boca do rio guoara (atual, G ram oré) pelo rio P otengi acim a e quinhentas para o sertão. Não fe z benfeitorias, e é o porto de pescaria que fo i dos capitães todos, e hoje de Pero Vaz a quem o deu o senhor governador G aspar de Sousa. Ê o m elhor porto de pescaria que aqui há e está de fren te da fo rta le za ”. - D ocum ento de 21 de fevereiro de 1 6 1 4

OUTRAS ATIVIDADES ECONÔMICAS

(1601)

A pecuária não era a única atividade econômica da capitania neste início do século seiscentista. O mar era rico em pescados e a terra em hortaliças, sendo capaz de produzir grande quantidade de melões, pepinos, jerimum e legumes de todos os tipos. Havia também muitas frutas como limões, toranjas e laranjas para serem colhidas.

Diogo de Campos Moreno: "Abastados de peixe e legum e de toda a sorte que na terra se dào e m uitos dos de Portugal, como melões, pepinos, abóboras e fin a lm en te todw as hortaliças, tudo tão estrem ado que avantaja as de E spanha, as fru ta s de espinho m u ito m elhores que as das outras capitanias, m uitos toranjas e lim ões franceses t laranjas bicais”. — A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

A terra era especialmente fértil para arroz, milho e mandioca.

Diogo de Campos Moreno: “D á-se nesta terra m u ito arroz e m andioca, nas partes que se buscam para ela, m ilho que sustenta m uitos e de que se fa ze m broas, de m aneira que, havendo quem trabalha e quem com curiosidade aplique e ajudt os pobres moradores, a terra dará com que se cubram e com que possam tratar com outros”. — A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

Algodão, pimenta e tabaco poderia ser cultivado, sem grandes investimentos pelo simples extrativismo, visto a abundância em seu território.

Diogo de Campos Moreno: “N ão fa lo do algodão que a li se dá in fin ito , m alagueta, tabaco que cham am fu m o . Porque são coisas que a terra oferece suas próprias e qtã antigam ente nela sós, consistia naquele sitio m u ita p a rte da carga dos navios franceses que a li vinham . Tam bém em todo esse sitio se dão as criações de m iúdas de galinhas, perus, patos e papagaios, que o gentio traz aos m oradores a troco de um a n zo l ou de

um a fa c a ”. — A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

Animais de montaria poderiam ser criados com facilidade, desde que tendo cuidado com as onças que ali habitavam.

Diogo de Campos Moreno: “C riam m uitas éguas e cavalos, se bem é verdade qtá todas as criações têm um grande conteste nas onças que há naquelas partes, que como são tão poucos os m oradores inda não podem espantar de todo o p o n to semelhantes bichos e assim fa ze m algum dano havendo descuido. ” — A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

Madeira e resina para as construções haviam em grande quantidade.

Diogo de Campos Moreno: “N os m atos desta capitania, a cinco e a seis léguas d& fo rta leza , há m uitas m adeiras m u i excelentes e extra-ordinárias. Colhe-se das árvores m u ita alm ecega (resina), m u i alva, algum óleo de copaíba. A Relação das Praç# Fortes do Brasil, 1 6 0 9

O Pau-Brasil, para produção da rara tinta vermelha, era um produto qu£ já vinha sendo explorado há décadas pelos franceses.

Diogo de Campos Moreno: “Tem em todos os seus m atos pau-brasil, m as m ais pãrf p a rte da B aía da Traição, ju n to com do Rio C u ru m a tu í (C urim ataú), que fic a dito •

— A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

A terra produzia também âmbar de excelente qualidade.

Diogo de Campos Moreno: “N as praias desta costa todos os anos, ou pouco, ou muito, acham â m bar excelente, que o m ar lança fora”. — A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

E enfim a produção do sal, que na época era algo bem valioso, náo apenas para salgar o alimento, mas também para a conservação do mesmo.

Frei Vicente do Salvador: “N em estão m uito longe d a í as salinas, onde naturalm ente se coalha o sal em ta n ta qua n tid a d e que podem carregar grandes embarcações todos os anos; porque assim como se tira um , se coalha e cresce continuam ente outro, nem obsta que não vão a li navios de Portugal, senão é algum de arribada, pois basta que vao à Paraíba, donde dista som ente vin te e cinco léguas, e de Pernam buco cinqüenta, porque destas partes se provejam do que lhe é necessário, como fa ze m em seus caravelóes, t sobre todos estes côm odos fo i de m u ita im portância povoar-se, e fortificar-se o Rio Grande para tirar d a li aquela ladroeira aos franceses”. — A Relação das Praças Fortes do Brasil, / 6 0 9

Isso tudo descreveu Diogo de Campos sem nunca deixar de mencionar a pureza da natureza e do ar saudável desta capitania, até hoje, motivo de orgulho par os habitantes da terra potiguar.

Diogo de Campos Moreno: “É toda esta terra tão sadia que desde que se fu n d o u a fortaleza a té hoje a li não entrou um m édico nem barbeiro, nem o pediram . D e acidentes se curam com m u ita fa cilid a d e os moradores, com cousas que lhe adm inistra a mesma terra”. - A Relação das Praças Fortes do Brasil, 1 6 0 9

No documento Revista do IHGRN - 2015 (páginas 100-104)